Capítulo 37
1232palavras
2023-12-12 06:50
Em uma fazenda no Texas, Ashley estava deitada em uma cama sentindo fortes contrações. O sol aquecia a cidade, que há algumas semanas sofria com frios intensos. Do lado de fora do quarto, Ethan caminhava apreensivo, e todas às vezes que o grito de Ashley ecoava pela casa, a angústia explodia no seu peito.
Há sete meses eles chegaram em Austin, na fazenda que pertencia ao falecido marido de Anny. Ela entregou as chaves para Ethan e partiu logo em seguida. Ashley negou qualquer ajuda além dessa, que Anny pudesse oferecer. Ela queria aprender a caminhar com as próprias pernas, e tendo alguém com Anny ao seu lado, certamente ela não conseguiria.
Os meses que passaram ali foram calmos. Ethan comprou vacas e galinhas e cultivou o próprio alimento. Ashley e Ethan trabalharam incansavelmente nos últimos meses para aumentar a produção que pudesse fornecer não somente eles, mas outras famílias. Quando Ashley já estava perto de ganhar o bebê, Ethan contratou um ajudante e já estava se tornando um pequeno agricultor.

Estava quente e úmido naquele dia e Ashley estava sentada em uma cadeira de plástico na varanda da fazenda. Ela parecia estar cansada como se tivesse corrido uma longa maratona. Sua barriga grande sufocava seus pulmões e ela tinha dificuldades para respirar. Conseguia ver Ethan com dificuldade, ele estava distante arando a terra. O homem esmaecido já estava velho para aquele trabalho braçal, mas certamente Ashley nunca tenha visto o pai tão feliz como estava agora. O ajudante tirava leite das vacas, mas Ashley nunca sequer lembrava o nome dele. Ela mal tinha forças para fazer os serviços de casa sozinho. Olhou para o campo, levantando-se, disposta a ir se deitar, quando um líquido escorreu pelas suas pernas.
Seu coração disparou quando ela entendeu o sentido daquilo e a primeira contração veio, contorcendo-a de dor. Um grito alto saiu da sua garganta. Tudo o que Ashley conseguiu ouvir foi passos apressados correndo na sua direção, enquanto suas pernas enfraquecidas faziam – na desabar no chão.
— Ashley, o que há de errado? – O ajudante se assustou com o semblante de Ashley e certamente não sabia o que fazer.
— Chame o meu pai – ela quase não conseguiu falar, – o bebê está nascendo.
Ele não sabia se ia até o Ethan ou se primeiro tirava Ashley daquele chão frio. Ajudou a menina a se levantar, mas ela recusou que ele a levasse até o quarto. O que ela realmente queria era ter o seu pai ao seu lado naquele momento.
Alguns minutos depois, Ashley chegou até o quarto, com a dor aumentando a cada passo que ela dava em direção à cama. Ethan entrou no quarto ofegante, com os olhos arregalados sem saber o que fazer.

— Vá buscar a parteira – Ethan balançou a cabeça negando o pedido.
— Você precisa ir ao hospital, Ashley – gaguejou ele, enquanto o suor escorria pelo seu rosto.
— Conversamos sobre isso, pai – um grito rompeu seu raciocínio, – por favor, faça o que eu estou pedindo, agora.
Ethan esfregou o rosto impaciente, antes de olhar para o rapaz que estava esperando na porta e ordenar que ele encontrasse parteira.

Ashley havia decidido que não teria o seu filho em um hospital e avisou a Ethan sobre isso, que nunca concordou com a ideia, que segundo ele, era arcaica e perigosa. Mas Ethan raramente concordava com as ideias de Ashley. Ele não concordou quando ela decidiu esconder a gravidez, também não concordou em morar no Texas, porém, apesar das discordâncias, ele sempre cedia no final.
Quando a parteira chegou, Ethan foi obrigado a se retirar do quarto. No entanto, apesar de todo o perigo que ele achava que Ashley corria, ele ficou ao pé da porta, esperando escutar o choro do bebê pela primeira vez.
Os gritos de Ashley se intensificavam e o temor de Ethan também. Lembrou de quando Ashley nasceu, quando entrou no quarto e viu o rosto angelical dela pela primeira vez. Ethan não presenciou os gritos de Amanda nem o seu sofrimento em dar à luz a Ashley. Mas agora sua cabeça latejava, fazendo massagear a têmpora, enquanto orava para que aquilo terminasse logo.
Então veio o silêncio e logo em seguida, ele ouviu o choro do bebê. De repente a angústia que há minutos atrás predominava o seu rosto, deu lugar ao choro. Lagrimas escorriam do rosto sujo e velho de Ethan. O seu neto havia nascido.
Engoliu em seco quando, enfim, pode entrar no quarto e ver a filha pela primeira vez. Ashley segurava-o nos braços, sorrindo. Era como se toda a dor sofrida minutos antes desaparecesse sem deixar rastros, como se nada tivesse acontecido.
Ethan deu passos lentos na direção dela e se sentou na beira da cama. Ashley olhou para ele e seus olhos brilhava de uma felicidade que há muito tempo ele não via. Ela inclinou a criança na direção dele e quando Ethan colocou os olhos na criança pela primeira vez, deixou as lagrimas escorrerem.
— É uma menina, pai – disse, orgulhosamente.
— Ela se parece com você – tocou o pequeno rosto da garotinha, que agora dormia, com as mãos calejadas e as unhas encardidas – como será o nome dela?”
— Valentina - respondeu – minha menina valente e corajosa.
Ashley era tão inexperiente, que muitas vezes não soube o que fazer. Às vezes se assustava com os choros insistentes de Valentina durante a noite. Outras vezes se desesperava com as fraldas sujas e os banhos que precisava dar na pequena menina. Ela chorava inconsolavelmente durante dias por não se achar capaz de cuidar da própria filha. Mas Ethan havia feito uma promessa a Anny, e compraria ela mesmo contra a vontade de Ashley.
Uma semana depois que a pequena Valentina nasceu, Ethan foi a cidade e ligou para Anny, pedindo para ela ver imediatamente até a fazenda. Aquele foi o estopim para Ashley, que não concordou com a atitude do pai, percebendo mais tarde que nem tudo ela conseguiria resolver sozinha.
— Não é vergonhoso pedir ajuda, Ashley – Anny segurava a pequena Valentina nos braços, balançando o corpo para que ela dormisse – sempre estarei aqui para ajudá-la.
— Não é justo fazê-la largar a sua vida para correr até aqui toda vez que eu tiver um problema – disse ela sem esconder sua frustração.
— Eu não chamaria essa menina encantadora de um problema – os olhos de Anny brilhava ao olhar para a criança - além disso, estou aposentada e já não há mais uma vida para largar por aí.
— Eu preciso aprender a ser livre, Anny – a voz tremula indicava que Ashley estava prestes a chorar.
— E você irá aprender – colocou a menina no berço e voltou sua atenção para Ashley – Não estou aqui para fazê-la pensar que não consegue ser uma boa mãe sozinha. Estou aqui para ajudá-la.
Ashley abaixou o olhar para as mãos e pensou sobre o que ela dizia.
— Está na hora de você voltar para a faculdade – disse Anny com veemência – Se quer ser livre, precisa ser livre com um diploma. O conhecimento, eles nunca poderão te arrancar.
Com um nó sufocando sua garganta, Ashley olhou para ela, que esperava que concordasse com sua sugestão. Sem conseguir dizer nada, ela apenas sorriu. O futuro de Valentina também dependia daquilo.