Capítulo 7
1421palavras
2023-03-22 10:00
Antônio
Desci as escadas e peguei a mesa posta apenas uma xícara de café preto, eu sabia que estava atrasado, mas nada no mundo seria mais importante que meu filho. Meus irmãos que esperassem.
— Luana? — chamei assim que a vi passar pela porta — Rosely ficará cuidando de Otávio hoje em tempo integral, suba de hora em hora para ver se ela necessita de algo para si ou para ele e qualquer coisa mande me chamar. — Ela confirmou com a cabeça — Obrigado. — Coloquei a xícara na mesa e sai de casa indo em direção ao meu motorista.
O trajeto até a empresa demorou mais que o normal, eu não queria estar lá e sim com meu filho, era como se algo estivesse errado e que minha mente me mandasse embora a todo custo.
Chegando à fábrica fui em direção a minha sala, onde meus dois nem tão adoráveis irmãos já me esperavam.
—Você está atrasado — André falou assim que cruzei a porta.
—E não vai explicar o motivo de nos fazer esperar por mais de duas horas por sua ilustre presença?
— Preciso? —os dois me olharam como se eu estivesse brincando. Tirei o blazer e o coloquei nas costas da cadeira me sentando logo em seguida.
— É o mínimo que a gente espera — Álvaro se aproximou me avaliando —A não ser que...
—Que? — André me olhou da mesma forma que ele e eu já bufava de raiva.
—O que aconteceu com Otávio? — Álvaro estava mais suscetível a esse tipo de assunto, com a esposa grávida e com uma doença sem cura, ele sabia as nuances de preocupações que dominavam os nossos corpos, quando algo estava além de nossas forças.
—Ele não acordou bem, está medicado.
—Nem deveria ter vindo, volte para casa — ele falou já se afastando. — Só de uma olhada nisso aqui e vá embora. —André continuava nos olhando com cara de quem não estava entendendo nada.
—Por que essa loucura toda? Você tem alguém que está cuidando dele, não tem? —André as vezes me parecia tão sem coração, nem parecia que era casado.
— Você ama sua esposa? — perguntei o encarando.
—Amar é uma palavra forte — ele saiu pela tangente como sempre.
— Enquanto não a amar, não vai saber o que é sentir o desespero de ver alguém que se ama sofrendo e não poder fazer nada. — Álvaro disse me dando o papel para avaliar. Como diretor financeiro da fábrica, era estritamente necessário que eu analisasse tudo, mas hoje não era um bom dia para cálculos.
— Você precisa desse orçamento para quando? — o olhei novamente.
— O quanto antes, os preços que estão aí são somente até o final da tarde de amanhã. — Tentei me concentrar novamente, e vi as variáveis que seriam positivas na compra dos materiais. Isso me deixou satisfeito por hora. Aprovei o orçamento de Álvaro e o devolvi.
— Na reunião de hoje eu ia te solicitar uma viagem para o norte, fiquei sabendo que existe um novo fornecedor de lã naquela região e quero conferir. — André se pronunciou.
— Pretende ficar quanto tempo por lá? — eu analisava a expressão dele.
— O tempo que for necessário — ele foi vago como sempre.
— Lana vai com você? —Álvaro agora prestava atenção.
—Acredito que não — vago novamente.
—Que tipo de casamento vocês tem? — Álvaro questionou. — Emma me mataria se eu ficasse tempos sem voltar para casa.
— Não tentem entender o que nem eu mesmo entendo. — Revirei os olhos.
— Você é que não quer assumir esse compromisso com a sua esposa, está protelando essa relação a 5 anos.
— E o que você sabe? — ele se enfureceu —O que você sabe sobre a merda do meu relacionamento?
— Nada e me preocupo com isso, sou seu irmão mais velho e quero te ver feliz. Se escolheu casar-se com ela, deveria pensar no bem-estar dos dois.
— Quando Margareth era viva, você vivia viajando — jogou em minha cara e aquilo me irritou.
— Era de comum acordo.
—E quem disse que com Lana, não é? — ele se levantou batendo as mãos na mesa. — Cuide de sua vida que eu cuido da minha, Antônio. Já passamos da fase em que você tem que assumir toda a responsabilidade.
— Tudo bem, se é isso que quer. Mas se não tem previsão para voltar, deverá levar Lana com você.
— POR QUÊ? — ele berrou irritado.
— Porque mamãe vai cair na minha alma, e não quero esse fardo, você que lide com ele. — falei me levantando e colocando meu blazer. — Como você bem disse, vou cuidar da minha vida e da única parte de Margareth que me restou.
Sai pela porta sem deixar que ele dissesse mais nada, Álvaro também não tentou questionar e eu só queria estar em casa com a única pessoa que me importava de verdade.
A volta para casa foi pior do que a ida, no começo eu só tinha que lidar com os problemas de Otávio, contudo tinha Rose que dividia o fardo comigo. Agora eu tinha que lidar com a relutância de um irmão cabeça dura que ainda não tinha evado a sério o compromisso que fez com sua esposa, eu não entendia o porquê de toda aquela relutância entre André e a esposa, mas com certeza o casamento deles não era normal. Existia muitas feridas abertas e sem curativos, nunca iriam se curar.
— Como estão as coisas? — perguntei a Janice assim que pisei em casa.
— Tudo calmo senhor, Rose fez o pequeno comer agora pouco e lhe deu um banho para abaixar a febre.
— Febre? — já estava me preparando para subir as escadas correndo.
— Sim, ele ficou um pouco febril, mas ela foi rápida em lhe dar o remédio e um banho para abaixar.
— Obrigado — subi de dois em dois os degraus, eu precisava vê-lo imediatamente. Dei duas batidinhas na porta e ela autorizou minha entrada.
— Já voltou? — perguntou ninando Otávio na posição vertical.
— Não consegui ficar longe, como ele está? — me aproximei pedindo para que ela me passasse ele.
—Ele chegou a 38° de febre, já mediquei e estou acompanhando. Ele comeu um pouquinho de papinha, o que é bom para a imunidade não cair ainda mais — confirmei com a cabeça — Quero que ele durma um pouco para recuperar as energias.
—Deixa que eu faço isso — abracei meu filho que já estava com os olhos fechados quando peguei. Me sentei encostado na cabeceira da cama e tirei os sapatos com os pés, cruzando as pernas sobre a mesma.
— Quer que eu busque mais alguns travesseiros? — Rose me olhou sem jeito.
— Não é preciso. — deitei Otávio sobre meu peito e alisei suas costas para que ele se sentisse confortável.
— Ele adora ficar nessa posição — ela sorriu para ele, colocando sua mão em sua testa. — Parece que o remédio já fez efeito.
— Tomara que sim. — Percebi as olheiras escuras sobre os olhos. — Você deveria descansar também.
— Eu estou bem — ela falou, mas não acreditei. — Vou ver se as meninas precisam de algo. — Ela se levantou e saiu do quarto, me deixando preso naquele momento com meu filho. Fechei meus olhos sentindo sua respiração e seus pequenos sons e aquilo encheu meu peito.
Ouvi a porta ser aberta algum tempo depois, mas não fiz questão de abrir, sabia que era ela, mais ninguém teria permissão para entrar naquele aposento. Senti a cama se mover ao meu lado, mas nada que pudesse incomodar a mim ou a Otávio. E depois o silêncio reinou novamente. Voltei a me concentrar em meu pequeno bebê e depois de um tempo não ouvi mais nada. Mergulhei em um sono profundo como a muito tempo não tinha.
Acordei assustado com meus braços firmes em volta do pequeno que continuava dormindo, olhei para o lado e vi Rose aninhada ao meu lado, com o rosto sobre um dos braços, virada de lado. Uma cena que eu nunca imaginei ver. Meu ar fugiu naquele momento. Algo dentro de mim dizia que eu poderia me acostumar facilmente com aquilo.
— Você prometeu Antônio, você prometeu — ouvi o sussurro de Margareth em minha cabeça.
É, com certeza eu estava indo por um caminho que me levaria a ruína de vez.