Capítulo 65
2034palavras
2023-02-08 10:17
- Jura?
- Eu... Não tenho certeza absoluta. Mas acho que sim.
- Ela... Já sabe?
- Não... – Olhei para Melody, que nos olhava, sem entender.
- Então espere... Vamos contar quando tivermos certeza. Juntos.
Assenti, enquanto ele alisava o rosto de Melody. Depois, começou a passar o dedo indicador ao redor dos olhinhos, do nariz, da boquinha, contornando-os enquanto ela sorria.
- Charles, você não tem dúvida de que... Seja seu? – Arqueei a sobrancelha, tocando meu ventre, quase certa de que um novo bebê estava dentro de mim.
Ele me olhou, o dedo ainda no rostinho de Melody:
- Não! E só pra constar, fiz tudo de caso pensado, para pelo menos participar da vida de um bebê desde o começo... Do zero. – Ele tocou minha barriga.
- Mil anos podem passar, minha alma voltar por várias encarnações... Ainda assim, vou te amar da mesma forma.
- Eu passei mais de cinco anos com você na minha cabeça, Sabrina. Eu daria minha vida pela sua... No passado, no presente e no futuro. Quero que tudo se exploda... Ainda assim, nada nem ninguém me tirará vocês duas... Ou três. – Olhou para minha barriga.
Olhamos para Melody, adormecida nos braços dele.
- Ela... Está molhada. Pode ficar doente. – Falei.
- Não está frio.
- Mas ela está muito molhada.
- Ficaria assim se tivesse tomado banho de praia.
- A roupa do corpo dela está molhada.
- Podemos tirar e deixá-la de calcinha.
- “El cantante”... – Quase me dei por vencida.
- Nada vai fazer você se afastar agora, “garotinha”. – Ele aproximou o rosto e beijou meus lábios.
- Ok, vamos começar... – Puxei a cabeça dele e pus minha língua dentro da sua boca, não suportando a distância do corpo dele.
- Acho que... – ele falou entre meus lábios, enquanto mordia o inferior – Podemos começar pondo Melody deitada... E irmos para trás de uma árvore. – Sugeriu.
Comecei a rir:
- Não, nós vamos começar por você me explicando onde esteve por todos estes anos.
- Isso leva um bom tempo. Quantos beijos ganho?
- Todos... Todos os beijos do mundo, que guardei para você por tanto tempo.
Nada mais importava no mundo: só nós três... Ou quatro. Eu sabia que daquele momento em diante, Charles e eu estaríamos juntos para sempre.
Charles olhou para a filha deitada em seu colo e alisou seu rosto adormecido, antes de dizer:
- Você chegou a ir à nossa casa naquele dia?
- Sim... Mas quando cheguei, você já tinha ido embora.
- Eu fiquei lá por pouco tempo...
- Por que... Se marcou comigo? Não tem noção de tudo que eu fiz para chegar lá...
- Eu fui preso.
Fiquei em silêncio, tentando entender se eu tinha ouvido certo. Enruguei a testa e perguntei:
- Preso?
- Preso. – Confirmou, com os olhos nos meus.
- Por qual motivo?
- Que bom que não perguntou “o que você fez”?
- Charles, nos conhecemos tão pouco... Mas ainda assim, parece que...
- Estivemos juntos por uma vida inteira... – Ele tocou meu rosto.
- O que houve? – Segurei a mão dele sobre minha bochecha, alisando seus dedos.
- Cheguei pela manhã, conforme combinei. Não achei que fosse demorar. Na minha cabeça, você chegaria tão cedo quanto eu. Porque eu tinha certeza de que tudo tinha sido um desencontro besta e que eu reverteria a situação.
- Naquela manhã eu descobri que estava grávida. Passei mal quando estava indo ao seu encontro.
Beijei a palma da mão dele. Charles desviou os olhos dos meus e fixou-os para o nada:
- Alguém bateu na porta... Eu atendi e era uma garota. Nunca a vi antes. Mas não consegui dizer nada... Ela simplesmente entrou, sem ser convidada e jogou-se sobre mim.
- Como assim?
- Já estava praticamente nua quando chegou e passando pela porta ficou só de calcinha. Claro que fiquei confuso... Ela tentou tirar a minha roupa. Conseguiu arrancar minha camisa... Eu fiquei apavorado. Na minha cabeça você chegaria e nos pegaria ali e não acreditaria que eu não tivesse culpa do que estava acontecendo.
- De onde ela saiu?
- Eis a questão: alguém a mandou para lá. Alguém... Que sabia que eu estava naquela casa... Esperando por você.
- Isso... É loucura!
- Não foi só isso, Sabrina. Do nada, enquanto a menina tentava me arrancar a roupa, praticamente nua, a porta foi aberta e a Polícia apareceu.
- Tudo meramente planejado... O flagrante.
- Exatamente. Eu estava com a parte de cima nua... Ela só de calcinha. E a desgraçada tinha 16 anos. Você tem noção, Sabrina? Dezesseis... – ele ficou visivelmente nervoso, passando as mãos pelos cabelos, deixando-os completamente desarrumados.
- Conseguiu se defender? Não havia esperma seu nela...
- Ela tinha hematomas. Já veio com eles... Não sei de onde. Não me deixaram sequer falar. A menina tinha dado queixa contra mim na noite anterior, me acusando de persegui-la. Sabia meu nome... Sobrenome... E endereço. Disse que tínhamos um relacionamento, sendo que nunca a vi na vida. Havia um carro estacionado na entrada da casa. Estava dado como roubado. O dono confirmou, naquela mesma noite, que eu o assaltei, à mão armada. Reconheceu meu rosto, sendo que... – A voz dele embargou.
- Charles, se não quiser, não precisa terminar.
- Sim, eu preciso.
Senti meu peito doer e um forte enjoo tomar conta de mim. Porque temi que aquilo tivesse sido planejado por alguém da minha família.
- O dono da casa não sabia que eu estava lá. A chave havia sido dada para meu amigo, que cuidava. Ele raramente aparecia... Por isso Diego nos deu a chave naquela noite. Eu já estava fodido... Não quis prejudicar Diego e seu emprego. Então assumi a invasão da casa, que era de todos o pior crime.
Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, quentes, doendo minhas bochechas maltratadas pela areia:
- Eu... Sinto muito. Mas acho... Que posso ter sido culpada por isso.
- Você?
- Não eu... Mas... Meu pai. – Olhei nos olhos dele, que limpou minhas lágrimas com o polegar.
Charles respirou fundo e vi os olhos dele marejarem e uma lágrima solitária rolar por sua face:
- Eu... Cheguei a pensar que fosse por você... Minha “garota riquinha”. E foi isso que fez eu suportar por quatro anos a prisão.
Beijei sua lágrima e o abracei com força, junto de nossa filha:
- Me perdoe, meu amor...
- Não! Você não é culpada, Sabrina. Pelo contrário... Foi seu rosto, na minha lembrança, que me fez aguentar tudo. Não somos culpados pelas coisas que os outros fazem e você sabe disso. Quando a conheci, eu sabia que envolver-me com você era um perigo. Mas eu não me importei. Arquei com as consequências.
- O Cálice Efervescente fechado... – Me ouvi dizendo, confusa.
- Sem motivo... Funcionou anos do mesmo jeito e do nada alegaram estar irregular. O dono levou tantas multas que teve que vender o prédio.
- Foi ele... J.R...
- Deus... Como nunca falaram sobre você? É a filha deles...
- Como Mariane surgiu na sua vida?
Ele riu, de forma irônica, balançando a cabeça:
- Apareceu do nada na cadeia, me visitando, dizendo ser Mariane Rockfeller e ter visto minha música na internet. Disse que queria me ajudar e fazer de mim um astro.
- Vagabunda... – Bati a mão com força no chão, tentando descontar minha raiva.
- Eu... Nunca me dei em conta. Jamais imaginei que pudesse haver qualquer ligação entre ela e a pessoa que me pôs atrás das grades... Porque na família Rockfeller nunca houve outra filha a não ser Mariane.
- Ficar grávida foi o meu fim... Para eles.
- Ela sabia sobre mim? Quem eu era... Nossa ligação?
- Antes de deixar a mansão Rockfeller, no dia que fui mandada embora, com a roupa do corpo, disse à ela que não se preocupasse comigo, pois eu estaria segura... Que eu era a “garotinha” que o músico da internet procurava.
Olhei para o nada, tentando entender o que realmente havia acontecido.
- Não faz sentido... Ela dormiu com seu noivo... E depois ir atrás de mim, somente porque eu gostava de você? Com qual objetivo?
- Colin também gostava de mim. E ela não levou isso em conta... Em momento algum. Mas talvez não acreditou que eu não casaria com ele.
- Para mim sua irmã sempre foi a vagabunda que dormiu com seu ex-noivo. Mas... Ela me tirou daquele lugar. Conseguiu um advogado particular, pagou por ele... O cara conseguiu mexer em todo processo e descobriu que sequer minhas digitais estavam no carro roubado... Foi tudo surreal. Eu estava sozinho... Não sabia como me defender. Nunca soube fazer nada além de compor e cantar, porra!
- Eu não sei se meu pai sabia exatamente quem você era... Mas Mariane sabia. Isso eu tenho certeza.
- Não teria como ela ter armado tudo, Sabrina. Você contou antes de ser expulsa por seu pai de casa. Que horas foi isso?
- Passado do meio-dia.
- Nesta hora eu já estava fodido.
- Não fale palavrões... Tem Medy... – Olhei para nossa filha adormecida nos braços dele.
- Me perdoe... – Ele sorriu, olhando-a.
- Charles... Foram eles, eu tenho certeza. Se não foi minha irmã, foi meu pai.
- Eu... Posso ter dormido com o inimigo por tanto tempo?
- Tanto tempo? Dormiu com ela, seu traidor? – Me enfureci.
Ele me olhou:
- Dormiu com meu filho?
- Não... – Fiquei confusa. Seria complicado falarmos sobre aquilo.
- O que você fez com ele?
- O que você fez com ela?
- Nada, absolutamente nada do que eu fiz ou faria com você.
- Fodeu ela, não é mesmo?
- Não fale palavrões, nossa filha está aqui.
- Ela está dormindo.
- Porra, Sabrina. O que quer que eu diga? Que não dormi?
Afastei-me dele e joguei-me no chão, sentindo o chão molhado e cheio de pedrinhas, que machucavam minhas costas.
Só de pensar nele na cama com minha irmã eu tinha...
Levantei e corri até próximo de uma árvore e vomitei novamente. A segunda vez no mesmo dia. Achei que nem tinha mais nada no estômago.
Amparei-me no tronco, ainda ansiada, sentindo meu corpo arrepiado e cansado.
Senti as mãos de Charles enrolando meus cabelos, tentando ajudar-me.
- Eu não quero ajuda... – Falei, tentando não demonstrar a raiva e o ciúme que eu sentia.
- Eu vou ajudá-la... Sempre que você precisar – ele virou-me em direção a si e olhou nos meus olhos – Jamais vou sentir por outra pessoa o que sinto por você, “garotinha”. Jamais vou tocar uma mulher como toco a minha... – passou a mão pelo meu colo, indo em direção aos seios – Olhe para o meu pau.
Olhei para baixo e o vi duro sob a calça preta justa.
- Ninguém me causa isso... Eu amo você, Sabrina. E posso ter dormido com outras mulheres, mas você foi a única que eu amei até hoje. E vou amá-la até o fim dos meus dias. Se fosse preciso ficar mais dez anos atrás das grades por você, sabendo que ao sair encontraria seu sorriso e seu corpo doce e saboroso... Faria tudo de novo.
- Eu... Sinto ciúme... Ao pensar que a tocou. E náusea por imaginar que planejaram acabar com você de uma forma tão covarde... E por um motivo tão fútil...
- Já transei com mulheres sem haver qualquer tipo de sentimento da minha parte. Nunca fez isso?
- Não. Eu gostava de Colin quando transava com ele.
- E depois?
- Encontrei você... E foi uma explosão de sentimentos.
- Mas eu fiquei quase seis anos longe...
Eu abaixei a cabeça, olhando para o chão. Charles ajoelhou-se no chão e abraçou minhas pernas, apoiando a testa nelas, sem me olhar:
- Seja a minha mulher... Você não é mais minha garotinha... Você cresceu, me deu uma filha linda... E talvez me dê outro filho... Passe o restante da sua vida ao meu lado, Sabrina. E juro que farei de você a pessoa mais feliz do mundo.
- Não. – Eu disse firmemente.