Capítulo 8
2327palavras
2023-01-19 07:34
ㅡ Como assim, Lucy?
Ryeon ainda sorria, sem entender nada do Woojin havia acabado de dizer, e sentia o coração se derreter, junto ao toque sutil que ainda permanecia em sua mão.
Os dedos de Lucy passeavam pelos seus com delicadeza. Sempre com delicadeza.
ㅡ É tão complicado... ㅡ a garota sussurrou ainda mantendo o sorriso. ㅡ me desculpe.
ㅡ te desculpar?
ㅡ É. Por não ser o que você quer.
ㅡ Não, por favor. ㅡ Ryeon pediu, tocando-a no rosto, e ansiando tocar ainda mais ela, beijar ainda mais sua boca. ㅡ o que é Lucy?
ㅡ Não é o que, Ryeon. Lucy sou eu. ㅡ disse simples. ㅡ apenas eu.
ㅡ É algum tipo de personagem? ㅡ perguntou tocando-a sobre a bochecha, e viu a garota rir baixo. ㅡ Me explica, Woojin!
ㅡ Não. ㅡ a garota cessou o riso, tomando cuidado em seu tom, não querendo ser rude. ㅡ eu não sou Woojin. Eu sou Lucy.
Ryeon piscou, prestando atenção nos mínimos sinais da outra, embebedado e completamente apaixonado.
ㅡ Eu não sou quem você conheceu por toda uma vida, Ryeon. ㅡ explicou-o.
ㅡ É claro que você é.
ㅡ Não, eu não sou. ㅡ ela disse, abaixando o olhar e suspirando. ㅡ me diz, de que maneira você me vê agora?
ㅡ Como eu te vejo?
Ela assentiu, decidindo então não voltar a encarar o outro. Aflita, pelo que ouviria logo a seguir.
ㅡ Eu te vejo como... Como uma estrela. ㅡ Ryeon disse, sorrindo ainda mais. ㅡ a ciência diz que as estrelas são corpos celestes que têm luz própria. Eu consigo ver a sua luz, ver como você brilha e ilumina qualquer coisa que esteja próxima a você.
Lucy brincava com seus dedos, e sorriu abobada ao ouvir o outro falar cada palavra, finalizando com um sutil toque novamente em seus dedos.
ㅡ Eu te vejo como uma constelação inteira, me preenchendo por completo com o seu brilho.
ㅡ Você é muito brega, Ryeon. ㅡ ela disse, encarando-o e se surpreendendo com o sorriso calmo que ele carregava, junto a seus olhos que a cada segundo sumiam mais, esmagados por suas bochechas.
ㅡ Talvez eu seja. Mas é a verdade. Eu realmente me sinto brega por você.
Lucy desejava que fosse somente aquilo. Que fossem sentimentos parecendo enfim serem recíprocos, recheados de carinhos e selares nervosos, por um momento de descuido que os levou a enfim se libertarem. Mas não. Não era nada disso.
Então, movida por sua certeza, ela se desfez do toque, respirando fundo, buscando em si o que necessitava, e simplesmente o disse:
ㅡ Você não pode gostar de mim, Ryeon, porque a forma em como você me vê é essa, como Woojin. Eu não sou Woojin... Eu nunca fui.
Ryeon achava que suas rezas ou orações mal feitas haviam enfim dado certo. Não era religioso ou algo assim, mas para ter a pessoa no qual mexia consigo ao lado, ele fazia o impossível.
Mas, naquele momento, seu coração voltou a pulsar forte, tão desesperado quanto suas palavras.
ㅡ Como assim?
ㅡ Você me disse que não gosta de garotas.
Lucy tinha seus ombros encolhidos, incertos e amedrontados, mas não relutou em olhar para Ryeon, e doeu ver o sorriso desesperado que ele carregava.
ㅡ Sim, e isso não é bom?
Os olhos da garota arderam.
Como pode, de um minuto a outro, tudo mudar assim?
ㅡ E como seria? ㅡ ela perguntou num fio, mais para si mesma, mas Ryeon ainda a olhava sem entender, e se surpreendeu quando a viu com os olhos marejados, parecendo determinada para dizer-lhe algo a mais. ㅡ Ryeon, eu sou uma...
ㅡ Com licença.
Sun-ha adentrou o quarto, fazendo Ryeon sobressaltar e se afastar minimamente de Woojin, mas não o suficiente para fazer Lucy deixar de sentir-se nervosa por quase pôr um fim a toda à mentira que lhe cercava durante a vida.
Jungso adentrou logo atrás da esposa. Seu rosto entregava a todos que haviam tentado segurar a mulher do lado de fora, mas, conhecendo-a bem, sabiam que não havia conseguido por muito tempo.
ㅡ Meu amorzinho... Não quer dormir? ㅡ Sun-ha perguntou, afastando minimamente ainda mais Ryeon, ajeitando o travesseiro da garota.
ㅡ Estou bem, mãe. ㅡ respondeu Lucy sorrindo.
ㅡ Viu? Eu te disse que ele estava bem. Vamos, estamos atrapalhando a conversa dos meninos.
Jungso dizia, mas a mulher era relutante demais.
ㅡ O que conversavam? ㅡ perguntou curiosa, sentando ao lado.
ㅡ Sun-ha! ㅡ o marido protestou.
ㅡ O quê? Eu só quero saber, ué... E, hm, Ryeon... Não é tarde para você? Você não precisa ir?
ㅡ A senhora está me expulsando?
Lucy quis sorrir, assim como seu pai logo atrás. Ryeon não costumava falar ou responder aos pais de seus amigos assim, mas aquela interrupção parecia ter deixado-o um pouco enraivecido.
ㅡ Não estou. ㅡ a mulher disse, ficando de pé. ㅡ Mas... Já é tarde, e você é somente uma criança. Sua mãe está sozinha em casa, não está? Precisa de um homem para protegê-la e você é o único para fazer isso. Não te preocupa?
Lucy negou e sentiu-se envergonhada pelas palavras tão retrocedas e machistas que sua mãe usava, mas surpreendeu-se quando ouviu a voz de Ryeon.
ㅡ Não, senhora, jeon, eu não me preocupo. Minha mãe só não tem um marido, mas é uma mulher muito forte que sabe se defender. Ela consegue viver tranquilamente sem uma pessoa do sexo oposto para fazer o que ela consegue sozinha.
ㅡ ah...
Sun-ha parecia sem jeito, não esperava ter resposta de Ryeon, ainda mais tão brusca a seu ver, mas a verdade é que a verdadeira vontade de Ryeon era de expulsar a mulher dali e voltar a ficar tão próximo de sua paixão.
ㅡ Vamos sair. ㅡ pediu mais uma vez Jungso. ㅡ Por favor, Sun-ha!
ㅡ Aish, tudo bem, mas Ryeon... ㅡ ergueu-se, parando de frente com o garoto. ㅡ apenas mais dez minutos. Woojin precisa descansar.
Ryeon quis revirar os olhos, a mulher não podia ditar seu horário com Woojin, mas assentiu, porque sim, ela podia.
Sorriu, vendo-a sair, e assim que a porta fechou, voltou a sentar ao lado de Lucy, tão eufórico que fez a garota sorrir.
ㅡ Ryeon...
ㅡ Ela é muito chata. ㅡ falou, aproximando-se ainda mais.
ㅡ Você sempre diz isso...
Ryeon sorriu, tão puro e sincero que seus olhos sumiram por alguns segundos.
Para Lucy, aquilo era o seu favorito em Ryeon, porque daquele modo, ela sabia quando seu sorriso era verdadeiro.
Ele sempre parecia um anjo sorrindo.
ㅡ Me diz que eu posso te beijar mais uma vez. ㅡ Ryeon pediu.
Lucy suspirou longo. Por que a vida lhe maltratava tanto?
Há quanto tempo ela sonhava em poder beijar Ryeon todos os segundos possíveis de sua vida? E agora, tudo parecia ruim, porque se ela beijasse Ryeon, nada seria verdadeiro.
Não seria um beijo entre ela e ele.
Seria entre Woojin e Ryeon.
E Lucy não queria aquilo. Então negou, vendo-o entristecer de uma forma tão dura e brusca, que seu coração doeu.
ㅡ Ryeon... Por favor, vá para a casa, descanse.
ㅡ Você me pediu para voltar. ㅡ Ryeon disse. ㅡ e por quê?
ㅡ Porque eu preciso te contar algo, mas, você acabou de me bagunçar e eu não quero te bagunçar também...
ㅡ Você me bagunça desde o dia em que nos beijamos, Woojin.
Ryeon sorria a cada vez em que seus olhos miravam os à sua frente. Sempre os comparou com estrelas brilhantes, mas naquele momento pareciam constelações completas, tão intensas e profundas que o faziam duvidar se eram reais.
Mas, diferente de si, Lucy sangrava todas às vezes que ouvia Ryeon chamar-lhe por Woojin. Dói vê-lo sorrindo de forma verdadeira para a mentira. E doía ver que o garoto estava apaixonando-se por uma farsa.
Então foi assim, sofrendo por dentro, vendo o seu Ryeon sorrir que, ela se desfez de tudo.
Se desfez de anos.
De uma vida.
E, pela primeira vez, sentiu como era ser ela.
ㅡ Ryeon... ㅡ Chamou-o. ㅡ Eu sou uma garota.
O sorriso birrento de Ryeon que costumava sempre ser doce se desfez.
O coração calmo do garoto, voltou a bater forte.
E, sua mente bagunçou.
ㅡ Eu sou uma garota. ㅡ enfatizou outra vez.
Lucy tremia, não sabia como prosseguir, mas não ousou desviar os olhos de Ryeon.
Assim, um sorriso nervoso nasceu em Ryeon. Um diferente. Jamais visto pela garota, tão assustado que a assustou.
Mas novamente Ryeon voltou a ficar sério. Viu que nada daquilo se tratava de uma brincadeira e não conseguia entender o que Woojin lhe explicava.
ㅡ Eu não tentei suicídio, Ryeon. ㅡ a garota falou, encolhendo-se mais sobre a cama, afastando-se mesmo que seu desejo fosse se aproximar mais. ㅡ Eu sempre tomo remédios. Doses de hormônios, e hoje na praça, eu encontrei com uma fornecedora nova... Eu não sabia que ela estava me dando uma pílula falsa. Eu não sabia que aquilo não era os meus hormônios, e acabei vindo parar aqui e... e graças a você.
ㅡ Quando eu te vi na praça... ㅡ sussurrou, piscando algumas vezes e encaixando alguns raciocínios.
ㅡ Eu estava indo buscar meus remédios. ㅡ explicou-o.
ㅡ E por que nunca me disse nada disso?
ㅡ Por muitos motivos, Ryeon. Mas, talvez o principal, tenha sido o medo de ser rejeitada por você.
ㅡ Você deveria ter me dito. ㅡ Ryeon falou, ficando de pé, sentindo-se preenchido por dúvidas. ㅡ deveria!
ㅡ Eu quis, mas não consegui. Eu venho te evitando há dias justamente porque não quero alimentar nada, porque não quero sentir o que sinto.
ㅡ O que sente? ㅡ franziu o cenho, já a alguns metros de distância. Sentia-se confuso.
ㅡ Eu sinto muita coisa, mas eu não quero.
ㅡ Não quer? ㅡ olho-a rápido.
Lucy assentiu.
ㅡ Eu não quero fazer isso com você, por isso te evito. Eu te evitei no ônibus porque não queria sentir nada por você. Te evitei na escola, e até quando te via por nosso bairro. Ryeon, eu te evito há anos, somente porque não quero sentir nada por você.
ㅡ Então você não sente? ㅡ indagou incerto. Sentia seus olhos piscarem ligeiramente. Odiava ser tão emotivo.
ㅡ Não, ao contrário, ji. Eu sinto. Sinto muito. Sinto paixão.
ㅡ Você é... Você é apaixonado por mim?
ㅡ Eu sou apaixonada Ryeon. ㅡ sorriu, mas a doer lhe corroía por dentro. ㅡ e é por isso que peço que vá. Você não precisa se culpar por nada disso. Eu sou só um erro no mundo, você não precisa ter dó.
ㅡ Dó? ㅡ e novamente Ryeon franziu o cenho. ㅡ eu não tenho dó de você. Eu só estou... Estou...
ㅡ Eu sei. ㅡ a garota juntou seus joelhos e descansou a cabeça sobre eles. ㅡ só vá...
Ryeon olhava para a imagem solitária da garota e se sentia culpado demais.
Aproximando-se, ele parou ao lado dele.
ㅡ Você deveria ter me dito! ㅡ falou entredentes.
Lucy ergueu seu olhar, fitando-o sem seu sorriso.
ㅡ E para quê? ㅡ perguntou-o. ㅡ Para sentir nojo de mim? Para me ver como aberração? Ou para rir?
ㅡ Você não está falando coisas com coisas. ㅡ sentou-se outra vez, novamente, próximo demais. ㅡ Ouça suas palavras, e diga, elas têm sentido?
ㅡ Então você não sente nojo de mim? ㅡ respirou fundo, sentindo o nó em sua garganta e vendo Ryeon tão perto de si outra vez.
ㅡ E por qual motivo eu sentiria nojo de você?
ㅡ Por o simples motivo de eu gostar de você. ㅡ respondeu. ㅡ Você não gosta de mim. ㅡ devolveu-o, encarando-o.
ㅡ Tem razão. ㅡ confessou. ㅡ eu sempre fui apaixonado por Woojin.
Lucy já havia sentido e vivenciado a dor da negação. Do preconceito e do simples fato de ser diferente, mas ali, era a primeira vez experimentando a dor de ter seu coração partido.
ㅡ Mas, isso não significa que eu não possa me apaixonar por você. ㅡ surpreendeu-a, chegando tão perto que, suas mãos foram ligeiras de encontro com a da garota.
ㅡ Ryeon, por favor... ㅡ olhou-o, vendo-o a cada segundo mais próximo. ㅡ não sinta pena de mim.
ㅡ Eu não sinto. ㅡ negou, voltando a encará-la. ㅡ eu te juro.
ㅡ Então vá. Por favor.
Os corações batiam no mesmo ritmo, e a dor parecia entrar em sincronia também. Loucos, cheios de vontades, medos e proibições, sentiam a necessidade de mais um toque.
O último.
E assim, aproximaram-se juntos, famintos de desejos e incertezas, beijando-se e deleitando-se no prazer, suspirando com a dor, e amarrando com suas paixões, a proibição e a negação, misturando-as a tudo, e entregando-se mais e mais a cada segundo que suas línguas passeavam e dançavam, se conhecendo outra vez.
E mais uma vez, tudo teve seu fim.
Lucy foi a primeira a se afastar. Seus lábios finos e vermelhos doíam e imploravam por mais de Ryeon. Enquanto o garoto permanecia de olhos fechados, parado no mesmíssimo lugar.
E ali ele sorriu.
ㅡ É o mesmo beijo. ㅡ Ryeon sussurrou.
ㅡ Mas não é a mesma pessoa. ㅡ Lucy disse, usando o mesmo tom e atrevendo-se a tocar a bochecha do outro, vendo-o abrir os olhos lentamente. ㅡ eu sou outra pessoa, Ryeon...
ㅡ Você é só você. Não existe outra pessoa.
ㅡ Ryeon... Eu sou mesmo uma...
ㅡ Ok, hora de ir.
E outra vez, Ryeon se afastou de Lucy.
Mas desta vez, parecia que o pequeno movimento, doía mais. Porque doía em ambos.
Ryeon assentiu para Sun-ha e viu a mulher sorrindo vitoriosa, mesmo que seus olhos intercalarem sem parar de um a outro ali.
Ela, assim como qualquer outra pessoa presente, conseguia sentir a dor e a paixão se despedindo ali.
E a despedida realmente aconteceu.
Com um simples acenar, Ryeon sorriu, saindo pela porta do quarto e sendo acompanhado por Jungso.
Deixando para trás a sua paixão.
Deixando o seu antigo Woojin.