Capítulo 80
2064palavras
2023-02-06 11:28
- Isso não é um sonho, Bárbara. É real. E amanhã você vai estar sóbria e infelizmente talvez não lembre de nada do que houve aqui.
Tirei as mãos dela da minha gravata e afastei-me com dificuldade.
- Está com fome? – perguntei.

- Só de você.
Caralho! Eu teria que ser muito forte para não tirar a roupa dela e beijar cada centímetro da sua pele antes de fodê-la com toda a minha força.
Virei de costas e respirei fundo. Nunca usei da bebedeira de uma mulher para me aproveitar, embora muito já tenha sido abusado por elas pela minha condição ao beber demais.
Ela se remexeu na cama e voltei, retirando seus sapatos, a fim de deixá-la mais confortável.
- Dorme, Bárbara.
- Só se for com você. Deita do meu lado.

Suspirei e retirei meu sapato, deitando ao lado dela, o mais longe que consegui. Ela rolou até mim, rindo enquanto levantava o peito, tentando se apoiar nos braços, mal conseguindo manter os olhos fixos nos meus.
- Eu gosto de sonhar com você – falou. – Adoro seus olhos.
- Adoro você. – Toquei o rosto dela.
- Eu preciso ir embora para sempre... Porque tenho que esquecê-lo.

- Só porque quer... Não seria necessário, se você não fosse tão covarde.
Ela não aguentou segurar a cabeça com as mãos e deitou novamente.
- Me abraça, Heitor. – pediu, com a voz baixa.
Retirei minha gravata e desabotoei o botão da calça, me sentindo mais confortável. Estava cansado, física e mentalmente. Havia sido um dia difícil e cheio de coisas para resolver na North B.
Olhei para as costas dela e levantei seus cabelos. Aquela tatuagem do Bon Jovi em seu pescoço simplesmente me deixava fascinado. Era uma mistura de força e determinação com inocência e delicadeza. Quando percebi, meus lábios estavam no colorido da tinta. Beijei cada centímetro da pele desenhada e depois passei minha língua, percebendo o corpo dela arrepiar-se ao meu toque.
- Eu gosto quando você faz isso... – ela confessou, soltando um gemido contido.
- Eu gosto de fazer isso. – A abracei, aproximando meu corpo de dela, não resistindo.
- Quero fazer amor com você – ela falou, sem virar para mim. – Porque eu não faço sexo com você... É amor.
Caralho, eu não vou conseguir me conter. É mais forte que eu. Senti meu pau entrar em ebulição em segundos, querendo pular para fora da calça.
- Não posso fazer isso... Não com você neste estado. Amanhã a primeira coisa que você faria seria me matar. – Garanti.
- Não vou... – falou, com dificuldade.
Alisei seu braço levemente, percebendo os pelos eriçarem.
- Eu vou ficar louca... – ela disse, empinando a bunda minha direção.
- Não...
Ela pôs a mão para trás, tentando encontrar meu pau. Puxei seu corpo de encontro ao meu e comecei a roçar-me na sua bunda, lambendo a parte das suas costas que se encontrava desnuda.
- Tira a roupa. – Ela disse, enquanto tentava virar para mim.
A apertei com força, impedindo-a de virar na minha direção. Não era seguro.
- Vamos dormir. – Falei.
- Eu quero dormir com você.
- Eu vou dormir aqui, prometo.
Percebi que ela relaxou o corpo, se dando por vencida. Depois de um tempo disse:
- Que porra de sonho, desclassificado mor. Nem na imaginação você consegue fazer as coisas certo.
- Sou mesmo um idiota. Não tem o que fazer quanto a isso. – Alisei seus cabelos e ela fechou os olhos. – E você gosta de mim justo por eu ser um idiota.
- Você pode me abraçar? – ela pediu.
Relaxei meu corpo e deixei o braço envolvê-la de forma mais suave, colocando o nariz no seu pescoço e sentindo seu cheiro.
- Boa noite, Bárbara.
- Boa noite, Heitor. Eu amo você.
- O quê? – quase gritei, sentindo meu coração bater tão forte como jamais fez em toda minha vida.
- Amo você, desclassificado. Mas jamais vou assumir isso quando não for um sonho... Um sonho perfeito.
Eu ri:
- Amo você, Bárbara... Mais do que qualquer outra pessoa no mundo inteiro.
Ela pegou minha mão e levou ao seu peito. Pegou no sono em minutos.
Fiquei um tempo, junto dela, querendo que aquele momento fosse eterno. Como eu queria ela para sempre ao meu lado. Imaginei se algum dia eu enjoaria de Bárbara ou sentiria para sempre aquele amor que chegava a me esmagar por dentro.
Percebi que ela havia ferrado no sono e levantei. Fiquei um longo tempo observando-a, virada para o lado de fora da cama, os cabelos claros espalhados por todo o travesseiro branco, a boca levemente aberta. Bárbara era completamente perfeita, até dormindo. Por mais que eu quisesse admitir para mim mesmo que havia perdido aquela mulher, era difícil aceitar.
Abri a porta envidraçada e fui para a área da piscina. Estava um pouco frio na rua e o vapor da água quente da piscina cobria grande parte do ambiente, criando um ar levemente triste. Ainda mais pela solidão que eu vivia nos últimos dias, impulsionada a levantar da cama diariamente somente movido pelas lembranças, e quase sem esperanças de ser feliz novamente.
Novamente! Ri de mim mesmo. Não existia a palavra “novamente” para uma coisa que não existiu antes.
Sentei na espreguiçadeira e abri um espumante que estava imerso no gelo. O uísque que tomei quando soube que ela estava no cemitério durante a noite não foi suficiente. Porque eu me preocupava mais com Bárbara do que comigo mesmo. E por isso deixei Anon responsável por cuidá-la, mesmo de longe. Sim, abri mão do meu segurança, que se certificava de cada passo que eu dava de forma segura, em nome dela.
Sorvi o líquido gelado por inteiro e logo enchi a outra taça e em seguida a terceira. Quando acabou, entrei novamente na suíte e peguei a garrafa de uísque. Sim, eu precisava de algo mais forte para que conseguisse olhar para o amor da minha vida, deitada na cama, tão próxima, e não poder fazer amor com ela.
Voltei para a espreguiçadeira, ao lado de fora, para minha própria segurança.
Peguei meu telefone e liguei para Ben.
- Alô... Thor? – ouvi a voz dele surpresa do outro lado da linha.
- Boa noite, Ben. Estou ligando para avisar que estou com Bárbara. E ela está bem. Assim que curar a bebedeira, libero ela.
- Como assim? Babi está bêbada? O que houve? Ela procurou você?
- Não. Eu a peguei no cemitério de Noriah Norte... Bebendo no túmulo da mãe.
Houve um breve silêncio do outro lado da linha antes de ele dizer:
- Ela tem dessas... Como posso agora tentar convencê-lo de que ela é uma pessoa normal? – ouvi uma leve risada do outro lado.
- Bárbara pode ser tudo, menos “normal”.
- Ela está bem?
- Sim. Dormindo. Depois vou dar um banho nela e preparar alguns analgésicos, pois a dor de cabeça vai ser grande...
- Com certeza.
- Quando ela vai embora? – me ouvi perguntando.
- A ideia é partirmos amanhã.
- Você vai junto? Então ela não vai sozinha?
- Não... Viagem entre amigos. Cada um com um objetivo diferente... E o dela é tentar esquecer você.
- Não entendo porque Bárbara foge desta porra de sentimentos... Confesso que sinto que ela tem sentimentos profundos por mim... Tanto quanto eu por ela.
Um breve silêncio novamente antes de ele retomar a palavra:
- Sentimentos profundos? – riu. – Não acredito que você parafraseia Bárbara e suas teorias malucas sobre amor. Porque é isso que ela usa para não dizer a palavra “amor”.
- E onde Sebastian entra nesta história? – toquei no assunto que eu tanto queria.
- Sebastian não entra nesta história. Não da forma como você pensa, eu garanto.
- Então a possibilidade de vocês irem para o país dele... É remota?
- Eu diria que nula, Thor. Não se preocupe.
Senti um alívio dentro de mim que não consegui explicar. Meu corpo relaxou completamente e o coração voltou a bater de forma normal.
- Devo ter esperanças, Ben?
- Eu não sei dizer ao certo, Thor. Babi está fugindo dos sentimentos dela e espero que isso tenha ficado óbvio para você. Mas não posso dizer que ela um dia vai mudar a forma de ver o amor, porque é complicado. Tentei de tantas formas mudar a visão dela, mas Babi tem tanto medo. Eu lhe aconselharia a dar um tempo para ela. No entanto, não acho justo você esperar por uma coisa que não há data certa para acontecer.
- Ela sofreu tanto assim ao lado do ex?
- Além dos oito anos? – ele fez uma breve pausa. – Oito anos são oito anos. Imagina sete deles serem um inferno.
Respirei fundo, tentando controlar a raiva que crescia dentro de mim:
- Não vou dizer que irei matá-lo, porque afinal, ele já está morto.
- E digo, com toda propriedade, que isso foi uma grande sorte na vida da minha amiga.
- Eu queria poder apagar tudo que ela viveu.
- Não... Não tente apagar. Tente fazer com que ela supere. Ela acha que está curada. Ainda assim, não se dá uma chance. O medo é maior que qualquer coisa. O que ela precisa é compreensão, só isso. Eu conheço muito bem Babi e infelizmente ela vai seguir assim, se munindo de defesa contra o amor. Todos temos um passado. Ela também precisa aceitar o seu, Heitor. Babi é como um livro, muitos sabem o nome, poucos sabem a história.
- Ela é complicada... Ciumenta, possessiva, mandona...
- Com amores e amigos. – Ele riu.
- Eu... – um suspiro escapou, sem querer, transparecendo tudo que eu sentia naquele momento. – Eu vou desligar. Só queria avisar que ela está bem.
- Thor, eu tenho certeza de que você e Babi vão ficar juntos. Tenha paciência... Só isso. Tem coisas que só dão certo no tempo certo.
- Paciência, eis uma coisa que eu nunca tive – confessei. – Obrigado por me esclarecer algumas coisas, Ben.
- Não tem de que, Thorzinho. Pode me usar sempre que precisar... No bom sentido, claro. – Ouvi a risada dele do outro lado.
- Boa noite. Cuidarei bem da sua amiga.
- Não tenho dúvidas. E eu mal conheço você, mas confio. Então... Não sei se preciso lhe dizer que transar com ela neste estado não é um ato de cavalheirismo, por mais que ela insista.
- Eu jamais faria isso. Nunca abusei de uma mulher bêbada. Pelo contrário, elas que abusavam de mim.
- Então deixe que Babi abuse de você – ele riu. – Boa noite.
- Boa noite, Ben.
O ar da noite começava a ficar frio. Voltei para dentro, dando de cara com ela na cama novamente, assim que cruzei a porta.
Fui imediatamente para o chuveiro, tomando um banho gelado. Precisava manter a minha sanidade.
Enrolei a toalha na cintura e sentei na poltrona próxima da porta de vidro. Diminuí as luzes, deixando o ambiente menos claro e mais acolhedor. Me servi do outro espumante que havia na mesa ao meu lado e terminei de beber quando já passava da meia-noite.
Eu ainda estava no mesmo lugar, na mesma posição, velando o sono de Bárbara Novaes, que dormia como um anjo, como se sua presença naquele lugar não me causasse absolutamente nada. Se ela soubesse o quanto mexia com meu corpo, minha mente e meu coração... De uma forma que jamais imaginei em toda a minha vida.
Recostei a cabeça no encosto da poltrona, sentindo o cansaço dar lugar ao sono. Fechei meus olhos, incapaz de colocar uma roupa. Ela se remexeu, chamando minha atenção novamente.
Fui até lá a fim de cobri-la e ela abriu os olhos:
- Eu estou enjoada. Não me sinto bem.
- Bebeu mais do que deveria, mocinha – a ajudei a levantar. – Vamos para o banheiro.
Ela não estava tão cambaleante. Mas se segurava ao meu corpo.
- Você está pálida. – Observei.
- Eu acho que vou vomitar. – Ela correu até o vaso sanitário e se ajoelhou, regurgitando tudo que tinha no estômago.
Levantei seus cabelos, que ela mal tinha capacidade de segurar. Aquela maldita tatuagem acabava com qualquer possibilidade de eu não a tocar ou me conter diante dela e sua bebedeira.