Capítulo 47
1884palavras
2024-02-21 12:48
Capítulo 47
Patricia
-Então dona Patrícia, você nunca esteve grávida!- a doutora Liz começou a falar. Essa manhã ela veio até o meu quarto e me pediu algumas informações, eu contei a ela toda a história referente aos meus sintomas de gravidez , contei como tudo aconteceu,ela me perguntou sobre antes dos sintomas, e me perguntou sobre medicamentos, alimentação e tudo mais.
A doutora Liz foi super gentil comigo me tratou super bem, depois da conversa que tivemos ela solicitou um exame de sangue, e alguns outros exames, aferiram a minha pressão,minha glicemia,passaram exames de urina, exames de fezes,e até exame de colesterol.
Basicamente me examinaram dos pés a cabeça.E a única dúvida que eu tinha era:eu estava ou não carregando um Gabriel junior na minha barriga? E eu aposto que o meu marido estava igual a mim. Eu perguntei se elas poderiam fazer os exames mesmo eu estando medicada, e já ter tomado o meu café da manhã. A doutora Liz me explicou que o exame de sangue não seria alterado uma vez que o intuito é apenas saber se existe ou não o “homônimo do bebê”. Ela pediu também uma ultrassonografia. Mesmo tendo ela tendo dito que não dá para ver o bebê com apenas 3 semanas de gravidez.
Fiz todos os exames que ela me pediu, um dos primeiros exames, foi o exame de sangue, eu particularmente tenho um certo medo de agulhas, fora a sensação de desmaio e a tontura que senti ao ver o tamanho da agulha, os exames foram bem tranquilo de se fazer. Eu odiei bem mais fazer o teste de glicemia do que fazer o exame de sangue. Foram feitos de forma rápida e sucinta.
O meu marido ligou para a dona Marta, ela veio com um dos motoristas e trouxe roupas para o meu marido e para mim, como sempre ela é uma fofa.
O Gabriel me mudou de quarto, ele disse que aquele era muito desconfortável, então ele pagou por um dos melhores quartos vips do hospital. Mudamos para uma suíte bem confortável, onde tinha uma grande cama de casal, e uma cama de solteiro, tinha uma sala de estar e até uma cozinha. Eu não reclamei, até porque, eu gosto de estar confortável, e o meu marido fez questão disso, então quem sou eu para reclamar.
Depois de algumas horas de instalados no quarto, a dona Marta que já tinha ido embora , ela estava muito preocupada comigo ela chorou muito quando me viu, ela também me perguntou sobre o bebê, eu expliquei calmamente a ela sobre a situação, e apesar de estar confusa ela preferiu não perguntar mais sobre, ela apenas pediu para que eu a mantivesse por dentro do assunto.
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O som da batida suave na porta fez com que o meu marido e eu, que estávamos assistindo um programa de comédia na televisão olhasse na direção da saída/entrada do quarto vip.
Quem é?-meu marido perguntou com a sua voz rouca e sexy, que sinceramente me deixa com muita vontade de avançar em seu corpo com todas as forças que tenho. Isso porque ele sempre desperta algo sexual em mim.
A doutora Liz, posso entrar?-A voz doce, da médica baixinha soou do outro lado da porta.
Claro, entre por favor doutora Liz.-eu respondi, um pouco animada e esperançosa para resolver toda essa confusão. Enquanto o meu marido pausava o programa de televisão para que nada nos atrapalhasse.
A doutora Liz entrou no quarto, e logo atrás dela a enfermeira que nos acompanhou a todo momento. A enfermeira fechou a porta atrás de si. As duas estavam com uma cara meio estranha, na verdade não dava para descrever bem o que elas estavam sentindo, então eu apenas resolvi prestar atenção para saber o que estava acontecendo.
Alguma notícia doutora?- o meu marido perguntou ansioso.
Sim. E para falar a verdade, uma ótima notícia, mas antes deixe-me esclarecer algo.-ela começou a falar e eu comecei a ficar ainda mais confusa com a fala dela.
Então dona Patrícia, você nunca esteve grávida!- a doutora Liz falou, e eu não consegui esconder a minha expressão de total confusão.
Como assim? Nunca? Mas eu fiz os exames…-eu comecei a perguntar desesperada, e completamente desnorteada.
Calma dona Patrícia, deixe-me explicar primeiro,e depois abrimos espaços para esclarecer todas as suas dúvidas.- ela disse me interrompendo.
Antes de realizarmos qualquer cirurgia, é necessário fazer alguns exames, como a sua cirurgia era de emergência, então nós fizemos apenas os exames mais necessários. No seu caso isso também incluiu o exame de sangue, para saber se estava tudo certo. O seu exame não apontou o hormônio beta-hcg, ou seja.-ela começou a explicar, e o meu marido e eu estávamos bem atentos para tentar entender exatamente o que estava acontecendo.
Se o exame tivesse dado positivo para beta-hcg, isso significaria que estava grávida.-ela continuou explicando.
Como o exame deu negativo, apenas continuamos conforme o planejado.- ela foi contando, e até aí eu já sabia.
Porém, a senhora Patrícia, disse a enfermeira que estava grávida. E como apontaram os exames, você não está.-ela continuou e eu resolvi perguntar.
Mas se eu não estou grávida, porque o teste de gravidez deu positivo?-eu perguntei extremamente ludibriada.
Exatamente por você ter um positivo, não estando grávida que eu fiquei preocupada. Por que para uma mulher produzir o hormônio Beta-HCG, só tem duas possibilidades, a primeira é obviamente estando grávida, que como já podemos constatar, não é o seu caso, e temos a opção que é a mais preocupante, que são doenças como tumores que produzem os mesmos hormônios.-Quando a doutora Liz disse isso, o meu coração gelou. Eu senti o meu coração pulsar mais rápido e a minha respiração acelerar. E como se ela pudesse ouvir os meus pensamentos, a doutora Liz voltou a falar.
Mas calma que eu ainda não acabei.-ela disse antes de continuar.
Então depois de ouvir a sua história eu solicitei alguns exames, na verdade muitos exames, porque eu precisava descartar essa possibilidade.-Ela falou e eu voltei a ficar confusa.
Depois de todos os resultados saírem, podemos descartar essa possibilidade, porque de fato você não tem nenhum tumor.- ela falando isso e eu lembrei daquele meme “tava ruim, tava bom, mas parece que piorou” eu fiquei com a mesma cara da nazaré fazendo contas.
Mas se ela não está grávida, e graças a Deus ela não tem um tumor, porque ela fez um teste de gravidez e deu positivo? - O meu marido perguntou confuso, a cara dele era mais indecifrável que a cara da enfermeira.
Ótima pergunta senhor Almeida.Ela respondeu com um sorrisinho de lado, que me deixou ainda mais preocupada, eu sei que ela tem que explicar exatamente o que aconteceu, mas puta que pariu, qual é a dificuldade de falar logo o que aconteceu? Eu estou começando a desenvolver ansiedade por conta dessa enrolação toda.
Por favor, doutora Liz, estou começando a ficar preocupada, você pode me dizer exatamente o que aconteceu?-eu perguntei tentando apressar aquela mulher.
Claro, voltando. Eu pensei um pouco mais sobre os resultados dos exames, como é que na manhã de ontem a senhora Patrícia fez um exame de farmacia que deu positivo, e o exame de sangue deu negativo?-ela falava e andava de um lado para o outro. Como se fosse um daqueles detetives de programas de tv e séries antigas. Por um instante eu pude visualizar a doutora Liz usando aqueles sobretudos marrom com estampa xadrez, o chapéu engraçado, a lupa que deixa os olhos gigantescos e o cachimbo de bola de sabão na boca.
O meu primeiro pensamento foi que a senhora Patrícia, executou o teste de maneira errada, ou que o teste tivesse passado da validade. E por isso ela teria tido um falso positivo.-ela continuou falando e a minha cabeça estava ficando cada vez mais confusa com tudo isso, mas ainda sim eu respirei fundo e tentei entender o que ela estava contando.
Mas depois de pensar um pouco eu acabei lembrando de toda a história que a senhora Patrícia me contou, e a minha conclusão foi a seguinte.-A doutora Liz parou de andar para um lado e para o outro, ela respirou fundo e deu uma pausa, antes de continuar.
A senhora Patrícia havia me dito que estava tomando alguns medicamentos, e um deles foi o XILACMED( medicamento inventado pela autora para que esse livro faça sentido). Que é um medicamento aparentemente inocente, até porque ele é vendido sem prescrição médica. Ele é um remédio indicado para dor e febre, quase um dipirona. Mas o uso contínuo dele pode conter efeitos colaterais, e para ter certeza eu pesquisei um pouco sobre ele e encontrei a bula, e os efeitos colaterais comuns são enjoo, hipersensibilidade no olfato, vômitos constantes, cansaço, sonolência frequente.- ela foi falando e o meu queixo foi caindo, como eu ia adivinhar que um remédio tão simples como o XILACMED poderia me causar tanta coisa.
Depois de uma pesquisa um pouco mais elaborada,porém rápida, eu cheguei a um resultado. Para que entendam melhor eu vou explicar mais detalhadamente. Eu entrei em um dos fóruns de reclamações,da empresa que fabrica o medicamento e lá em encontrei muitas reclamações de mulheres falando que por causa do medicamento, acharam que estavam grávidas, e algumas até alguns maridos reclamando porque alguns deles passaram por vasectomia ou simplesmente não podiam ter filhos,e ainda sim acharam que suas mulheres estavam grávidas, alguns deles chegaram a brigar com a sua esposa, pois acharam que estavam sendo traídos.-A doutora Liz foi falando e a fumaça que cobria o meu raciocínio até agora foi se dissipando e eu finalmente pude entender o que estava acontecendo.
Caramba.-O meu marido falou enquanto a sua expressão passou de confusão para surpresa.
Em um dos pedidos de desculpas da empresa, era que um dos efeitos colaterais era a produção do hormônio beta-hcg. Mas o hormônio ficava apenas por algumas horas na corrente sanguínea. Ou seja, a Patrícia nunca esteve grávida, por conta do medicamento que tomava,o teste de gravidez deu positivo, e os sintomas de gravidez foram apenas os sintomas causados pelo medicamento.- a doutora liz contou toda a história, e me mostrou todos os exames. Eu senti um mixer de emoções, eu fiquei triste por não estar grávida. Mas fiquei feliz por nunca ter perdido um filho.
O Gabriel, bom, ele eu não tenho certeza do que sentiu, ele apenas ficou segurando a minha mão e me dando forças o suficiente para aguentar tudo. Acho que ele ficou mais chocado do que eu. Depois da conversa que tivemos, a doutora Liz e a enfermeira nos deixaram a sós. O Gabriel deitou um pouco ao meu lado naquela cama gigante de casal para a qual eu fui transferida. Ele foi cuidadoso com a higiene, afinal isso é muito importante, eu ainda não me recuperei da cirurgia e ainda estou com costelas quebradas.Eu ainda tenho que usar uma tipoia. Eu me segurei na frente do Gabriel, mas quando ele dormiu eu apenas chorei no escuro e no silêncio da noite, eu agradeci a Deus pela minha vida, e por não ter perdido um bebê, por que a dor que eu sinto agora, só por saber que na verdade ele nunca existiu com certeza é bem menor do que a dor que eu estaria sentindo se eu tivesse perdido um bebê.