Capítulo 142
2185palavras
2023-02-07 09:49
- Como assim sumiu? Não tem como ela sumir. Se você a deixou na sala, ela deve estar em algum lugar... Ela gosta de brincar de esconder.
Levantei e desci correndo as escadas íngremes de madeira. A sala estava vazia.
Fui até a porta de vidro que dava para a rua e estava fechada, mas não trancada.

- Não tem como alguém ter entrado aqui... E levado ela. – Falei, incerta.
- Ela não está na cozinha – falou a governanta – Nem nos cômodos no caminho para lá.
Heitor desceu correndo, enfiando um casaco nos braços:
- Precisamos procurar em todos os lugares.
- Como soube? – Olhei para ele.
- Ben... Ouviu tudo no telefone. E me contou.

Começamos a procurar pela casa. O homem responsável pelo local também ajudou, mas na parte externa. Depois de um tempo, eu já sabia que minha filha não estava na casa.
Saí para rua, sentindo meus pés nos flocos pequenos e fofos. Era para ser tão perfeito aquele momento. No entanto tudo que eu sentia era meu coração querendo saltar para fora do peito e uma sensação de dor indescritível.
Vi o carro que havíamos usado no dia anterior estacionando e Anon descendo:
- Fui até a entrada da propriedade e voltei. Se ela não está dentro de casa... – Ele me olhou, jogando os braços ao longo do corpo, entristecido.

- Não! – gritei, socando o ar com raiva – Anon, eu vou matar cada um deles, com minhas próprias mãos... Eu juro. E você vai me ajudar. – Fui até ele e peguei-o pelo casaco, com força, obrigando-o a me encarar.
- Não precisa sujar suas mãos, senhora Bongiove. Basta dar a ordem.
- A ordem está dada, porra. Corte em mil pedaços e traga o coração para mim, numa caixa, com um garfo e uma faca, por favor.
- A empregada nova sumiu. – Disse Heitor, vindo na nossa direção.
- Como assim sumiu?
- A governanta acabou de dizer que procurou e não a encontrou.
- Mas... Acha que ela pode estar envolvida nisso?
- Talvez... Mas tem dedo dos outros e você sabe muito bem – Heitor me olhou – Mas não podemos ficar aqui parados. Anon, pegue o endereço da tal empregada e vá até lá. Vou usar um dos carros daqui e ir diretamente para Delegacia... Antes preciso ligar para Sebastian, para saber como funciona a porra da lei neste lugar. – Ele pegou o celular.
Fiquei olhando para o nada, tentando entender o motivo da maldade e da ganância das pessoas, envolvendo uma criança inocente, colocando-a em perigo.
Minhas pernas estremeceram e não suportei o peso do próprio corpo, caindo de joelhos no chão, sentindo as lágrimas escorrerem.
Nicolete abaixou-se ao meu lado e me abraçou:
- Não, eu não vou deixar você cair agora... Não agora. Malu precisa de você forte, como sempre.
- Eu não consigo mais... Eu deveria ter ficado com ela no meu quarto e não ter largado um minuto sequer.
Senti os braços de Heitor me puxando, enquanto me levava para dentro da casa, no seu colo. A porta se fechou e senti o ar quente do local, como se estivessem a queimar minhas bochechas.
- Isso acaba em Piemonte, meu amor. Eu prometo. – Ele pegou meu queixo, fazendo-me encará-lo.
- Não tenho mais forças.
- Sim, tem. Precisa ter. Por mais preocupados que estejamos, sabemos que eles precisam dela viva.
- Me desculpem... – Nic falou – Eu não deveria tê-la deixado aqui, nem por um segundo.
Vi as lágrimas escorrendo pelo rosto dela, percebendo sua dor, que era igual a minha e de Heitor. Levantei e a abracei:
- Eles são os culpados, Nic... Vamos ter nossa bebê de volta. – Garanti, incerta, tentando consolá-la quando nem eu mesma tinha certeza de nada.
Mas era assim: tínhamos que um dar força uns aos outros. Ou não suportaríamos.
- Seu irmão está vindo. Mesmo eu dizendo que não precisava, ele não me ouve. – Heitor avisou.
- Eu... Quero Ben. Preciso dele. – Falei, sentindo meu coração apertado.
- Acha mesmo que ele já não está com Sebastian nesta hora?
O telefone de Heitor tocou:
- Pai? – ouvi ele falando – Não, não deve vir.
Peguei o telefone das mãos de Heitor:
- Casavelha?
- Ainda bem que você mantém o bom humor, mesmo numa situação desta.
- Não é humor... Eu falei sem querer. – Confessei.
- Estou alugando um jato particular. Vou avisar Sebastian e Ben. Estamos indo ao encontro de vocês. Vou ter que tomar conta desta situação ou esta gente não vai parar nunca. Heitor não consegue fazer o que precisa ser feito.
- Eu acho que ele vai dar um fim nisto agora, Allan.
- Por que não levaram mais seguranças, porra?
- Allan, estamos num país distante de Noriah Norte. Quando imaginaríamos que isso iria acontecer? No fim, esta viagem foi uma ideia péssima.
- Melhor assim. Matar alguém num país desconhecido é mais fácil. Creio que esconder um corpo debaixo de uma videira não seja tão difícil assim.
- Tem muitas por aqui... Não dá nem para contar. E depois a neve vai cair por cima... A primavera chegará... Tudo voltará a ser verde... As videiras criarão vida novamente, e ninguém mais lembrará de tudo que houve no inverno.
- Exatamente, minha linda! Creio que esta sempre foi minha missão: estar com você.
- Allan, você pode fazer esta viagem? Falou com seu médico?
- Claro que sim. Adivinha o que ele disse? Que não devo ir.
- Então não deve vir... Se corre risco, fique aí. Vamos resolver tudo, eu garanto.
- Calma, não terminei, querida. Eu mandei meu médico a puta que pariu.
Eu comecei a rir, limpando as lágrimas:
- Estou esperando por você, Casavelha. Será um prazer acabar com esta gente com um grande amigo ao meu lado.
- Eu deveria ter sido mafioso, juro.
- Venha logo, Dom Casavelha.
Ouvi a risada dele do outro lado, que desligou a ligação.
- Ele vem, não é mesmo? – Heitor perguntou.
- Sim, contrariando os médicos. Este é o Casavelha que eu conheço... E por isso o admiro tanto.
Heitor suspirou:
- Como você acha que ela está neste momento?
O abracei, com força. Acabei esquecendo o quanto ele era ligado a Maria Lua e que deveria estar sofrendo tanto quanto eu, mesmo tentando parecer forte.
- Se bem conheço nossa pequena, aposto que esta hora está chamando todos de “bobos”...
- Ela tem uma personalidade forte... Tomara que haja como se eles fossem gatos. – Ele me apertou ainda mais.
- Vai à Polícia? – Perguntei.
- Sebastian tem um amigo na Polícia. Pediu que eu não fizesse nada até ele chegar.
- Não sabemos sequer onde procurar... Por onde começar... – Falei, confusa.
A governanta veio com o telefone sem fio na mão, me entregando:
- É para senhora. Acredito que seja sobre a sua filha.
Senti meu coração quase saltar pela boca, incerta de quem estava do outro lado da linha.
- Alô!
- Buongiorno, fiore del giorno. Ti piace scopare la mattina?
- Eu não entendo italiano, seu filho da puta. Mas entendo como acabar com desclassificados como você. Isso não vai ter fim nunca mais, Daniel?
- Por que fugiu, amore mio?
- Eu não fugi. Estou aguardando o juiz dar a sentença.
- Chega desta palhaçada, não é mesmo, Bellissima?
- Vou acabar com você, seu desgraçado.
- Só um minuto, alguém aqui quer falar com você.
- Mama?
- Malu? Mamãe e papai já vão buscar você, ok? Não demoraremos.
- Papai... – Ela repetiu, gargalhando e eu conseguia imaginar o sorriso com a boca completamente aberta, mostrando os dentinhos ainda nascendo, os olhinhos pequenos, tão verdes quantos duas pedras preciosas.
- Me dê o telefone, Bárbara. – Heitor pediu, vendo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Apertei o aparelho entre meus dedos, impedindo-o de retirar de mim:
- Daniel, me diga uma coisa, por favor...
- O que quer saber, Babi?
- Você não é o pai dela, não é mesmo?
- Não... Não sou. Estou confessando porque não precisamos mais mentir uns para os outros, não é mesmo?
- Por que fez isso? Com qual intuito?
- Porque sou um filho da puta, desgraçado, amore mio. E queria fazê-la sofrer mais um pouco.
- Tento entender o que eu fiz pra você...
- Eu só queria ficar com você...
- Jura? Eu vivi oito anos da minha vida com um sujeito igual à você. Conheço homens do seu tipo de longe, Daniel.
- Gosta de dinheiro, confesse.
- Desclassificado.
- Não tem nada pior para me chamar?
Heitor retirou o fone da minha mão, sem deixar-me contestar.
Sentei no sofá, vendo Nic andando de um lado para o outro, a governanta em outro aparelho de telefone, todos preocupados e nervosos.
Heitor jogou o telefone no sofá, com raiva.
- Como ele tinha o número daqui? – Perguntei.
- Certamente a empregada nova está envolvida, senhora. – A governanta disse.
- Há quanto tempo ela está trabalhando aqui?
- A contratamos há pouco tempo. Eu não estava mais dando conta de tudo. Então o senhor Sebastian autorizou que tivesse alguém para me ajudar.
- Ele quer que eu passe a Babilônia para o nome dele. – Sebastian disse.
- Ele quer a Babilônia para devolver a nossa filha? Por que não dinheiro?
- A Babilônia, dinheiro... E uma fuga garantida, para que nunca mais perturbe a nossa vida.
- E... Você acha mesmo que ele vai cumprir com a promessa?
- Não, não acho. Ele é ingênuo... Como acha que ficaria com a minha casa noturna? Eu passaria para o nome dele e imediatamente chamaria todos os meus advogados para acabarem legalmente com ele. Estou tentando entender o que ele está planejando de fato.
- Não acho que ele seja inteligente, Heitor. No início, ele queria dinheiro, mas agora está encurralado e sabe disto. A pergunta é: Anya e Breno estão com ele?
- Acha que ele sabe quem é o verdadeiro pai de Maria Lua? – Heitor me perguntou.
- Eu acho que não. Realmente eu estava certa, eles se conheceram quando eu os apresentei. Salma tinha certeza de que Malu era sua, Heitor. Se não é você o pai... Talvez a gente nunca saiba quem é realmente.
- E o que nos importa? Se não soubermos, melhor. Enquanto ninguém reclamar os direitos, tudo se ajeita para que ela seja nossa, definitivamente.
- E os avós?
- Ninguém daria a guarda da nossa menina a eles, meu amor. Vou dizer que me subornaram... Chega de proteger estes cafajestes. É hora de arrumar esta bagunça.
Fiquei sentada no sofá, com as pernas para cima, até o final do dia, quando a noite chegou enquanto a neve seguia caindo, sem trégua. Se consegui comer? Claro que não. Não desceu nem água pela minha garganta.
Quando a porta se abriu e vi Ben entrando, pulei sobre o encosto do sofá e corri até ele, jogando-me em seus braços.
Recebi um abraço tão forte que me tirou do chão. Sentir o cheiro dele era tão bom... Como se tudo fosse ficar bem, finalmente.
- Como você está? – Ele perguntou.
- Falei com ela... Estava rindo, inclusive – encarei-o – Ela é forte.
- Claro que é... Ela é uma Casanova. – Allan disse, sendo conduzido por Anon 2 na cadeira de rodas.
Corri até ele e abracei-o com força:
- Obrigada por vir, Allan.
- Jamais a deixaria sozinha, minha querida. E quero estar junto quando entregarem a minha neta. E eu mesmo vou apertar o gatilho e dar um tiro no meio da testa do desgraçado.
Sebastian me deu um beijo e falou:
- O telefone tem registro de chamada. Podemos encontrar o número e rastrear. – Ele foi imediatamente para o aparelho.
- Obrigado por ter avisado antes. – Heitor ironizou.
Vi Milena e senti meu coração derreter ainda mais. Ela me abraçou:
- Vai dar tudo certo com nossa princesa, não se preocupe.
- Obrigada por ter vindo.
- Acha mesmo que eu a deixaria sozinha nesta hora, cunhada?
- Tem um monte de Anon’s lá fora, inclusive o meu – Ben falou – Quem está com nossa desclassificadinha literalmente está fodido.
- Não se chamam Anon’s, senhor Benício. – Anon 2 explicou.
- São Anon’s, sim, Otávio. Se minha nora quer que sejam chamados assim, serão. A partir de agora, qualquer pessoa contratada para a segurança dos Casanova se chamará oficialmente Anon. Claro que o Anon original atenderá pelo número um. Você, Otávio, será o dois. E nomearemos os demais, conforme desejarmos. – Disse Allan.
- O desgraçado está perto daqui – Sebastian disse – Muito perto.
- Ele marcou a entrega de Malu para amanhã cedo. Quer muito dinheiro, em espécie, os documentos da Babilônia e o jato preparado para partida.
- Onde ele marcou? – Allan perguntou.
- Aeroporto particular, próximo daqui.
- Vamos surpreender o desgraçado no seu covil. Ele não espera por isso. – Disse Sebastian.