Capítulo 73
2030palavras
2023-02-06 11:24
Quantas vezes ele ainda pediria perdão pelas besteiras cometidas?
- Você precisa amadurecer, Heitor. – Toquei o rosto dele.
- Me ajuda... Por favor. Como eu faço isso?
- Eu não sei como se faz isso... Eu também estou tentando. Então não podemos fazer juntos.
- Seríamos dois imaturos, não é mesmo? – Sorriu, tristemente.
- Sim... Eu acho que sim. Mas me diga uma coisa antes de sair, por favor.
- Claro... O que você quiser.
- Quantas vezes ainda vou encontrá-lo com Cindy quando nos cruzarmos?
- Espero que nenhuma. Além de convencê-la a comprar outro apartamento, eu também a chamei para fazer ciúmes para você.
- O quê? Você sabe o quanto a odeio e ainda insiste nisso? Heitor, você é a criação da palavra “desclassificado”. – Fiquei furiosa.
- Talvez... Vou voltar ao meu mundinho: CEO da North B. de dia e CEO da Babilônia à noite. E um bêbado nos intervalos – riu. – É o que me resta fazer sem você.
- Desde que pare de me perseguir, faça o que quiser.
- Não sabe o que está dizendo, Bárbara.
- Imaturo ao quadrado.
- Louca ao cubo.
Estreitei meus olhos:
- Você esqueceu de crescer, Heitor?
- Sim, assim como você. Se precisar, tem uma babá na minha casa para você.
- Sim, está lá porque ainda cuida de você, os trinta anos de idade.
Alguém bateu na porta. Nos olhamos imediatamente.
- Senhor Casanova, precisa sair. – Ouvi a voz de Anon do outro lado.
- Não acredito que usou Anon para isso. – falei, furiosa.
Ele abriu a porta. Antes que eu saísse, puxou meu braço e disse, olhando nos meus olhos:
- Não importa o que você esteja fazendo, nem onde estiver... Ainda assim, estarei cuidando e protegendo você, mesmo que de longe.
- Não preciso da sua proteção.
- Sempre estarei onde você estiver... Até o fim dos meus dias. – Fingiu não me ouvir.
Saímos praticamente juntos e fomos na mesma direção. Era impossível não se dar conta de que estávamos no mesmo lugar.
Eu estava indo em direção à mesa quando alguém sentado mais distante, próximo da janela, me chamou a atenção.
Fui andando devagar, estreitando os olhos e tentando lembrar de onde o conhecia. Quando cheguei perto, observei melhor o casal rindo divertidamente enquanto conversavam de forma íntima.
Os cabelos estavam cortados. Mas era ele, não tinha dúvidas:
- O que você está fazendo aqui? – perguntei.
Ele olhou e pareceu confuso com a minha atitude.
A mulher encarou-me:
- Quem é você?
Peguei a taça com água na mesa e derramei sobre a cabeça dele, vagarosamente.
- Sua louca! – ele levantou, furioso, chamando a atenção de todos.
- Prostituto! Deve estar pagando a conta com o que me roubou. – Acusei. – Não vai sair daqui sem devolver o meu dinheiro e pedir desculpas pelo que fez.
- Não conheço você. – Ele seguiu fingindo, enquanto passava a mão na roupa molhada.
- Hazard, Motel, sexo oral, bolsa com dinheiro, cartão novinho em folha e celular. – Refresquei a mente dele.
Ele me encarou, sem resposta.
- Claro que você não lembra, seu desclassificado. Deve fazer isso com todas. Ei, senhora, ele vai roubá-la depois que a levar para um lugar mais “tranquilo e agradável”.
Claro que a estas alturas todo o restaurante estava olhando para nós.
- Senhora, por favor... Precisa parar com isso. Todos os clientes estão olhando. – Um homem, que talvez fosse o dono do restaurante, falou, quase no meu ouvido, discretamente.
- Foda-se todo mundo. – gritei.
Dois homens, certamente seguranças do lugar, vieram na minha direção e pegaram meus braços, um de cada lado, tentando me afastar.
- Tire as mãos dela, agora! – Heitor falou, já do meu lado, entredentes, furioso.
Os dois me soltaram imediatamente.
- Senhor Casanova... A senhora em questão está atrapalhando o jantar dos clientes, se é que me entende. – O homem disse.
- O que houve, Babi? – Sebastian perguntou, puxando-me pelo braço levemente, me aproximando dele.
- Sebastian, este é o prostituto que me roubou. – Apontei para o gatuno.
- Ah, seu desgraçado. – Heitor deu um soco na cara do desclassificado. – Como ousou tocá-la?
O prostituto pareceu ficar em choque por um tempo, até tentar sair correndo. Mas Sebastian foi mais rápido e o pegou, segurando seus dois braços para trás, imobilizando-o.
- Onde estão as coisas dela? – Heitor perguntou.
- Eu não sei... Esta mulher é louca. – Ele disse, aturdido.
Heitor deu-lhe outro soco, desta vez na barriga, fazendo-o soltar um grito que parecia um gemido:
- Ela não é louca. Desculpe-se agora. – Ordenou.
- Ninguém vai fazer nada? Chamem a Polícia – ele pediu, aos gritos, para os demais clientes – Estão tentando me matar.
- Chame a polícia e jamais sairá da cadeia, eu garanto. – Falou Sebastian.
- Senhores, por favor... – O dono do restaurante estava apavorado, enquanto todos olhavam na nossa direção.
- Quem sabe terminamos esta conversa na rua, Heitor? – Sebastian sugeriu.
- Sugestão perfeita. – Heitor concordou.
Enquanto os dois saíam com o prostituto ladrão, peguei minha bolsa na mesa e estava indo atrás deles quando voltei e olhei para Cindy:
- Se eu fosse você, ia embora. Heitor não vai voltar. E pode deixar que eu pago a sua conta. – Pisquei e saí correndo atrás do meu irmão, do prostituto ladrão e do amor da minha vida.
Quando cheguei saída do restaurante a situação estava ainda pior. Anon segurava o prostituto de nome Tales, que certamente era falso, enquanto Sebastian e Heitor batiam nele. O desclassificado sangrava a boca, o nariz e em cima do olho, no supercílio. A camisa estava ensopada do líquido vermelho e a acompanhante dele gritava pedindo para soltá-lo, em desespero.
- Ok, deu. – Pedi enquanto eles continuavam, sem me dar atenção.
Tive que ficar na frente do prostituto para que Heitor e Sebastian parassem. Estavam ofegantes e eu conseguia ver a raiva nos olhos deles como sentissem exatamente o mesmo que eu.
- Vamos, peça desculpas. – Heitor ordenou.
- Desculpe... Bárbara. – O homem disse, quase sem voz.
- Alto... Ela precisa ouvir. – Sebastian falou.
- Desculpe, Bárbara. – Ele repetiu, mas acho que a voz não saía mais alto do que aquilo.
- Vai devolver o dinheiro dela. – Heitor falou entredentes. – Agora!
- Me soltem... E eu devolvo... Não sei o quanto... Mas tenho... Devolvo.
- Ele sequer deve lembrar. Quantas mulheres este desclassificado já deve ter roubado?
Uma pessoa estava gravando e quando viu que foi observada, começou a andar rapidamente.
- Pegue o celular, Anon... Quebre e depois pague pelo estrago. – Heitor ordenou.
- Sim, senhor.
Anon foi atrás do homem, que saiu correndo com o celular ainda em mãos.
- Não precisa isso, Heitor. – falei.
- Se eu não fizer exatamente isso, amanhã eu e Sebastian estaremos em todos os noticiários como agressores de um garoto de programa bondoso, que não fez nada a não ser tentar jantar em paz num restaurante.
- Você não precisa me devolver o dinheiro – falei ao homem. – Mas que isso sirva de lição para não roubar mais as mulheres. Você recebe para dar-lhes prazer. Não precisa pegar mais do que lhe é dado por direito.
- Não vou... Não vou...
- Ei, você... Lembra de mim? – me ouvi perguntando, curiosa.
- Você... Quer que eu lembre? – ele perguntou, enquanto a saliva, misturada com sangue, escorria dos seus lábios.
- Espero que não lembre. – Finalizei.
- Então não lembro... – ele garantiu.
- Vá embora. Suma daqui. – Sebastian disse, enquanto pegava a carteira do bolso dele. – Isso serve como pagamento pelo que fez à Babi.
- Sinta na pele o que é ficar sem nada, seu desgraçado.
Ele saiu, tentando correr. Achei que a mulher iria atrás dele, mas não foi. Em vez disso, entrou no carro e foi embora.
Ficamos nós três ali. Eu ainda sentia meu corpo trêmulo e embora soubesse de toda situação que existia entre Sebastian e Heitor desde sempre, naquele momento acredito que possa ter tido uma breve trégua... Em meu nome.
- Obrigada... Aos dois. – falei, entre eles.
O prostituto já não estava mais ali então sobrou meu irmão e o amor da minha vida. Deus, meu coração não respondia por mim. Eu amava aqueles dois.
- Sempre quis acabar com a raça deste maldito. – Heitor falou, olhando para a própria mão.
- Está inchada, Heitor. – Observei os dedos inchados e a mão machucada.
- Não... Está tudo certo.
- Já tinha acertado alguém antes? – Sebastian riu, olhando para ele.
- Poucas vezes. – Heitor confessou, com os cabelos completamente bagunçados.
- Vou pedir para o manobrista trazer o carro, Babi. – Sebastian saiu.
- Quando chegar em casa, coloque um gelo. – Peguei a mão dele, observando melhor. – Vai desinchar.
- Se preocupa comigo? – perguntou, com os olhos nos meus.
- Não deveria, mas me preocupo com tudo relacionado a você. – Confessei.
- Então por que me deixou por ele? – olhou na direção de Sebastian, que se afastava de nós.
Vi Cindy saindo pela porta e disse:
- Por que não a deixou por mim?
- Eu sou... Completamente... Louco por você, Bárbara. Tenho... Sentimentos muito profundos dentro de mim...
Eu sorri e dei um beijo na sua mão:
- Também tenho sentimentos profundos pela sua pessoa, Heitor. Obrigada pelo que fez para me ajudar, embora não precisasse. Eu teria resolvido sozinha.
- Não teria. Eles expulsariam você antes de terminar de cobrar a dívida do homem que... Foi pago para... Eu me recuso a dizer isso. – Balançou a cabeça.
- Não diga... Eu mesma não quero mais falar sobre isso. Acho que já posso colocar uma pedra em cima desta história.
Anon parou o carro ao nosso lado:
- Celular destruído e pessoa ressarcida, senhor Casanova.
- Obrigado, Anon.
Curvei-me e sorri para Anon, que dirigia o carro:
- Como está, Anon 1?
- Muito bem, senhor Bongiove. – Ele retribuiu o sorriso.
Cindy chegou e parou na nossa frente. Nós duas nos encaramos.
- Cindy, diga à Bárbara que nós não temos nada... Que somos só amigos desde que... Eu a conheci. – Heitor olhou para ela.
Eu não esperava aquela atitude dele. Falar era uma coisa, mas naquele momento ele agiu.
Senti meu coração bater tão forte que achei que poderia passar mal. Tranquei a respiração, ansiosa pela resposta dela, que demorou a sair.
- Quer que eu minta, Thorzinho? Eu não posso fazer isso. – Cindy foi enfática.
- Como assim? Você sabe que não é verdade... Que nosso assunto nos últimos tempos tem sido apenas profissional. – Ele a encarou.
- Creio que Bárbara não quer que eu minta, Thor. – Ela deu um meio sorriso. – Sinto muito.
Olhei para ele e depois para ela:
- Até porque, mesmo que ele estivesse dizendo a verdade, eu sei que você não confirmaria, Barbie das trevas.
- Só falo verdades... Sinto muito. – Ela insistiu.
O carro de Sebastian parou atrás do de Heitor.
- Isso que dá misturar questões profissionais com pessoais. – Falei, olhando nos olhos dele.
- Digo o mesmo para você, Bárbara. – Ele falou, pegando a carteira e retirando dinheiro de dentro dela, entregando a Cindy.
- O que é isso? – ela olhou para as notas que ele lhe dava.
- Pegue um táxi. Mentirosos não entram no meu carro. – Abriu a porta e entrou, puxando-a com força, partindo sem olhar na nossa direção.
Eu ri, vitoriosa. Parecia que era minha noite de sorte. Sebastian parou o carro ao meu lado e empurrou a porta:
- Entra, Babi.
- Barbie das trevas, a mentira tem perna curta. – Olhei para Cindy.
- Ele é meu... Sempre foi. Adoro quando brigamos. Porque fazer as pazes é a melhor parte da nossa relação. – Ela piscou, virando as costas e saindo, segura.
- Entra agora. – Sebastian gritou, já imaginando que eu arrancaria o que sobrou dos cabelos da loira.