CapĂtulo 28
1764palavras
2024-05-21 10:10
Ele nĂŁo era o tipo de pessoa ciumenta. Ou talvez ele simplesmente nĂŁo reconhecesse isso ainda.
Kingsley tinha confiança suficiente de que tudo o que ele possuĂa era somente dele. O ciĂşme nunca fez parte de seu vocabulário - seja em mulheres ou em coisas materiais. Tudo foi dado a ele numa bandeja de prata, tudo o que ele tinha que fazer era escolher entre elas o que mais lhe convinha.
Mas Ann. Ela evocou algo primitivo dentro dele que nenhuma mulher ousava tocar. Ele se sentiu furioso. Ele se sentiu enfurecido. Agora, o ciĂşme estava o arrastando. Kingsley rangeu os dentes antes de pegar todos os presentes e sair de seu carro.
EntĂŁo ele chamou o nome dela. Kingsley estava atĂ© frenĂ©tico, querendo saber o relacionamento dela com aquele homem. Ele nĂŁo podia mais negar o ciĂşme rasgando sua alma. NinguĂ©m ousa tirar algo, ou melhor, alguĂ©m, que ele possuĂa.
Mas entĂŁo, apenas um olhar para ela e ele foi pego de surpresa. Ela era ainda mais bela do que aquelas imagens gravadas em sua mente. Ann era assim tĂŁo sedutora no passado? E entĂŁo a culpa afogou toda a sua raiva e ele percebeu que tinha que continuar com o plano.
Ele pediu o perdão dela, uma coisa que ele nunca imaginaria que faria em sua vida. Ele praticamente implorou para ela voltar para sua vida, até se ajoelhou diante dela e abraçou suas pernas enquanto buscava sua misericórdia.
Kingsley definitivamente sentia que algo estava diferente em Ann. Algo novo que ele perdeu quando desistiu dela no passado. Ele experimenta um breve momento de conforto enquanto sua cabeça repousa em seu peito. É como se ele estivesse ansiando por aquele sentimento, de abraçá-la assim tão perto e agora ela está realmente na frente dele e não apenas uma de suas ilusões.
Demorou bastante para ele perceber o que Ann acabava de colocar em sua mão. Era a aliança de casamento dela que ela fez como um pingente. Ele suspirou profundamente ao levar à boca para tocar seus lábios na jóia. Ann deu um passo para trás, distanciando-se novamente.
Kingsley olhou para ela novamente, observando as diferentes emoções que atravessavam seu rosto. Ele não gostaria de usar seu avô como um de seus motivos para ela voltar. Mas ela não lhe deixa outra escolha. Ele fará o que tem que fazer se essa for a única maneira de trazê-la de volta.
Ann não decepcionaria David Lawrence dado o seu estado. Seu velho homem foi nada além de bom para ela, tratando-a quase como sua própria neta. Ele era tão apegado a ela que se certificou de que o contrato os uniria.
"Como está o Vovô agora?" Ela tinha essa preocupação gravada em seu rosto quando ela olhou para ele novamente. Kingsley queria envolvê-la em seu abraço para dizer que tudo vai ficar bem, mas ele escolheu não fazer isso. Ele deveria enrolar um pouco mais antes de finalmente ceder a seus desejos.
"Ele está bem no momento," Kingsley colocou o anel dela no bolso de suas calças. Ele estará esperando o momento em que possa colocar o anel de volta no dedo dela novamente. "Mas eu aposto que ele ficaria feliz em te ver. Hospitais podem ser muito depressivos com todos os brancos e o cheiro de antisséptico no ar."
"Ele ficou decepcionado quando soube o que aconteceu conosco", ele disse honestamente. "E ele quer que a gente volte a ficar junto. EntĂŁo eu estou fazendo isso..."
"Não só por causa do avô, mas também por nós."
"Nós?" a testa dela se contraiu. "Desde quando você considerava que havia "nós" nesses três anos de nosso casamento?" Ann perguntou, ele podia notar dor na voz dela. "Fui apenas eu quem estava envolvida. Fui apenas eu quem deu amor mas eu não esperava nada em troca. Eu estava apenas feliz em estar com você, Kingsley", as lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela. Kingsley podia ver a dor dela na maneira que ela lhe contou tudo - tudo o que ele nunca fez pelo casamento deles. "Fui a mulher mais feliz quando você se casou comigo. E tudo o que eu quero é ser a esposa perfeita para você..."
"Eu fiz tudo. Tudo, Kingsley. EntĂŁo o que eu ganho em troca depois desses trĂŞs anos de casamento?" Ann olhou em seus olhos. E Kingsley viu a mesma esposa que ele abandonou naquele dia.
"É por isso que estou aqui agora, Ann", ele queria beijar todas as suas preocupações e sofrimentos. Seu coração doĂa por ela. "Eu queria consertar as coisas."
"Ainda podemos consertar este casamento—"
"Não, não podemos", ela balançou a cabeça. "Você não entende..."
"NĂŁo se pode consertar o que já está quebrado por dentro. Sempre haverá fissuras visĂveis que nos separarĂŁo, nĂŁo importa o quĂŞ. E a confiança se foi totalmente. Ou o termo certo seria que nunca esteve lá em primeiro lugar. Porque se estivesse, vocĂŞ nunca duvidaria do meu amor por vocĂŞ, Kingsley", Ann caminhou atĂ© ele e enxugou uma lágrima de seu rosto.
Kingsley ficou surpreso por ter derramado uma lágrima. Ele nunca se lembrou da última vez que chorou por alguém. Chorar sempre foi uma forma de fraqueza. Então ele se proibia de derramar lágrimas mesmo quando estava em dor imensa.
E então, bastaram algumas palavras de Ann e ele foi levado às lágrimas.
Ann quase passou por ele quando ele agarrou seu braço. "Se não podemos desfazer o passado, não podemos simplesmente refazer nosso casamento, Ann". Ele a puxou contra seu corpo, uma mão repousando na pequena de suas costas. A outra segurou seu queixo e inclinou sua cabeça.
Ele encontra seu olhar, e Kingsley pode ver seu reflexo bem na frente de seus olhos castanhos avelĂŁ. "Desta vez, posso ser o marido que vocĂŞ merece. E teremos a famĂlia que vocĂŞ esperou."
~*~
Ann foi tentada pela proposição. Suas palavras, seu toque, seu olhar estavam fazendo-a duvidar de sua resolução. Ela tinha ansiado por este tipo de apego durante a duração de seu casamento. E Ann também era uma mulher com necessidades.
Era tão fácil dizer "sim" e ser uma escrava de suas mãos novamente. Era tão fácil dizer "sim" e cumprir suas regras novamente. Enquanto olhava para seus olhos azuis profundos, Ann foi atingida pela mesma realidade de que cairia presa em seus braços novamente. E suas palavras não eram nada além de promessas vazias, algo que ela usava para ouvir repetidas vezes durante seus três anos de casamento.
"Pela enésima vez, não há 'nós', Kingsley", Ann pôde ver seu próprio reflexo em seus olhos. E não a surpreendeu ver-se desprovida de qualquer emoção ao dizer essas palavras a ele. "Desista já..."
"Falarei com o vovô amanhã de manhã e explicarei tudo a ele. Garanto que se eu for falar, ele finalmente aceitará a verdade", Ela alcançou ambas as mãos dele e se libertou de seu abraço. "David Lawrence fez muito para este casamento apenas para que nosso relacionamento não desmoronasse. Mas acho que algumas coisas estão destinadas a serem arruinadas mais cedo ou mais tarde."
"Não, por favor, Ann, não faça isso", Kingsley agarrou seu braço novamente antes que ela pudesse se afastar dele. Ele estava confuso. Ou mais precisamente, afogado em desespero profundo. "Você não pode simplesmente perdoar e seguir em frente?"
"Por que você está tão determinado a salvar um navio que já afundou, Kingsley?" Ann não consegue mais decifrar o que está acontecendo com Kingsley. "Nós somos ambos livres. Você não está feliz?"
"Era isso que vocĂŞ estava esperando, certo? Para se libertar do nosso casamento. EntĂŁo qual Ă© o problema desta vez?"
Kingsley apertou mais o seu aperto sobre ela. "Ainda sou seu marido, Ann."
"Isso não importa para mim agora," ela tirou o braço novamente e olhou Kingsley indiferente. "E você acha que alguém se importaria se eu perdesse em segundo plano? Ninguém sabia que estávamos casados, exceto por poucas pessoas e isso inclui o seu amante. Ninguém vai te criticar se você der prosseguimento ao divórcio..."
"Eu quero a minha liberdade, Kingsley. E você não pode me impedir de conseguir o que me é devido. Ser meu marido não te deu mérito para fazer isso..."
"Eu jamais vou te dar a satisfação de me fazer de bobo novamente. O passado nunca será esquecido. Mesmo que agora você veja o meu valor, não acha que é tarde demais para isso, Kingsley Henry?" Ann agora passou por ele para abrir a porta principal. Ela abriu-a bem e pediu que seu então marido partisse. "Acredito que esta seja o fim da nossa conversa..."
"VocĂŞ pode ir agora."
~*~
"Maldito!" Sally deixou escapar enquanto bebia seu coquetel de um gole só. Aquele homem realmente sabia como deixá-la irritada. Agora, ela já não estava mais se divertindo com as amigas e dançando a noite toda. Ela precisava sair naquele instante e ver por si mesma se a imagem que ele enviou era verdadeira ou não.
Suas amigas tentaram impedi-la, dizendo que a noite ainda era jovem e a festa ainda nĂŁo havia começado. Alguns homens, todos do seu tipo, estavam tentando chamar sua atenção para si prĂłprios. Mas Sally nĂŁo se importava e seguia seu caminho em direção Ă saĂda do clube de alta classe.
Ela pegou as chaves do carro de sua bolsa e abriu seu carro que estava estacionado bem na frente do estabelecimento. Assim que se acomodou no assento do motorista, jogou sua bolsa no assento ao lado e ligou o motor imediatamente. Alguns minutos depois e ela já estava na estrada, indo para um endereço que nunca imaginou que visitaria hoje.
Após quase meia hora, Sally parou seu carro a uma certa distância da propriedade indicada. Não conseguia ver claramente, mas havia um carro estacionado bem em frente àquela casa. Ela tinha uma suspeita de quem poderia ser o dono. Mas escolheu esperar para verificar a verdade.
"E entĂŁo, o que vocĂŞ vai fazer?" uma parte dela se questionou. "O que vocĂŞ faria se verificasse que o que ele disse, e o que vocĂŞ acabou de receber, era tudo verdade?"
Ela abriu a janela ao seu lado e pegou um cigarro escondido no compartimento especial dentro de seu carro. Acendeu a ponta com seu isqueiro que estava em sua bolsa e colocou o cigarro entre os lábios. Sugou e em seguida soprou a fumaça para o ar. Seus olhos nĂŁo saĂram do alvo.
"VocĂŞ nĂŁo pode fugir de mim," isso Ă© mais uma promessa para si mesma. "Eu nĂŁo aguentei tanto tempo para que vocĂŞ se desfizesse de mim mais cedo ou mais tarde."
"VocĂŞ sĂł Ă© meu, Kingsley Henry."