Capítulo 79
2064palavras
2023-02-08 10:24
- Não, eu juro que não tenho nada a ver com isso. Mas creio que sua irmã e Rachel possam se conhecer. Ou o vídeo não teria vindo parar nas mãos de Mariane.
- Sim... Pensei nisto.
- Eu vou matar Rachel.

- Não... Não vai fazer isso. Eu não me importo... Vou agir rápido antes que este vídeo se espalhe. Somos nós dois nas imagens, mas por eu ser mulher, serei a única prejudicada.
- Infelizmente sim... É assim que funciona. Por mais que eu tente justificar que eu forcei a barra, só verão a professora mais velha, que se envolveu com o aluno.
Dei um sorriso triste, satisfeita por ele entender que, mesmo estando no mesmo vídeo nós dois, eu seria a única a pagar o preço.
Melody ainda estava acordada e Yuna lhe contava uma historinha para dormir.
- Peguem suas coisas, meus amores. Nós vamos embora daqui. – Falei firmemente, enquanto pegava minhas malas.
- Mas... Acabamos de chegar. – Melody reclamou.

- Hora de partir, meu docinho. Este lugar não está fazendo bem para mamãe.
- Mas eu quero o meu papai.
- Vamos, Medy. Obedeça a mamãe. – Yuna a pegou no colo, enquanto saía com ela para o outro quarto.
Joguei as roupas de qualquer jeito na mala, empurrando tudo para dentro até fechar. Estava cansada daquela gente, da porra daquele lugar.

Em menos de vinte minutos, quando saí do quarto para encontrar Yuna, Gui e Melody, eles estavam prontos no corredor, esperando por mim.
Minha filha ainda estava de pijama, com os cabelos soltos e esvoaçantes.
- Como iremos? – Gui perguntou – Não temos carro... Não é seguro sair com Melody esta hora... Andando pela praia. O vilarejo é longe daqui...
- Ele tem razão. – Yuna concordou.
- Não quero saber... Nem que a gente tenha que dormir na praia. Aqui eu não fico um minuto sequer.
Peguei Melody no colo, sob protesto de Yuna, que reclamava que a menina estava pesada para mim. Descemos as escadas e todos estavam na sala, certamente esperando para ter certeza se eu iria mesmo embora.
Dei um beijo em Calissa:
- Mãe, obrigada pelo convite. Mas não há mais reuniões de família.
- Eu sinto tanto, Sabrina... Não sabia... Eu juro.
- Eu sei...
- Papai... – Melody deu os braços para ele, mas ignorei o chamado dela e fui para a porta de saída, não olhando para trás.
Depois eu me resolveria com Charles sobre ele visitar a filha. Mas no momento não tinha capacidade para pensar ou decidir nada.
- Eu quero meu papai... – Ela chorava.
- Papai vai vê-la... Mamãe promete, ok?
Enquanto eu saía, dando a volta pela piscina, sem saber para onde ir, Charles pegou Melody do meu colo.
A minha menina agarrou-se a ele, cobrando:
- Você disse que seríamos uma família, papai. O que está acontecendo? Por que mamãe está chorando?
Segui andando, desnorteada, sozinha, enquanto Guilherme e Yuna pararam. Encontrei o caminho da praia, sentindo o estômago embrulhando novamente e a dor tomando conta do meu corpo e alma.
Charles me fez parar, virando-me em direção a ele e Melody:
- Pare, porra! – Gritou, fazendo eu voltar do poço no qual estava me jogando.
- Me desculpa... – Eu disse, aos prantos.
Ele limpou minhas lágrimas e disse:
- Não faça assim na frente dela... Por favor.
Assenti com a cabeça, tentando impedir as lágrimas, passando a mão com força no meu rosto. Perceber minha filha chorando doía ainda mais dentro de mim.
- Falei com um amigo. Um helicóptero está vindo. Providenciei um Hotel para todos vocês. O piloto os deixará lá.
Olhei nos seus olhos, fazendo gesto afirmativo, sem conseguir dizer mais nada.
- Vai ficar tudo bem – Charles garantiu para Melody – E pense que agora não precisamos esconder de mais ninguém que somos papai e filhinha. – Deu um beijo nela.
- Você vai com a gente, papai?
- Vou estar aqui... – Ele tocou na concha que pendia no pescoço dela.
- Não... – reclamou minha menina – Eu não quero mais a concha... Eu quero você com a mamãe... – Gritou.
- Você pediu o papai neste Natal, não foi?
- Sim... – Ela confessou.
- E o papai promete que tudo vai ficar bem... E ficaremos juntos.
- Todos nós?
- Todos nós. – Ele confirmou, me olhando.
- Quando? – Ela queria respostas concretas.
- Em breve.
- Quero você... – Ela não aceitava a separação.
- Preciso resolver algumas coisas... E depois encontro você e mamãe.
- Promete?
- Eu juro... Por aquela estrela. – Ele apontou para a mais brilhante do céu.
- Papai... Você consegue pegar meus corações? – Melody perguntou, limpando as lágrimas e sorrindo enquanto olhava para cima.
Charles pegou no ar algo invisível e disse:
- Guardei o coração maior de todos... Vou levá-lo comigo para devolver em breve para você.
- Eu amo você. – Ela agarrou-se a ele.
- Eu amo mais... E para sempre.
Vimos o helicóptero chegando. Mariane e meus pais estavam no topo da escada, observando-nos na escuridão, à beira da praia.
- Agora vá caminhando... Dê a mão para mamãe. Ela não pode pegar você no colo por causa do bebê... Você pode fazer isso?
- Sim. – Ela garantiu, pegando minha mão.
- Vá... – Charles me disse.
- Desculpe... – Tentei mais uma vez.
- Sabrina, por favor, vá.
Obedeci, subindo as escadas. J.R tentou pegar a mão de Melody, que a puxou rapidamente, impedindo o contato.
- Dê um beijo no vovô, querida...
Ela simplesmente escondeu-se atrás de mim, ignorando-o, mesmo sem saber o que tinha acontecido.
Toquei o rosto da minha mãe carinhosamente e segui com Melody pela mão até o heliponto, junto de Gui e Yuna.
Entramos no helicóptero e deixamos a casa de praia dos Rockfeller na noite de Natal, quando passava da meia-noite.
Eu não tinha dúvidas de que tomei a decisão certa. Não podia mais ficar naquela casa. Eu não era obrigada.
O caminho até o Hotel foi silencioso. Ninguém dizia nada. Melody estava preocupada por descer de pijama, mas a tranquilizei que ninguém a veria.
Descemos no heliponto do próprio Hotel que Charles havia reservado. Um funcionário nos esperava e conduziu-nos aos quartos, que ficavam no décimo andar. Eu nem sabia exatamente em que lugar de Noriah Norte estávamos.
- O senhor Bailey reservou três quartos – ele explicou – Ambos um ao lado do outro.
- Claro... Três. – Guilherme riu, ironicamente.
O funcionário abriu a porta e perguntei à Yuna:
- Fica com a gente?
- Se quiser, fico.
- Eu quero.
Ela entrou, trazendo sua mala.
- Vou ficar também. – Guilherme entrou, pegando os outros dois cartões que davam acesso aos demais quartos.
Suspirei, tentando saber se resistiria a tudo que estava acontecendo. Sendo que o que me preocupava era Charles. Eu sabia que o fato de ele me ver sobre uma mesa, exposta e entregue ao seu filho, certamente foi o pior que lhe aconteceu. E uma coisa era ele aceitar que eu e Gui nos envolvemos. Outra era ver a cena do que fizemos, ao vivo e a cores.
Fui para o banho, me sentindo suja, como se a esponja e o sabão pudessem limpar todo meu passado. Deus, eu teria outro bebê. E se ele também não tivesse um pai presente, como Melody?
Eu não merecia aquilo... Charles não merecia. Melody não merecia. Guilherme não merecia.
Me enrolei numa toalha e vi que Yuna estava tentando colocar Medy para dormir.
O local era bonito, grande e certamente caro. Tinha uma sala, com vista de toda cidade e dois quartos separados, um deles com banheiro. Sentei no sofá confortável, olhando para o céu e tentando encontrar uma estrela, sem sucesso.
Senti as mãos de Guilherme, quentes, sobre minha perna. Ele estava parado ao lado do sofá.
- Não quero que me toque.
- Eu não consigo... – Ele disse, não me obedecendo.
Levantei rapidamente, furiosa:
- Guilherme, eu estou grávida.
Vi os olhos cor de mel tornarem-se escuros, ao mesmo tempo que a testa dele se enrugava. Ficou confuso, pensativo, um meio sorriso sarcástico no canto dos lábios:
- Como assim?
- Estou esperando um filho de Charles.
- Mas... Não tem como.
- Eu o encontrei num show em Noriah Sul, na noite que Melody caiu da escada e você se acidentou de skate.
- E... Transou com ele?
- Sim... E fiquei grávida. Eu gosto muito de você, Guilherme, mas eu amo seu pai. Não há mais chances de continuarmos com isso, em hipótese alguma... Entende agora?
- Ele sabe?
- Sim... Desde o momento que nos encontramos quando Medy fugiu naquela manhã.
- Vocês... Estavam juntos o tempo todo, não é mesmo?
- Sim.
Vi as lágrimas rolarem pelo rosto dele e me senti tão culpada que tive vontade de voltar no tempo para impedir qualquer coisa que aconteceu entre nós.
Me aproximei dele, abraçando-o. Senti os braços de Guilherme me envolverem com força:
- Eu sou louco por você, Sabrina.
- Gui... Vai aparecer outra pessoa na sua vida... Eu sei... Tenho certeza disto.
- Eu só quero você...
- Merece mais do que eu, Gui. Eu... Amo Charles... Desde que o vi pela primeira vez. Nós temos Medy... E um outro bebê dentro de mim...
- Mil vezes porra... Este filho da puta me tirou tudo.
Afastei-me e peguei seu rosto entre minhas mãos, encarando-o:
- Por favor, ouça o seu pai. Lhe dê uma chance. Ele merece. Não o odeie sem saber o que houve no passado... São tantos mal-entendidos que os separara, que “nos” separaram...
- Não posso... Não consigo...
Limpei as lágrimas dele.
- Eu... Quero o meu papai...
Ouvimos Melody ao nosso lado, os olhos lacrimejantes.
Guilherme e pegou no colo e em seguida abraçou-a, sendo correspondido:
- Eu amo você, Medy.
- Eu amo você, Gui... – Ela falou com a voz arrastada.
Guilherme largou-a no chão e ajoelhou-se, ficando na altura dela, como o pai fez dias atrás. Eles eram tão parecidos em algumas coisas... E nem se davam conta.
- Sabia que... Bem... Nós dois... – Ele parecia querer encontrar as palavras certas.
- Somos irmãos... – Ela sorriu.
- Sim... – Era perceptível a emoção dele.
- Nós vamos ser uma família, Gui... Eu, você, mamãe, papai e o bebê. Você acha que o bebê vai ser menino ou menina? Papai disse que eu sou a irmã do meio agora... E você vai ser o irmão mais velho...
Ele levantou e foi em direção à porta, limpando as lágrimas. Corri e me pus na frente dele:
- Não, Gui...
Ele me entregou os dois cartões:
- Vou embora, Sabrina. Não consigo mais suportar tudo isso.
- Por favor... Ouça Melody... Seremos uma família...
- Não, nunca seremos uma família, Sabrina. Nem sonhe com isso.
Ele saiu e fechou a porta. Escorei-me sobre ela e fechei os olhos, respirando fundo e tentando ser forte.
- Mamãe... Gui vai voltar. Ele vai aceitar ser da nossa família... Não se preocupe.
- Tomara, docinho... Desejo do fundo do meu coração que ele aceite o pai... E nós. – Sorri, enquanto ela me dava os braços.
Peguei-a no colo e a abracei, sentindo seu cheiro perfeito: perfume de filha, o mais gostoso e que inclusive curava dores e feridas.
A campainha tocou. Olhei para ela e disse:
- Você tem razão, meu bem. Ele voltou.
Abri a porta e demos de cara com Charles. Ficamos nos encarando um tempo, sem dizer nada. Melody jogou-se nos braços dele, não evitando o riso feliz.
- Papai disse que você não deve ficar no colo da mamãe, lembra-se?
- Mas eu gosto do colo da mamãe. – Contestou.
- Mas não faz bem para o bebê. – Ele entrou e fechou a porta atrás de si.
- Você demorou, papai!
- Você acha? Eu acredito que saí minutos depois de vocês... Simplesmente porque é impossível viver sem a presença de vocês duas... Quando tudo que eu almejei a vida toda... Foi este momento.
Os olhos dele entraram nos meus.
- Eu não vou me afastar de vocês, entendeu? Nunca... Jamais. Simplesmente porque não existe vida longe das minhas garotinhas. O mundo que se exploda. Eu vou estar aqui... Para sempre, onde é o meu lugar.