Capítulo 6
2620palavras
2022-04-08 01:13
Passei o restante da semana tentando me aproximar de Nadiny, mesmo sem gostar muito dela, afinal, agora sabia que ela não mentia sobre conhecer Carlos Eduardo, “o meu Cadu”. Tudo para que ela não “esquecesse” de levá-lo ao Manhattan no próximo sábado. Eram raros os sábados que não saíamos à noite, assim como quando isso acontecia não acabarmos no Manhattan. Minhas amigas já haviam ido algumas vezes ao Lounge 191, mas eu não. Elas saíam mais do que eu, pois tinha vezes que eu ganhava castigo e com elas isso nunca acontecia. O meu castigo era não sair com elas no sábado. O que eu fazia nestes momentos? Ficava trancada no meu quarto chorando ou espraguejando minha mãe e meu padrasto.
Mas neste sábado felizmente correu tudo bem e eu não fiquei de castigo. Então eu pude estar com as meninas na tradicional fila do Manhattan.
Assim que chegou nossa vez, Montanha, o segurança, nos olhou sorrindo:
- Bem-vindas, meninas. – então passamos direto, sem termos nossas bolsas revistadas. Afinal de contas, já éramos Vips, na minha opinião.
Minha roupa? Um vestido branco, curto, justo, que mostrava cada parte do meu corpo. Um pequeno salto da mesma cor. Gostei do resultado. O branco contrastava com meus cabelos avermelhados e um batom vermelho vivo deu o toque final. Eu estava preparada para atacar Carlos Eduardo novamente e ser beijada a noite inteira. Sabia que perder a virgindade com ele talvez não fosse algo tão fácil.
Assim que adentrava naquele ambiente do Manhattan era como se o mundo ficasse absolutamente perfeito. Eu gostava do cheiro, da música, da pouca luminosidade, das bebidas, da companhia. Só não gostava que quando eu estava ali me dava a impressão de que o tempo passava mais rápido que o normal.
Nadiny não foi conosco, mas quando chegamos ela já estava lá, com algumas amigas que não conhecíamos. Enfim, logo nos enturmamos todas e fizemos um grupo grande de garotas já na pista de dança.
Olhei para todos os lados e não vi Cadu. Fui até ela:
- E Cadu?
Ela me olhou e sorriu:
- Boa noite para você também, Ju...
- Boa noite... – falei um pouco envergonhada.
- Não se preocupe, só estou brincando com você. Ele me garantiu que viria. Vamos esperar...
- Esperar... – era só isso que eu fazia desde que o conheci.
- E então, onde está o príncipe encantado? – perguntou Dani ironicamente. Ela também não gostava muito de Nadiny, mas a engolia, assim como eu.
- Ela nunca disse que ele viria com ela... – aleguei.
- Quer apostar que ele não vem?
- Não... – falei tristemente.
Dani me abraçou e disse no meu ouvido:
- Eu não falo isso para o seu mal, Juliet. Só quero que você seja feliz. E só vai conseguir quando parar de esperar por Carlos...
- Eu tenho a vida toda para ser feliz... – Aleguei. – Só tenho dezoito anos.
- Você tem que ser feliz hoje e sempre. Nada vale sofrer por quem não te merece. E eu nunca vi você fazer isso por garoto nenhum.
- Porque nunca gostei de algum como gosto dele...
- Já ouvi isto sobre aquele surfista tatuado perfeito... – ela riu.
Revirei meus olhos e fui para o bar. Beberia minhas piñas coladas até que Cadu chegasse. Assim que pedi minha bebida vi Nicolas próximo de mim. Ele não me viu. Estava focado na pista. Acompanhei os olhos dele e vi que estavam voltados para Val. Eu sorri sozinha. Ele era tão bonitinho. A forma como ele olhava para ela também: completamente apaixonado.
Peguei minha bebida e fui até a pista, parando ao lado de Val, que não estava em seu dia de bom humor.
- Viu que Nicolas está aqui? – perguntei.
- Tem com não ver? – ela suspirou e revirou os olhos.
- E está ainda mais lindo. – disse Alissa olhando na direção dele, sem disfarçar.
- Meninas, não olhem para lá. Tenho medo de ele vir até aqui.
- Mas não foi esse o combinado? Ficarem nas festas? – perguntei.
- Mas hoje eu não quero.
- Por que não? – perguntou Alissa. – O que ele tem de errado?
- Ele não é Adriano... Este é o único erro dele. – ela disse tristemente.
Começamos a rir. Embora eu quisesse que ela desse uma chance a Nicolas, entendia muito bem o que ela sentia. Porque eu sentia a mesma coisa, porque Alissa sentia a mesma coisa. Exceto Dani, éramos completamente obcecadas por nossos garotos impossíveis.
- Adriano certamente não vem. – disse Alissa. – Até porque nenhum amigo dele está aqui. Nadiny disse que ele está viajando.
Sim, Nadiny também conhecia Adriano. E acho que se eu ficasse com um garoto de outro país ela também o conheceria de algum lugar.
- Então você fica com Nicolas e está tudo resolvido. – eu disse.
- Por que eu tenho que ficar com ele? Por que você não fica com alguém? – ela reclamou.
- Estou esperando Cadu. – falei saboreando meu drinque preferido.
Elas riram.
- Ei, talvez ele venha. – eu disse.
- Você acha mesmo? – perguntou Val.
- Vocês estão sendo cruéis comigo hoje.
- E insistentes comigo. – reclamou Val.
- Dê uns beijos nele e pronto. – eu disse olhando para Nicolas ainda no bar, sozinho.
Ele era muito lindo para ficar ali sozinho a noite inteira, só olhando para ela. Quando Val se daria conta de que era uma garota de sorte?
A banda começou a tocar e fomos para perto do palco. Óbvio que naquela noite tomei um drinque atrás do outro. A intenção era mesmo beber até não encontrar meus calçados quando saísse dali. Sim, eu já havia perdido minha sandália uma vez e nunca mais achei o outro par, de tão bêbada que eu estava.
Não demorou muito e Nicolas se juntou a nós. Alguns outros garotos também. Creio que éramos o maior número de garotas juntas dali. Na música seguinte Nicolas e Valquíria já estavam se beijando. Eu e Alissa sorrimos satisfeitas. Ambas queríamos que os dois se acertassem.
Dani me convidou para subir com ela ao ambiente dance, mas eu recusei. Ela acabou indo sozinha. Eu me sentia um pouco culpada às vezes, pois sabia que ela gostava de lá. No entanto nenhuma de nós tinha a mesma vontade de trocar o pop pelo dance. A parte boa é que ela não se importava em ir sozinha. Acabava sempre arranjando companhia. Eu não sei ela realmente gostava mais do ambiente de lá, das músicas ou dos homens, pois eram bem diferentes dos que estavam ali na parte de baixo, embora todos estivéssemos dentro de um mesmo prédio.
Olhei no relógio e já passava da uma hora da manhã. Percebi que Nadiny estava dançando e um garoto atrás dela, pronto para atacar. Ela sequer me notava. Cadu não viria. E eu não poderia responsabilizá-la por aquilo. Ou poderia?
Não levou muito tempo e ela já estava aos beijos com o rapaz que a encarava. Alissa também arrumou alguém. Eu acabei ficando junto delas, mas ao mesmo tempo sozinha, pois elas estavam acompanhadas. E as amigas de Nadiny havia desaparecido dali. A parte boa era que Nicolas e Val não ficavam se agarrando o tempo inteiro. Então eu podia vez ou outra trocar algumas palavras com eles.
A banda saiu do palco e iniciou o som tocado pelo DJ novamente. Particularmente eu gostava muito das músicas que ele tocava. Parece que ele fazia uma playlist de tudo que eu escutava e amava.
Segui dançando e fui surpreendida por um homem que veio até mim e me entregou uma piña colada. Olhei para ele confusa.
- Presente do homem de azul que está no bar. – ele apontou.
Olhei para o homem sentado na banqueta alta sem disfarçar o olhar sobre mim. Não dava para analisá-lo muito bem de onde eu estava, mas eu tinha certeza que ele não era feio. Ele levantou sua bebida na minha direção e eu levantei a minha, em sinal de agradecimento. Não era muito comum ganhar bebida de admiradores. Muito menos de um tão observador, pois mandou exatamente meu drinque predileto.
- Alguém não vai mais ficar sozinha. – disse Nicolas observando onde estavam meus olhos.
Suspirei:
- Acho que não vale a pena continuar esperando.
- Claro que não. – falou Val.
- Como assim? – ele perguntou curioso.
- Ela espera por Cadu até o último minuto, sempre. – observou Val.
Olhei ironicamente para ela. Val fazia o mesmo, porém com Adriano.
- Eu nem acredito que ele esteve aqui alguma vez. – disse Nicolas.
- Por que você acha isso? – perguntei.
- Porque ele não tem cara de que vem aqui.
- Ele me disse que prefere o Lounge 191. – aleguei.
- Mas se ele sabe que você vem aqui, por que vai para lá? – ele perguntou confuso.
- Ele não tenta fugir de mim, se é isso que está insinuando. – falei brava.
- Eu não quis dizer isto... – ele tentou se justificar.
- E só para você saber, eu fiquei com ele no sábado passado... Há exatamente uma semana atrás. Então ele não é um sonho, nem uma miragem. Ele realmente existe... E estava a fim de mim.
Nicolas ficou me olhando sem dizer nada, com os olhos bem abertos, parecendo um pouco assustado.
- Juliet, eu não quis insinuar nada... Eu juro.
- Não parece.
Tentei sair ele me pegou pelo braço:
- Ei... Está tudo bem. Não fiz por mal... Eu sequer conheço você ou ele para fazer insinuações.
- Largue meu braço. – eu falei.
- Ei... Melhor pararem. – falou Val confusa e assustada.
- Tudo bem aí? Precisa de ajuda?
Olhei para o homem que havia mandado a bebida anteriormente. Como ele foi parar ali, tão rápido, encarando Nicolas como que querendo briga?
Valquíria tirou a mão de Nicolas, que ainda estava no meu braço, e disse:
- Juliet, quanto você bebeu?
- Eu não sei... – baixei meus olhos e me senti ridícula. Havia feito uma cena sem motivo. Olhei para Nicolas e disse: - Me desculpe.
- Tudo bem... Só não quero que pense que eu falei de propósito para magoá-la. Eu jamais faria isso. – Nicolas olhou para o homem a minha frente e disse: - Está tudo bem... Só um mal entendido entre amigos.
- Não parecia mal entendido... Não se pega no braço de uma garota deste jeito. – ele alegou.
Olhei para ele... Alto, musculoso, barba perfeita. Eu acho que nunca fiquei com um homem de barba. Seria o primeiro. Ele tinha olhos claros, embora eu não consegui identificar a cor. E era bonito pra caralho. E queria brigar com alguém por mim sem sequer conhecer-me? Ei, vem cá que já me apaixonei por você.
- Ele já disse que está tudo bem... – falei. – Eu realmente entendi tudo errado e...
O grupo de trás abriu alguns espumantes ao mesmo tempo e como eu era uma garota de “muita sorte”, praticamente um inteiro caiu sobre mim. Claro que pegou em outras pessoas próximas, mas como o minha roupa era branca, certamente fui a mais lesada. Olhei para meu vestido que ficou completamente transparente ao umedecer com o líquido adocicado. A parte da frente do meu cabelo molhou completamente.
Levantei meu rosto e o estranho disse, me agarrando:
- Porra, assim eu não resisto.
Deixei ele me beijar. Quem beijaria uma garota bêbada e encharcada de espumante tendo um ataque de nervos por causa de um garoto que não apareceu... Nem nunca aparecia? Ele era um santo. E salvaria a minha noite. E beijava bem. Sobre beijar um homem de barba: era diferente. Foi meu primeiro. Mas eu gostei. Ele tinha lábios grossos e a língua exigente dentro da minha boca. Nos beijamos enquanto nos embalávamos ao som da música que tocava. As mãos dele passeavam pelo meu corpo molhado e eu gostei. Na verdade eu gostava muito de ser tocada... E ficar excitada. Ele começou a levantar meu vestido, passando a mão pelas minhas pernas na parte de trás. Desci minhas mãos até as nádegas dele e apalpei. Ele tinha um corpo gostoso, que me dava vontade de não só ficar aos beijos com ele. Senti minha calcinha umedecer e uma sensação horrível de querer transar pela primeira vez. Mas claro que não seria com ele.
Quando enfim paramos o beijo, ele disse sem me soltar, com voz baixa e envolvente no meu ouvido:
- Sabia que eu sempre a vejo aqui?
Pensei um pouco e respondi:
- Então você é um frequentador assíduo do Manhattan?
- Hum, pelo visto nunca fui observado por você.
Eu ri:
- Hoje foi.
- Porque eu mandei a bebida. Senão você sequer me notaria. Seus olhos estão sempre na porta... Não tenho certeza se esperando alguém entrar ou sair.
Porra, você me observa muito bem, rapaz. Sim, espero o amor da minha vida entrar... Há seis meses eu faço isso: olhar pela porta.
- Qual seu nome? – perguntei tentando trocar de assunto.
- Se você quer saber meu nome é porque tenho alguma chance. – ele sorriu mostrando os belos dentes brancos.
- Acho que a noite dá chances a todos... – falei. – Especialmente as do Manhattan.
- Tom... – ele disse no meu ouvido, chupando o lóbulo da minha orelha e me deixando completamente arrepiada.
- Juliet... – falei dando um leve chupão no pescoço dele.
- Pode me marcar inteiro... Este corpo pode ser só seu se quiser.
Eu ri. Ele era divertido, sedutor... E falava coisas agradáveis. Ele começou a lamber meu pescoço, me deixando ainda mais arrepiada e excitada.
- Estou imaginando você nua... Eu lamberia cada pedaço do seu corpo com gosto de espumante.
Caralho... E eu deixaria você me lamber inteira. Imaginei a sensação da barba dele na minha pele... E deu muita vontade de experimentar.
- Quantos anos você tem? – me vi perguntando.
- Vinte e sete... E você?
Porra... Se minha mãe sonhasse que eu fiquei com um homem de 27 anos ela simplesmente me mataria, sem direito a funeral para alguém chorar pelo meu corpo sem vida.
- Vinte... E um? – falei mais como uma pergunta do que resposta.
- Não sei... Diga-me você. – ele riu. – Se você tem dúvidas sobre sua idade, imagina eu. Mas, por Deus, me diga que não tem 16 ou 17. – ele fez sinal da cruz.
Eu ri:
- Não... Tenho 21. – menti descaradamente.
Olhei para minhas amigas, mas ninguém estava prestando atenção. Então eu não seria desmascarada. Eu não namoraria com ele, muito menos casaria. Então não tinha problema mentir a idade. Talvez se eu dissesse que tinha 18 ele me achasse muito nova e deixasse de curtir o momento.
- Acredita se eu disser que gostava de você antes mesmo de conhecê-la? – ele perguntou.
- Acredita se eu disser que você não vai me levar para a cama no final da noite?
Ele gargalhou e balançou a cabeça:
- Minha cara, não quero você na minha cama... Quero você na minha vida depois desta frase.
Tom... Você é absolutamente lindo. E muito homem para mim, confesso. Sou uma pobre estudando de Ensino Médio, virgem, que é apaixonada por um garoto de 18 anos que nem pode sair à noite e só fica comigo quando está bêbado. Pobre de mim... Tenho duas opções: ficar me lamentando por Cadu simplesmente me ignorar. Ou curtir o homem com H maiúsculo que pode me fazer mulher em segundos.
Resolvi ficar com a segunda opção. Mas fingindo que tinha 21 e que não era virgem.