Capítulo 74
635palavras
2023-04-26 05:59
Nas semanas que antecedeu a volta de Teresa para o Brasil, Miguel e Cristina tiveram o tempo necessário para explicar (quase) tudo para seus respectivos filhos. Os meninos entenderam bem, ou fingiram entender, mas com as meninas foi diferente. Isabella não disfarçou sua opinião que o tio fora o responsável pelo fim do casamento dos pais, e desde então se mostrava consideravelmente hostil ao relacionamento, atitude que não foi nem um pouco estendida a James. Já Alice ficou confusa só de imaginar o titio como marido da mamãe, coisa que só o tempo atenuaria. E a grande esperança derivada daqueles fatos não se concretizou: Isabella não ficou balançada pelo fato de agora, subitamente, ser a irmã de criação de Gregori. Não pensava no namoro de ambos como incesto. Mesmo que Cristina tivesse ficado arrasada com aquilo, porém, essa atitude da sua primogênita significava que ela por fim superara a funesta influência da avó e, portanto, seu excessivo catolicismo. Isso bastava como consolação para ela.
E, falando no diabo, Teresa aterrissou no Rio na segunda seguinte, ao mesmo tempo em que Olga tirava férias e ia viajar – para onde, Cristina não sabia e nem queria saber. Assim que souberam da chegada, o casal correu para serem os primeiros a contar as notícias. Porém, quando Miguel abriu a porta da cobertura, Teresa já estava de cara feia.
- O que pensam que estão fazendo? – trovejou ela assim que os viu.
Eles se entreolharam. Haviam chegado tarde.
- Quem contou? – questionou Miguel.
- Yuri – respondeu Teresa, evidentemente colérica.
Garoto rancoroso, pensou Cristina.
- Nós queríamos contar prim... – começou ela.
- Contar o quê? – interrompeu Teresa - Que planejam viver em pecado? Miguel, você nunca foi um garoto muito correto, mas nunca esperaria que fosse tomar a mulher de um irmão vivo.
- Ex-mulher – consertou ele.
- Separação civil não importa. O que Deus uniu o homem nunca separará.
Então, ela se virou para Cristina.
- Agora você não me surpreende. Você nunca foi boa.
Cristina a encarou com tanta fúria que Teresa deu um passo para trás.
- Sempre ajudei você – sibilou ela – Quando foi conveniente, fui a boa nora. Agora que você gasta a sua pensão viajando com seu amante e eu te contrario, eu sou a vilã.
Teresa apertou os olhos, e Cristina soube que selara o seu destino. Seria a grande inimiga da mulher a partir de agora. Considerando que ela ainda era sua sogra, isso não era nada bom.
Um segundo depois, Cristina percebeu com satisfação que não se importava. É, talvez Olga tivesse ajudado um pouco.
Mas só um pouquinho.
- Pelo menos vivo segundo as leis de Deus – disparou a mulher de volta.
- Segundo as leis de Deus, você comete adultério há mais de 40 anos – devolveu Cristina.
Teresa ficou desconcertada. Resolveu apelar para Miguel.
- Você não vai dizer nada?
Miguel deu de ombros.
- Não posso dizer nada.
Teresa se enfureceu.
- Por que prefere ficar do lado dessa meretriz à da mulher que te deu à luz?
Com aquelas palavras, ela jogou cimento sobre o que havia selado. Agora seria guerra. Que Deus protegesse o mundo nos próximos anos.
E, para colocar a cerejinha na confusão, Cristina descobrira, naquela manhã mesmo, que, aos 41 anos e tomando o anticoncepcional – quando se lembrava, claro -, estava novamente grávida. De outra menina, algo lhe dizia. Miguel ficaria maluco.
Mas só podia imaginar como Teresa reagiria.
- Não, mãe – disse ele, dando de ombros com indiferença – É que não posso opinar sobre a lei de Deus.
- E por que não poderia? – questionou ela no alto de seu poder.
- Porque eu sou ateu.
Teresa perdeu a voz, evidentemente chocada. Cristina sorriu.
Uma nova guerra começava.