Elas chegaram na casa de Dayane quase de manhã. Quando entraram, deram de cara com um casaco preto, próprio para inverno, no sofá. Se a memória de Helena não falha, era o mesmo casaco de Mitchel.
— É do namorado dela. — Cochichou para Samantha.
Estavam cansadas demais para questionar qualquer coisa e cada uma foi para seu quarto. Deixariam as perguntas para quando amanhecesse. Porém antes de dormir, Helena foi dar mais uma espiada pela janela para ver se ele estava lá. Isto já virou um hábito, mas se deparou com as janelas fechadas mais uma vez.

"Acho que foi a minha única chance de conversar com ele!" Ao se deitar, sonhou com ele lhe chamando de chica...
*
Ao amanhecer, Helena e Samantha foram tomar café. Passaram pelo quarto de Dayane e viram que a porta estava aberta. Foram até a sala e viram que o casaco ainda estava no sofá. Seu namorado ainda estava lá. Caminharam devagar até a cozinha e ouviram o que parecia ser gemidos... de prazer!
— Oh não, ela não tá mesmo fazendo isto! — Samantha se arrepiou ao pensar que Dayane estava na cozinha se agarrando com alguém. Das três amigas, ela sempre foi a mais recatada. Era raríssimo vê-la demonstrar interesse por alguém e quando finalmente aconteceu, acabou de coração partido.
Foram andando na ponta dos pés atrás a cozinha. Ficaram na espreita e esticaram seus pescoços até a entrada da cozinha. E não acreditaram no que parecia ser uma versão francesa e açucarada do filme nove e meia semanas de amor... Dayane estava sentada em cima da mesa, praticamente seminua, com as mãos e as pernas enroscadas... na cintura de Mitchel.
Para deixar a cena mais picante, ele tinha uma banana na boca e a enfiava na dela. E os dois ficavam falando e gemendo sacanagem em francês... e infelizmente elas entendiam tudo o que ela falava.

Numa tentativa de ver melhor, Samantha se inclinou um pouco mais a frente. Infelizmente ao mesmo tempo, Helena deu um passo para trás, tentando sair de fininho para não ter que ver aquela cena sem ser vista. Resultado: uma se trombou com a outra e as duas caíram no chão, uma ficando por cima da outra.
Dayane e Mitchel se assustaram com o barulho do tombo das duas.
— Oh mon Dieu, o que as duas estão fazendo aí? — Ela esbravejou pulando de cima da mesa e se cobrindo com o seu robe.
— Eu é que pergunto, o que você tá fazendo? — Interrogou Helena para disfarçar, ainda estatelada no chão embaixo de Samantha, que ria da discussão das duas.

— Ora, mas que pergunta Lena! — Disse Samantha saindo de cima dela e a ajudando a se levantar.
— Mérci Sam.
— Você não tá vendo que ela tá trepando com o peguete dela? — Helena deu risada com o comentário tosco da amiga.
— Credo Sam, isso é jeito de falar? — Disse Dayane indignada com o seu linguajar.
— A Day tem razão, ela não estava fazendo isto aí que você disse...
— Mérci Lena.
— Eles estavam faire l'amour (fazendo amor)! — Agora era a vez de Samantha dar risada do comentário tosco de Helena. Vendo a discussão das amigas, Mitchel se pronunciou para defender a namorada.
— Com licença senhoritas...
As três olharam para ele e o analisaram de cima para baixo. Até que ele tinha um belo corpo, se não fosse pelas várias marcas de cicatrizes espalhadas por ele. O que seriam aquelas marcas?
— A Dayane veio preparar o café da manhã de vocês e eu só vim ajudar...
— E o que teremos de café da manhã, Sr. Junqueira? — Perguntou Helena num tom de deboche: _ Ovos mexidos com salsicha?
— Não... por quê?
— Porque está com todos eles de fora! — Respondeu Samantha com mais deboche ainda. Ele não percebeu que ainda estava de calça arriada. As duas riram que se acabaram. Dayane ficou emputecida com aqueles comentários sobre os atributos físicos de seu namorado e as expulsou da cozinha.
— Ora suas depravadas... fora daqui já! Esperem lá na sala, vou terminar de fazer o café.
— Ah tá, só porque você quer. Não vamos tomar café nessa mesa, onde vocês acabaram de realizar as suas fantasias...
— Tomaremos na sala de jantar. Agora vão!
E lá foram as duas rindo do acontecido. Dayane ainda podia ouvir as gargalhadas e as piadas daquelas duas doidas de lá da sua sala.
— Eu ouvi essa! — Gritou.
— Olha... desculpa pela confusão. Eu só queria te dar uma noite feliz, mesmo não sendo Papai Noel. — Disse Mitchel a puxando para um abraço e lhe dando mais um beijo.
— Oh está tudo bem. E não se preocupe, você me deu sim. E eu espero que também tenha lhe dado uma noite feliz. E as próximas serão ainda melhores.
Eles resolveram curtir o momento mais uma vez, quando ouviram as risadas das duas. Ele fez questão de dizer que suas amigas estavam com inveja dela. E ela, é claro, concordou com mais um beijo.