Capítulo 9
821palavras
2023-01-09 06:29
Quando Bárbara abriu a porta do apartamento que morava com o namorado, Cristina percebeu que ela não tinha mudado um centímetro.
- Oi, Bárbara.
- Cristina! – exclamou ela daquela forma risonha e cúmplice, e a abraçou.
Ela deixou ser abraçada, esquecendo por um momento o motivo pelo qual estava ali, deixando-se pensar que apenas visitava uma amiga.
Então, ela se lembrou. Ela estava ali para lavar sua honra. Se fosse qualquer outra pessoa, Cristina teria feito isso a esfaqueando. Mas era Bárbara. Com ela, Cristina tinha débitos.
- Entre, entre – falou Bárbara, se afastando para dar passagem à Cristina, que entrou.
Para Cristina, mal acostumada com a cobertura de Maurício, o apartamento do namorado dela era apenas bem razoável. Mas era preciso descer do salto: era melhor do que muito apartamento. Melhor do que onde Cristina morava como moça solteira: a casinha da mamãe.
- Fazendo manicure? – perguntou Cristina, frente ao alicate, palito, esmalte e lixa em cima da mesinha da sala.
Bárbara confirmou com a cabeça.
- Estava pensando nisso.
- E eu interrompi?
- Não, não – disse ela, mostrando as mãos livres de esmalte – Só tinha lixado mesmo. Acho que ia ter preguiça de pintar as unhas.
E deu um de seus sorrisos brilhantes.
- E seu namorado?
- Visitando a mãe – falou Bárbara, fazendo uma careta. Era outra que odiava sua sogra – É melhor, podemos conversar sozinhas.
- Sim, é mesmo. Tenho um assunto sério. Senta aí.
Bárbara pareceu intrigada por alguém mandá-la se sentar no próprio apartamento. Talvez até por isso, não discutiu e sentou-se em frente aos materiais de manicure. Cristina, então, respirou fundo e preparou-se para começar.
- Sei sobre James e você.
Bárbara ficou muda por um tempo.
- Tá certo, mas o que tem? Qual é o problema?
Boa pergunta. Qual era o problema? Naquele tempo, ela sequer tinha tocado nele. Ignorou esse aspecto da questão.
- Eu só queria ouvir o seu lado. Estou curiosa. Ele me contou.
Bárbara sacudiu a cabeça e riu, compreendendo.
- Ah, você também, Cristina.
Ela não disse nada, só se sentou ao lado de Bárbara.
- Quando foi? – prosseguiu ela, curiosa.
- Não importa – respondeu Cristina, a palavra anteontem pulando subitamente para o primeiro plano dos seus pensamentos – Eu quero saber de você. Flerte num banco pra mim é novidade. Vamos, conte.
Bárbara suspirou, percebendo que ela não ia desistir, e começou. Mas Cristina só ouviu com metade da atenção. A outra metade já estava perdida nas lembranças dos eventos de poucas horas depois do bendito elevador de carga.
Bárbara terminou sua história em menos de cinco minutos, e, em resumo, era mesmo o que James tinha dito. Nada de importante para se preocupar.
- Agora, conte-me – prosseguiu Bárbara, depositando a lixa na mesinha novamente – E você, como fez isso? Eu nem sabia que você o queria. E toda a coisa de ser aluna dele e tal.
Cristina respirou fundo, hesitando. Depois relaxou. Bárbara podia ser uma safada interesseira, mas, para ela, era uma boa e leal amiga.
E contou. O relógio que ficava na parede marcou 15:15, 15:30 e, só quando chegou em 15:39, ela terminou a narrativa.
Bárbara rira horrores.
- E depois? – perguntou ela mal Cristina tinha se calado.
- Depois... – hesitou Cristina para ganhar tempo, enquanto pensava – Ele arrancou meu sutiã com tanto empenho que ele arrebentou. Mas eu me vinguei. Ele está todo arranhado.
Bárbara parou de rir e ficou olhando para ela com os olhos meio arregalados.
- Poxa – disse ela, admirada e invejosa – Comigo foi só uma rapidinha.
Cristina, movida pela vaidade feminina, continuou.
- E o carro dele, poxa...
- Qual carro?
- Um Alfa Romeo.
Por um instante, Bárbara pareceu estar tendo um ataque cardíaco. Cristina sorriu. Isso também acontecera com ela.
- Ele herdou o carro, não comprou – esclareceu ela - O pai dele tinha um bom dinheiro antes da falência. E bom gosto, pelo visto.
- E uma boa genética – acrescentou Bárbara ainda a encarando com inveja – Um Alfa Romeo, poxa. É incrível como um carro melhora ainda mais um homem. Se ele aparecesse na minha frente, eu...
Parou quando Cristina lhe lançou um olhar de alerta.
- Bárbara – começou ela, muito séria, depois de pigarrear – Você nunca mais toca em James enquanto viver. Aliás, nem ficar no mesmo lugar do que ele você fica. Se você fizer isso, por mais que seja minha amiga, nós teremos que acertar as contas.
Bárbara engoliu em seco.
- Certo, certo. Ele é todo seu.
Cristina sorriu, satisfeita.
- Mas e aquela Olga sei-lá-o-quê? A quantas ela anda?
E Cristina preparou-se para começar a falar. A vista dos últimos acontecimentos, esquecera-se quase completamente de Olga. Virara só a sua cunhada chata. Pelo visto, a outra retribuía seus sentimentos.
Cristina só perceberia depois o quanto estivera errada.