Capítulo 4
2463palavras
2022-04-14 03:51
Logo que saíram do constrangedor momento “apresentações de família”, Katherine dirigiu-se para o quarto, acompanhando a irmã que estava em silêncio, já imaginando a bronca que tomaria. Ami subiu as escadas olhando para seu futuro noivo, estava impressionada com youkai que se casaria. Com certeza ele era muito mais bonito do que imaginava, nem em seus melhores sonhos conseguia pensar que houvesse um príncipe tão belo quanto aquele.
Um pouco mais a frente, Katherine pensava no outro príncipe, que olhava para o alto da escada para observá-la se afastar, tentou manter incógnito seu interesse, mas era um pouco tarde para isso. O jovem mestiço de youkai estava distraído, olhando para o alto da escada e não percebeu Shuji, que vinha logo a frente dele e havia parado observando as princesas desaparecendo na escada. Esbarrou no grande youkai, o mestiço de youkai fez uma cara feia, estava pronto para armar um escândalo, mas foi ali que percebeu que o irmão também estava distraído e não o percebeu.
– Shuji?

Chamou o mestiço de youkai, despertando o irmão que respondeu um pouco surpreso:
– O que quer?
– Por que está parado aí?
– Eu estou observando... e você? O que faz atrás de mim?
– Eu... eu?
– Se arrependeu.

– Não disse isso, idiota!
– Se quiser, ainda pode falar com nosso pai.
– Sobre o quê?
– Garoto tapado, todos já percebemos seu interesse.

– Todos?
– Sim, acalme-se, irmãozinho. Ela também parece gostar de você.
– Como sabe?
– Por acaso, não viu ela te olhando?
Shuji já estava se distanciando, deixando Kanji absorto em seus pensamentos. Por mais que ele detestasse a intromissão do meio irmão, ele tinha certa razão, queria aquela mulher, mas não daria o braço a torcer, afinal havia se negado a casar e sabia que teria de ouvir o rei dizer que já imaginava e mais uma infinidade de outras coisas. Dirigiu-se para o lado de fora do castelo, queria pensar no que fazer naquela situação.
No quarto, Ami suspirava sobre a cama, abraçada a um travesseiro enquanto Katherine, agora sem a capa, estava de joelhos junto ao chão, limpando e afiando suas espadas gêmeas e as facas que trazia sempre presas em sua perna direita.
As princesas já haviam sido avisadas pela mãe sobre o jantar daquela noite que anunciaria a data do casamento de Ami e Shuji, o pai havia mandado ordens expressas à Katherine que deixasse, ao menos, as espadas no quarto e que não necessitaria usar sua máscara dentro do palácio Inu youkai.
Ami estava ansiosa para poder conhecer melhor seu noivo, queria saber mais sobre ele, a princesa suspira animada enquanto Katherine ouvia um pouco perdida em seus pensamentos:
– Como ele é bonito.
– É mesmo, uma beleza exótica, selvagem.
– Ele parece um rei, e os olhos dele...
– Realmente, os olhos mais parecem dois sóis, nunca havia visto dois olhos tão brilhantes e lindos.
– E o perfume dele, tão bom.
– O cheiro daquele cabelo deve ser maravilhoso, que cabelo lindo...
– Da cor do brilho da lua...
Suspiros no quarto. Katherine diz, lembrando-se do garoto mestiço de youkai sem camisa:
– E que corpo...
– Katherine!?
Protesta Ami:
– O quê?
– Ele será meu marido, pare de suspirar...
– Seu marido é o youkai Shuji, esse é o nome dele.
– Eu estava falando dele.
– Você estava falando? Desculpe-me, eu não percebi. O que dizia?
– De quem você estava falando, irmã?
– O quê?
Katherine se dá conta de que estava pensando alto, seu rosto ficou vermelho de vergonha, havia sido flagrada pela irmã que agora morria de rir, abraçando-a por trás e logo se sentando no chão ao seu lado, dizendo:
– Você gostou do mestiço de youkai, não foi?
– Ami, por favor. Ele é muito bonito, só isso.
– Ele parecia interessado em você, eu o vi te olhando...
– Não percebi nada...
– Você não prestou atenção, irmã. Já pensou se casamos as duas com os príncipes? Iria ser um lindo casamento.
Katherine suspirou e sorriu com a imaginação da irmã, respondendo mentalmente:
“Iria ser maravilhoso.”
No escritório real, Hideki e Takeo conversam a sós, preparando os últimos detalhes para o jantar daquela noite. Sempre que se reuniam, faziam com que as coisas acontecessem à volta deles, eram quase como irmãos, tinham uma sintonia de pensamentos quase impossível de se alcançar, sempre foram daquela forma desde que se conheceram ainda na infância. O rei Inu inicia, falando:
– Dragon, eu acredito que já percebeu o interesse de ambos os meus filhos em suas filhas.
– Claro que percebi, Inu. Seu filho menor quase uivou quando viu Katherine.
– Também, meu amigo, com todo o respeito... você devia proibi-la de andar com aquela máscara, a garota tem um rosto de deusa.
Hideki gargalha:
– E exatamente para evitar que todos notem isso que a faço usar a máscara, Inu. Ela é a general do meu exército, imagine o caos que seria?
– Eu não teria problemas em ser comandado por alguém com essa aparência. Mas entendo sua preocupação, não pretende dar a mão dela em casamento?
– Até hoje não havia pensado nisso...
– Entendo, pelo visto você percebeu um par de olhos azuis afogarem um jovem príncipe também?
– Vi, confesso que fiquei surpreso. Você deve ter percebido que minhas filhas não são totalmente humanas.
– Percebi. Principalmente na princesa Katherine. Shuji chegou a me questionar se ela não tinha sangue youkai. O que é aquela energia dela?
– Katherine tem um tipo de energia muito raro. É quase como se ela fosse um dragão. Ela tem habilidades semelhantes às minhas, porém muito mais elevadas.
– O que isso significa?
– Só você vendo, Inu, para acreditar. Se eu não tivesse visto, jamais acreditaria que é um ser humano. Ami também possui alguns dons, mas nada tão impressionante assim.
– Seria interessante juntar nossas linhagens.
– Eu também acho, seriam Inu youkai que podem controlar dragões, entre outras coisas... mas isso me causa um problema, perderia meu exército. Os dragões só obedecem à Katherine.
– Não por isso. Leve Shuji e seu exército para seu reino, esse é o desejo dele. Katherine pode se casar com Kanji e trazer suas tropas, assim ambos nos fortalecemos.
– Um exército de youkai, pode ser muito interessante. No ocidente, não existem youkai. São mais de quinhentos dragões, você viu o tamanho deles, não viu, Inu? Acha que seu povo se acostumaria?
– Faremos algumas modificações no castelo, apenas isso. É claro que se acostumarão, somos youkai.
Hideki ri debochando do amigo:
– Eu vi, enquanto seu povo corria desesperado de um lado para outro.
– O primeiro encontro sempre é difícil.
Disse o Inu youkai, tentando disfarçar o constrangimento, afinal, até ele mesmo quase saiu correndo e gritando pelo castelo, junto com seu povo. Hideki pergunta:
– Casaremos os quatro em um mês?
– De acordo. Acho que não teremos maiores problemas.
– Acho que nossos filhos gostarão da surpresa. E se não gostarem... os casamos da mesma forma.
– Exatamente, meu amigo.
Chegado nesse acordo entre reis, a hora do jantar se aproximou rápido, Ami, Lianor e Takara, convenceram Katherine a pôr um dos vestidos da irmã, afinal a garota acreditava que apenas viria fazendo a guarda de sua família e como quase nunca usava um vestido, sequer se preocupou em trazer algo daquele gênero. As três ajudaram Katherine a se vestir, levaram mais de trinta minutos para convencê-la de que não era necessário levar suas espadas, mas claro que, ao menos, algumas facas ela levou presas junto à coxa, mesmo sendo um jantar na realeza, algo podia acontecer.
Um pouco antes da hora marcada, os homens já se encontravam em uma pequena varanda anexa à sala de jantar, onde tomavam o famoso vinho, fabricado especialmente nas vinhas daquele território que eram o orgulho de Takeo. Ele estava muito satisfeito. Naquele momento teria, por fim, seu desejo realizado.
Como sempre, Kanji e o seu pai já estavam bastante contentes por causa do vinho, Shuji apenas observava apreensivo, sabia que o pai era um youkai e conseguia conter-se, mas o irmão, por outro lado, controle nunca fora seu forte. Já estava profetizando que aquilo não daria certo, mas ficou calado, apenas observando enquanto Hideki tentava manter um diálogo com ele.
As duas rainhas chegaram à sala de jantar antes das moças, Takara, vendo a ausência do marido, sorriu para Lianor e solicitou que Cho fosse chamá-los. Naquele momento, Lianor quis aproveitar para perguntar se ela era feliz em seu casamento com um youkai, mas as palavras não saíram de sua boca, tinha medo da resposta da rainha Inu youkai, então ouviu aquela doce voz lhe dizer:
– Não fique tão apreensiva, majestade, muitos Inu youkai têm o coração mais generoso do que os humanos. Entenda, apenas Kanji é meu filho biológico, mesmo assim, criei Shuji como se fosse meu, e posso garantir que ele fará sua filha muito feliz.
Ela terminou a frase com um sincero e acolhedor sorriso, que Lianor agradeceu profundamente sorrindo de volta com os olhos um pouco marejados. Eram apenas duas mães que, como qualquer uma, se preocupavam com a felicidade de seus filhos e com o bem de suas famílias.
Assim que os homens entraram na sala, a rainha Inu ficou um pouco preocupada, como sempre o filho e o marido estavam exagerando no vinho e o olhar do enteado para ela, denunciava sua preocupação com um possível vexame. Takara tentou sorrir, tranquilizando-o, sem muito sucesso. O que realmente tranquilizou a alma do youkai foi a visão da princesa humana entrando na sala de jantar com um vestido azul com detalhes em branco, era um vestido simples, mas que lhe ressaltava a beleza, o cabelo castanho, pesado e brilhante, estava preso apenas na parte de cima, deixando que as mechas lhe cobrissem até o meio das costas. Os olhos dos dois se encontraram por alguns instantes, ela sorriu, abaixando o rosto e sentando-se logo em seguida, sendo observada pelos olhos encantados dele.
Katherine ainda estava do lado de fora da sala, não estava com vontade de entrar, mas precisava, era o jantar de noivado da irmã, olhou rapidamente pela janela, observando Morning Star, seu fiel dragão, o único que ela montava.
O grande dragão branco de olhos azuis, o qual seu pai confiou-lhe assim que nasceu. Era uma tradição de sua família, aquele que nascia com os dons de Shooting Star era confiado aquele ser. O animal observava em silêncio um menino Inu youkai sentado à sua frente, tocando um tipo de música para a fera que parecia estar gostando, Katherine sorriu vendo uma cena tão bonita, pensou que sua mãe havia exagerado em suas histórias sobre youkai. Então ela escutou:
– O que faz aqui, princesa?
Katherine olhou por sobre o ombro e reconheceu Takara, que se aproximava dela devagar, a princesa virou-se e a reverenciou:
– Majestade, perdoe-me, já estava indo.
A rainha Inu parou ao seu lado, olhando o que a garota estava observando, sorriu e perguntou:
– Tocante, não?
Katherine sorri e diz:
– Nunca havia visto uma criança agir dessa forma em frente a um dragão.
– As crianças são surpreendentes.
– Na verdade, acho que seu povo é surpreendente, majestade.
– Sim, os youkai são incríveis, às vezes.
– Majestade, eu poderia lhe fazer uma pergunta?
– Sim, princesa pergunte o que desejar.
– Por que escolheram casar seu filho com minha irmã? Não seria melhor se ele se casasse com uma youkai?
Takara sorriu e disse:
– Na verdade, é sempre melhor quando podemos nos unir aos amigos. Meu marido tem seu pai como um irmão, por esse motivo, ele escolheu seu Clã para se unir ao nosso.
– Entendo.
Nesse momento, Cho aproxima-se das duas, dizendo respeitosamente à rainha:
– Majestade, o rei está solicitando a sua presença e a da princesa Katherine.
– Sim, vamos ao encontro deles. Venha, princesa.
– Sim, majestade.
Disse Katherine, seguindo atrás da rainha sem muita pressa. Assim que as duas entraram na sala, todos olharam para Katherine, que estava deslumbrante com um vestido rosa claro, os cabelos negros soltos sobre os ombros, o que realçava mais ainda os enormes olhos azuis, o rei Inu a observa e diz:
– Agora que estamos todos aqui. Eu gostaria de anunciar o que eu e Hideki decidimos.
Todos o olham atentamente. Hideki estava com uma expressão de satisfação no rosto, o rei Inu continua.
– A união de nossos clãs será selada em um mês, aqui nos domínios do Clã Inu youkai, onde casaremos nossos amados filhos.
Katherine olhava para irmã que estava radiante com as palavras ditas pelo rei, Hideki então diz:
– Logo após o casamento, Ami e Shuji virão para o ocidente imediatamente. Após seu casamento, o príncipe assumirá o comando do exército de meu reino.
Katherine voltou os olhos para baixo, um pouco triste, pois perderia seu posto para o marido da irmã. Ela seria agora apenas uma subordinada, Takeo diz a princesa:
– Princesa Katherine!
– Sim, majestade.
– Você deverá trazer suas tropas para o domínio Inu youkai, virá morar conosco. Claro que só assumirá sua função de General após seu casamento com meu filho.
– Desculpe, majestade, eu não entendi.
– Princesa Katherine, seu pai deu sua mão ao meu filho Kanji e, em nome dele, eu aceitei. A senhorita se casa em um mês.
Kanji, que estava em silêncio até aquele momento, observando a beleza da garota, ouvindo atentamente as palavras do pai, deu um pulo e gritou:
– O quê? Como?
– Não precisa me agradecer, filho...
– Agradecer o quê? Vocês enlouqueceram? Eu já disse, não aceito me casar.
– O que você está dizendo? Não quer se casar com a princesa Katherine?
Ele a olhou por alguns segundos, sentada a sua frente na mesa com as sobrancelhas um pouco franzidas como se não estivesse entendendo a reação dele. O mestiço de youkai não daria o braço a torcer mesmo gostando da possível ideia de ter aquela princesa, seu orgulho falou mais alto:
– Não vou me casar com uma humana inútil como essa.
– O que está dizendo, Kanji? Você vai se casar, querendo ou não. Eu sou seu pai e exijo obediência.
– É meu pai, não meu dono.
– Não me provoque, fedelho.
Rosnou Takeo para o filho, ambos estavam muito exaltados. Hideki estava perplexo com a atitude do Mestiço de youkai. Todos estavam em profundo silêncio, constrangidos. Katherine em silêncio, olhava para baixo, com as mãos pousadas sobre o colo, estava envergonhada e sentindo-se mal com a rejeição do príncipe o qual havia gostado. A garota apenas se levantou da mesa, indo em direção ao quarto, sem dizer uma única palavra.