Capítulo 83
2075palavras
2023-02-06 11:29
- Obrigado pela surpresa. Amamos a recepção. – Agradeci.
- Não fui eu que fiz. Só tive a ideia.
- E quem fez? – fiquei curiosa.

- Esta pessoa aqui. – Mostrou Milena junto dele na tela.
- Milena? – senti meu coração bater mais forte. – Vocês... Estão...
- Juntos. – Ela mostrou o dedo anelar, que tinha uma aliança.
- Meu Deus! Não pode ser.
- Obrigada, cupido. – Ela sorriu, de forma sincera.
- Vocês não sabem o quanto estou feliz por vocês.

- E eu por Sebastian ter uma irmã que mudou as coisas entre os Casanova e Perrone... Ao menos por enquanto. – Revirou os olhos.
- E sua mãe? – questionei.
- Ela não sabe.
- Mas vai saber em breve. – Sebastian justificou.

- Mas... Vocês estão em Noriah Norte?
- Não. Estamos no meu apartamento, na Itália.
- Morando juntos?
- Não... Não exatamente. Mas em breve sim. – Milena disse, olhando para ele. – Eu estava até ontem em Noriah Norte. Organizei seu apartamento e depois voei diretamente para cá. E assim estamos.
- Amor em ponte aérea, com escalas pelo menos. – Brinquei.
- E sua mãe, Sebastian? Ela sabe sobre Milena... E sobre mim?
- Não. Minha mãe não é o tipo de pessoa que se preocupa muito com quem eu me relaciono... Ou com o passado do nosso pai. Ou seja, mesmo que ela tenha que dividir tudo com você, pouco se importa.
- Ela ficou assim... Por causa do passado? Talvez ainda ame Allan Casanova.
- Eu sinceramente não sei. Mas depois de tudo que houve, ela se transformou numa mulher fria.
- E talvez minha mãe seja culpada disso. – Milena olhou para ele, tristemente.
- Não... Não vamos falar do passado – eu pedi – Vocês já combinaram entre vocês que é proibido tocar neste assunto, não é mesmo?
- Sim. – Os dois sorriram e ela deu um beijo no rosto dele, deixando a marca do batom na parte que não tinha barba.
- Ah, eu confesso que estou com um pouco de ciúmes do meu irmão preferido. – Confessei.
- Não tenha ciúme de mim, Babi. Eu o amo tanto... E vou cuidar dele para sempre.
- Ciúme? Hum... Talvez entenda o que eu sinto quando a vejo nos braços do canalha do Heitor.
Fiquei em silêncio por um tempo.
- Não o chame de canalha. – Pedi.
- Mas é o que ele é.
- Como ele está? – perguntei, olhando na direção de Milena.
- Creio que bem. Eu não fui mais ao apartamento dele desde que acabamos o noivado. E ele não visita muito a mansão Casanova. Principalmente agora, que mal tem tempo para qualquer coisa, desdobrando-se em dois para dar conta da Babilônia e North B.
Suspirei:
- Entendo... Mas acho que foi bom pra ele assumir isto tudo.
- Sim. – Ela concordou.
- Eu... Vou deixar vocês aproveitarem o momento. E claro que vou ser a madrinha do casamento, não é mesmo?
- Sim, minha irmã estará ao meu lado na cerimônia.
- O meu irmão também. – Milena sorriu.
- Ei, ele é o seu ex. – Sebastian falou, fazendo uma careta.
- Mas sempre o considerei meu irmão. – Ela afirmou.
“Então por que dormiu com ele”? Me ouvi pensando, mas não falando. “Pelo mesmo motivo que você quis dormir com Sebastian”, ouvi até a resposta dela para minha pergunta imaginária.
Fiz uma careta, pensando no que teria acontecido se eu tivesse dormido com Sebastian e depois soubesse que era meu irmão.
- Ok, sem problemas: eu e Heitor padrinhos do casamento – eu disse – Preciso desligar agora... E descansar. Amanhã tenho um show perfeito para assistir. E tem a grande possibilidade de John me ver na plateia e se apaixonar. Então eu vou sumir no mundo, irmão. Mas entre uma turnê e outra, passo por aí para lhe ver.
- Tudo bem... Bom show. E não faça sexo sem camisinha com Bon Jovi. – Riu debochadamente.
- Vou ouvir seu conselho, não se preocupe. “Sexo com camisinha”. Vou levar algumas na bolsa, caso John não tenha.
Começamos a rir.
- Amo vocês. – Joguei um beijo e desliguei.
Joguei o telefone no sofá e olhei para nosso apartamento, exatamente do jeito que deixamos ao sair. E aquilo me inundou de uma sensação de bem-estar e aconchego que não tinha explicação.
- Vi que John já está em Noriah Norte. – Ben observou.
- Eu li...
- Não vai acampar na frente do Hotel dele?
- Não. Passei desta fase.
- De tietar?
- De forçar a barra – comece a rir – Ele tem que me querer do jeito que eu sou.
Ben gargalhou e ligou o aparelho de som.
- Ei, nem desfiz minhas malas ainda. – Reclamei ao perceber que ele procurava uma música em especial.
- Nem as levou para o quarto, quer dizer. E só para deixar claro: o fato de você ser dona oficial do apartamento não lhe dá direitos sobre o banheiro.
- Eu protesto... Claro que me dá.
- Não... Continuará na fila. E proibida de encher de vapor e fazer virar sauna antes de eu entrar.
- Isso não é justo.
- Justíssimo.
- Está procurando uma música do Bon Jovi para dançarmos? – perguntei. – Quer ensaiar comigo, isso?
- Não. – Ele riu de forma misteriosa.
Então começou a tocar “Macarena”. Deus, quanto tempo eu não ouvia aquela melodia divertida.
Ben começou a dançar, fazendo os gestos e vindo na minha direção.
- Não... Não vou dançar isso. Tenho um show de rock amanhã. Me recuso.
Salma veio rapidamente, imitando os gestos de Ben.
- Caralho, você é dançarina. E precisa imitar Ben?
- Claro que não – ela alegou – Mas amo o jeito que ele dança.
- Cuida Maria Lua aí. – Avisei, vendo-a se remexer.
- Vem... – Ben me chamou com o dedo indicador, estreitando os olhos sedutoramente – Você precisa treinar.
- Treinar?
- Sim. Para o meu casamento. – Ele completou.
- Seu casamento? – Salma riu.
- Todo casamento toca Macarena na festa. Então minhas madrinhas e eu vamos começar a ensaiar com antecedência.
Comecei a dançar, fazendo os gestos que eu já sabia de cor e acompanhando-os.
- Você vai casar também, Ben? Espero que não seja próximo do casamento de Sebastian e Milena. – Debochei.
- Com quem você vai casar? – Salma perguntou, curiosa.
- Com Tony – ele disse seriamente – Eu vou para a Itália.
Paramos as duas de dançar.
- Como assim? – perguntei.
- Vou esperar Maria Lua nascer e partirei atrás do meu homem. Foda-se a vagaba da noiva dele. Pegarei o que é meu de volta. Não vivo sem o desclassificado.
O abracei com força:
- É assim que se fala. Estou orgulhosa de você.
- E a nossa viagem serviu para que, afinal? – Salma perguntou, enquanto voltava a dançava divertidamente. – Já que partimos pra você se afastar do Tony e irá para junto dele?
- Para curtirmos nossa baby... E você descansar e repousar. Afinal, eu voltei ainda mais louco por Tony e sei que assim que Babi acabar com as esperanças de ficar com Bon Jovi, vai procurar o CEO fogoso e carente.
- Vou? – perguntei.
- Vai. – Ele confirmou, enquanto segurava minhas costas para mim deitar, jogando meus cabelos ao chão enquanto me remexia ao corpo dele, conforme o ritmo da música.
- Acham que Heitor fará parte do nosso convívio? – Salma perguntou. – Tipo... Fazer coisas conosco... Inclusive com nossa bebê?
- Claro que sim – Ben disse – Você acabou nunca falando com ele fora da Babilônia. Thorzinho é um amor. Por trás daquele homem em metro, cheio de segurança, existe um bebê implorando pelo amor da nossa amiga aqui. – Apontou para mim.
Eu sorri, sentindo meu coração se encher de amor e saudade. Se fechasse meus olhos, conseguia vê-lo e sentir suas mãos no meu corpo.
Eu ainda guardava uma das rosas na minha bolsa, mesmo seca. Era como se ele estivesse comigo.
- Eu... Vou parar. Maria Lua está mexendo demais. – Salma disse, enquanto escorria gotas de suor pelo seu rosto.
- Ei, repouso. – Lembrei.
A música acabou. Salma sentou no sofá e Maria começou a se movimentar intensamente. Começamos a cantar a música preferida dela: Your my Sunshine. Cantamos baixinho, até que ela dormiu, pois não se mexeu mais.
- Dorme com os anjos, meu raio de sol. – Salma alisou a barriga.
Coloquei uma calça jeans e uma camiseta do Bon Jovi para assistir ao show. Tênis confortáveis e cabelos presos, com a tatuagem à mostra. Sim, fiz ela na adolescência. E eu a amava. Bon Jovi era eterno na minha vida.
Claro que quando cheguei ao local do show, estava uma loucura. E sim, eu havia ido mais de quatro horas antes do início, para garantir que não me atrasasse para entrar. No entanto, duvido que não houvesse atraso. Já comecei a ficar ansiosa e amedrontada de não entrar a tempo.
Mas certamente ele não começaria a tocar enquanto não entrasse todo o público ou o estádio estivesse lotado. Eu usava fones de ouvido, enquanto passava as músicas mais conhecidas e as que eu tinha certeza de que tocariam no show.
Comprei uma bandana com a foto da turnê e coloquei nos cabelos. Uma moça vendia brincos com as letras B e J penduradas. Comprei também.
- Gente, Bon Jovi está chegando. – Alguém gritou.
Várias pessoas saíram correndo e eu corri, pegando lugar na fila. Claro que sabia que era mentira. Ele já estava ali, no camarim, se preparando para o show. E ele mal sabia que me conheceria naquela noite. Suspirei e até acho que saíram coraçõezinhos de mim.
Conforme eu ia chegando próxima do portão principal, meu coração começava a bater mais forte. Eu quase nem acreditava que aquilo realmente estava acontecendo. Foi um momento que eu esqueci de tudo da minha vida: passado e futuro, como se o presente fosse o mais importante.
Depois de duas horas na fila, finalmente consegui entrar no estádio, que já estava lotado.
- Bon Jovi, enfim vamos nos conhecer pessoalmente.
Me dirigi ao lugar, firme, segura e feliz. Era um desejo da vida inteira se realizando. E demorou tanto tempo entre pegar o ingresso nas mãos e o dia do show.
Sentei numa cadeira, certa de que não conseguiria ficar ali muito tempo. Olhar um show do Bon Jovi sentada? Nem por um decreto.
Uma mulher sentou ao meu lado, acompanhada de um homem, talvez o marido. Os dois usavam camisetas personalizadas da banda. Nos olhamos e sorrimos. Creio que todos estivéssemos ali com um mesmo objetivo: John e suas músicas maravilhosas.
O telão se iluminou em meio ao palco levemente claro, mostrando imagens da banda através dos anos, fazendo meu corpo se arrepiar. Quando as luzes principais do palco finalmente ligaram, gritos ecoaram pelo estádio, e minhas pernas ficaram bambas.
Comecei a gritar e pular enlouquecidamente, enquanto seguia o chamado da plateia que ainda chegava:
“Bon Jovi, Bon Jovi”!
Meu celular vibrou no bolso, mas não dei importância. Ainda faltava cerca de menos de uma hora para oficialmente a banda começar a tocar. Mas eu sabia que certamente atrasaria.
Eu era uma mulher de sorte, por poder estar ali, naquele momento histórico.
Trinta minutos depois e meu celular seguia vibrando. Retirei do bolso e desbloqueei, iluminando a tela com mais de 20 chamadas de Ben. Alguma coisa tinha acontecido.
Senti meu coração apertado e fiquei amedrontada. Ligar para ele dali era impossível. Recebi a notificação de uma mensagem. Era dele:
Salma está no hospital, em trabalho de parto. O médico disse que ambas correm risco. É grave.
Como assim? Eu saí de casa há pouco mais de cinco horas. Maria Lua estava querendo vir ao mundo antes do tempo? O estado dela é grave? Não... Não pode. Salma fez repouso, ela se cuidou, ela fez tudo certo.
Olhei para o palco, sabendo que estava há minutos de ver o homem que desejei conhecer a vida inteira.
Olhei para o celular e digitei:
Estou indo para aí. Qual hospital? Por Deus, mande Maria Lua me esperar para nascer.
Minhas mãos estavam trêmulas e as pernas não me obedeciam enquanto eu ia na contramão da multidão que entrava. Meus amigos sempre estariam em primeiro lugar.