Capítulo 6
1911palavras
2022-12-17 12:46
- Acha que ele tem uma amante? E pode ser a loira do meio do pole dance? – Questionei, agora mais curiosa ainda.
- Cindy? – ele balançou a cabeça – Bem, Heitor Casanova é noivo. E a probabilidade de você encontrar a noiva dele na Babilônia é quase zero. Mas dentre todos os casos dele, Cindy é o mais sério.
- Os casos? Bem, eu já tinha ouvido falar sobre a síndrome de gostoso cafajeste dele. Mas a tal Cindy me tratou como se fosse a real dona de tudo, acredite.
- Eu não sei como você chegou ao senhor Casanova... Sinceramente, isso é muito difícil. Mas Cindy age mesmo como se fosse dona de tudo. Ela sabe o apreço que o chefe tem por ela.
- E a noiva?
- Bem, eu não sei nada sobre ela. O Google pode lhe dizer algo.
- Cindy é a dançarina do meio do pole dance, certo?
- Ela mesma. Mas não nos falamos muito. Ela é tratada quase como uma celebridade por todos. E não se mistura com os funcionários da Babilônia, mesmo sendo uma. Como eu disse, ela é a boneca do dono da porra toda. Eu só sou o barman.
- Cindy é garota de programa? Acha que o senhor Casanova paga por ela?
Ele gargalhou:
- Sinceramente, eu não sei. E não creio que alguém saiba. Embora todos saibam do caso deles, são discretos no que diz respeito ao resto.
- E ele já dormiu com outras garotas da boate? Tipo... As que dançam nas caixas de vidro?
- Eu... Não sei – ele deu de ombros, confuso – Por que seu interesse por Heitor Casanova e suas amantes?
- Eu... Não tenho interesse nenhum... Só o achei extremamente... Como posso dizer? Babaca.
- Babaca não é exatamente uma ofensa para ele.
- Eu o chamei de babaca desclassificado... Na cara dele.
Ele riu:
- Você disse isso para ele? Meu Deus, como ousou?
- Ele me mandou pra rua... Sem passagem de volta – ri, balançando a cabeça – E tudo porque eu queria fazer xixi... Só isso.
- “Babaca desclassificado”. O que seria “desclassificado”?
- Ordinário, ruim, safado... Asqueroso, miserável, desprezível...
- Preciso anotar isso, caso alguém me xingue assim algum dia. Para mim, desclassificado não passava de alguém que não foi classificado. – Ele riu divertidamente.
- Eu achei que qualquer pessoa sabia o que significa “desclassificado” como ofensa. – Fiquei confusa.
- Eu acho que o senhor Casanova não sabe o que significa ocultamente estas seis coisas bem ruins. Ele deve achar que não foi classificado... Só isso.
Começamos a rir.
A viagem com motorista de aplicativo nunca foi tão divertida e interessante. Conversamos sobre várias coisas. Ele até pegou meu telefone para ajudar, caso soubesse de empregos, pois o fato de levar diferentes pessoas para vários lugares fazia com que estivesse sempre por dentro de tudo.
Assim que desci em frente ao prédio onde eu morava, já era noite.
Apertei o botão do elevador, só na esperança de que pudesse estar funcionando. Mas não estava.
Subi as escadas, quase rastejando de tão cansada. Minhas pernas ainda doíam da noite passada.
Assim que abri a porta, vi Ben sentado no sofá, com um balde de pipoca e uma garrafa de vinho tinto. O filme da vez era “À espera de um Milagre”.
- Filme para chorar? – perguntei, fechando a porta.
Os olhos dele estavam avermelhados. Sentei ao seu lado e fui abraçada.
- Ben, o que houve? Achei que você estaria fazendo sexo até agora.
- Foi uma noite perfeita, Babi... E ele não me ligou.
- Mas... Ainda nem deu 24 horas, Ben. Ele ficou de ligar logo?
- Se ele realmente quisesse, teria ligado. No caso “eu” já teria ligado, se tivesse ficado com o número dele. Mas o desgraçado só pegou o meu telefone e não deu o dele.
Suspirei:
- Ok, acho que deve esperar. É cedo para receber a ligação.
- Acha que sou muito pegajoso?
- Acho. – Comecei a rir, enquanto o apertava com força entre meus braços. – Mas eu amo você igual.
- E você, se ajeitou?
- Amigo, tenho uma longa história para contar...
- E eu tempo, pois olhei este filme umas 40 vezes já. E vou chorar... Mesmo sendo a 41ª.
- E sei que vai ser na hora que John Coffey cura a esposa do carcereiro.
Peguei o controle do braço do sofá e desliguei a televisão:
- Vai chorar quando souber como eu saí de dentro da Babilônia.
Ele me olhou atento. Comecei a contar tudo que havia acontecido na noite passada, detalhando a passagem pela casa da minha avó, o encontro com Ana e finalizando com Daniel.
Quando acabei, muito tempo depois, ele disse:
- Babi... Você conheceu Heitor Casanova? Me abana porque eu estou passando mal, amiga.
Comecei a abaná-lo com minhas mãos, rindo.
- Agora me conte um detalhe: ele é tão lindo quanto parece ser na mídia?
- Eu... Não achei nada de especial. Não é meu tipo, sinceramente.
- E qual é seu tipo, Babi?
- Homens... Reais? – enruguei a testa.
- Ok, a loira do meio que rebola no poste pega o CEO mais conhecido de Noriah Norte, sendo que é a amante dele... Ou no caso, “uma” das amantes.
- Você resumiu tudo numa pequena frase. E o idiota me botou pra fora... Sendo que eu só queria fazer xixi.
- Como ele saberia que você só queria fazer xixi, amiga?
- Ben, eu não quero falar sobre o CEO desclassificado e a loira do pole dance. Quero saber sobre o seu gato... Como foi a noite? Conte tudo e não me esconde nada.
- Babi, estou quase sem conseguir sentar. Você não tem noção do tamanho do homem... E tudo nele. – gracejou.
- Eu tenho sim. Quando vi ele beijando você, pensei: “caralho, ele vai destruir meu Ben.”
- O corpo dele era todo durinho... Puro músculos. Quase ele teve que me juntar de colherinha... Porque eu derreti.
- Agora dê tempo ao tempo. Deve ter sido bom para ele também. E o homem deve ser bem resolvido, ou não teria beijado você na frente de todo mundo na boate mais famosa do país. Ele vai ligar.
- Espero que você esteja certa, Babi.
- Onde está Salma?
- Saiu mais cedo. Disse que tinha umas coisas para resolver. Depois iria para o trabalho.
- Eu vou tomar um banho... E dormir. Estou virada num trapo humano... – falei, indo diretamente para o banheiro.
Era seis horas da manhã quando meu telefone tocou na segunda-feira.
- Alô... – falei, com voz de dormida ainda, não reconhecendo o número.
- Olá, Babi.
- Quem está falando? – sentei na cama.
- O amor da sua vida... Só que você ainda não sabe disto.
- Ben? – perguntei, aturdida.
- Então já tem alguém ocupando meu lugar? Avise Ben que vou matá-lo.
- Quem está falando, porra? Vou na polícia e mandar rastrear no número. Você será preso por ameaça e...
- Babi, sou eu, Daniel.
Fiquei pensativa um pouco, tentando botar os pensamentos em ordem àquela hora da manhã.
- Você... Não dorme... Não vive?
- Sou quase um vampiro. – Ele riu. – Acabei de sair da Babilônia... Acho que deve ser meu quinto turno.
- Então fale o que o faz me ligar esta hora, senhor trabalhador...
- Eu tenho um amigo que trabalha num restaurante caríssimo, um dos mais procurados pelos ricaços de Noriah Norte.
- Hum... E vai me convidar para jantar lá com você, entrando pela porta dos fundos?
- Bem... Eu quero entrar pela porta dos fundos com você, sim... – ele gargalhou. – Mas acho que ainda é cedo para isso, Bárbara Novaes. Ainda nem entramos pela porta da frente...
- Daniel, você é um atrevido. Acho que o seu “amor” não é tão sortuda assim.
- Ah, eu posso apostar que sim, Babi. Mas não liguei para falar sobre ela. Eu estou ligando porque tem uma vaga lá.
- Eu não sei cozinhar... Nem servir mesas... Nem...
- A vaga é de marketing, Bárbara. Você fala demais... Estou dirigindo, por isso tenho um pouco de pressa.
- Isso pode dar multa... Nunca mais vou aceitar você como meu motorista.
- Eu não disse que você fala demais?
- Estou intrigada com uma coisa: como sabe meu sobrenome e que sou formada na área de Marketing e Propaganda? Não falei com você sobre isso.
- Redes sociais... Tão simples e tão esclarecedor.
- Eu não atualizo minhas redes sociais há uns bons anos.
- Mas lá consta seu sobrenome e formação. O suficiente para este ser especial e completamente apaixonado por você, que no caso sou eu, querer ajudá-la.
- Mentiroso e Convencido.
- Não me chamando de “desclassificado” é a conta. Porque dentro desta palavra contém exatamente “seis” xingamentos.
Peguei um bloco de anotações e uma caneta:
- Endereço e horário da entrevista.
- Você vai falar diretamente com o dono do restaurante. Por isso vai ter que estar lá às vinte horas. Entre pela área dos funcionários e diga que está indo pela entrevista. Você tem uma boa indicação. – Ele me passou os dados necessários.
- Daniel, obrigada!
- Pelo que sei o dono não é muito simpático. Então, se esforce para ser humilde e contenha suas palavras.
- E eu não sou? Como assim?
- Preciso desligar, Babi. Estou dirigindo. E não invente de chamar o homem de qualquer palavrão, caso ele diga “não” para você.
- Eu não sou deste tipo... Jamais faria isso. Bem se vê que você não me conhece, Daniel.
- Então me dê a oportunidade de conhecê-la, Babi... A mulher que toma chope de chocolate com pimenta, seguido de cereja, encerrando com menta em menos de trinta minutos, exatamente nesta ordem.
- Não! Eu... Você gosta de outra pessoa. – Tentei entender o que se passava na cabeça dele.
- Posso desgostar imediatamente.
- Eu não quero e não vou me envolver com ninguém, Daniel.
- Hipóteses, Babi... Somente hipóteses. Tenha um bom dia e depois me avise como foi.
- Ok... Obrigada mais uma vez.
Fui para o banho, aproveitando para não precisar esperar na fila, já que Salma já devia estar dormindo, pois chegava de madrugada e Ben ainda não tinha acordado para o trabalho.
O sonho de consumo da vida: não ter que acordar antes de todo mundo para usar o chuveiro ou não precisar que ficar na fila esperando minha vez.
Preparei café e tomei com Ben antes de ele sair. E o boy ainda não tinha ligado para ele, que continuava arrasado. Meu amigo tinha o hábito de se apaixonar por cada homem que cruzava seu caminho e isso o fazia sofrer, na maioria das vezes. Ele nunca teve alguém que estivesse disposto a assumir um relacionamento de verdade. E era só isso que ele queria: alguém para amar, para compartilhar os momentos bons da vida, ir ao cinema, olhar filme com pipoca em casa, andar na praça de mãos dadas e sonhar junto.
Acho que eu era a única louca que não tinha isso como objetivo de vida: encontrar alguém para ser feliz.
Meu objetivo de vida era me curar completamente das feridas que enfim começavam a fechar. E como eu queria poder apagar o passado, para que ele não me deixasse tão amedrontada com relação à relacionamentos.