Capítulo 93
2165palavras
2023-02-06 11:36
Heitor abriu os olhos e me encarou, sem pressa, fazendo com que cada minuto parecesse durar uma hora:
- Pode... – disse com a voz fraca.
Me aproximei dele, devagar, sabendo que talvez fosse o último beijo, a última vez, como sempre eram nossos encontros: uma incógnita, uma mistura de emoções e sentimentos sempre à flor da pele... Então cada segundo precisava ser bem aproveitado.
Ajoelhei-me e toquei seu pescoço, sentindo-o estremecer sob o meu toque. Sorri e levei meus lábios aos dele, fechando os olhos e deixando o momento me levar para o céu, que era como eu me sentia quando estava ao lado dele.
Os lábios de Heitor envolveram os meus, gentilmente, sugando-os. Senti suas mãos descendo pelas minhas costas escorregadias com a espuma e fiquei completamente excitada.
Aquele beijo parecia um castigo, sem que eu pudesse sentir a língua dele, como se quisesse testar o quanto eu suportava enquanto aquele toque não ficava íntimo como eu queria.
Do pescoço, minhas mãos foram para os ombros dele, que alisei, descendo até o peito. Então a língua dele entrou na minha boca, com violência, com ardor, com fome, forçando a minha a entrar no mesmo ritmo, ardente, envolvente, cheio de tesão.
Sentei sobre ele, sentindo sua ereção. Tentei encaixar-me no seu pau, mas ele me empurrou levemente, não permitindo. Comecei a acariciá-lo com uma mão. Com a outra comecei a masturbá-lo, enquanto sua língua desbravava minha boca, os dentes mordiam meus lábios. Senti que poderia gozar naquele beijo, com seu membro entre meus dedos, sem ser necessário haver penetração. Ouvi-lo gemer ao meu toque me dava um prazer inexplicável.
Quando eu não consegui mais respirar, afastei-me, sentindo o gosto leve de sangue na boca. Fiquei um pouco confusa, tocando meus lábios, certamente inchados, tanto quanto os dele.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me empurrou até que eu encontrasse a louça morna da banheira, descendo os lábios até meus mamilos cobertos de espuma. Chupava um enquanto os dedos apertavam o outro, fazendo em gemer, com o corpo em transe.
- O que você quer, Bárbara? – Perguntou, com a ponta da língua na aréola sensível.
- Você... Desclassificado. – Fechei os olhos, enquanto dois dedos entravam na minha intimidade, fazendo meu corpo querer muito mais.
De repente, ele levantou e saiu da banheira. Fiquei aturdida, olhando-o, com o corpo queimando de prazer pelo seu toque, sem entender nada.
- Você se encontrou e não há espaço para mim, não é mesmo? – pegou uma tolha e enrolou-se nela. - Já esqueci que um dia nossos caminhos se cruzaram, como você pediu. E não se preocupe, estou bem resolvido e sei que o problema não sou eu e sim você. – Saiu, fechando a porta.
- Porra! – bati as mãos na água, derrubando parte para fora, molhando o piso.
Peguei minhas roupas úmidas e estava voltando para o banheiro quando ele disse:
- Tem roupas secas aqui. Pode usar.
- Obrigada. Onde pego? – perguntei, vendo-o deitar na cama, nu, sem cobrir-se, ainda com o pau duro como pedra.
Ele não respondeu. Abri uma porta no armário embutido na parede e peguei uma camiseta branca, numa pilha onde deveria ter no mínimo mais cinquenta iguais, bem limpas, dobradas e passadas.
- Será que... Teria uma calcinha daquelas que te enviei de volta... Para emprestar? – olhei-o, curiosa para saber se ele ainda tinha.
- Joguei fora. – disse, enquanto colocava os braços debaixo da cabeça, confortavelmente.
Suspirei e fui pegar a calcinha molhada quando ele falou:
- Tem calcinhas novas aqui. Pode escolher cor e tamanho.
O encarei, furiosa. Deveria ficar agradecida? Fiquei foi muito enciumada. Um homem com calcinhas novas guardadas para emergência no próprio quarto? Quantas mulheres frequentavam aquela porra?
Peguei a calcinha úmida e coloquei. Retirei a camisa dele e joguei no chão, pisando em cima repetidas vezes, com raiva, antes de colocar com dificuldade a calça que se recusava a entrar por ainda estar molhada e a blusa larga e fria.
- Está brava com algo, senhora Bongiove? – debochou.
- Seu bêbado desclassificado.
- Deixei bem claro que o amor é uma porra e prefiro uísque a mulheres.
- Uísque não precisam de calcinhas para caso de emergência, seu idiota – botei meus pés no tênis – Da próxima vez vou deixar você morrer no mar.
- Eu não chamei você. E não pense que eu iria me matar, querida... Principalmente por você.
Olhei-o deitado, aparentemente sem se preocupar muito com nada. Cheguei a ver Salma na cama, ao lado dele e senti a fúria tomar conta de mim. Tive vontade de estapeá-lo e xingá-lo por dizer tantas porras sem saber o quer realmente acontecia conosco.
Fui até a porta e tentei abri-la, mas não se moveu.
- Quero ir embora. Abre esta porra.
- Você precisa do meu dedo. – Ele disse sem se preocupar muito.
- Então bota a porra do dedo aqui, agora. – gritei.
- Aonde quer que eu ponha meus dedos, Bárbara? – debochou, sem mover-se.
- Eu vou matar você!
- De novo? Quantas vezes vai me matar, Bárbara? Acha que eu sou um brinquedinho seu, que usa e joga fora? Estou cansado dos seus joguinhos.
Suspirei, tentando relaxar. Vi uma garrafa de uísque aberta numa pequena mesa, perto da cortina. Fui até lá e sorvi o líquido amargo e forte, no gargalo, sentindo a garganta queimar, até acabar com cada gota que tinha na garrafa. Limpei a boca e disse:
- Não vou embora. E você vai ter que me aguentar, idiota. Vou ficar tão bêbada quanto você. Então vamos poder conversar de igual para igual.
- Não me importo. – Ele virou para o lado oposto a mim.
Fiquei em pé, sem dizer nada, não sei quanto tempo. Ele não se moveu. Talvez até estivesse dormindo.
Não demorou muito para sentir minhas pernas ficarem moles. Com qual intenção eu fiz aquilo? Não sei... Só sei que talvez eu tomasse coragem de dizer a verdade: “Desclassificado, lembra aquela vez que você fodeu com a minha amiga Salma, a dançarina da sua boate? Então, ela ficou grávida. E agora você tem uma filha. E Salma morreu. E eu quero ficar com a criança... E com você. É possível?”
Balancei a cabeça, confusa:
- Você... Lembra da minha amiga Salma? – me ouvi perguntando, sem me organizar psicologicamente antes para aquela conversa.
Ele virou-se na minha direção, me olhando. Não estava dormindo.
- Não... – estreitou os olhos – Deveria?
- Eu... Falei sobre ela com você algumas vezes.
- Falou... Pouca coisa. Nem lembro ao certo o que. Por que este assunto agora?
- Ela trabalhou na Babilônia.
- Lembro de você ter mencionado... Mas pelo nome não me recordo dela.
- Tem certeza?
- Tem noção de quantos funcionários eu tenho nas minhas empresas? Acha mesmo que eu lembro de cada um deles?
- Nem dos mais importantes?
- Certamente ela não é das mais importantes – ele afirmou – Ou eu lembraria.
- Como Cindy?
- Como Cindy. – Afirmou, para me ferir ainda mais.
- Eu posso fazer o que a loira oxigenada faz – disse – Aliás, qualquer pessoa pode. Quem não dança num pau?
- Você – ele riu – Lembra que disse que quando fizer isso eu devo mandar interná-la?
- Me interne então, desclassificado. – Fui na direção do poste de pole dance, completamente confusa, uma explosão de emoções dentro de mim, tentando entender como ele não sabia quem era a minha amiga Salma, sendo que teve uma filha com ela.
Ele sentou sobre a cama, curioso, os olhos me seguindo.
- Nós vamos fazer um jogo – falei – Eu faço uma pergunta e cada resposta que você der, se for sincera e de acordo com o que eu quero saber, tiro uma peça de roupa... E danço para você.
- Quem disse que eu quero que você dance para mim, desclassificada?
- Eu digo! – apontei para ele – Ninguém deixa de ter sentimentos profundos tão rápido assim, porra! – senti um nó na garganta e uma dor no peito, ao imaginar que ele pudesse não sentir mais nada por mim, sendo que disse que me amava pouco tempo atrás, no elevador. Ele me deixava confusa.
- Você deixou de ter. – ele falou com a voz fraca.
- Não, eu não deixei. Não é possível... E se você conseguiu esquecer, não foi de verdade. – Afirmei.
- Me fez passar vexame na frente de John Bon Jovi.
- Foi um momento péssimo, juro.
- Você é louca.
- E você safado.
- De tudo que você usou para definir “desclassificado”, cada palavra, eu defino você como uma desclassificada.
- Bêbado.
- Bêbada no cemitério.
- Melhor que na praia.
- Eu fico bêbado em todos os lugares.
- Quer que eu o felicite por isso? Acha bonito? Não pode mais beber deste jeito.
- Por que não? – arqueou a sobrancelha.
- Porque... Porque está ficando velho. – Inventei na hora.
Ele gargalhou:
- Nunca ouvi nada tão patético.
- Me dê seu celular. – Pedi.
Ele jogou o celular aos pés da cama, na minha direção, curioso sobre o que eu queria fazer.
Eu sabia todas as músicas do Bon Jovi e para cada uma delas eu conseguia fazer relação com uma situação vivida.
Mas olhando para Heitor, naquele momento, nu, na minha frente, atento aos meus gestos, talvez sem saber nada do que o esperava em alguns dias, mas aguçando totalmente minha curiosidade e meu coração, só pensei em uma melodia, que era como se eu tivesse escrito a letra para ele.
- Três peças de roupas é o que tenho. Então, vou fazer três perguntas, e quero três respostas sinceras. – falei, enquanto colocava a música Words don’t come easy.
Heitor ficou me olhando, visivelmente confuso enquanto eu começava a cantar, já acostumada com o ritmo e a letra da música tocada no Karaokê do Hazard.
Words Don't Come Easy
Words don't come easy to me
How can I find a way
To make you see I love you
Words don't come easy
Words don't come easy to me
This is the only way
For me to say I love you
Words don't come easy
Well, I'm just a music man
Melodies are for my best friend
But my words are coming out wrong, girl
I reveal, my heart to you and
Hope that you believe it's true cause
Words don't come easy to me
How can I find a way
To make you see I love you
Words don't come easy
This is just a simple song
That I've made for you and my own
There's no hidden meaning you know when I
When I say I love you honey!
Please believe I really do cause
Words don't come easy to me
How can I find a way
To make you see I love you
Words don't come easy
It isn't easy
Words don't come easy
Words don't come easy to me
How can I find a way
To make you see I love you
Words don't come easy
Don't come easy to me
This is the only way
For me to say I love you
Words don't come easy
Words don't come easy
Levantei parte da minha blusa enquanto rebolava, ao som da música:
- Eu sei que você gosta de mulheres que dançam, desclassificado. Principalmente as que dançam nuas.
- Você não é uma mulher... É Bárbara. – Ele falou, aturdido, com a respiração acelerada.
Coloquei a mão por dentro da minha calça, me tocando, vendo seu membro endurecer imediatamente.
- Quer que eu pare tudo e vá embora, Heitor?
- Não. – Ele disse imediatamente.
- Pergunta um: quando você bebe muito, lembra de tudo que houve quando passa o efeito do álcool?
- Não... Não lembro... – disse rapidamente.
- Pergunta dois: você gostaria de ter filhos?
Ele arqueou a sobrancelha:
- Quer me fazer brochar?
Retirei a camiseta e abri o botão da calça, que tinha sido colocada com muita dificuldade. Cá estávamos nós dois, num jogo de pura tensão sexual, onde já estivemos nus e agora eu estava vestida novamente, para tirar a roupa pela milionésima vez.
- Gostaria ou não?
- Não. – Foi enfático.
Engoli em seco a resposta. Não esperava que fosse tão direta e certeira. Retirei a calça, com dificuldade, enquanto a música já estava por acabar.
- Terceira pergunta. – Eu estava somente de calcinha.
- Estou preparado.
- Você faz sexo sem camisinha com todas as mulheres que encontra?
Ele demorou para responder, confuso:
- Não faço sexo sem camisinha.
- Faz. – afirmei, furiosa, parando de dançar.
- Não faço – reafirmou, levantando e vindo na minha direção. – Eu só não usei camisinha com você porque não fiz sexo...
- Esqueci – ri, ironicamente – Eu nem conto como mulher, não é mesmo? Sou só Bárbara.
- Eu fiz amor com você, porra!