Capítulo 90
2014palavras
2023-02-06 11:35
Olhei para Ben:
- Eu sabia que isso não daria certo. – Suspirei, resignada.
Sebastian veio até mim e afastou a coberta fina, que cobria parte do rosto de Maria Lua:

- O que você está fazendo, porra?
- Eu vou cuidar dela. Salma pediu. – Falei, tentando me justificar.
- Caralho!
- Não fale alto, vai acordá-la. – Pedi.
Ele passou a mãos nos cabelos, o rosto avermelhado:
- Quem é o pai desta criança?

- Heitor. – Confessei, com a voz quase inaudível, abaixando a cabeça, envergonhada.
- Não! – ele gritou. – Não é verdade!
- Não grite, porra! – Fui andando com Maria Lua, aturdida, retirando-a da sala.
Sebastian foi atrás de mim:

- O que você tem na cabeça, Babi? Porque cérebro eu tenho certeza que não é.
Ben pegou-o pelo braço e olhou-o firmemente:
- Espera, Sebastian. Vamos explicar tudo. Dê um tempo.
- Não tem tempo. Ou me digam agora o que está acontecendo ou anulo esta porra de certidão. Vocês enlouqueceram juntos, só pode... – Ele passou a mão com força no rosto, indo até a o queixo, enquanto estreitava os olhos.
- Vou colocá-la na cama. Já conversaremos. Prometo! – falei, fechando a porta do meu quarto.
Maria Lua seguia dormindo como se nada estivesse acontecendo. Por sorte, ela tinha um soninho de anjo.
Coloquei-a sobre um travesseiro fino e a cobri com uma manta leve. Olhar aquele serzinho na minha cama dava uma sensação tão estranha e incrível ao mesmo tempo.
Respirei fundo:
- Agora vou ter que contar ao seu tio o que está acontecendo. E confesso que estou com medo, minha pequena.
Eu não tinha como esconder a verdade dele. Sebastian já queria meu rim agora. Se mentisse ainda mais entraria num emaranhado de desentendidos sem fim, podendo prejudicar todos ao meu redor.
Quando saí do quarto, ele estava sentado no sofá, com a cabeça baixa entre as pernas, as mãos na cabeça. Sentei ao lado dele, sem dizer nada. Ben chegou logo em seguida, sentando-se na poltrona da frente.
Sebastian olhou para Ben e depois para mim. Disse firmemente:
- Quero a verdade. Só isso. Registrei a criança no meu nome porque Ben estava completamente confuso e implorou, prometendo que eu saberia logo o que realmente estava acontecendo. Vocês têm noção do que eu fiz?
- Por que não registrou no seu nome? – Olhei para Ben, arqueando a sobrancelha, confusa.
- Olha para minha cara, porra! Ninguém jamais acreditaria nisso.
- E acreditarão que eu sou o pai, sendo que estou noivo de Milena? Eu rejeitei meu próprio filho, entristecendo a mulher que eu mais amei e amo na vida. Agora vocês me fazem registrar uma criança de... Heitor? – balançou a cabeça – Acham que Milena vai reagir como? E se ela achar que eu realmente tive algo com Salma? Só fiz isso porque não me dei em conta de todas as consequências que isso poderia trazer. Mas já fui atrás de informações. E cometemos um crime.
- Sebastian... – tentei falar.
- Heitor é o pai. Ele vai acabar conosco quando souber que tentaram enganá-lo desta forma. Não perceberam isso? Ou vocês simplesmente não têm mais noção do certo e do errado? Quantos anos vocês dois tem? Porque a mental não coincide com o que se espera.
- Isso doeu. – Ben falou, botando a mão no coração.
- Se você tem a porra de um pau, e eu sei que tem, pode ter filhos. – Sebastian disse. – Me meteu nesta merda toda por que?
- Ei, você aceitou.– levantei, tentando defender Ben, mesmo sabendo que ele já tinha feito a porra toda – Já está feito, não há como voltar atrás.
Sebastian levantou:
- Fiz porque achei que você pudesse estar em apuros. Mas não, você não está em apuros. Você está muito, muito fodida. Roubou uma criança.
- Não roubei... Salma me deu ela.
Ele gargalhou:
- Jura? Ela gravou um áudio antes de morrer, dizendo isso? Me prove, Babi.
- Todos os médicos ouviram... Eu juro.
Ele balançou a cabeça novamente:
- Quero saber tudo. Agora!
Respirei fundo e comecei a contar toda a história para ele, pelo menos a parte que eu sabia, que era praticamente nada. Quando acabei, ele sentou novamente, ficando alguns minutos em silêncio.
- O que me diz? – perguntei.
- Eu digo que você vai imediatamente contar para Heitor Casanova que ele tem um filho.
- Ela não pode fazer isso. Heitor vai pegar a nossa bebê. – Ben disse, aturdido.
- Ela não é de vocês, porra. Ela é “dele”. – Sebastian gritou.
- Pare de gritar! – fiquei furiosa. – Você não pode fazer isso.
- Não? – ele riu de forma irônica. – Legalmente é minha filha. Posso inclusive levar ela embora se eu quiser.
- Você não faria isso... É o meu irmão. – falei, aturdida, não impedindo as lágrimas.
- Não... Eu não faria – ele me abraçou – Me perdoe... Mas estou puto – me apertou contra seu peito. – Você precisa desfazer esta loucura.
- Ele vai tirar a bebê de mim. – Minhas lágrimas molharam a camisa dele.
- Ele tem este direito, Babi. Você não pode fazer isso. Vocês dois não podem decidir pela menina. – olhou para Ben.
- Salma pediu para eu cuidar dela. – Aleguei.
- Não é assim que funciona.
Ela não me pediu somente para cuidar de Maria Lua. Também pediu que eu falasse a verdade para Heitor. A questão é que ele estava furioso comigo. certamente me odiava àquela hora. E certamente me afastaria da minha filha. Minha filha... Sim, era isto que ela era: minha filha.
Havia sim uma solução: eu dizer que era a mãe de Maria Lua. Então ficaríamos juntos e cuidaríamos dela lado a lado.
Sebastian afastou-me um pouco, pegando meus ombros e fazendo-me encará-lo:
- Uma vez, meu pai engravidou a sua mãe. Ele não quis assumir a criança. Deu um anel, que valia uma boa quantia, para que sua mãe tirasse o bebê, negando para sempre a sua existência.
Senti um nó na garganta com as palavras dele.
- Você odeia o nosso pai. Porque sabe que ele não queria você. Agora imagine se sua mãe não tivesse contado para ele a verdade. Ou melhor, que ela fingisse a vida toda para você que seu pai era um homem e na verdade, tudo fosse uma mentira, desde que você nasceu. Você o odiaria da mesma forma?
Ficamos todos em silêncio.
- Por que você tem que ser tão sensato, porra? – Ben não aguentou as lágrimas – Eu chamei você porque era a única pessoa que poderia nos ajudar e não revelar nosso segredo, em função de amar Babi. Agora você... Joga todas estas verdades sobre a gente... Quando tudo que fizemos foi querer ficar com a criança que acompanhamos toda a gestação, que enchemos de amor desde sempre, que... – ele não teve mais palavras, que embargaram junto das lágrimas.
- Eu entendo que não fizeram por mal... Eu detesto Heitor e vocês sabem disso. Mas eu no lugar dele... Acabaria com vocês dois se soubesse a verdade. E os colocaria atrás das grades.
- Você tem razão. – Respirei, limpando as lágrimas.
Ainda tinha um grito trancado na minha garganta, uma dor horrível que eu não conseguia expor ou deixar sair.
- Thorzinho não é ruim... – Ben disse. – Mas... Não queremos nos afastar da nossa filha.
- Ela é filha “dele”. – Sebastian fez questão de repetir. – Não podem esconder isso para sempre. A menina vai crescer. E saberá que não sou o pai, porque... Por mais que eu ame você, Babi, não vou assumir uma criança que não é minha.
- Eu vou contar a verdade – afirmei. – Só preciso de um tempo... Por favor.
- Quanto tempo?
- Eu não sei, porra.
Fui até meu quarto, completamente confusa, com as emoções à flor da pele, como se eu precisasse urgentemente ver o rostinho da minha filha. Sim, ela era minha filha... – as lágrimas escorriam grossas e quentes pela minha face.
O que eu sentia por ela era maior que qualquer coisa que já senti na vida. Só de pensar em me afastar, doía meu peito de uma forma inimaginável.
Sentei sobre a cama, alisando o rostinho perfeito, quente, doce:
- Eu amo você. – falei.
Senti braços me envolverem. Sabia que era Sebastian:
- Eu amo você também, Babi. Não duvide disto. Tudo que faço, é para o seu bem.
- Eu sei...
- O canalha do Casanova merece saber. E você sabe disto, mais do que ninguém.
- Sim.
- Ele gosta de você... Creio que todo o mundo saiba. Não sei o que acontece entre vocês dois, mas tem que ter um fim, principalmente com esta criança em jogo.
- Eu amo Heitor – falei, olhando para o nada. – Eu nunca amei outro homem... A não ser ele. Jardel não foi nada na minha vida... E só descobri isso agora.
- E como fez tudo que fez por um homem que não merecia e agora tenta magoar o que realmente ama?
- Eu não sei... Por que eu sou uma idiota? – ri, em meio às lágrimas.
- Não é por Heitor... É por você. Precisa se dar uma chance, Babi.
- É como se algo me dissesse que eu não o mereço... Que não posso ser feliz, entende?
- Não, não entendo. Porque basta você querer e dizer sim para a felicidade.
- Pode não contar para Milena? – pedi.
- Posso... Até porque duvido que ela entenderia isso tudo, assim como eu tento entender ainda. Mas não vou assumir esta mentira por muito tempo. Heitor precisa registrar sua própria filha e você sabe disto.
- Sim.
Ele me deu um beijo no rosto e abraçou-me por um tempo:
- Eu amo você. E sou grato todos os dias por tê-la na minha vida. Me perdoe se a magoei, mas... Eu sou o irmão mais velho. Tenho o dever de colocar juízo nesta cabecinha de vento. – Sorriu, enquanto tocava com o dedo indicador minha testa.
- Amo você, irmão mais velho... E meu único irmão – sorri – Agora me diga, ela não é linda? – olhei para Maria Lua.
- Ela veio para lhe trazer coisas boas. Olhando este bebê eu sinto algo estranho dentro de mim. E dói... Pela perda que tive. E imagino o quanto Milena sofreu.
- Sim, certamente ela sofreu muito.
- E como você está se sentindo com relação à Salma?
- Dor... Muita dor. É como se estivessem estraçalhado o meu coração.
- E ela não revelou nada sobre como se relacionou com Heitor?
- Falou algumas coisas quando ficou grávida... – fiquei confusa. – Ela fugiu dele todas as vezes que ele esteve aqui, isso é certo. Eu só não entendo o motivo. E disse que não queria que ele soubesse sobre o bebê... E que ficaríamos bem de vida. Como se ela tivesse planejado isso tudo, em função de... Dinheiro. Mas... – enruguei a testa, pensativa – Salma nunca foi assim, interesseira. Por isso não consigo entender tudo isso.
- Mas Heitor sempre transou com qualquer mulher que cruzou o caminho dele. E todo mundo em Noriah Norte sabe disto.
- Eu sinto raiva quando me pego pensando nos dois... – Confessei.
- Não sinta... Se ficar chateada com cada mulher que ele teve na cama, vai odiar todas do país.
- Definitivamente, você quer acabar comigo, não é mesmo, irmão?
Ele riu:
- Vou embora. E relembrando: quero meu nome fora da certidão da bebê.
- Eu já entendi isso. – Revirei os olhos.
- Qualquer coisa, me ligue. Estou num Hotel aqui perto.
- Tem um quarto sobrando aqui.
- Não, não tem. A criança deve ir para o quarto de Salma. Não deve deixá-la dormir com você. Vocês duas precisam de seus próprios espaços.
- Andou lendo sobre bebês?
- Não... Mas andei “lendo” sobre você. – Ele sorriu e saiu.