Capítulo 8
2173palavras
2022-12-17 12:47
A porta se abriu e Ben se jogou sobre nós.
- Seus ossos doem, seu magrelo. – Reclamei.
- O que vocês estão conversando e por que estão aqui sem mim? Não podem esconder segredos de Benjamin. – Ele deitou do meu outro lado.
- Não estamos contando nossos segredos, Ben. Salma está dizendo que vai ficar rica e ganhar dinheiro sem fazer nada.
Ele levantou a cabeça e olhou para nossa amiga:
- Vai tentar a sorte na loteria?
Comecei a rir:
- Perguntei a mesma coisa.
- Não é nada disso. – Ela sorriu misteriosamente.
- Não faça besteiras, Salma. – Adverti.
- Besteira? Sexo não é maravilhoso? Já pensaram na hipótese de ganhar dinheiro e fazer sexo ao mesmo tempo?
- Vai virar garota de programa, profissional do sexo ou algo do tipo? – Ben sentou na cama. – Conta tudo, amiga... Tem vaga para mim?
- Seus bobos. – Reclamei.
- Não exatamente. Depois que der certo, conto para vocês. Afinal, não vai ser muito fácil.
- Precisa de ajuda destes seus amigos malucos? – Ben perguntou.
- Talvez precise... Depois de um tempo.
- Pode contar comigo. – Os dois bateram as palmas das mãos.
Ela me olhou:
- Falta você, Babi.
- Eu não concordo com coisas que podem ser ruins...
- Não confia na sua amiga?
- Às vezes não. – Confessei.
- Falou Santa Bárbara. – Ben riu.
- Sou santa sim... Em vista de vocês, sou Santa Bárbara.
- Perdeu a virgindade antes de mim. – Salma lembrou.
- Como se isso importasse... Sou virgem da parte de trás. – Confessei.
- Bem, eu perdi a virgindade no lado de trás, então não digo nada. – Ben começou a rir.
- Eu já experimentei as duas coisas... Não sou virgem de buraco algum. – Salma gargalhou.
- Pervertida! – brinquei.
- Eu ia gostar de ser pago para fazer sexo. – Ben confessou. – Imagina ficar dando o tempo todo e ainda receber para isso.
- E pegar cliente sujo e ter que fazer um oral? – Salma pensou na hipótese. – Não se preocupem, não vou vender meu corpo. – Riu. – Mas eu pagaria por um bom oral, daqueles que você goza sem sequer tocar o pau do homem.
- Oral é melhor do que o ato do sexo em si. – Ben disse seriamente.
- Receber ou fazer? – perguntei, curiosa.
- Receber, claro. Ou você acha mais prazeroso fazer do que receber?
Não falei nada e os dois me olharam. Depois alguns minutos de silêncio, Ben perguntou novamente:
- E então, Babi? Receber ou fazer?
- Eu... Não entendo muito sobre “receber”.
Salma levantou do travesseiro e sentou sobre a cama, me encarando:
- Não... Você não vai tentar nos convencer de que em oito anos transando com Jardel ele nunca fez um oral bem feito em você.
- Uma vez... Então não sei se foi bem feito ou não. – Confessei.
- Puta que me pariu. – Ben me levantou pelos braços, fazendo-me sentar. – Olhe nos meus olhos e diga que em 27 anos de vida você nunca gozou com um oral.
- Não. – falei, envergonhada.
- Isso é a coisa mais louca e absurda que já ouvi sobre sexo na vida. – Salma enrugou a testa. – E aconteceu com a minha melhor amiga. Caralho, você precisa fazer isso.
- Eu... Não curto muito fazer em mulheres, Babi... Caso contrário, cairia de boca em você e a faria gozar, amiga. – Ben lamentou, parecendo com o coração partido por mim.
- Jardel tinha algum problema? – Salma ficou curiosa.
- Claro que não... Além do fato de só querer o prazer dele. No início rolava algumas coisas legais e diferentes... Acho que tinha amor... Não sei explicar.
- Sexo não precisa ser só amor... Desde que tenha prazer. Isso é o mais importante. A maioria dos homens que transei foi sem amor... Só por tesão. E foi perfeito. – Salma disse.
- Babi, você precisa transar com um homem de verdade... Que a valorize, que faça um oral inesquecível em você... – Ben começou.
- Daqueles que você estremece e vê todas as estrelas do céu antes de voltar. – Salma completou. – Está quase na casa dos trinta, Babi. E dois anos é suficiente de luto por uma pessoa que não mereceu nenhum dia. Você precisa transar amiga... Urgentemente. E ter outras experiências... Além do babaca do Jardel.
- Aliás, você já está quase virgem de novo. Dois anos sem transar é de tomar tarja preta mesmo. Sinto muito por você... Mas vai transar, amiga. Ou não me chamo Benjamim.
- E ter um único homem na vida? Você é linda, Babi. Precisa ter todas as experiências possíveis.
- Não quero ter todas as experiências possíveis. Acho que um oral está de bom tamanho. – falei.
Os dois deitaram e fiz o mesmo. Ficamos em silêncio um tempo e começamos a gargalhar.
- Que papo de loucos. – falei.
- Babi, você é virgem, amiga! – Ben falou seriamente, enquanto tentava recuperar o fôlego depois de tanto rir.
- Até meu vibrador lhe traria mais prazer do que Jardel. E o melhor: ele é fiel. – Ela continuou rindo.
Dormimos os três na minha cama naquela noite, completamente cansados de tanto bater papo e rir. E eu fiquei empolgada em saber como era gozar num sexo oral.
Definitivamente minha vida sexual com Jardel foi um fracasso, tanto quanto nosso relacionamento conturbado e duradouro.
Acordei com o celular tocando. Era Daniel. Saí do quarto para não acordar Salma, que ainda dormia.
- Bom dia, Daniel.
- E então, como foi a entrevista, Babi?
- Não deu certo. O dono do restaurante não foi.
- Mas não remarcaram?
- Sim... Para hoje. Vou tentar ir. – Menti, certa de que não voltaria.
- Que bom. Torço para dar certo.
Ficamos um tempo em silêncio, até que eu perguntei:
- Trabalhando?
- Sempre. – Ouvi a risada dele do outro lado da linha.
- Dormiu na noite de folga, pelo menos?
- Claro que não. Dormir é para os fracos. – brincou. – Então, como vai na entrevista novamente hoje à noite, não vai poder jantar comigo.
- Não mesmo.
- Que tal um almoço? Eu jantaria com você, já que não trabalho na Babilônia esta noite. Mas pelo visto não vai dar certo...
- Daniel, não... Sou grata pela sua indicação de emprego, mas não quero me envolver... E está fora de cogitação iludir você.
- É só um almoço entre amigos.
- Não somos amigos.
- Puxa vida... Você acaba de quebrar meu coração em mil pedaços.
- Melhor assim, acredite.
- Não... Não é melhor assim. Não pode ao menos tentar me dar uma chance, Babi?
- Você mesmo disse que tem alguém... Então não entendo porque tudo isso.
- Eu não tenho ninguém... Só tive medo que você fugisse de mim. No entanto... Está fugindo da mesma forma.
- Não é fugir... Eu tive um relacionamento duradouro... E embora terminado, ainda não estou completamente curada. Não quero fazer mal a alguém como me fizeram.
- Isso é fugir, sim.
- Daniel...
- Ok, não vou perturbar você, Babi. Boa sorte na entrevista hoje.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele desligou. Talvez ele realmente estivesse interessado em mim. Mas nestes dois últimos anos tudo que fiz foi afastar qualquer possível relacionamento, por saber que não estava preparada.
Daniel era um homem bondoso, carismático e eu não queria magoá-lo. Era melhor ele desistir, porque realmente meu coração ainda não estava completamente curado. E não era pela perda... Era pela forma como ele foi sendo destruído pouco a pouco, quebrando pedaço por pedaço, tão pequeninos que eu mal conseguia ter certeza se voltaria a ser como antes.
Ben saiu do banheiro, enrolado numa toalha, com os cabelos molhados.
- Não teve tempo de secar os cabelos? – perguntei, entrando no banheiro.
- Ou os cabelos ou o corpo, já que eu só tinha uma toalha... Preferi não exibir meu lindo corpinho por aí. Vai que você se apaixona.
- Abre esta janela, porra. Isso parece uma sauna. Já lhe falei mil vezes. – falei abrindo a janela e deixando o vapor se dissipar um pouco.
Ele voltou:
- Você é muito má comigo e eu não deveria, mas vou ajudá-la. Porque sou um bom amigo.
- Vai me dar um cartão de crédito ilimitado com uma passagem para Flórida?
- Amiga, o Bon Jovi é casado e tudo que vai conseguir na Flórida é um ponta pé bem grande no traseiro, dado pela mulher dele. O que eu tenho é uma mísera vaga para marketing.
- Hum, está valendo, no meu caso. Depois adquiro o cartão e vou pra Flórida roubar meu homem da esposa. – brinquei.
- Recebi na minha caixa virtual uma vaga e abri. Casualmente vi que abriu uma vaga para Marketing na “Perrone”.
- Perrone vinhos, você quer dizer?
- Sim.
- Nossa! Cheguei a me emocionar. Nada é nada comparado à North B. Mas seria um bom começo.
- Então se arrume logo porque as entrevistas começam agora às 10 horas da manhã.
- Por que não me avisou antes, porra?
- Porque você dormia com um anjo.
- Ben, você tem um parafuso a menos.
- E um pinto a mais, amiga... Infelizmente.
Fui rapidamente para o chuveiro. Depois do desastre da entrevista na noite anterior e ter sido feita de boba, enfim a sorte parecia sorrir para mim.
Enquanto lembrava do episódio no banheiro do restaurante, os olhos de Heitor Casanova me observando pelo espelho vieram à minha mente. Eu não gostava nem de pensar naquele ordinário, convencido.
Tomei um café enquanto botava uma roupa de entrevista: vestido abaixo do joelho, blazer e sapatos scarpin. Se desse errado, da próxima vez eu iria de jeans rasgados e tênis.
Enquanto descia as escadas com pressa, pedi:
- Deus, eu nunca lhe pedi nada... Pelo contrário, queria até devolver tudo que me deu até agora. Inclusive já devolvi Jardel. E você pegou minha mãe sem pedir. Então me deve uma... Faça com que eu consiga este emprego! Prometo ser ainda melhor pessoa do que já sou. Ok, eu posso não ser uma pessoa tão boa. Mas eu sou um ser humano e cometo erros, porra...
Um casal estava subindo e parei de falar, sorrindo, como se eles estivessem imaginando que alguém falava sozinha enquanto descia as escadas.
- Bom dia! – Cumprimentei.
- Bom dia! – os dois responderam, continuando a subir.
Até esqueci de Deus quando cheguei na porta e abri, dando direto no sol quente daquele dia.
Caminhei cerca de vinte minutos até chegar à sede da filial da “Perrone Vinhos”. Era um prédio de cinco andares, construído recentemente. A empresa até então só existia no país de origem e Noriah Norte recebeu a primeira filial, que gerou bastante empregos.
Me apresentei na recepção do primeiro andar e fui encaminhada para o quinto, num elevador novinho em folha e que funcionava perfeitamente.
Assim que desembarquei, procurei a sala para onde fui mandada. Imaginava uma fila gigantesca de pessoas em busca da vaga, mas para minha surpresa quando abri a porta de vidro só tinha dois homens aguardando nos sofás tilintando de novos e bem cuidados.
O lugar era enorme e tinha duas secretárias, sentadas detrás de um balcão sob medida feito de um material que nunca vi antes.
- Vim para a entrevista. – expliquei, mostrando o crachá.
- Poderia aguardar um instante? O senhor Perrone atenderá primeiro os dois outros candidatos, que chegaram antes. – Uma delas explicou, educadamente.
Candidatos não, concorrentes para mim. E como assim seria entrevistada pelo próprio senhor Perrone? Já senti um frio na barriga. O que estava acontecendo? Eu não li nada sobre as empresas não terem mais Recursos Humanos e os próprios donos ou CEO’s participarem do processo de seleção para empregos em suas empresas.
Sentei e logo meus pés começaram a tilintar no chão, mostrando minha ansiedade.
Percebi os dois homens olhando para meu scarpin a dar um barulho insistente e disse:
- Desculpe... Sofro de ansiedade. – Sorri timidamente.
- E quem não sofre hoje em dia, não é mesmo? – falou um deles.
Logo o mais jovem foi chamado. Enfim, uma esperança de talvez não demorar tanto.
Mas não foi o caso. Cada um deles levou mais de quarenta minutos com o CEO. Então quando o segundo saiu, fiquei feliz, já sentindo meu coração batendo descompassadamente, sabendo que seria a minha vez.
Logo a secretária chamou, acompanhando-me até a entrada da porta.
Assim que entrei, vi o CEO sentado atrás de uma mesa enorme, com tudo em vidro atrás de si, mostrando parte do andar do prédio da frente, gigantesco e imponente, da empresa North B., a maior de bebidas do país.
- Sente-se, por favor. – Ele disse, sorrindo gentilmente. – Sou Sebastian Perrone. – levantou, apertando minha mão.
Meu Deus... Se existe homem mais lindo, eu desconheço.