Capítulo 6
1628palavras
2023-03-21 10:00
Rose
Foram dois dias em completo silêncio.
Eu mal o cumprimentava quando ele vinha ver o filho quando estava nas áreas centrais da casa. Nenhum de nós fazia questão de resolver a situação, afinal ele era meu patrão e era essa a postura que eu queria que tivéssemos a partir de agora. Nada de intimidades por eu ser irmã de sua cunhada, para que ele não cogitasse liberdades que não possuía.
Todos os funcionários já tinham percebido que algo havia acontecido, Luana, Bianca e Janice até tentaram arrancar de mim, mas eu disse que tudo estava como deveria estar e se elas não queriam que ele as colocasse no olho da rua, era melhor cada uma fazer o seu serviço e parar de cuidar da vida do futuro conde e com isso as fiz entender que algo que eu tinha feito tinha ameaçado o meu emprego por isso me "coloquei no meu lugar".
O problema era que minha cabeça pensava nele o tempo todo, mesmo eu querendo esquecer ou pensar no filho do duque, Antônio tomava conta dos meus pensamentos, com seus sorrisos difíceis, seu semblante sério e a forma de analisar tudo e todos que entravam em seu caminho. Eu não queria pensar, mas era impossível, quanto mais eu forçava para esquecer, mais eu pensava.
Era incrível como a rotina me fez o ver de forma diferente, coisas que eu nunca imaginei que seriam parte da vida dele. Coisas que agora era comuns a mim e por conta de tudo que aconteceu, eu não podia mais fazer parte e isso me apertava o coração.
— Como estão as coisas por aqui? —eu acabara de chegar à cozinha e via uma grande quantidade de verduras sobre a mesa.
— Chegamos da feira, senhorita. Já está tudo comprado da maneira que sugeriu.
— Isso é muito bom, vejo que está tudo bem fresquinho — sorri para elas que confirmaram com a cabeça.
— O almoço hoje será carne de panela e sala de folhas mistas. — Eu amava a carne de panela delas e Antônio também.
— Estão querendo se redimir por algo? — falei brincando, já me sentando a mesa para tomar meu café.
— Claro que não, mas precisamos desse emprego tanto quanto a senhorita, então é melhor fazer por onde.
— Estão certas, não podemos falhar. — Ouvi o chorinho de Otávio e me levantei e fui correndo ao seu encontro. O bebê teve uma noite agitada, eu não sabia identificar o que estava acontecendo com ele, mas algo não estava bem.
Entrei no quarto e o peguei no colo, seus olhinhos tristonhos partiam meu coração. O aninhei em meu peito.
— O que foi pequeno, conta para a titia o que você está sentindo? —o olhei enquanto ainda chorava. O deitei sobre o trocador para ver suas fraldas que estavam limpas, tirei toda a roupinha para ver se algo o estava espetando, olhei seus ouvidos e nada.
— Está tudo bem? — a voz de Antônio preencheu o quarto e se aproximou — O que ele tem? — o olhei e percebi as rugas de preocupação se formarem em sua testa.
— Eu não sei ainda senhor, ele teve uma noite difícil, vou pedir para que o dr. Rubens venha vê-lo.
— Chame o dr. Daniel, ele já está acostumado a cuidar de minha família — ele pegou o bebê de meus braços e o aninhou no peito. — Não meça esforços para deixá-lo bem. — Confirmei com a cabeça já me encaminhando para a porta para pedir que uma das meninas fosse buscar o doutor.
Meus pés estavam no automático, quando percebi estava entrando na cozinha.
— Bianca, por favor, vá buscar o dr. Daniel — falei sem dar muitas explicações.
— Sim senhorita — ela tirou o avental e saiu correndo porta a fora.
— Precisa de algo? — Luana veio até meu lado — Otávio, não é? — confirmei com a cabeça.
— Só peça para que o doutor suba assim que ele chegar, estarei com ele no quarto. — Ela confirmou e voltei para perto de Otávio e seu pai.
Abri a porta devagar e vi Antônio cantarolando para o pequeno que agora estava mais calmo. Ele parecia prestar atenção na letra melodiosa que o pai cantava. Era uma canção que eu nunca tinha ouvido, mas que falava sobre o amor, de como as pessoas têm que entender e respeitar o amor de cada um. Era bonita e fiquei na porta admirando com medo de que ele parasse se me visse, contudo quando se virou ele continuou a cantar não se importando com a minha presença a prestar atenção nos dois.
Era engraçado como ele não se importava de como era visto por todos que trabalhavam a sua volta. Ele não se importava de demonstrar os sentimentos que tinha por seu filho e pela falecida esposa. Ele era humano como qualquer um de nós e sua posição não impedia de transparecer isso.
Os minutos foram passando e Antônio continuava preso em sua bolha com Otávio. Um precisava do outro, um sempre completaria o outro. Era uma linda relação a que ele estava criando com o filho.
— Senhorita? —Me virei e vi o dr. Daniel atrás de mim.
— Oh doutor, que bom que chegou, só um minuto — me virei para Antônio e chamei sua atenção.
—Senhor, o doutor está aqui — ele confirmou com a cabeça e dei passagem para o médico entrar no quarto.
Entrei atrás dele no quarto e fiquei um passo atrás dos dois, vendo o pai colocar o bebê sobre a minha cama e o médico abrir a pequena roupinha do pequeno que novamente voltava a chorar, me deixando angustiada.
— Não se preocupe rapazinho, eu só quero escutar seu coraçãozinho — disse passando o estetoscópio por seu peito. — Seus pulmões estão bem fortes, como posso ver — nós rimos, mas de nervoso.
— Ele normalmente é bem calmo, mas essa noite estava bem agitado, não dormiu bem — falei baixo e Antônio me olhou.
— Pode ser uma gripe ou uma virose, ainda é cedo para dizer — o médico terminou de examinar o bebê e me deu espaço para colocar suas roupinhas, enquanto ia até a maleta para prescrever o que eu deveria dar ao pequeno.
—Acha que pode ser algo grave? — Antônio se aproximou dele.
— Não senhor, é somente uma coisa de bebês. Como ele está adquirindo imunidades, é comum que pequenas gripes e viroses estejam presentes em seus dias. Não pode ser nada demasiadamente exagerado, mas os pequenos são comuns e importantes para sua saúde.
— Entendo — ele disse me olhando pegar o pequeno nos braços. Embalei Otávio lhe dando um beijo na testa e o observando se acalmar novamente.
— Vou passar um remédio natural para tirar as dorzinhas que ele deve estar sentindo no corpo, caso ele tenha febre, vou deixar um remédio também. — Confirmei com a cabeça. — Pelos próximos três dias essa rotina será normal, porém após isso ele tem que ficar melhor, caso não aconteça, me informe que voltarei para examiná-lo de novo.
— Tudo bem doutor. Vou te acompanhar até a porta — Antônio o levou enquanto eu embalava o bebê para tentar fazê-lo dormir um pouco agora que o médico já o tinha medicado.
O ninei por um tempo, seus dedinhos brincavam com meu cabelo e seu olhar seguia o meu. Fiz carinho em sua sobrancelha e entre os olhos com minha mãe tinha me ensinado a fazer com minha irmã mais nova, Bria e aos poucos ele foi cedendo ao sono. Mesmo depois de ter dormido ainda fiquei com ele nos braços com medo de que ele acordasse e não descansasse o suficiente.
— Rosely? — Olhei para a porta e Antônio estava encostado nela. — Não precisa se preocupar com a casa hoje, faça tudo o que for preciso para que ele não sinta dor, ele é a minha prioridade — sua voz era um sussurro. — Eu estou indo trabalhar, mas volto cedo hoje, qualquer coisa é só mandar me chamar que volto. — Confirmei com a cabeça. — E descanse também, se Otávio não dormiu, você também não.
— Não estou cansada, somente preocupada com ele. — falei voltando meus olhos para o pequeno que dormia tranquilo — Espero que agora ele fique mais confortável. — Passei meus dedos por seus cabelinhos pretos e beijei sua testa —Pode ficar despreocupado, qualquer coisa eu te aviso.
— Se precisar, pode chamar o doutor quantas vezes forem necessárias. — Ele entrou no quarto se aproximando de nós. — Vou pedir para as meninas trazerem suas refeições se não quiser descer.
—Não se preocupe, nós vamos ficar bem — levantei meu rosto para olhá-lo e seus olhos se fundiram aos meus. Eu não precisava de palavras para entender a enorme gratidão que se estampava neles. Eu sabia que a pessoa mais importante do mundo para ele era o filho e que ter alguém para dividir o fardo e saber que cuidava tão bem quanto ele, ou a esposa faria, era o que mais lhe agradava.
— Acho que nunca será o suficiente te agradecer por cuidar dele como faz.
— Seus olhos já transmitem tudo que eu preciso, não se incomode com palavras. — Quando eu percebi já tinha dito e quis engolir minhas palavras.
— Não se esqueça de me avisar — ele não falou nada sobre minhas palavras, mas eu podia ver que em seu olhar algo tinha mudado. Estava mais intenso.
— Não vou. — Ele saiu do quarto e me sentei encostada a cabeceira da cama ainda com o pequeno em meus braços, me repudiando mentalmente pela tamanha bobagem que tinha acabado de falar.