Capítulo 32
1788palavras
2024-02-06 20:47
Capítulo 32
Patricia
Depois de trinta minutos de pura ansiedade eu finalmente escolhi uma roupa que se encaixasse , uma roupa que me deixasse com cara de trabalhadora esforçada, mas que não tivesse tecido demais, eu precisava de algo mais fresco, mas sem me deixar com cara de quem não liga, afinal a primeira impressão é a que fica não é?!
Eu acabei optando por um vestido, ele é soltinho, mas não rodado, eu escolhi um vestido sem muita estampa porque com certeza não vai passar o que eu quero, peguei um vestido com um pouco mais de cor, do que o terninho preto que eu havia escolhido anteriormente, então depois de vestir o meu vestido amarelo mostarda, mas um amarelo mostarda bem bonito.
Eu calcei uma sapatilha, porque saltos realmente não iriam conversar com a imagem mais descontraída que eu quero passar.
Desci as escadas e o Gael estava me esperando, claro, ele não iria a lugar nenhum sem mim. Segundo ele já estava no segundo cafézinho do dia, eu acho que ele tem algum tipo de vício em cafeína, o que não é incomum aqui no Brasil.
O Gael terminou o café que estava na sua xícara, entregou a dona Marta, que como de costume me elogiou, ela é muito fofa, sempre que me arrumo um pouco ela faz questão de enaltecer a minha beleza, as vezes eu fico na dúvida se ela faz isso porque realmente estou bonita, ou porque é coisa de mãe, elogiar os filhos para dar um up na sua autoestima.
Quando finalmente saímos de casa, eu estava com muita ansiedade, não tinha ideia de como seria por lá, e se eles iriam me aceitar, e qual tipo de vaga eles teriam para mim. Fomos de carro, eu o Gael, e um outro segurança, e eu aposto que isso é coisa do meu marido,depois de toda aquela palhaçada que a Sol aprontou, tá, eu admito eu também fiz parte do circo, enfim depois de tudo o que houve o meu marido colocou mais seguranças na casa, e colocou o Gael para ser o meu segurança particular.
Chegando até o local, que na verdade ficava a uns três minutos de carro, a pé daria uns quinze minutos aproximadamente, descemos e era um local ali mesmo dentro da comunidade. Eu entrei com apenas o Gael, o outro segurança ficou do lado de fora.O lugar era tipo uma sede de voluntários, tinham algumas pessoas, era como uma prefeitura apenas para atender as necessidades da comunidade, pelo o que eu entendi tinha algumas pessoas que ouviam os problemas das pessoas e tentavam ajudar da melhor maneira possível. Eu comecei a olhar todo o lugar, tinha fotos espalhadas em um mural que estava pendurado na parede ao lado de uma espécie de quadro de avisos que aparentemente era feito com uma placa de EPS(também conhecido como isopor) coberta com pedaço verde de tnt(tecido não tecido, é um tecido feito através da reciclagem de garrafas pet). Haviam, um monte de sacolas com roupas, cobertores, casacos, e também havia alguns espaços com cestas básicas.
Eu estava impressionada como haviam pessoas que se importam de verdade umas com as outras, na verdade eu já havia perdido as esperanças quanto a isso, na minha visão as pessoas eram todas egoístas,que só se importam com elas mesmas e com o que outras pessoas poderiam dar a elas,e até pouquíssimo tempo eu também era assim. Uma riquinha mimada que tinha tudo o que queria, uma mulher egoísta e sem coração.
Enquanto eu estava distraída olhando todo o local, que por sinal era enorme, eu senti uma pessoa me cutucar,e quando olhei para trás me surpreendi, uma surpresa muito agradável eu diria.
Pati! O que está fazendo aqui?-Geovana perguntou toda animada e sorridente.
Geovana? Nossa que legal te encontrar aqui. Eu vim atrás de emprego. E você?-eu respondi a sua pergunta.Eu realmente fiquei feliz de encontrar um rosto conhecido num ambiente tão novo para mim.
Eu trabalho aqui Pati, eu ajudo a organizar, sou assistente da presidente.-ela respondeu com um sorriso no rosto.
Que incrível!-eu respondi animada.
Então, você tem algum emprego em vista?-ela perguntou, querendo saber mais sobre a minha vontade súbita de querer trabalhar.
Na verdade eu não tenho ideia, apenas vim checar quais vagas de empregos vocês têm disponíveis, e queria saber se estou apta para preencher alguma delas.- eu respondi com o meu melhor sorriso de esperança.
Huum, mas que boa notícia! temos alguns projetos que pretendemos começar que estão precisando de novos voluntários. A maioria dos voluntários não são fixos, em alguns projetos temos muitas pessoas, mas em outros projetos quase ninguém se candidata. Claro, isso também acontece com as doações, algumas empresas como a do seu marido, contribuem todos os meses, mas em alguns meses, nas datas comemorativas como Natal e Páscoa. -ela contou com muita empolgação.
Que legal, é muito bom saber que tem pessoas dispostas a ajudar a comunidade.-eu respondi realmente impressionada.E eu realmente não tinha ideia que a empresa do Gabriel também doava , eu sabia que ele ajudava a comunidade do próprio bolso.
Nós temos muitas vagas, eu só preciso pegar os folhetos dos próximos projetos, para poder te dizer exatamente quais são as vagas.Eu já volto, com linsensa -Ela me respondeu antes de dar as costas para atravessar o enorme espaço e atravessar uma porta para o que eu presumo ser a sala de escritório onde ela e a presidente dessa associação trabalham.
E ai? Encontrou alguma coisa que goste?-o Gael me perguntou surgindo do nada.
Não, ainda não, a Geovana foi buscar os papéis para me dizer quais são as vagas que tem disponível no momento.-eu respondi.
Geovana? Aquela gata? Digo a neta da dona Joana?-ele perguntou empolgado.
Cara ela é mais nova do que eu, ela é quase um bebê comparada a você. E onde é que você estava? Sumiu do nada.- eu respondi ao pegador eminente.
Eu estava no banheiro,o João Victor ficou de olho em você, ele é tão discreto que você nem sequer percebeu que ele estava bem perto. E a Geovana, não é mais uma criança, é uma mulher adulta,e olha que mulher!!-ele me respondeu todo debochado.
Nossa, eu realmente não percebi que o João Victor estava bem aqui!- eu respondi e ele riu.
Esse lugar é realmente grande não é?-eu falei depois de caminhar um pouco mais.
É, mas não era desse tamanho desde sempre, faz pouco tempo que construíram essa sede. O pessoa sempre ajuda os mais necessitados. Por exemplo, aqui não passa ônibus, então tem algumas pessoas que rodam kombi por aqui, para levar as pessoas até os seus trabalhos ou até crianças para as escolas. -ele me disse, e eu até pude sentir um tom de orgulho e felicidade ao mesmo tempo.
Uau, eu nem sequer podia imaginar que era assim que as coisas funcionavam.- eu respondi impressionada e até feliz por saber que vou poder fazer parte das pessoas que ajudam a comunidade, me sinto até um pouco redimida de todas as besteiras que já fiz na vida. Realmente a sensação de poder ajudar o próximo e de querer ajudar é maravilhosa.
Nós caminhamos e conhecemos o local, que era como um salão de festas aberto, onde todos poderiam participar, todos podiam fazer doações de brinquedos, livros roupas e cobertores, pelo que pude entender as pessoas doam para esse local, e as pessoa que necessitam vem aqui ou entram em contato com a presidente ou com os funcionários daqui, eles preenchem algum tipo de formulário e recebem as doações.
A Geovana voltou e me entregou os folhetos que me informavam quais eram as vagas que haviam, eu fiquei muito empolgada, tinha de tudo um pouco, professora de educação física, história, matemática, arte e redação. Tinha vaga para ajudar a Geovana com o que ela precisasse, essa era tipo uma faz tudo, eu iria ajudar a entregar as doações, a cozinhar a merenda das creches que a associação ajudava, e muitas outras coisas, enquanto eu checava o folheto pude presenciar a conversa constrangedora entre Gael e Geovana.
Uma flor, para outra flor-Gael estendeu a rosa de plástico que ele acabara de arrancar do arranjo de flores que se encontrava em cima de uma das mesinhas de plásticos do local.
Sério? Que cantada mais manjada, não tinha coisa melhor não?-ela respondeu ao pegar a rosa artificial da mão dele.
Desculpe, é que foi no improviso.-Ele respondeu com um sorriso meio bobo.
E uma rosa de plástico? Que ainda por cima é do arranjo daqui.- Ela disse com um leve tom de sarcasmo.
Como eu disse antes, foi um improviso.-ele respondeu.
Eu já falei que não vai rolar nada Gael.-Geovana respondeu de uma forma até que educada.
Mas não custa tentar de novo.-Ele respondeu tentando ser sedutor.
Vê se cresce!- Geovana respondeu ao Gael.
Depois dessa conversa constrangedora que eu apenas fingi não estar prestando atenção, eu juro que tentei não ficar ouvindo mais o meu sangue de fofoqueira raiz não me deixaria viver em paz se eu não tivesse prestado atenção.
A Geovana veio até mim e conversamos um pouco, falamos sobre os horários, e sobre os dias de trabalho, eu descobri que eu posso até trabalhar em dois turnos seguidos se eu estiver livre.
Se eu for professora de apenas uma matéria eu não tenho que dar aulas todos os dias, então eu posso preencher outras vagas, e posso fazer parte dos mutirões de limpeza.
Pelo o que eu entendi algumas vagas de professoras, são de aulas extras curriculares, para ajudar as crianças e os adolescentes que precisam melhorar na matéria. E outras são para dar aulas em dias específicos nas creches da comunidade.
Esses trabalhos são perfeitos para alguém como eu, que quer apenas trabalhar, os salários são bem baixos, mas eu vou conversar com o meu marido, porque eu não preciso de um salário, então não vejo necessidade de receber um, eles podem usar o meu salário para ajudar ainda mais a comunidade.
Estou me sentindo particularmente solidária no dia de hoje. Apesar de que as razões pelas quais eu estou fazendo isso são completamente egoístas, não significam que não vão ajudar as pessoas que precisam.
Muito obrigada mesmo, você não sabe como eu estou feliz com essa oportunidade. Mas eu preciso conversar com o Gabriel primeiro, então eu vou para casa conversar com ele sobre as vagas, e amanhã eu retorno com uma resposta, está bem?-eu respondi a ela.
Claro! Nós nos vemos amanhã então!- ela me respondeu. Saímos da sede o Gael e eu, entramos no carro e fomos direto para casa, e como era de se esperar eu estava muito feliz com essa oportunidade, e muito esperançosa com tudo isso. Parece que finalmente vou começar algo de verdade.