Capítulo 66
1621palavras
2024-04-07 09:09
Patricia
Os meus pulsos estão doloridos, depois de finalmente soltar as minhas mãos eu soltei os meus pés. Eu me senti livre.. Que irônico... A minha primeira reação foi correr para a saída,mas obviamente estava trancada por fora, era uma grande porta de pelo menos uns dois metros de altura, toda feita de metal, eu nunca tinha visto um desse de perto, a única coisa que eu sei é que ela é bem pesada, ou seja mesmo que não estivesse trancada, eu não acho que eu iria conseguir fazer-la abrir, devido ao estado caótico que eu me encontro.
Não consigo pensar em nada, já que mal consigo ficar de pé, eu não tenho forças para tentar arrombar uma porta dessas, eu olhei ao redor e vi o vidro, se eu conseguir quebrá-lo , talvez eu consiga sair daqui.
Olhei ao redor e peguei a única coisa pesada o suficiente para quebrar um vidro, mas não tão pesado para que eu possa conseguir levantar. Era uma espécie de estátua, pequena, aparentemente de ferro.
Eu a levantei, usando todas as forças que eu tinha. Eu a arremessei contra aquele vidro. Mas nada aconteceu, aquela porcaria era blindada. Eu quero saber quem construiu essa porcaria, quem foi o doente que construiu um lugar assim?
Eu me sinto muito fraca, não sei a quanto tempo estou presa aqui, eu estou com muita fome,consigo sentir o ardor e a queimação subir pelo meu esôfago. Desde criança eu sempre tive estômago sensível. Eu me sentei no chão para tentar pensar um pouco, e talvez recuperar um pouco o fôlego.
Olhando ao redor eu conseguir pensar em uma coisa, talvez tivesse alguma chave perdida por aqui, eu sei que será muita sorte minha se realmente tiver, mesmo que sejam baixas as chances, o que eu perderia? Quer dizer, eu não tenho nada a perder nesse momento.
Levantei e comecei a procurar e… Puta que pariu, mas que merda é essa em? Aqui tem muito mais coisa sobre mim do que em qualquer lugar do mundo.
Tem muitas minhas fotos pelas paredes como se fosse um mural de crimes policiais, e também há muitas caixas, eu comecei a abri-las, mas o que eu encontrei eram documentos, documentos meus, e sobre mim, haviam todos os meus relatórios médicos, e não só sobre mim, tem coisas sobre o meu marido, sobre o pai dele, sobre a minha vida inteira.
Essa sala é muito maior do que podia imaginar, andando um pouco mais, eu enxerguei em uma parede cheias de monitores com o que eu acho ser sensor de presença, haviam pelo menos seis deles, formando uma pirâmide nas paredes, eles eram enormes, como aqueles monitores games de competição de Lol. Eles ligaram quando eu me aproximei, e eu tive a visão do inferno. Começam a rolar vídeos, vídeos meus, vídeos filmados de longe, filmados de muito perto. São de meses atrás. Vídeos na Casa da Esperança, vídeos em casa, em restaurantes, no shopping, no hospital, os vídeos passavam um depois do outro, todos muitos nítidos…
Aparentemente eu estava sendo vigiada desde pouco tempo depois de me casar. Saber dessa informação me deixou pior do que eu já estava, o meu coração acelerou e eu me senti ainda mais tonta, eu consegui sentir o meu sangue fervilhar de medo e de raiva...
A minha cabeça estava a mil, como isso aconteceu e ninguém percebeu? Como assim eu tenho uma irmã gêmea? Porque meu pai nunca me contou? Eu fui adotada? O que está acontecendo? Meu Deus do céu, como isso chegou a tanto? Eu sinto uma tontura muito forte, me sinto fraca e debilitada, e ainda por cima muito confusa.
Minha respiração estava ficando cada vez mais ofegante, e o meu peito subia e descia de maneira desordenada. meu corpo tremia muito ao observar tudo aquilo, toda a minha vida estava naquela sala, a minha vida foi invadida e espionada eu não sei direito como me sentir sobre isso.
Eu.. Eu.. só quero fugir e… Espere, aquilo é uma janela? Talvez tenha algo que possa me ajudar, nessa situação a esperança é literalmente a última que morre.
Eu reparei naquela janelinha, eu arrastei com muita dificuldade uma mesa de madeira, que não parecia tão pesada aparentemente, mas eu não tinha forças, então acredito que isso triplicou o nível de dificuldade, quando finalmente consegui colocá-la no local mais próximo da janela que eu consegui, eu subi na mesa e fiquei nas pontas dos pés para alcançar a janelinha da esperança.
Eu consegui me esticar até conseguir enxergar do outro lado, eu visualizei bem todo o local por alguns segundos até que eu consegui identificar o que era aquilo de fato. Eu consegui ver uma pessoa, era uma mulher, presa em uma cela. Mas ela parece morta… Ai meu Deus ela ta morta… Meu corpo esticado agora estava trêmulo. Eu não sabia o que fazer, então pensei na coisa mais sensata a se fazer.
-Ei, moça… Ei, psiu… Você está viva?- Eu chamei o mais alto que pude, o que não era muito, porque depois de chorar e gritar feito louca, a minha garganta quase não existe mais.
Sem resposta… Aquilo me assustou mais do que eu imaginei.. Aquela mulher ela… eu desci da mesa. E agora eu estava de pé no chão, eu me senti ainda mais estranha, o meu coração acelerou e todos aqueles sentimentos misturados e me deixaram ainda pior. Era como um filme se passando pela minha cabeça. A briga com meu marido, eu ter sido sequestrada por uma mulher que eu acabei de descobrir ser minha irmã gêmea, puta que pariu, isso aqui é alguma novela?
Eu me senti confusa, com raiva, com ódio de tudo, da minha vida, da minha família..e … E ver aquelas coisas minhas, as minhas roupas, a minha vida estava naquela casa, naquelas paredes… Eu comecei a gritar feito louca, a raiva me atingiu em cheio.
Eu simplesmente surtei e comecei a destruir aquelas coisas, aquelas evidências da minha “vidinha perfeita” eu surtei ao ver aquilo e comecei a destruir, eu quebrei a arara de roupas, eu rasguei peça por peça.
A raiva me tomou, mas não foi por muito tempo, eu obviamente não consegui acabar com tudo, até porque eu não tinha forças o suficiente para isso. Eu continuei respirando fundo e profundo. Mas a fome não me deixaria em paz, então eu comecei a procurar pela sala, alguma coisa, qualquer coisa que eu pudesse comer.
Olhei ao redor e cheguei perto do computador velho e sem sinal, eu nunca fiquei tão feliz por encontrar uma garrafa de água aberta, Estava pela metade, mas era isso ou morrer de sede.
Eu destampei a garrafinha de água mineral e virei na boca, a minha garganta estava tão necessitada dessa água, que ao sentir a água passar por ela foi como sentir chover no deserto, a água estava quente, mas eu precisava tanto dela que parecia estar perfeita, e eu podia jurar que a água estava doce.
Depois que eu bebi aquela água, eu encontrei duas balinhas de maçã verde, eu comi com tanta rapidez que quase mastiguei plástico junto com a bala. Eu olhei ao redor do computador velho e vi uma luzinha verde, talvez isso me ajudasse de alguma forma.
Eu liguei aquela lataria velha na esperança de pedir socorro, mas alegria de pobre dura pouco, no caso alegria de vítima de sequestro orquestrado pela a minha irmã gêmea, aquela porcaria de computador não havia sinal algum. Eu estava sentada em uma cadeira plastica.
E embaixo da mesa daquele computador antigo eu pude ver uma lata de lixo bem grande, e havia um monte de celulares, o meu coração acelerou porque talvez aquilo fosse a minha chance de salvação. Eu comecei a vasculhar aquilo, mas o que eu encontrei foram celulares sem baterias, eram apenas celulares descartáveis.
Eu me levantei da cadeira e comecei a caminhar pela sala, e percebi que em uma estante havia uma caixa que eu ainda não havia visto, então eu a peguei e sentei no chão com ela. Abri e meu queixo foi ao chão com o que eu me deparei, dentro daquela caixa de tamanho médio, feita de papelão , havia pelo menos uns dez álbuns de fotos, um bem grande estampado escrito em letra grande e cursiva “Patricia e Elisa”, os meus olhos quase caíram da cara com aquela informação. eu abri aquele álbum, e nele tinha duas menininhas idênticas…
Vestidas iguais, e ai caramba.. são as menininhas do meu sonho… isso quer dizer que… eu … eu realmente… Ai meu Deus.. Eu me sinto muito apavorada com tudo isso.
Havia muitas fotos, em muitos lugares diferentes, frases como “ o primeiro banho da Elisa e da Patrícia”, existiam muitas fotos juntas, eu já tinha visto fotos parecidas, fotos tiradas do mesmo momento mas apenas minha, eu não tinha conhecimento sobre essas fotos.
Eu tirei os álbuns de fotos de dentro da caixa, haviam poemas, e textos fofos, e mensagens abençoando a gente… eu fiquei triste por tudo aquilo, eu sempre quis ter uma irmã para brincar comigo, mas nunca suspeitei que eu poderia ter uma, gêmea ainda por cima, e pior ainda maluca.
Depois de folhear todas aquelas páginas, uma em específico chamou a minha atenção, os meus olhos saltaram ainda mais de espanto. Na foto, haviam duas garotinhas, obviamente a Elisa e eu, uma de nós está sentada de frente para uma penteadeira, e a outra estava de pé, nós duas estávamos vestidas iguais, com um vestidinho lindo na cor rosa, carregados de babados e laços, bem coisa de infância.
O motivo do meu espanto foi o fato da menina de pé, estar penteando o cabelo da outra garota… Assim como no meu sonho.