Capítulo 6
2618palavras
2023-01-19 07:34
Lucy já havia ouvido de sua mãe que, homens, são sempre fortes.
Eles são o sexo mais forte, e são assim porque precisam proteger a si próprio e também sua família.
Homens são sempre os maiores e mais valentes, e ela via Woojin daquela forma.

Ela esperava que Woojin fosse forte sempre, pois havia dado a vida a um único filho. Na verdade, ela esperava muito além. Esperava ser avó, poder ver Woojin com uma esposa e lotando sua casa de netos, já que com certeza ele não iria para muito longe.
Mas ela não sabia de nada sobre Woojin.
Não sabia que na verdade, Woojin era sua filha. A filha que um dia ouviu-a dizer que sonhou em ter, mas que ainda bem não teve, já que se sentia protegida pelos homens da casa.
Ela sequer sonhava com Lucy, ou com o almejo da garota de ser liberta, até porque, repudiava tal coisa vista no mundo, como abominável ou imoral, e não dava espaço para que a garota se abrisse.
Mas, Lucy se entendia, e mesmo que presa em si, com a capa de Woojin sempre ativa, ela buscava por seus meios.
E mesmo errado às vezes, ela acreditava que conseguiria.

Sentia-se um pouco menos Woojin a cada vez que tomava seus hormônios e se olhava ao espelho.
Sua cintura já era fina por habitual, e para aqueles que estereotipam tudo, era visto como algo "feminino" em si, e de um modo a fazia ao respirar feliz, sorrindo sempre que colocava suas saias às escondidas e elas fechavam bem ali... Evitava sempre olhar-se nua, não conseguia tocar ou expor sua intimidade nem para si mesma, mas via como os pequenos traços femininos apareciam, e tudo era graças aos remédios.
As suas doses diárias de estrogênio.
Sempre comprava as escondidas, e gastava muito com cada frasco, tendo direito à bula e a instruções. Mas como Lucy saberia que estava sendo enganada aquela vez?

Confiou na nova fornecedora, assim como confiou no anterior. Ela parecia tão legal, e sabia o que Lucy queria. Eram apenas hormônios femininos e doses pequenas e exatas, sendo clara que atuava no mercado há anos, e com seu sorriso não foi difícil acreditar. Ela não parecia querer enganar alguém ao ponto de ultrapassar as doses ou misturar substâncias erradas.
Realmente não parecia.
E Lucy acreditou. Foi tola, ao tomar três das pílulas, pensando que surtiriam efeitos sobre o tempo que ficou sem, e caída no chão, ela chorava e tentava respirar, ouvindo a voz de Ryeon.
ㅡ Me ajude.
Foi a última coisa que conseguiu falar antes de sentir-se fraca por completo, e cair com força em seu quarto, desmaiando logo em seguida.
A queda foi brusca, machucando o ombro da garota, o que a faria sentir muita dor quando voltasse a si.
Se voltasse a si.
Mas Ryeon, que ainda estava do outro lado da linha, chamava pelo nome do garoto no qual seu coração batia forte, e a cada vez que ficava sem resposta, sentia-se agoniado.
Não sabia se o que estava prestes a fazer seria correto, mas não quis pensar sobre, apenas pôs seu skate no chão e impulsionou-lhe.
Ryeon sentiu o vento bater-lhe sobre o rosto. Sua casa não era distante da de Lucy, apenas algumas casas, mas parecia um caminho muito longo para não traçá-lo com calma.
Quando chegou à frente da casa dela, jogou o skate bem ao lado no jardim e caminhou ligeiro até a porta.
Bateu uma, duas, três vezes, mas ninguém o atendeu.
Olhou para cima, onde sabia ser o quarto de seu amigo, e viu a janela fechada, mas com as luzes acesa, o que indicava que ele estava lá.
Bateu mais algumas vezes à porta, na esperança de que alguém viesse lhe atender, mas frustrou-se depois de um tempo.
Então novamente ele olhou para cima, catando algumas pedras pequenas no chão e jogando-as na janela para chamar a atenção de Woojin.
Foram inúmeras até se cansar, então ainda olhando a janela, Ryeon suspirou cansado.
ㅡ Que se foda!
Apoiou-se com os pés sobre a madeira na lateral da casa e rezou para aquilo ser forte o bastante para lhe aguentar.
Subiu devagar, apoiando bem os dedos na madeira a cada impulso, e não ligou se algum vizinho visse e chamasse a polícia achando que era um ladrão. Apenas continuou até chegar ao telhado, respirando fundo junto ao medo de altura que lhe batia.
Respirou também aliviado quando tocou a janela e a viu se abrir, facilitando a entrada.
Olhou ao redor, franzindo o cenho ao perceber o cômodo quieto demais.
ㅡ Woojin? ㅡ chamou, caminhando.
O cômodo era grande, mas não tanto, Então não demorou para que Ryeon visse o celular de seu amigo no chão, e logo ao lado, sua mão estirada.
Correu até o corpo jogado, e sentiu desespero ao fitar o garoto que estava mexendo consigo com os lábios arroxeados.
Chamou por seu nome, e chacoalhou seu corpo algumas vezes, mas não teve respostas.
Com o desespero o tomando, Ryeon olhou ao redor e encontrou um único recipiente jogado sobre a cama. Buscou-o e viu que se tratava de remédios, mas uma bula ou algo do tipo. Colocou-o no bolso de sua calça jeans, e se inclinou para buscar o corpo ainda no chão. Não sabia o porquê de Woojin estar daquele jeito, mas presumiu que as pílulas tinham a ver com tudo.
Pensava que talvez o rapaz tivesse ingerido de forma errônea, ou o pior, tivesse tentado suicídio, e tudo fazia sua cabeça borbulhar, junto a seus olhos que lacrimejavam.
ㅡ Woojin! ㅡ chamava enquanto se arrastava com dificuldade para fora do cômodo. ㅡ Acorda, por favor.
Desceu com dificuldade os degraus e abriu a porta da garagem.
Deu graças ao ver o carro velho de Sun-ha estacionando aquele momento ali, e desesperou-se quando viu a mulher sair.
ㅡ Senhora! O Woojin...
A mulher parou seus olhos sobre o corpo do garoto, sem entender o porquê dele estar ali, mas arregalou-os quando viu o de seu único filho desacordado.
ㅡ O quê?
A mulher correu com os olhos pelo corpo de Lucy e como Ryeon havia feito anteriormente, tentou-o acordar.
O que não surtiu efeito algum.
ㅡ O que aconteceu? ㅡ perguntou, ajudando o outro a arrastá-la até o carro.
ㅡ Eu não sei. ㅡ Ryeon respondeu colocando-a no banco de trás do carro. ㅡ Eu liguei para ele, e ele só pediu ajuda. Quando cheguei, encontrei-o no chão.
ㅡ Ele te pediu ajuda? Por quê?
ㅡ Precisamos ir ao hospital agora, senhora, ele está ficando frio.
Os olhos da mulher também lacrimejavam, mas ela assentiu e novamente entrou no carro, girando a chave para dar partida e arrancando dali para o socorro sem ao menos protestar.
Ryeon segurava o corpo que se apaixonava mais a cada dia com fervor, colando-o contra seu peito e almejando esquentá-lo.
Lucy permanecia desacordada, sem ideia do que acontecia consigo, mas era protegida por seu anjo que acarinhava seu rosto e sussurrava em seu ouvido para que acordasse, enquanto jurava que tudo ficaria bem.
Chegaram ao hospital em menos de quinze minutos, e novamente mesmo com dificuldade, Ryeon arrastou o corpo de Lucy junto ao seu, vendo a mãe da garota logo à frente, a procura de responsáveis para ajudá-la.
E rapidamente vieram enfermeiros, segurando o corpo da garota e logo puseram-na sobre uma maca.
ㅡ O que houve? ㅡ um enfermeiro perguntou.
ㅡ Eu não sei, mas ele não acorda. ㅡ Ryeon falou junto aos demais, observando como eles checavam os sinais vitais do outro. ㅡ Eu encontrei isso aqui com ele.
Entregou ao rapaz o frasco que havia encontrado, e mesmo que sem perceber, fez isso na frente da senhora Jeon. Um dos enfermeiros buscou o frasco, fitando-o.
ㅡ O que é isso? ㅡ perguntou parando-os.
Ryeon quis chorar quando viu o corpo de seu amigo seguir, mas sabia que não poderia entrar.
ㅡ E-Eu não sei. ㅡ respondeu trêmulo.
ㅡ O que Woojin estava fazendo? ㅡ a mãe perguntou.
Ryeon novamente deu de ombros, não tendo a mínima noção.
O enfermeiro guardou consigo os remédios.
ㅡ Darei uma olhada, e farei testes para saber o que ele ingeriu. Por favor, fiquem aqui, assim que possível trago notícias.
ㅡ Obrigado.
Sentou-se nas cadeiras azuis de espera, e viu a mulher ao seu lado fazer o mesmo. Ela tremia as mãos e chorava baixo.
ㅡ Ele tentou se matar com aquilo? ㅡ perguntou a Ryeon.
ㅡ Eu conheço Woojin, senhora, ele nunca faria isso.
A verdade é que por inúmeras vezes, acabar consigo mesmo eram os pensamentos da garota, mas ela nunca havia tido coragem para sequer pensar como faria, então Ryeon tinha razão.
Lucy jamais acabaria com sua própria vida.
A mulher, mesmo sem entender, avisou ao marido que, sem entender suas palavras entrecortadas, foi rapidamente ao hospital, fazendo companhia a esposa.
Ryeon via como eles se abraçavam e choravam, e tinha medo de que ele fosse o culpado de algo.
Não sabia o que havia feito de errado, mas foi ele o último a falar com o amigo.
Foi ele que quase se declarou.
Imaginava se Woojin tinha preconceitos. Acreditava que não, que Woojin já tinha sido beijado por si uma vez, e que se permitisse, seria muitas outras vezes. Mas as pessoas mudam, e isso é algo incontrolável.
Enquanto esperavam, o corpo pálido e magro da garota era examinado por médicos a metros de distância.
Havia feito exames como de sangue e o resultado indicava o óbvio. A garota havia sofrido uma overdose por mistura de altas doses de alcalóides, farinha branca, Clomipramina e doses de estrógeno e progesterona, o que de fato são hormônios femininos.
O uso descabido daquilo tudo numa proporção grande como foi o de Lucy, era claramente uma tentativa de suicídio, e para a sorte da garota, os médicos trabalhavam bem, a julgar que o tempo de socorro foi rápido, o que não a possibilitou a propagação na corrente sanguínea.
Então, conectando o tubo gástrico através da boca da garota, os médicos conseguiram chegar ao seu estômago.
Virando-a de lado para facilitar o esvaziamento, conectaram uma seringa de cem mililitros a ponta, iniciando então a remoção.
Era lento retirar apenas cem mililitros de todo um estômago lotado de drogas, mas eles faziam de forma precisa, vendo a cor espessa que era retirada o líquido, livrando-a do pior aos poucos, enquanto duzentos mililitros de soro fisiológico aquecido a trinta e oito graus de posto sobre o interior do estômago, o protegendo.
Continuaram a fazer os passos com cautela por inúmeras vezes. Todas às vezes que retiravam líquido do estômago dela, colocavam o soro, e isso somente parou, quando o líquido retirado estava completamente transparente.
Quando finalizado, alguns remédios para suprir o corpo dela foi posto, o que a deixaria dormir por mais algumas horas.
Seu rosto ainda permanecia pálido, mas a pulsação fraca de seu sangue dava uma dor aos lábios, não os deixando completamente arroxeados.
Para a calma de todos que permaneciam à espera, um enfermeiro explicou o que havia ocorrido e tranquilizou-os com o modo estável em como Lucy se encontrava.
Foi permitida a entrada de todos os três, mas foi claro quanto a explicação de que a garota ainda ficaria mais dois dias no hospital, e durante as noites, apenas um poderia ficar.
Adentraram o quarto, vendo o corpo inerte recebendo soro na veia e dormindo da forma mais tranquila que pudesse.
Sun-ha foi a primeira a se aproximar, tocando-lhe sobre o rosto, e suspirando aliviada quando sentiu a derme aquecida.
Jeon Jungso também se aproximou, mas sorriu quando enfim percebeu que seu filho estava bem.
Ryeon ainda se sentia assustado, não queria causar mal algum a Woojin, mas foi tomado por impulso, se aproximando devagar, e apenas tocando a mão de sua paixão.
Seu coração errou uma ou duas batidas, mas o sorriso igualmente o de todos nasceu, tranquilizando-o.
ㅡ Você... Você disse que ele te pediu ajuda? ㅡ Jungso perguntou, observando os dedos de Ryeon junto aos de seu filho.
ㅡ Sim... ㅡ Ryeon respondeu sem sequer desviar os olhos do rosto de Jeon. ㅡ eu liguei para ele e...
ㅡ Por que ele não pediu ajuda para nós? ㅡ Sun-ha indagou, inconformada. ㅡ por que não pediu para mim, a sua mãe?
ㅡ Sun-ha, por favor. ㅡ o homem mais velho pediu, tocando sobre o ombro da esposa, tentando acalmá-la. ㅡ Eu te agradeço, Ryeon. Sua mãe criou um homem bom.
ㅡ É verdade. ㅡ a mulher fungou assentindo. ㅡ Mesmo sem um marido, ele fez tudo direitinho com você.
Ryeon quis revirar os olhos para o comentário descabido de sua mãe, mas sorriu para ambos, voltando o olhar logo em seguida para Jeon, implorando para que o garoto abrisse os olhos e lhe visse lá.
Visse que ele fez, assim como pedido. Que ele o salvou.
Depois de um tempo, ambos sentaram nas cadeiras e sofás do quarto, aguardando que ela abrisse os olhos, mas como não o fez, Ryeon foi obrigado a voltar para a casa, igualmente a Jungso, mas prometeu voltar no dia seguinte, logo quando amanhecesse.
ㅡ Filho... Eu posso te perguntar algo?
Ryeon estava no banco de carona no mesmo carro em que socorreu Woojin. O pai da garota dirigia e apertava os dedos ao volante, claramente prendendo algo para si.
Ryeon assentiu, juntando mais as pernas e colocando as mãos sobre as coxas, se sentindo incrivelmente nervoso.
ㅡ Woojin conversa com você?
ㅡ O senhor diz, conversar normalmente? ㅡ Ryeon olha-o.
ㅡ Digo, hm, contar coisas ou segredos... Ele fala esse tipo de coisa com você?
ㅡ Se Woojin me falasse esse tipo de coisa, o senhor teria que me desculpar, mas eu não iria te contar. ㅡ responde sorrindo, descontraído. ㅡ Mas... Woojin e eu não estamos conversando tanto nos dias atuais.
ㅡ Aconteceu alguma coisa entre vocês?
Sim, eu me apaixonei pelo seu filho.
Foi o que Ryeon pensou, mas não respondeu, óbvio.
Apenas deu de ombros, observando a vizinhança.
ㅡ Se você quiser me falar algo... Pode falar. ㅡ O homem continuou, mas Ryeon não entendia qual o rumo que a conversa estava levando.
ㅡ Como assim, senhor Jeon?
ㅡ Quero que saiba que se quiser me falar qualquer coisa, eu ouvirei sem te julgar. Eu só quero ver o Woojin bem, e você pode o fazer, não?
ㅡ Senhor... Eu...
Ryeon talvez entendesse o que o homem quisesse especular naquelas palavras, mas foi bruscamente interrompido pelo som ensurdecedor do telefone de Jungso tocando.
ㅡ Pode atender? ㅡ o homem perguntou. Ryeon assentiu, buscando-o ao lado do câmbio da marcha e vendo que se tratava de Sun-ha. ㅡ O que será que essa doida quer?
Ryeon sorriu para o modo em como o homem se referiu à própria esposa, mas deslizou o símbolo verde pela tela do celular, atendendo enfim a chamada.
ㅡ Vocês precisam voltar.
ㅡ Aconteceu alguma coisa grave? ㅡ o homem perguntou alto, já jogando o carro para o canto da estrada, para evitar algo pior.
ㅡ Woojin acordou, e conversou com a psicóloga do hospital.
Ryeon ouvia tudo com bastante atenção, também com medo de que o seu Woojin estivesse mal.
ㅡ Ela disse que ele tinha algo para falar, mas que somente falasse quando se sentisse pronto.
ㅡ E ela quer falar agora? ㅡ Jungso perguntou.
ㅡ Não. Mas ele quer ver Ryeon. Ele perguntou quem o trouxe, e eu expliquei.
ㅡ Eu irei agora mesmo. ㅡ Ryeon respondeu sorrindo. ㅡ O senhor pode ir para a casa senhor Jeon, eu volto de ônibus.
ㅡ Nada disso, você ajudou meu filho, é o mínimo te levar de volta.
Ryeon sorriu ainda maior, assentindo e respirando fundo.