O ponteiro do grande relógio antigo que decorava a parede branca imaculada, girou exatamente para o dez. Como se fosse uma deixa, a magnífica porta feita de vidro fino se abriu. Os funcionários se espalharam para ficar em seus postos antes que o primeiro convidado chegasse, vestidos com seda fina e smoking caro.
Parado perto da porta, dei bom dia ao jovem casal. Ambos olharam para mim.
Normalmente, convidados ricos esnobavam uma garçonete, mas o casal se virou e sorriu. Então me cumprimentaram de volta alegremente.
'Um achado', pensei comigo mesma. Era assim que rotulei convidados corteses como eles, porque raramente apareciam e eram valiosos. Eu tinha o maior respeito por eles.
"Posso perguntar se você tem reservas?" Eu perguntei educadamente.
"Sim, temos", a mulher respondeu, examinando-me com seu intenso olhar âmbar.
Eu, conscientemente, toquei meu rosto imaginando se havia alguma sujeira nele. Os convidados geralmente me encaravam por um longo tempo. Mas esta mulher estava exagerando. Ela estava surpresa por meus olhos serem estranhos?
Limpando a garganta, perguntei o sobrenome deles.
"Blaze." O homem respondeu. Ele tinha o mesmo olhar perplexo em seu rosto como a mulher.
Verificando a nota na minha mão, encontrei seus nomes. "Sr. e Sra. Blaze, por favor, sigam-me." Conduzi o casal até a mesa em frente à janela com teto de vidro, com a visão clara do magnífico jardim de rosas do lado de fora.
O homem puxou uma cadeira para a mulher. Não pude deixar de sentir uma pontada de inveja ao olhar para eles, trocando olhares doces. Para uma mulher cujo casamento está em frangalhos, essa cena não agrada aos olhos. A mulher sentou-se na cadeira com a graça de uma rainha. Depois que o homem se sentou, recolhi seus pedidos.
"Ela realmente se parecia com a mulher da pintura. É ela?" O tom desnorteado da mulher ainda chegou aos meus ouvido, depois de me virar para entregar a lista ao balcão. Eu não tive a chance de ouvir a resposta do homem. O som de sapatos de salto alto batendo no chão abafou sua voz.
Cheguei ao balcão e entreguei a nota ao caixa. Ela então entregou ao pessoal da cozinha.
Com um sorriso brilhante nos lábios, virei-me para cumprimentar o novo hóspede. Parei antes que uma palavra escapasse dos meus lábios. Um arrepio repentino percorreu minha espinha ao encontrar um par de olhos esfumaçados de gato.
A mulher parada na minha frente não era outra senão Natalia, a modelo italiana que conquistou o coração de um dos bilionários mais notórios da cidade, Grey Bradford.
Descrevê-la como bonita era um eufemismo.
Os cachos ruivos de Natalia caíam sobre seus ombros elegantes, saltando enigmaticamente toda vez que sua cabeça se movia. Olhos profundos emoldurados por cílios primorosamente longos, que me encaravam sem piscar. Eles eram requintados, como se a mais fina escultura os esculpisse com perfeição. Seu nariz, sua melhor característica até então, dava a ela uma aura de rainha.
A seda cara a envolvia como uma segunda pele, exibindo suas lindas curvas com vantagem. Nenhum homem poderia dizer não a esta mulher.
As elegantes sobrancelhas arqueadas se ergueram um centímetro, enquanto seus olhos me examinavam da cabeça aos pés. O canto de seus lábios se contraiu em um sorriso. "Prazer em conhecê-la, Sra. Bradford." Ela disse as palavras suavemente para que ninguém as ouvisse, exceto eu. "Ou devo chamá-la agora de Srta. De Silva?" Ela acrescentou significativamente antes de passar por mim.
Meu punho se cerrou. Não, não permitiria que minhas emoções tirassem o melhor que havia de mim. Inspirei e depois expirei até me sentir relaxada. Afrouxando meus punhos, eu a segui.
"Você tem reservas, senhora?" Perguntei da mesma maneira educada, como trato todos os hóspedes.
"Não, mas estou esperando alguém." Natalia respondeu, nem mesmo se preocupando em olhar para mim. Ela‌ sentou-se à mesa reservada para convidados VIP inesperados. A bainha de seu vestido subiu, expondo um par de pernas brancas impecáveis. Ela as cruzou.
Natalia olhou para mim, exibindo seu melhor sorriso.
"Estou esperando o seu marido."