Patrícia
Mas outro dia nessa prisão, os dias aqui são normalmente tranquilos quando a Elisa não está, passei todo o tempo conversando com a mulher que está do outro lado da parede, ela é minha única companhia aqui, nós falamos sobre hobbies, o que gostaríamos de fazer antes de ficar presas aqui, também sobre coisas aleatória que lembramos ou que passava na nossa cabeça no momento como gafi de famosos, teorias da conspiração que nem ao menos fazem sentido, mas o tópico mais falado entre nós com certeza é como deveríamos escapar desse lugar asqueroso, ou como faríamos para enganar a Elisa para fazer elas nos libertar voluntariamente, o que seria praticamente impossível mas temos que tentar algo e não ficar de braços cruzados esperando a morte.
Passei muito tempo pensando na minha vida, nos momentos que passei com Gabriel desde o começo do nosso casamento forçado até agora presa nesse buraco, fico pensando como cheguei até aqui, repassei cada decisão importante que tomei estudar no exterior, aceitar o casamento com o Gabriel, fico pensando se eu teria acabado aqui também se tivesse feito escolhas diferentes, será que esse é o meu destino?, será que minha vida vai acabar aqui embaixo da terra sozinha, sem ninguém ao menos saber que eu morri, enquanto a minha irmã gêmea do mal rouba o meu lugar e identidade?!
Isso não parece justo, mesmo no passado eu não tenha sido a melhor pessoa do mundo, sei que cometi muitos erros mas tenho tentado me tornar uma pessoa melhor e deixar de ser egoísta e tão mimada, eu também comecei a pensar nos outros, ajudar as pessoas realmente tem feito muita diferença na minha mente e personalidade, percebi que não sou tão individualista quanto era na época que estava na europa por exemplo, eu só pensava em mim e não me importava se as outras pessoas estava em situação ruim, contanto que eu estivesse bem não ligava para ninguém, mas isso é passado.
Um desses momentos que eu fico pensativa acabou e o silêncio da sala foi me deixando triste outra vez, então eu decidi que seria melhor conversar com a voz do outro lado da parede com ela pelo menos a solidão diminuía, por que mesmo em uma situação tão ruim e absurda tudo é menos degradante quando não se está sozinho.
Como você está hoje?-falei puxando assunto, mesmo sozinhas e conversando,as vezes ficamos as duas caladas pensando ou chorando, bom eu choro mas nunca ouvi ela chorar, as vezes ela só não fala muito, tentei descobrir mas sobre o que ela sabia sobre a Elisa mas ela sempre muda de assunto e tentar não contar sobre como elas se conheceram mas esse é o momento para descobrir.
igual, com fome e sede, mas fora isso razoavelmente bem, e você como está hoje?-é verdade não tem como esta me em um lugar como esse.
ainda viva, com fome também e com muita vontade de usar o banheiro, mas acho que a gênia do mal esqueceu esse detalhe hahaha
hahaha acho que ela não é tão esperta quanto acha
Sabe que você ainda não me disse como conheceu a Elisa, você sempre fala como se conhecesse ela desde criança e até disse que a vida toda, o que quer dizer com isso?-Por alguns minutos ela ficou em silêncio absoluto, eu até pensei que ela não iria me responder, continuei esperando, o quê mas eu poderia fazer, ir para casa?
eu não disse por que estou envergonhada e decepcionada comigo mesma por que algo em mim sabe que parte da culpa para a Elisa ter se tornado quem ela é hoje, eu sou uma cúmplice da sua maldade…
Então você não vai me contar?-Disse logo sem rodeios porque não estou com paciência, se quer me contar ok, mas se não quer ok também mas não enrola.
A Elisa… na verdade… é minha filha!
O que? isso não é possível, a minha mãe tá morta!!!!
Espera o que? sua mãe??
Você não pode ser a mãe dela, se você não quiser me dizer quem você é e como conheceu a Elisa tudo bem, mas não precisa criar mentiras!!!!!!-isso era impossível, minha mãe está morta! Passei a vida toda pensando como seria se não estivesse ou se pelo se ela gostaria de mim, se se orgulhasse de mim, também pensei como seria apresentar o Gabriel a ela, mas isso não é possível porque a minha mãe está morta!!! não sei quem é essa impostora mas minha mãe que não é.
Não é mentira garota, eu não inventaria algo assim, eu estou envergonhada por não ter tirado a Elisa desse caminho a tempo, mas agora ela se tornou um monstro e eu não posso mudar o passado, por mais doloroso que seja dizer isso agora, eu sou mesmo a mãe da Elisa a mulher que nos prendeu aqui.
Você está mentindo, isso não pode ser verdade!
Mas é a verdade, porque você não pode acreditar?!
Por isso significaria que você… você é minha mãe!
nesse momento um nó se formou na minha garganta, minha cabeça começou a girar, memórias reaparecem na minha cabeça, na maioria dela eu estava chorando por não ter uma mãe e por ela ter morrido tão cedo, meu coração estava tão acelerado, meu corpo estava todo quente, me respiração ofegante, quando notei as lágrimas já estavam seguindo as linhas do meu rosto, meu coração estava em pedaços e ao mesmo tempo eu estava aliviada por ela está viva mas ainda sentia raiva por ela ter sumido, senti muita raiva.
é por isso que tem que ser mentira, porque eu passei a minha vida inteira sem uma mãe, chorando e com raiva de Deus por ter levado ela de mim e você chega aqui agora e diz que é mãe da minha irmã gêmea, isso só pode ser brincadeira.
Patricia?- quando escutei ela falar meu nome, eu desabei chorei ainda mais, é realmente ela á minha mãe, ela está viva, depois de todos esses anos ela está viva, só de lembrar toda a dor que eu senti na infância por não ter a minha mãe ao meu lado, o medo a solidão, as fantasias que imaginava ela voltando do céu para ficar comigo, eu só conseguia chorar.
Como você pode?! por que você me abandonou?!- meu choro quase encobria minha voz.
Não foi desse jeito filha, eu não quis deixar você eu juro!
Não me chame de filha, você não tem esse direito! sabe quantas vezes eu chorei por você, eu passei a vida toda imaginando como seria a minha vida se minha mãe não estivesse morta, mas você está viva e nem sequer tentou me encontrar ou falar comigo alguma vez.
Eu posso explicar Patrícia, eu sei que você está com raiva mas eu posso explicar eu juro.-um gosto amargo surgiu na minha boca, eu estava em prantos, tentei controlar as lágrimas para poder falar.
Eu não quero ouvir sua explicação!!! você não estava comigo quando eu precisei, desde criança quando você supostamente morreu, quando eu estava na pré escola para ser exata as crianças riam de mim porque o meu pai me levava no dia das mães na escola, eu fiquei tão triste e desolada com isso que parei de ir na festa de dias das mães na escola pra fazer do meu jeito, mas você sabe o que eu fazia todos os dias das mães depois de parar de ter coragem de aparecer na escola?!-minhas lágrimas não paravam de descer mas minha voz estava mais controlada, ela não falou nada então eu continuei.
Falei para o meu pai que ele não podeia mais passar o dia das maes comigo, então eu ia para o lado de fora da casa fazia um piquenique sentava em cima de um forro de mesa velho e começava a falar sozinha com a minha mamãe que estava no céu então eu servia chá e biscoito para ela e ficava lá até anoitecer esperando uma resposta, qualquer coisa,uma voz, uma luz, um sinal de que ela ainda estava comigo, mais nunca tive resposta, então eu tentava no outro ano e no outro, até passarem vinte dia das mães e eu desistir de ter uma resposta ou de ouvir sua voz de novo, o meu pai não tinha coragem de não deixar eu fazer isso, ele não queria acabar com a minha esperança, e quando anoitecia ele me pegava no colo e levava para dentro, ao longo dos anos mesmo sabendo que não teria resposta eu continuei fazendo isso um piquenique com um fantasma, era como se eu devesse fazer isso, algo em mim me obrigava a não perder essa esperança falsa que carreguei durante toda a minha vida, e agora quando eu finalmente segui em frente, quando finalmente eu estou em paz com a morte da minha mãe você aparece e destrói tudo. . .
Como pode fazer isso comigo?! Eu sou sua filha, eu só queria te ter por perto, porque você não me procurou depois de todos esses anos? você nunca ia falar comigo que estava viva esse tempo todo? ou você ia simplesmente viver a vida como se eu nunca tivesse existido?!