Capítulo 127
2341palavras
2023-02-07 09:40
- Não, eu não estou com Tony. – Ele afirmou.
Suspirei, aliviada:
- Me sinto mais tranquila. Não acho que ele merece você.
- Realmente não merece. Mas eu não sou mais aquela pessoa que queria mostrar ao mundo que eu tinha um par... Provar que alguém era capaz de me assumir. Eu... Pouco me importo. Na verdade, “eu” não quero assumir o relacionamento agora.
- Você vai encontrar alguém legal um dia, Ben. Vocês dois tem que se sentir bem com isso... E não importa o que os outros pensem.
- Enfim, agora eu sou difícil. – Ele balançou os ombros, seriamente.
- Posso saber quem é?
- Não.
- Então eu conheço! Porque se eu não conhecesse... Não teria mal algum saber. – Desconfiei, embora não imaginasse quem poderia ser.
- Não quero falar sobre isso – ele levantou e pegou um sapato prata com paetês – O vestido combina com este. Caralho, quanto custou isso?
- Não sei... Apareceu no meu armário.
- Apareceu no seu armário? Pode mandar o armário mágico para o meu quarto, para ver se “aparecem” coisas para mim também?
Eu ri e me vesti, não me importando em ficar nua na frente dele.
- Você está gostosa. – Ele observou.
- Ei, Ben, qual é?
- No bom sentido, com toda sinceridade. Não curto mulheres e você sabe disto.
- Mas pareceu um homem falando agora... Juro.
- Mulheres não chamam outras de gostosas? Sinceramente, deveriam.
Me olhei no espelho. O vestido era bem-comportado na parte da frente, mostrando um pouco do colo. Bem começou a pentear meus cabelos e depois espremeu-os levemente com as mãos, fazendo os fios caírem levemente ondulados. Fiquei com a parte da maquiagem, que caprichei, usando inclusive um batom vermelho vivo.
- Ficou linda! E gostosa. – Ben reforçou, rindo.
- Ok, vá se arrumar que já está tarde. E vamos lá.
Esperei em torno de 45 minutos para ele se aprontar. Antes de sairmos, fomos nos despedir de Maria Lua.
- Se comporte, mocinha. Já deveria estar dormindo e está aí, brincando com Nic. – Falei, recebendo os sorrisos mais perfeitos do mundo.
- Ben, não deixe ela fazer nada de errado. – Nic pediu, olhando para mim.
- Claro que não deixarei, Nic. Eu sou um bom cuidador de mulheres assim... – ele pegou minha mão e me fez girar – Se Heitor não casar agora, não casa mais.
- Ele vai casar. – Nic garantiu.
- Ou não. Quem casaria com uma mulher que desaparece da cama antes do dia amanhecer?
- Você sabe fui eu que dei a ideia, Ben. E sei o que estou fazendo, acredite.
- Ideia absurda. Eu já avisei Babi, isso não vai dar certo.
- Ela dorme com ele... Só não acorda ao seu lado. E não é isso que ele quer?
- Acha mesmo que ele quer isso? – Ben riu – O que ele quer, já tem. Deve achar é que minha amiga aqui é louca, isso sim.
- Ok, deixa de conversa e vamos – falei, ansiosa – Se comporte, raio de sol.
Eu e Ben demos um beijo nela e fomos para o estacionamento, onde Anon nos esperava.
- Ben, você que tem estado íntimo da Babilônia... Acha que Cindy é mesmo a responsável pelo público de lá?
Ben pensou um pouco e disse:
- Não acho que seja a responsável por todo o sucesso do lugar, mas sim, grande parte do público, especialmente masculino, está lá por ela.
- E tirá-la do pau do meio seria um risco para a Babilônia?
- De jeito nenhum. As outras dançarinas de pole dance também são boas. E poderia contratar novatas... Heitor deveria cogitar dar uma chance às outras para crescerem, assim como Cindy.
- A questão é que sabemos que ela não cresceu só pelo seu talento no pole dance.
- Também...
Quando percebi que Anon estava na rua da Babilônia, falei:
- Anon, você é adivinho agora? Comprou uma bolsa de cristal? Ou tem superpoderes?
- Como, senhora? – Ele arqueou a sobrancelha, me olhando pelo retrovisor, confuso.
- Eu não mencionei que queria vir na Babilônia. Mas... Você parou exatamente onde eu queria... Sem que eu dissesse o destino. – Fiquei confusa.
- Mas... A senhora disse onde queria ir... – Ele falou, pensativo.
- Eu... Disse? – Fiquei na dúvida, sendo que não lembrava realmente de ter dito onde queria ir.
- Claro que disse – Ben confirmou – Entrou no carro e disse que queria ir... Atrás de Heitor.
- Nossa... Eu devo estar ficando meio louca.
- Desculpe, senhora Bongiove, mas acho que a senhora sempre foi.
- Anon! Que ultraje! Me sinto ofendida.
- Com mil perdões, senhora Bongiove.
Comecei a rir:
- Estou brincando, Anon. Não precisa ficar ruborizado. – Percebi o vermelho no rosto dele.
- Eu... Vou dar a volta e colocá-los dentro do prédio, pela garagem do senhor Casanova. Certamente ficarão num espaço reservado para vocês.
- Não. Eu quero entrar pela porta principal, do público em geral. – Falei rapidamente.
- Mas... O senhor Casanova não irá gostar disso, senhora Bongiove.
- O senhor Casanova não manda na minha vida, Anon. Eu mando na dele. – Expliquei.
Mesmo a contragosto, Anon parou o carro na frente da fila de entrada da Babilônia. Era sexta-feira, dia de casa lotada.
Passei com Bem diretamente pela fila e fomos aos seguranças, que deixaram Ben passar e me barraram, se pondo na minha frente.
- Calma aí... Tem algo errado nesta porra. – Gritei.
Ben voltou e disse:
- Ei, ela entra.
- Senhor Benício, nosso patrão só permitiu a sua entrada liberada, independente do dia e hora. Não falou sobre trazer companhias.
- Caralho, ela é a mulher de Heitor Casanova. – Ben explicou, atônito – Cara, vocês vão se ferrar.
Os dois se olharam e deram uma risada debochada.
Olhei bem para a cara deles, tentando guardar os rostos, já que era noite e os dois se vestiam iguais e ambos eram parecidos: morenos, cabelos raspados e magros, usando barba.
Eu poderia chamar Heitor e acabar com a palhaçada naquele mesmo instante e fazê-los deitar no chão para eu passar por cima com meu salto dez. Mas isso faria com que ele soubesse que eu estava ali. E eu queria fazer uma surpresa.
Enquanto eu pensava, vi Anon ao meu lado:
- Algum problema, senhora Bongiove?
- Sim, Anon, temos um problemão. – Ben falou.
- Estes gentis gêmeos – toquei o dedo no peito de um e depois do outro – Acham que eu não devo entrar direto, tendo que ir para a fila, Anon. – Expliquei.
- A senhora Bárbara é mulher do senhor Casanova. Ele faz questão que a chamem de “mulher dele”. Para vocês terem uma ideia, eles moram na mesma casa.
Os dois me olharam de novo, o medo estampado nas pupilas dilatadas.
- Vocês têm sorte que eu sou uma boa pessoa – falei – Ao menos tento ser. Mas Anon não é uma boa pessoa. Ele guarda rancor, não é mesmo, Anon?
- Principalmente por quem destrata de alguma forma meus patrões. O senhor Casanova foi claro quando me designou para cuidar de sua mulher: destrua quem fizer qualquer coisa para ela. Estas foram as palavras dele. – Olhou para os seguranças.
- Foi só um mal-entendido. Estamos também cumprindo nosso dever. Ele não deixou claro que o senhor Benício poderia trazer outras pessoas.
- Meninos, eu moro com Heitor Casanova e Bárbara Novaes Bongiove. Já entrei pela porta dos fundos uma vez e... Não curto mais isso. – Ben falou.
Não sei exatamente do que Ben estava falando, porque ficou um clima estranho e acho que nem ele sabia ao certo o que quis dizer.
- Passe, senhora Bongiove. Agora entenda porque eu expliquei que era melhor entrar pela garagem privativa do senhor Casanova – Anon disse – Vou deixar o carro lá e encontro vocês do lado de dentro.
- Ok, Anon. Desculpe. – Falei, sinceramente.
Os dois homens afastaram-se, abrindo passagem para mim.
Entrei com Ben na Babilônia, pela segunda vez na vida. Agora pela porta da frente, na área VIP, onde um dia sonhamos passar, há não muito tempo atrás.
Não pensei que entrar ali fosse me trazer lembranças dolorosas da minha amiga. Mas ver a caixa de vidro e imaginar que ela não estaria ali me deixou entristecida. Eu sabia o quanto ela amava aquele trabalho e todo seu esforço para manter a forma e dançar bem.
Se ela não tivesse sido tão ambiciosa, não teria engravidado. E não teria parto... E morte. Mas ao mesmo tempo também não teria Maria Lua.
- Babi, tudo certo? – Ben tocou meu ombro.
- Sim, sim... – Voltei dos meus pensamentos.
Aquele lugar era gigantesco e perfeito. Mas ainda assim eu preferia o Hazard, que de certa forma era mais íntimo e acolhedor. A música da Jukebox num som um pouco mais alto que o ambiente diferenciava completamente do dance que estremecia o chão e fazia os ouvidos ficarem completamente surdos. Não tenho certeza de quantas pessoas cabiam naquele lugar, mas mal dava para se mexer de tão lotado.
As luzes coloridas que cortavam o ambiente como flashes iluminaram a parte de cima, dos camarotes, e vi Heitor e Cindy conversando. Ben acompanhou meu olhar e falou no meu ouvido:
- Espere! Eles têm uma relação profissional. Não acho que seja o que você está pensando.
- Você não sabe o que estou pensando, Ben. – Sorri, de forma maquiavélica.
Fui até um dos bares e pedi um chope de menta, que havia provado na outra vez que tinha estado ali. Sabia que aquela bebida era perfeita. Eu não costumava beber com frequência, por isso era bem fraca para o álcool. E era exatamente isso que eu queria. Ter coragem para concretizar meu plano.
- Ei, Ben, pode ir aproveitar. Eu vou ficar bem aqui. – Garanti, olhando para cima e percebendo a loira falando no ouvido dele.
- Que fique bem claro que a gente só consegue se ouvir aqui dentro falando no ouvido. – Ben justificou a atitude de Heitor.
- Pare de defendê-lo, porra! – Gritei, sorvendo todo o líquido do copo de uma só vez.
Quando esvaziei meu copo, voltei até lá e peguei um de cereja. O líquido era vermelho e o sabor, perfeito.
- Vou levar uns destes para casa. – Avisei Ben.
- Ah, porra... Você já começou. Daqui a pouco estará lendo “privada” em vez de “privado”.
- Amoooooo. – Quase não consegui parar de soletrar o O, só para ele ter certeza de que eu amava ficar daquele jeito de vez em quando.
O desclassificado não precisava ficar na área de camarote dentro da Babilônia. Achei que o trabalho dele fosse interno e não ali, olhando de perto tudo que se passava, na “obrigação” de se divertir. Canalha mor!
Logo vi outro casal sentando com eles, cumprimentando-os alegremente, como velhos conhecidos.
- Ok, agora chega! – gritei para que Ben me ouvisse – Antes... Quer provar o chope de cereja? – O puxei pelo pescoço, para perto de mim.
- Ah, linda, não mesmo! Se Heitor vira nesta direção é me vê tocando na sua boca, vou acordar amanhã a sete palmos do chão. Ou melhor, nem vou acordar. É como beber veneno dos seus lábios. E eu sou muito novo para morrer... Nem casei ainda.
- Você vai subir lá em cima... – Apontei para a direção de Heitor e as outras pessoas – E oferecer uma bebida para a Barbie das Trevas.
- Eu? Por que ofereceria uma bebida para ela?
- O que ela gosta de beber?
- Drinques doces e enfeitados.
- Ok... Espere aqui.
Fui até o bar novamente e pedi para o barman:
- Quero uma bebida doce e enfeitada.
Ele enrugou a testa:
- Qual seria?
- Eu admiro tanto aquela dançarina de pole dance... Como é mesmo o nome dela?
- Cindy Connor. – Ele abriu um sorriso.
- Me disseram que ela gosta de bebidas enfeitadas. Pelo menos uma vez na vida quero me sentir como ela... O que ela mais gosta de beber?
- Estamos falando de Cosmopolitan. – Ele sorriu, indo preparar.
Minutos depois o barman apareceu com uma taça achatada, com um líquido avermelhado dentro e uma rodela de limão... Ou laranja. Não consegui identificar.
- Vodca, suco de cranberry, licor de laranja e suco de limão. Pode-se colocar uma rodela de limão ou laranja para enfeitar. Ela prefere laranja, por isso fiz o seu assim. – Ele explicou.
- Obrigada.
Peguei o drinque e olhei. Bebi um gole. Não achei bom... Mas também não era ruim. Era a cara dela: vermelho e sem graça.
Voltei ao bar e pedi outro, igual.
Fui até Ben com os dois copos. Ele estava perto da pista de dança, bebendo um líquido incolor.
- O que é isso? – Perguntei.
- Dry Martini.
- Desde quando você bebe isso?
- Desde quando você bebe chope de cereja? – Ele levantou e baixou os ombros, me ignorando.
- Quero que leve para a Barbie das Trevas. – Falei, com os dois copos iguais nas mãos.
- Você cuspiu dentro? – Ele perguntou, curioso.
- Acha que seria tão má assim? – eu ri – Claro que não. Pegue.
- Eu estou com um copo... Não consigo...
Coloquei o copo dele no meio e os dois nas laterais, fazendo-o conseguir segurar os três.
Abri minha minúscula bolsa e retirei de dentro um frasco e comecei a pingar as gotas incolores nos dois copos.
- Ah, por meus sais... Você vai matar a Barbie das Trevas? – Ben fez cara de pavor.
- Não... Eu disse que não sou má... Só um pouquinho. Ela vai passar a noite no banheiro.
Ele arqueou a sobrancelha:
- E...
- E eu vou dançar no pau do meio – sorri, vitoriosa – Vou provar a Heitor que eu danço melhor que ela.
- Ah, caralho!