Capítulo 73
1432palavras
2022-09-08 07:20
Após afogar todas as mágoas na casa de seus pais, Helena voltou para casa com uma missão. Arrumar suas coisas para voltar a morar com eles.
Não seria tarefa fácil, pois adorava morar sozinha, ter o seu espaço e seus horários. Não que ela não tivesse lá..., mas voltar a morar em sua antiga casa, com certeza perderia a sua liberdade.
Mas por enquanto era a solução mais sensata a fazer. Até porque não terá mais como pagar o seu aluguel e empregos não caem do céu, ainda mais com a onda de desempregos que assolou o país.
Quando Samantha soube o que aconteceu, perguntou a amiga se queria que ela conversasse com seus pais para trabalhar na empresa deles. Não seria uma ideia ruim trabalhar para os Ferreira & Duarte, já os conhece desde criança e sabia que eles pagavam muito bem.
Mas por outro lado, não era uma boa ideia pelo mesmo motivo. Dona Martha não se simpatizava muito com Helena, mesmo sabendo que era a melhor amiga de sua filha. Na verdade, ela não gosta de ninguém... Senhor Rogério era pior. Ele era conhecido por assediar as funcionárias da empresa.
Não era à toa que Samantha tinha problemas...
Um de seus irmãos comentou se já não era hora de montar o seu próprio escritório de contabilidade ou prestar algum concurso para trabalhar como contadora pública. Também não eram más ideias. Já havia cogitado estas possibilidades.
Mas por enquanto ela só vai mesmo arrumar as suas coisas para se mudar. Estava distraída com a organização da mudança quando ouviu o interfone tocar. E para a sua surpresa, eram Dayane... e Mitchel. Ele recebeu alta e saiu do hospital.
— Oi gente! — recebeu o casal de amigos com um abraço e os convidou para entrar.
— Sam nos contou o que aconteceu. E eu ainda não consigo acreditar no que você fez, agiu por impulso! — Dayane admirou-se por ela pedir demissão da empresa. Bom, não pelo fato dela ter se demitido, mas sim por sair sem ter nada em vista.
— Eu sei. Confesso que eu também não consigo acreditar no que fiz. Mas depois do que houve, eu não ia mais conseguir trabalhar lá. Na verdade, já estava começando a me desgastar naquele lugar. Conversei com o Sr. Shinguen sobre o que houve e por incrível que pareça, ele me entendeu e me deu alguns dias de folga para pensar melhor..., mas não tenho o que pensar, vou sair mesmo.
— Mas você não pretende nem voltar para cumprir o aviso prévio? — Perguntou Mitchel.
— Ah não. Não tem dinheiro nenhum que pague pela minha paz.
— Mas amiga o que pretende fazer com a sua vida agora? Como será daqui para frente? Já pensou nisso?
Helena não sabia o que responder. Pela primeira vez na vida não pensou nas consequências de seus atos e se sentiu meio que perdida.
— Você poderia ter pedido transferência para a nova filial em Paris. Poderia ficar morando conosco até arrumar um apartamento... — Sugeriu Dayane.
— Conosco? — Helena ficou curiosa sobre o que a amiga falava. De repente a viu abraçar o namorado e respondeu:
— Mitchel vai trabalhar como correspondente fixo na Europa e precisa de um lugar para ficar... então decidimos que ele vai morar comigo. Mas antes, vamos passar alguns dias no interior de São Paulo. Vou conhecer os pais dele.
Quando ouviu a amiga dizer que vai viajar para conhecer os pais do namorado, Helena se segurou ao máximo para não dar risada. Imaginou Dayane Remy, a aristocrata parisiense com todo o seu requinte lidando com os pobres. Não que ela fosse alguma riquinha metida à besta, muito pelo contrário.
Também não esperava que fossem morar juntos. Ela só observou o casal de cima a baixo muito surpresa com a notícia deles e achou que eles estavam se precipitando, mas quem era ela para criticar a decisão alheia? Se era o que eles queriam...
E ela tinha que se concentrar na sua vida de agora em diante. Mesmo assim, ficou feliz pelos dois.
— E você, vai ficar bem? — Dayane perguntou mais uma vez.
— Oh sim. Não se preocupem comigo, eu vou ficar bem. Já conversarei com o dono do apartamento para deixar os móveis como pagamento da multa do contrato de aluguel, uma vez que não terei como levá-los. Assim não precisarei usar o dinheiro que vou receber da rescisão.
Eles se surpreenderam e se orgulharam com aquela solução temporária. Mesmo estando sem rumo, conseguiu pensar em alguma coisa. Aquela sim era a Helena Petropoulos. Mas não era bem isso que Dayane havia perguntado. Ela queria saber como ficaria a sua história com Sabriel Reyes. Helena contou o que aconteceu:
— Ele veio para me pedir em casamento. Mas aconteceu tudo aquilo e infelizmente não conseguimos conversar. Aí ele precisou voltar. — Ela olhou para Mitchel: — você sabia que ele faria isso?
Como não tinha mais nada a esconder, ele revelou tudo:
— Bom saber mesmo eu não sabia. Mas como sou jornalista, eu já suspeitava. Ele me procurou logo depois que fui enviado à Ucrânia, dizendo que viu nossas fotos em algum site, falando sobre a Semana da Moda de Paris. Perguntou de onde eu te conhecia e disse que você era amiga da minha namorada. E o resto você já sabe...
— Poxa Lena, bem que você podia aproveitar que está desempregada e viajar para os Estados Unidos para vê-lo...
Ela já havia pensado nesta possibilidade. Seria bom mesmo viajar para fugir um pouco de toda aquela confusão. Mas aí ela pensa em como ficará a sua família. Se mudar para lá significava não os ver mais. E além do mais, mesmo tendo algumas economias de reserva, ela não tinha dinheiro para comprar a passagem.
Na mesma hora em que ela disse isso, Mitchel e Dayane trocaram uns olhares de cumplicidade e tentaram segurar o riso. Aquilo a deixou curiosa.
— Gente, o que foi?
— Fala você ou eu falo? — Dayane perguntou ao namorado.
— Fale você. É a melhor amiga, então tem todo o direito de contar a boa nova. — Respondeu Mitchel.
— Me contar o que?
— Ele nos procurou lá no hospital. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH— Dayane ficou eufórica. Mitchel assustou-se com euforia da namorada. Já Helena ficou muda.
— Como é que é?
— Ele foi me visitar lá no hospital, para saber como eu estava. Nos contou o que aconteceu e nos pediu um favor. Ele deixou conosco uma passagem para Estados Unidos para dar a você. Disse que queria te ver, pelo menos uma última vez.
— Uma última vez?
— Sim, a não ser que você aceite o pedido dele e fique por lá mesmo. Ou ele vem para cá... Bom é você quem sabe.
— Oh por favor Lena, vai. Eu sei que lá no fundo do seu coração é o que você quer. Pode ser a sua última chance de ser feliz. Não jogue fora esta oportunidade!
Lá estava ela hesitando mais uma vez, pensando em realmente partir para vê-lo. Mas sempre havia aquele monte de ponto de interrogação acima de sua cabeça, como por exemplo sobre como seria o relacionamento deles daqui para frente. Ele é um artista. Será que ela vai conseguir lidar com isso? E se não der certo?
— Ah eu não sei... eu tenho uma vida aqui... e a minha família, como ficará? E eu vou viver de quê, na sombra dele? Porque eu não vou ficar lá sem fazer nada. E outra, é uma decisão que precisa ser muito bem pensada. Não posso decidir no calor do momento...
Dayane e Mitchel entenderam o seu dilema, mas ainda assim a incentivaram a ir viajar e encontrá-lo.
— Pelo menos vai somente para vê-lo. Se não der certo, ao menos você tentou...
— Por que você não conversa com a sua avó? Ela saberá o que dizer!
Helena só olhou para Dayane e deu risada. Ela sabia muito bem que vó Tina iria convencê-la a ir viajar. Até que se aconselhar com a sua avó não era má ideia...
— Ai gente, tá bom. Eu prometo pensar no assunto. Obrigada pelo apoio. — Virou-se para Mitchel: — E obrigada pelo que fez por mim.
— Tranquilo. Agora arrume as suas malas e pegue o avião. — Ele falou em tom de brincadeira. Claro, com um pouco de verdade no meio. Eles querem mesmo que ela decida ir viajar e se encontrar com Sabriel.
Até porque eles sabem exatamente que é o que ela também quer.