Capítulo 7
2620palavras
2022-12-05 11:34
Sim, eu senti vontade de beijar e me entregar para o cantor do bar de beira de estrada, que me fez beber tequila e cantou “Star me Up” para mim.
Do Spa para noivas fui levada de volta para minha casa. Assim que entrei na sala principal, meus pais estavam esperando, já prontos.
Calissa Rockfeller usava um vestido longo vermelho, com uma fenda que mostrava boa parte de suas longas pernas perfeitas. Era justo e com um decote profundo. Os cabelos escuros estavam com as laterais presas, dando um ar absolutamente requintado. Eu não esperava me

nos da minha mãe. Ela sempre brilhava por onde passava, dando um show de elegância e perfeição.
Meu pai, por sua vez, também estava muito bem no terno azul escuro, quase preto. Jordan Rockfeller, mais conhecido por todos como J.R, estava sempre elegante. Terno era sua roupa do dia a dia, embora nem sempre fizesse uso da gravata. Ele era um homem claro, com cabelos castanhos que já ganhavam muitos fios brancos, que ele fazia questão de exibir. J.R era dez anos mais velho que minha mãe. Ainda assim a diferença de idade em nada os atrapalhava em ser um casal feliz, a meu ver.
Meu pai tinha um gênio forte e mesmo com três mulheres em casa, todas cheias de vontades, a dele sempre prevalecia. Às vezes eu achava que ele nos tratava como seus empregados, de tanto tempo que passava no trabalho. Houve um tempo que pensei que ele gostava mais de estar longe de casa do que conosco. Hoje eu entendia que J.R era um homem de negócios e sim, valorizava muito seu trabalho, que era a J.R Recording.
Jordan Rockfeller fundou sozinho a gravadora, que hoje era considerada a maior do país, sendo que a segunda colocada não chegava nem perto de ser uma real concorrente.
Meu pai era um homem muito conhecido no meio musical e o sonho de qualquer banda, cantor ou cantora era lançar-se no meio artístico com ele.
Um homem que dava a vida pelos negócios, mas que tinha pouco tempo para a família.

- Filha, você está linda! – Ele disse quando me viu.
Dei uma volta, sorrindo encantada com o movimento que o vestido fazia.
- Realmente o vestido ficou bonito. Inicialmente não gostei dele nas provas... Achei muito simples. Mas ficou a sua cara, minha princesa. – Minha mãe me abraçou carinhosamente, cuidando para não borrar a maquiagem.
Respirei fundo e disse:

- Não vou chorar...
- Claro que não, querida. Não há motivos para isso. – Disse Calissa.
- Onde está Mariane? – Perguntei, não vendo minha irmã por ali.
- Sua irmã já foi. Esperará na igreja, junto com suas amigas.
Amigas! Sequer me ligaram antes do casamento para saber se eu estava viva ou morta. De certo pensaram que morri na despedida de solteira.
Meu pai veio até mim e pegou minhas mãos de forma delicada, olhando nos meus olhos:
- Estou orgulhoso de você, Sabrina.
- Obrigada, pai.
- Você sempre foi uma garota centrada e dedicada. Completou dezoito anos, está cursando Direito, como sempre sonhei para você. Tirou as melhores notas no Ensino Médio. E se não bastasse tudo isso, ainda vai casar com o filho de um dos meus melhores amigos, recebendo o sobrenome Monaghan. Sua vida está feita, minha filha. Desejo, do fundo do meu coração, que você e Colin sejam muito felizes.
- Obrigada, pai. Eu sei que seremos muito felizes. E sentirei falta da nossa casa... E de tudo aqui... Especialmente de Min. – Olhei para a governanta da nossa família e minha melhor amiga, que seguia próxima da escada, com as mãos entrelaçadas, silenciosamente.
Min-ji me deu um sorriso grato.
- Acho que a união entre você e Colin Monaghan é a mais importante dos últimos tempos neste país. Futuramente você estará cuidando, ao lado do seu marido, da parte jurídica da J.R Recording.
- Vocês são jovens... Minha pequena acaba de completar dezoito anos. Hoje as garotas não casam tão cedo. Mas você e Colin... É como se tivessem planejado o encontro de vocês a vida inteira. São um casal perfeito. – Minha mãe observou.
Casal perfeito! Será que ainda éramos um casal perfeito? De uma hora para outra me parecia que Colin começou a ter tantos defeitos que antes eu não percebia. Não que isso fosse motivo para eu não seguir com os planos de casamento, mas será que eu realmente conhecia o homem com quem dividiria a minha vida?
Bastava ele ser carinhoso, dedicado, gentil, correto e justo? Onde estava o pingo de irresponsabilidade, de loucura, de devassidão que fazia a relação seguir adiante?
Eu jamais questionei aquilo tudo... Até aquele momento, ou melhor, as últimas horas.
- A limusine já chegou, senhores. – Um dos empregados veio avisar.
- Que hora sai o voo mesmo, minha filha?
- Seis horas da manhã.
- Não entendo porque não quiseram fretar um voo particular ou usar o jato da empresa. – Meu pai falou enquanto íamos para a área externa da casa.
- Não há necessidade, pai. São só cinco dias... Voaremos na primeira classe, um voo cedo, certamente sem muitas pessoas.
- A senhora Monaghan organizou mais uma surpresinha para vocês no Hotel. – Minha mãe falou, sorridente.
- Outra? – Perguntei, confusa.
Minha sogra tinha praticamente organizado com minha mãe todo o casamento e agora elas também tentavam intervir na lua de mel.
- Tá bom, admito que tenho uma parcelinha de culpa também. E acho que você vai amar.
Eu sorri, pouco me importando com o que elas tinham planejado. Eu só queria ficar um tempo com Colin, longe de toda a pressão com a qual nossas famílias nos envolviam.
O motorista abriu a porta da limusine e entrei, auxiliada por meus pais. J.R fechou a porta e fiquei ali, sozinha, os vendo ir para o outro carro à frente.
Respirei fundo e servi-me de uma taça de Vueve Cliqcout, minha Champagne favorita. Sim, eu seria uma noiva que beberia antes de entrar no altar. E se pudesse, beberia tequila. Eu sentia um calor incontrolável pelo meu corpo e pedi imediatamente para o motorista ligar o ar condicionado. Meu coração batia forte e tive até um leve tremor nas pernas. Estava muito nervosa.
Foram longos anos de convivência com Colin Monaghan. Com ele dei meu primeiro beijo e perdi a virgindade. Fizemos tantas coisas juntos... Eu praticamente cresci ao lado dele. E agora selaríamos nossa união através do casamento, um papel que faria nossas famílias ficarem entrelaçadas para sempre.
Eu sabia que o homem que conheci na noite passada, Charles, não era nada além de um belo corpo abrilhantado com um belo par de olhos esmeralda. Não era real. Colin era real... E também era lindo. Se vestia bem, usava roupas de grife, sapatos tão caros quanto os meus, os perfumes importados mais raros, cabelos bem cortados, assim como a barba sempre aparada. Ele era o tipo de homem que eu gostava e que fazia meu tipo. Sempre foi. Nem na faculdade, ande eu era rodeada de homens bonitos e ricos, algum me chamou a atenção.
Ou seja, em dezoito anos, Charles foi o único homem, além do meu noivo, que fez meu coração bater mais forte.
Assim que cheguei em frente à igreja, o motorista abriu a porta para mim. A organizadora e mestre de cerimônias já me esperava.
A igreja escolhida foi a catedral do centro de Noriah Norte, a mesma igreja onde um dia a antiga rainha casou-se, logo em seguida declarando o país livre da monarquia.
O tempo de espera para poder casar naquele local costumava ser de até dois anos. O incrível é que era bem fácil conseguir um encaixe de última hora, visto que muitos casais não estavam mais juntos nos vinte e quatro meses de espera que se faziam necessários.
No meu caso, não houve espera. Meu casamento foi planejado em dezoito meses. E embora eu soubesse todos os detalhes desde a cerimônia na igreja até a recepção e lua de mel, foram minha mãe e sogra que organizaram tudo minuciosamente. Minhas escolhas foram entre branco ou amarelo para as flores. Noriah Norte ou Sul para a lua de mel. Jantar com frutos do mar ou contratar o requintado buffet de Noah Collins. E eu não podia reclamar, afinal, me deixaram ficar com o sapato rosa que eu quis. E aceitaram praia na lua de mel, já que eu era louca pelo mar. E o vestido de noiva ninguém tocou o dedo, embora teve muita opinião e crítica. Mas nisso eu não deixei elas intervirem. Afinal, só se casava uma vez na vida.
Desde sempre, os Monaghan tanto quanto os Rockfeller foram favoráveis ao casamento entre mim e Colin. Nem a minha pouca idade quando me apaixonei por ele fizeram meu pai ficar bravo.
E agora eu estava ali, quatro anos depois, a um passo de realizar o que tanto planejei: casar com o homem a quem dediquei 1493 dias da minha vida. Se eu fiz aquele cálculo numa folha de papel ou calculadora? Não. Mas eu era boa com números. Meu raciocínio lógico matemático era rápido. Eu sabia decorar área de figuras planas, volume e área de sólidos, sabia sobre o teorema de Pitágoras e o valor do Pi. Mas tinha uma tremenda dificuldade em decorar as leis jurídicas, sendo que precisava de todo tempo do mundo para estudar e ainda assim não estava me saindo muito bem.
- Você está linda, senhorita Rockfeller. – Disse a organizadora de casamentos mais conhecida e famosa do país quando me viu.
- Obrigada! – Sorri, agradecida.
Logo vieram Tay, Lina, Dill, Tefy e minha irmã, Mariane. Todas vestiam rosa pink, conforme eu havia solicitado que seria a cor utilizada pelas madrinhas. Como os meus cabelos ficariam soltos, pedi que todas fizessem coques, para que eu pudesse me destacar entre elas, já que meu vestido era simples.
Abracei minha irmã, que estava absolutamente perfeita em seu vestido longo, abrilhantado com um belo decote e uma fenda profunda. Mariane era muito parecida com minha mãe. Dentre as semelhanças, exalar sensualidade era uma delas.
As meninas me cumprimentaram e a organizadora já foi encaminhando-as para a porta da igreja.
- Nenhum minuto atrasada. – Mariane disse, enquanto pegava minha mão carinhosamente.
- Sabe que não gosto de atrasos... E sempre faço tudo certo. É mais forte que eu. – Revirei os olhos e depois sorri.
Claro que todas as outras madrinhas se organizarem não incluía a minha irmã, que por ser uma Rockefeller tinha o tempo que precisasse ao meu lado.
- Papai e mamãe estão tão felizes com o seu casamento. – Mariane observou.
- Fico feliz que todos estejam felizes. – Eu disse.
- “Você” está feliz?
- Sim, eu estou feliz. Planejei este momento por muito tempo.
- Querida, fotos para revistas e sites somente depois da cerimônia. Reservei um tempinho antes da saída para a recepção. Prometo que não mais do que quinze minutos – avisou a organizadora – Está tudo certo e suas madrinhas esperando. Assim que estiver pronta, é só avisar.
- Estou pronta. – Falei, respirando fundo.
Ela sorriu e arrumou a saia do meu vestido, subindo um degrau, pegando minha mão.
- Sabrina, eu preciso falar com você. – Mariane disse, olhando nos meus olhos.
- Agora? – Perguntei, confusa.
- Agora... Precisa ser agora.
A mulher soltou minha mão, se afastando discretamente para que Mariane pudesse falar.
- O que houve? Quer saber se tenho dúvidas quanto a casar? – Antecipei a possível pergunta dela.
- Não... Mas eu gostaria de lhe contar uma coisa. Sei que poderia guardar para mim e não dizer. Mas não acho correto... E nem justo com você.
Arqueei a sobrancelha, curiosa:
- O que houve?
- Eu dormi com Colin.
Olhei para ela e comecei a rir. Seria um ato de insanidade para me convencer a não casar? Com frequência Mariane me dizia que eu era jovem para casar e que tinha que aproveitar mais a vida.
- Eu estou falando sério, Sabrina. Eu dormir com Colin... Ontem à noite.
O sorriso morreu nos meus lábios. Como assim ontem à noite? Ela estava comigo na noite anterior... O tempo todo.
- Isso é uma brincadeira de mau gosto? – Encarei os olhos escuros dela.
- Acha que eu brincaria com algo tão sério assim? Eu não sou uma mulher que gosta de brincar e você sabe disto.
A olhei, confusa, com mil coisas passando pela minha cabeça, sem saber exatamente o que fazer. Virei a cabeça em direção ao céu e vi as estrelas brilhando, cada vez mais intensas.
Eu estava prestes a casar e sempre levei aquele compromisso à sério. Fui uma mulher fiel por quatro anos e um mês. Mesmo na noite anterior, quando conheci um homem que me desestabilizou emocionalmente pela primeira vez na vida, não me dei ao luxo de sequer deixá-lo me tocar por fidelidade ao homem que escolhi para dividir a minha vida para sempre.
E agora minha irmã dizia que dormiu com ele, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Quando foi? – Perguntei, olhando o buquê de flores brancas na minha mão, sem conseguir encará-la.
- Depois que deixamos você em casa... Encontramos eles na Babilônia. Ele tinha bebido demais... Fui deixá-lo em casa e... Acabou acontecendo.
- “Você” estava bêbada?
- Não... Simplesmente não sei o que aconteceu comigo, eu juro.
- Você... Gosta dele? – Olhei nos olhos dela.
- Não.
- Por que fez isso então?
- Não foi intencional, eu juro... Não sei explicar como aconteceu, mas aconteceu. Eu poderia enganar você e não contar a verdade jamais. Mas não achei justo. Você é minha irmã.
- “Você é minha irmã”... – eu ri e apertei o buquê com força entre meus dedos, sendo que minha vontade era quebrar a cara dela – Não foi capaz de pensar nisso quando dormiu com o meu noivo?
- Me perdoe, Sabrina... Por Deus, me perdoe.
Balancei a cabeça, rindo em meio ao caos. Era real... E sim, eu pensei até pouco tempo atrás que pudesse ser uma brincadeira de muito mal gosto.
- Ele sabe que você iria me contar?
- Não... Ele não sabe. Implorou, inclusive, para que eu não contasse. Ele gosta de você, Sabrina. Foi um deslize... Só isso.
- Um deslize... Sim, só um deslize... – Limpei as lágrimas que começaram a escorrer pela minha face.
Nada poderia ser pior naquele momento que o abraço de minha irmã, que não consegui corresponder. Fiquei ali, sentindo o perfume dela me impregnando e as lágrimas descendo lentamente meu rosto, o gosto salgado penetrando na minha boca.
- Ele... Ficou com você até que horas?
- Nós... Quer dizer, “ele” deixou o hotel assim que amanheceu.
Sim... E veio diretamente para minha casa, com medo que eu soubesse. Ou talvez na intenção de me contar, mas sem coragem. E eu ainda tentei transar com ele. Deus, como eu fui idiota!
- As meninas sabem?
- Sim... Algumas.
- Quais?
- Exceto Dill, as outras sabem.
- E... O que elas falaram sobre isso?
- Elas... Viram que começava a rolar algo ainda na Babilônia. Saímos só nós dois de lá e assim que o dia raiou elas já me ligaram para saber.
- Alguém... Uma pessoa sequer, se preocupou comigo nisso tudo?
- Eu – ela disse firmemente – Ou não estaria lhe contando a verdade.
Respirei fundo e subi as escadas.
- Ei, Sabrina... O que você vai fazer? Não dê um escândalo, por favor.
- Eu não vou dar um escândalo.
- O que vai fazer?
- Vou casar com Colin Monaghan. – Afirmei.