Estávamos daquele jeito quando a porta se abriu e Grey entrou no quarto. Ele nos viu na hora. Percebendo a expressão em nossos rostos, seus lábios se apertaram e formaram uma linha reta. "Aconteceu algo de ruim?" Ele perguntou, parando no lugar.
Celine e eu nos entreolhamos. Como se entendêssemos o que o outra estava pensando, Celine se levantou. "Estarei lá fora para que vocês dois possam conversar." Ela disse olhando para mim. Quando eu balancei a cabeça, ela imediatamente saiu da sala, deixando-me sozinha com Grey.
Ele, silenciosamente, encurtou a distância entre nós. Em questão de segundos, ele veio e sentou-se ao meu lado no sofá. "O que aconteceu?" Ele perguntou. Seus olhos acizentados  encararam meu rosto, repletos de perguntas.
"O médico falou comigo agora pouco." Eu respondi em um sussurro quase inaudível. Com dificuldade, continuei: "Ele me disse que mamãe não vai aguentar muito tempo." Lágrimas nublaram minha visão quando terminei de falar.
O pomo de Adão de Grey se moveu. Ele engoliu com força. "Não vou dizer que tudo vai ficar bem, porque não tenho certeza se ficará." Ele me disse sem rodeios, seu tom de voz era gentil.
Engoli o nó na garganta igual do jeito que ele tinha feito. Grey não estava tentando adoçar suas palavras e eu o admirava por isso. Ele não estava tentando me dar falsas esperanças falando isso.
"Mas estarei do seu lado se o pior acontecer, Lily." ele continuou, e fiquei surpresa com sua sinceridade. Minha mente ficou em branco e eu não conseguia dizer mais nenhuma palavra.
O som do telefone de Grey quebrou o silêncio constrangedor. Ele olhou para a tela do telefone e se levantou do sofá. "Já, já eu volto." Ele me informou.
"Onde você está indo?" Eu perguntei antes que ele chegasse à porta. "O entregador chegou. Eu pedi o jantar para não termos que sair para comer." Ele abriu a porta e saiu.
Logo, a porta se abriu novamente. Achei que Grey tinha esquecido alguma coisa, mas foi Celine quem tinha entrado no quarto. "Cadê ele?" Ela perguntou quando se sentava ao meu lado. Eu sabia que ela estava se referindo a Grey.
"Ele foi pegar a comida que pediu para nós." Eu respondi.
"Que bom." Celine murmurou. Ela se recostou no sofá e fechou os olhos. "Não estou com vontade de comer fora e estou feliz que ele fez esse favor de resolver nosso problema."
Eu não respondi e me recostei no sofá, imitando Celine.
O silêncio voltou para dentro do quarto. O único som que pude ouvir no momento foi o bipe do monitor e o leve ruído de passos no corredor. Era tudo tão pacífico. Pensei comigo mesma, imaginando quanto tempo duraria esse momento de paz.
Abrindo os olhos, Celine olhou para mim. "Lily?" Ela disse meu nome para capturar a minha atenção
"Sim?" Minhas sobrancelhas franziram em confusão enquanto esperava por sua resposta. Mas Celine não respondeu imediatamente. Em vez disso, ela me observou atentamente até me deixar meio desconfortável.
"O que foi?" Eu exclamei, imaginando o que se passava em sua mente enquanto ela tinha aquela expressão estranha em seu rosto.
"Você e Grey parecem estar bem, como um casal normal." Celine me disse do nada. Eu lancei em sua direção um olhar de advertência para impedi-la de dizer mais alguma coisa.
"Não. Nós. Não. Somos." Eu respondi.
O olhar de advertência não funcionou. Ela continuou de qualquer maneira. "Vocês dois não parecem estar enfrentando nenhum problema de relacionamento. Mas eu pude sentir uma distância entre vocês dois."
Eu mantive minha boca fechada na esperança de que Celine apenas desistisse do assunto, mas isso também não funcionou. Ela continuou falando. "Eu sei que você está tendo um problema, Lily. Mas eu nunca vou entender o que está acontecendo entre vocês dois, a menos que você me diga. Não tenho uma bola de cristal para adivinhar porque seu casamento está desmoronando." Ela me lançou um olhar preocupado, e me vi dominada pela culpa por estar escondendo isso dela. "Eu sou sua melhor amiga. Você sabe que pode confiar em mim." Ela acrescentou em um tom muito mais gentil.
Incapaz de aguentar seu olhar firme, mudei minha atenção para o meu colo, onde meus dedos estavam entrelaçados. "É uma história longa e complicada, Celine." Eu disse fracamente.
"Você pode tentar resumir, né. Estou pedindo que você me dê uma breve explicação, e não uma explicação cheia de detalhes como um livro de cem páginas." Ela deixou escapar com ceticismo.
Soltei uma respiração profunda em sinal de rendição. Conhecendo Celine, ela não pararia a menos que eu contasse a verdade. De qualquer forma, não tive nada a perder se contar a ela sobre o estado do meu casamento com Grey. Na verdade, iria aliviar um pouco do peso que eu carregava no peito.
"Grey e eu estamos nos divorciando." Eu finalmente dei a notícia e testemunhei como seus olhos se arregalaram, vi seu queixo cair no chão.
"S-sério?" Ela gaguejou. Tomada de descrença, levantou-se do sofá e pegou um copo d'água.
"Por que eu iria brincar sobre algo tão sério?" Respondi, completamente exausta.
"M-mas por quê?" Ela exclamou, balançando a cabeça vigorosamente em descrença.
"Ele está tendo um caso e engravidou Natalia." Eu fui direto ao ponto.
Celine engasgou com a água. Ela teve um acesso de tosse e levou alguns minutos para se acalmar.
"Benzadeus." Celine murmurou quando se recuperou, e ela caiu de volta no sofá ao meu lado. "Quem disse que Natalia estava grávida?" Ela se virou para mim, as sobrancelhas franzidas em confusão.
"A própria Natalia." Eu suavemente admiti.