Capítulo 45
1439palavras
2023-11-28 00:01
POV de Leandro
Eu ainda podia sentir sua luta através da ligação. Eu sentia a dor dela, embora ela parecesse imóvel na cama. Meu lobo gemeu e andou nervosamente ao redor, sem saber o que fazer, pois podia sentir que sua companheira estava com dor.
E então ele mudou o humor para um assassino sedento por sangue. Quem fez isso com a nossa companheira, iria pagar! E pela primeira vez eu acolhi esse seu desejo assassino por sangue.
"Alfa?"
Era o Manuel me chamando. Mal o reconheci ali. Eu não ousava me mover muito, sem realmente saber o que eu faria. O que meu lobo faria. O que eu o deixaria fazer ...
"Eu mandei rastreadores para a sua casa," ele continuou, mesmo assim. "Nós vamos pegá-los." Ele estava tentando me tranquilizar. Eu não precisava de tranquilidade. Eu precisava de sangue!
"Quando você o fizer, me avise," murmurei, minha voz num cruzamento entre animal e humano. "Eu mesmo vou matá-los."
"Sim, Alfa", ele disse formalmente, antes de mudar o tom: "Como ela está?"
"Estável", repeti o que enfermeiras e médicos haviam confirmado repetidamente. Como se fosse algo bom. "Seja lá o que isso signifique." Eu podia sentir ela lutando. Eu podia sentir que ela estava com dor. Como isso era algo bom? Minha companheira estava com dor.
E eu não podia fazer nada para mudar isso!
"Você pode senti-la?", Manuel perguntou com cuidado. Meu maxilar se contraiu e meu corpo ficou tenso. Eu queria despedaçar alguém ou alguma coisa!
A notícia de que ela era minha companheira, se espalhou rapidamente. Especialmente agora que estávamos ligados por algo mais do que apenas corpo e mente. Minha vida agora estava conectada à dela. Isso tinha salvado sua vida. Foi o que os médicos continuaram garantindo. Sem mim, ela teria morrido. Eles me olhavam com admiração. Como se eu fosse algum maldito salvador.
Eu não salvei ninguém.
Eu balancei a cabeça, finalmente respondendo à pergunta de Manuel.
"Então, como ela está?" ele perguntou novamente, sua voz cheia de uma compaixão fraterna.
"Ela está lutando", eu rosnava, meu corpo tremendo de raiva. "Ela está sofrendo e eu me sinto completamente inútil, sentado e olhando fixamente para uma parede." Levantei-me, incapaz de ficar parado. Meu sangue fervia e eu queria me transformar. Para caçar! "Eu deveria ter previsto que algo assim aconteceria! Eu deveria ter posto guardas na frente da casa. Eu deveria ter..."
"Leandro!" Manuel interrompeu; sua voz embebida com o poder Alfa que ainda residia no seu sangue. "Agora não é hora para terias...!"
"Eu deveria ter protegido ela!" Eu rugi. Eu nem mesmo percebi que eu tinha pegado seu pescoço até que ele estava pendurado um pé no ar. Eu tinha tanto poder. Seria fácil quebrar seu pescoço. Para arrancar seu coração e o alimentar por sua garganta.
"Eu falhei!"
Eu gritei. Ele estava lutando, mas era inútil contra mim.
Eu tinha todo esse poder…
Mas, estava completamente impotente…
"Eu falhei com ela!"
Uma mão quente repentinamente puxou meu braço. Eu grunhi levemente, reconhecendo o toque da mulher que me criou. Eu encontrei os seus olhos severos e de repente eu me senti como um filhote pequeno novamente. Uma criança pequena, que apenas queria conforto.
"Mas se martirizar por isso também não vai ajudar", Tia Sasha me acalmou gentilmente, acariciando meu braço. Eu respirei fundo algumas vezes, antes de colocar Manuel no chão. Eu murmurei um pedido de desculpas, ao qual ele apenas soltou um grito estridente em resposta; sua corda vocal esmagada.
Ótimo! Agora eu realmente me sentia péssimo...!
Como se percebendo meus pensamentos – ou apenas acostumada com meus humores – Tia Sasha levou meu rosto às suas pequenas mãos e forçou meu olhar envergonhado a encontrar o dela.
"Que tal parar de olhar fixamente para a parede e ir ficar com a sua companheira?" ela sugeriu gentilmente, mas na realidade, era uma ordem. "Deixe ela sentir que você está lá!" Ela sorriu; seu amor puxando minhas cordas do coração. Acho que eu nunca percebi realmente, quão forte e sábia esta pequena mulher era. Mesmo agora, estrangulando seu primeiro filho, ela não sentia ressentimento ou raiva por mim.
Na verdade, eu vi muito dela em Daniela. Talvez por isso eu me apaixonei por ela. Ela me lembra uma mulher poderosa, que não tinha medo de enfrentar bestas.
Eu assenti e depois de outra desculpa para Manuel, voltei para a minha companheira. Eles partiram e eu fiquei sozinho. Por um tempo, eu fiquei apenas olhando para ela.
Eu me lembro da última vez que estive de pé assim...
Eu tinha acabado de voltar à forma humana após minha loba emergir pela primeira vez. O corpo do meu pai era uma bagunça mutilada no chão. Sangue por toda parte. Nas minhas mãos, meu rosto, meu corpo... E eu não sentia vergonha ou arrependimento. Eu havia matado um monstro e sorri, esperando que ele tivesse sofrido mil vezes mais, por tudo que tinha feito à minha mãe.
Eu a chamei. Estava ansioso para dar a ela a notícia. Que nós estávamos livres. Que ele nunca iria nos machucar novamente. Que meu irmãozinho ou irmãzinha nunca sentiria sua raiva. Ele nunca mais seria capaz de machucar---
Secretamente, eu estava esperando por uma irmãzinha. Alguém que eu pudesse proteger. E com quem não precisasse compartilhar meus brinquedos. Mas principalmente porque eu achava as meninas fofas. E ela teria o belo sorriso e a risada da mamãe. E se alguém a provocasse, eu quebraria seus ossos.
Eu consegui matar o papai, então definitivamente conseguirei protegê-la contra tudo que este mundo jogar nela.
Sim... Esse era o plano...!
Mas mamãe não respondia. Fui até ela, tentando chacoalhá-la. Acorde-a. Ela ainda não respondia. Seu rosto não era o rosto que eu estava acostumado. Estava ensanguentado e um corte profundo corria da lateral de seu olho até seu ombro. Seus seios estavam parcialmente expostos debaixo do tecido rasgado, assim como seu pequeno bump, que protegia o meu irmão ainda não nascido. Seu vestido branco estava vermelho de sangue.
Foi aí que percebi que algo não estava certo.
Eu havia sido tão idiota naquela época!
No meu estado delirante de ser torturado pelo meu pai, eu não o tinha visto usar a faca nela mais de uma vez. Eu apenas mudei de forma e ataquei. Não sabia de seu vigor. Que ele continuava a esfaqueá-la; repetidas vezes.
Eu fui tão estúpido.
Se eu tivesse apenas pedido ajuda imediatamente. Se eu tivesse me levantando mais cedo. Se eu tivesse sido mais forte. Se não tivesse perdido tempo o despedaçando. Se eu tivesse chegado até ela mais cedo, talvez então...
Eu falhei com ela!
E agora eu havia sido presenteado com uma segunda chance.
Eu nem mesmo havia percebido as lágrimas que se formavam em meus olhos. Sentei-me ao lado da minha companheira e a observei. Apenas ouvindo o quieto batimento do seu coração. Ouvindo enquanto as máquinas faziam, o que eu não podia. Mantê-la viva...
Eu falhei com eles…
Quando a mamãe chegou ao hospital, ela já estava morta cerebral. E meu irmão ou irmã mais nova não sobreviveu. Uma máquina manteve a mamãe viva por um pouco mais de tempo. Eu passei horas implorando para ela voltar. Tentei dizer a ela que agora eu era mais forte. Que eu poderia protegê-los.
Promessas vazias…
Tia Sasha estava ao meu lado quando o Alfa Vincent desligou a máquina. No segundo em que a máquina parou, o coração dela também parou. E meu mundo despedaçou-se em um milhão de pedaços.
Eu a tinha decepcionado
E eu vivi com a sensação de falha a minha vida inteira. Manifestou-se como raiva e fúria. Resultou em inúmeros parceiros sexuais sem sentido e um vício em drogas. Mas tudo isso era apenas uma cobertura para a falha que eu sabia que eu era.
Até que a conheci.
Daniela.
Ela simplesmente entrou na minha vida e me aceitou do jeito que eu era. Machucado, ferido e com muita raiva. Ela não pestanejou. Ela não se afastou de mim, mesmo quando qualquer outra pessoa sã se afastaria. Ela não ficou por perto por culpa ou obrigação. Ela não me via como um Alfa ou uma fera.
Não…
Ela via algo mais. Algo que eu ainda não conseguia entender.
Um homem.
Nada mais. Nada menos.
Ela era minha luz.
Eu queria protegê-la, mas na realidade, ela estava colhendo meus pedaços quebrados. Ela me consertou. Ela me fez melhor…
Eu não falharia com ela!
Inclinei-me e peguei a mão dela na minha. Suavemente, pressionei a mão dela contra meus lábios, sentindo a pele suave dela contra a minha áspera.
"Por favor," implorei, fechando os olhos. "Por favor, volte para mim?"