Núbia estava chorando em uma cela de frente para outra, cheia de mulheres. Por mais que não quisesse, Helena sentiu pena dela. Não uma pena trágica, mas sim patética. Ver uma jovem com toda a vida pela frente, desperdiçando os melhores anos de sua vida por causa de homem, era digna de dar pena.
Assim que a viu, a outra já foi logo cuspindo o seu veneno de naja.
— Que é, veio ver as suas amiguinhas?

As mulheres da outra cela a vaiaram e a xingaram de tudo quanto era nome. Em compensação, fizeram questão de aplaudir Helena.
— E aí colega, tava era sendo muito bem servida em Paris hein?
Helena somente agradeceu com um sorriso e voltou para seu objetivo, o que estava difícil.
— Eu só tenho uma pergunta a fazer: por que você tem tanto ódio de mim? Por acaso eu te fiz alguma coisa? Porque se eu fiz algo, eu te peço desculpas. Mas não é saindo por aí queimando o meu filme que você vai resolver o problema.
— O meu problema se resolveria se você não existisse. E não vem com seu papinho não, tá! Você não me engana, conheço muito bem o seu tipinho.
— Conhece mesmo ou está só se baseando na conversa dos outros, como fez o Luiz?

— Lave esta boca para falar do meu homem, ele é meu!
— Como eu já te disse antes, pode ficar com ele. Pode ficar com o meu resto, pois gente da sua laia se contenta com migalhas!
— É melhor você procurar um lugar para se esconder, pois assim que eu sair daqui, vou caçar você nem seja no inferno! Eu vou destruir você!
Helena só observava a atuação de Núbia. Até que ela daria uma boa atriz.

— Sabe... eu tenho pena de você.
— Pega essa sua pena e enfia no rabo, sua desgraçada! Eles me rejeitaram por sua culpa! O que você fez, por acaso fez bruxaria para prender os dois é?
— De quem você tá falando? Quem é o outro?
Núbia só ficou olhando para Helena com deboche, esperando que ela adivinhasse de quem estaria falando. Vendo que não conseguiria nada, resolveu ir embora. Mas antes fez questão de dar um conselho.
— Olha, ao invés de perder o seu tempo correndo atrás de um homem que não te quer ou então de tentar derrubar os outros, vai fazer algo de útil com a sua vida. Fui.
Helena saiu dali dando as costas para Núbia, sendo ovacionada pelas moças da outra cela. No meio do caminho, passou pela cela onde estava Luiz.
— Lena por favor me escuta! — Ele pediu desesperadamente. Ela não queria, mas parou por curiosidade: — por favor princesa grega, me perdoe. Eu também te perdoo!
Ela somente cruzou os braços e o olhou de cima a baixo.
— Você me perdoa pelo o quê?
— Por você me trair com aquele tal de Sabriel Reyes e....
_ Ah meu me poupe. Quando eu o conheci, eu estava solteira. A gente não estava mais namorando e sabe porquê? Porque você estava em um relacionamento sério com aquela Maria Tatame!
— Traiu sim, você também tava de caso aquele esnobe de merda com quem você trabalha! — Gritou com todas as suas forças. Ela ficou mais assustada com a sua revelação do que com a reação de Luiz. E se assustou ainda mais ao imaginar de quem ele falava.
— Luiz... — Helena teve até medo de perguntar: — ... você tá falando de quem, do Roberto?
Ele não respondeu. Não precisava. Lhe deu as costas e foi embora.
— Helena, por favor me perdoe! Eu te amo! Eu reconheço que fiz merda, mas por favor me perdoe!
Ela fez questão de voltar para dizer as últimas palavras a ele.
— Eu te perdoo...
Luiz ficou todo feliz quando Helena o perdoou. Mas desmanchou o sorriso quando ela terminou a frase.
— ..., mas eu não quero mais saber mais de você. Acabou. Aliás acabou quando você se envolveu com ela, achando que eu te traía.
— Mas Lê eu te amo!
— Não, você não me ama. Se realmente me amasse, não ia acreditar em fofoca dos outros e muito menos me trairia.
Helena até pensou em comentar sobre o caso dele com Samantha, mas preferiu esquecer, pois com certeza ele iria se fazer de coitado e também colocaria toda a culpa em cima dela. Até porque é algo que já passou, não havia necessidade de remexer nisso e agora tem que se preocupar com outras coisas.
Ela só observou Luiz chorar um mar de lágrimas atrás das grades. E por mais que não quisesse, também ficou com pena dele, mesmo que ele não tenha tido a menor consideração por ela.
— Eu não te quero mal, mas não te quero de volta. Segue o seu caminho e me deixa em paz para poder seguir o meu. Adeus.
Finalmente Helena foi embora, deixando Luiz com todo o seu passado para trás. E nem se atreveu a olhar para trás. E desde então ela nunca mais teve notícias dele...
*
Durante o trajeto de volta para casa, refletiu sobre tudo o que aconteceu nos últimos anos, quando pelo menos uma parte da sua vida girava em torno de Luiz. Lembrou de quando e como se conheceram, quando começaram a namorar, a primeira vez que se amaram e todos os momentos em que estiveram juntos, sejam eles bons ou ruins.
Realmente eles "não deram certo".
"Como a gente se engana e muito com as pessoas" Pensou. E ela não se referia somente ao Luiz. Pensou também em uma certa pessoa, alguém que durante anos, ficou ali se fazendo de amiguinho, sendo prestativo, a enchendo de mimos e a sua paciência.
Ele mesmo: Roberto.