Capítulo 65
1399palavras
2022-09-08 05:13
Ainda era de madrugada quando Helena acordou. Tinha acabado de ter um sonho ruim. Uma estranha sensação se espalhou por todo o seu coração.
Não era referente a Sabriel... pelo menos achava que não era. Por incrível que pareça, ele ainda estava em sua cama, dormindo profundamente. Enquanto ele dormia, Helena se questionava sobre a possível relação deles... se é que havia mesmo alguma relação entre eles.
"Por que será ele veio? Não pode ter vindo só para me ver."

Realmente era muito estranho aquela visita inesperada dele. Preferiu levantar-se da cama. Pensava melhor de pé do que deitada. Se vestiu e foi até a cozinha para beber um copo d'água. Mas a sensação ruim não passava...
Voltou para o quarto e foi dar uma olhada pela janela. Ainda estava escuro na grande São Paulo. Ficou ali mesmo, pensando na reviravolta em que se tornou a sua vida. Lembrou do que seu pai perguntou naquele dia, se era isso que queria.
— Sem sono chica?
Seus pensamentos foram interrompidos por Sabriel. Aproveitou que ele estava acordado para conversar. Não sabia se era uma boa hora para discutir o suposto relacionamento deles, mas não podia esperar. Até porque se esperasse, ele poderia ir embora mais uma vez.
— Mais ou menos... a gente precisa conversar...
— Se é sobre o fato de não ter lhe procurado antes, eu já expliquei. Eu reconheço o fato que deveria ter lhe procurado antes, mas não o fiz de covarde. Perdóname mi amor. Sei que não é com um momento de amor que vai resolver o problema, mas...

Ela se acabou de tanto que riu quando ele disse "momento de amor". Na verdade, estava pensando nisso também, que ficou meses sem notícias dele, compôs uma música para ela, não a procurou e quando finalmente se encontram, simplesmente se entrega para ele. Mas lembrando da conversa que teve com suas amigas em Paris, o que ele, ou seja, lá quem for pensar sobre você não muda quem você é. Mas não era bem sobre isto que Helena queria conversar.
— Que foi? — Estranhou o fato dela estar rindo.
— Nada demais... eu só achei engraçado você dizer "momento de amor"!
— Bom eu poderia dizer "uma boa foda", mas acho que é muita falta de respeito da minha parte e com sua pessoa. E você não é uma qualquer, ao contrário eres una chica muy especial.

— Hum... sei. E eu sou especial até que ponto para você?
— A ponto de te levar embora comigo.
Helena só olhou para ele sem conseguir dizer uma palavra e não acreditou no que acabou de ouvir. Achou que era uma pegadinha. Mas pela expressão dele, não era.
— O que?
— Você ouviu. Eu vim para o Brasil para te buscar. Bom é claro que precisava pedir desculpas por ter ido embora e não ter lhe procurado. Resumindo, eu vim te pedir em casamento.
Vendo que ela ainda estava em estado de choque, continuou:
— Foi por este motivo que paguei ao jornalista para te encontrar. Vim até a sua casa e vi que não estava. Caso não estivesse aqui, poderia estar na casa de seus pais. E infelizmente foi aquela confusão...
— Oh, mas você não pode chegar assim do nada e me pedir em casamento!
— Bom na verdade, não foi do nada. Eu te pedi nas margens do Rio Sena. E depois fiz novamente o pedido na Catedral de Notre Dame, não se lembra?
— Sim eu me lembro, mas eu não confirmei nada...
— Mas também não recusou. E como não conseguimos conversar naquela época, gostaria de conversar com você agora... a não ser que não queira?
Ela se lembrou daquele dia... foi quando por um instante pensou seriamente em largar tudo para ir embora com ele. No dia seguinte, ele não estava mais lá.
— Ainda assim, não pode chegar assim do nada e me pedir em casamento, ainda mais depois de meses...
— Oras, mas o que são alguns meses para quem ama? — Ele tinha resposta para tudo.
— Para mim foi o inferno. Eu fiquei todo este tempo sem notícias suas e tentando resolver aquele meu outro problema... E assim como o meu ex, quando finalmente tive notícias suas, foi por onde? Pela internet.
Sabriel notou que ela ainda estava chateada com o fato de ele não ter a procurado antes. Realmente o "momento de amor" não resolveu. Então resolveu apelar:
— Quer que eu fale os votos de novo? Ok eu falo...
— Não, não é isso! — lembrou de quando ele disse os seus "votos de casamento". Foram os mais belos votos que já ouvira na vida, mas a questão não era essa.
— Por que não posso te pedir em casamento? Por que foi um romance de viagem?
Helena não soube o que responder. Realmente era para ser coisa de momento... na verdade, nem era para ter momento algum. Mas como tudo na vida é imprevisível, não esperava conhecê-lo e muito menos se apaixonar por ele na Cidade-Luz.
— Eu entendo que era para somente ser apenas um romance de momento... para dizer a verdade eu também esperava que fosse apenas isto, mas...
— Mas o quê? — o interrompeu.
— Mas foi o melhor momento de mi vida. E eu daria tudo para que o nosso romance de momento fosse para sempre.
— Oh! — ficou emocionada com a declaração de amor dele. Era o que mais queria. De repente ele endireitou o corpo, pegou as duas mãos dela e as beijou. Olhou bem no fundo de seus olhos e perguntou:
— Helena Petropoulos... a senhorita aceita ser a senhora Reyes? É claro que para tal feito, precisa primeiro se casar comigo.
— Oh só você para fazer piada numa hora dessas...
— Mas admita: você gostou da piada.
Ela riu concordando com ele. Aquele pedido foi surpreendente, mas ainda havia questões que precisam ser resolvidas, como exemplo, como será daqui para frente a relação deles. Para ela, ele é apenas Carlos Sabriel, o cara que ela conheceu em Paris. Mas para o mundo, ele é Sabriel Reyes, o cantor.
Como eles vão conseguir lidar com isso? Ou como ela vai lidar com isso? Será que Helena terá a coragem de largar tudo para ser a esposa de um artista?
— E então?
— Então o quê?
— Quando posso trazer as minhas coisas para seu apartamento?
Ficou muito surpresa com a pergunta dele. É ele que vai se mudar para cá?
— Você vem morar aqui no Brasil? — Perguntou para ter certeza, mesmo ainda não tendo.
— E por que não? — Respondeu com toda a naturalidade do mundo: — Como você mesmo disse, não posso chegar e simplesmente esperar que você deixe sua vida para ir embora comigo. Então eu venho para cá. Bom, é claro que quando tivermos filhos, vamos precisar de uma casa maior.
— Filhos? — Se o pedido de casamento já a deixou boquiaberta, imagine a conversa sobre filhos.
— Sim teremos dois filhos e preferência um casal. A menina nós a chamaremos de... como seus pais te chamam mesmo?
Ela só olhou para aquela cara de pau dele. Quando foi que ele decidiu tudo isso? Tá certo que ela gostaria de um dia ter filhos e seu relógio biológico já estava apitando. Mas aí também já é demais.
— Koúkla mou... isso é sério?
Sabriel não respondeu. Só ficou olhando para ela com um sorriso estampado no rosto. Realmente tudo aquilo era sério.
— E então chica, vamos ficar juntos? Por favor diga que sim. Já te perdi uma vez e não quero te perder de novo. Me dê a chance de lhe fazer feliz!
Quando ia dizer algo, ouviu um estrondo na porta. Tanto ela quanto Sabriel se assustaram com aquele barulho logo de manhã cedo. Helena foi consultar a hora em seu despertador. Era quase seis horas da manhã.
— Quem será uma hora dessa?
— HELENA! — Era Samantha batendo na sua porta desesperadamente. Ela mal abriu a porta e sua amiga entrou com tudo. Se assustou com a aparência dela. Estava suada e com cara de quem chorou a noite toda.
— Credo Sam o que houve?
— Como assim “o que houve?”? Você não olha seu celular, não?
— Mas o que aconteceu?
— O Mitchel foi baleado!
— O QUE?