Capítulo 9
1447palavras
2023-09-28 19:19
O carro seguia em silêncio. As palavras ansiosas de Brenda ecoavam no interior do veículo, e Allison ouviu claramente a menção ao nome "Theo". Isso trouxe à tona lembranças de quando ela havia descoberto a gravidez e compartilhado a notícia com Justin cheia de esperanças.
"— Justin, você vai ser pai!
Estamos esperando um filho!
Até já escolhi um nome para o bebê.
Se for uma menina, será Álice Howard.
Se for um menino, será Theo Howard.
Nomes especiais só para nós dois. O que você acha?"
Mas as coisas tinham tomado um rumo completamente diferente, e ela desejava profundamente que estivesse errada. O olhar de Justin naquele momento não havia escondido suas emoções, e ele respondeu de forma firme.
— Ele se chama Theo Howard.
A raiva a tomou, e ela não hesitou em desferir um tapa nele. Dessa vez, ele não se esquivou e recebeu o golpe em cheio.
— Como você pôde permitir que o filho dela tivesse o mesmo nome do nosso filho?
Allison não segurou a indignação. O filho era sua última linha de defesa, e as lágrimas rolaram como pérolas partidas.
Quase enlouquecida, ela partiu para cima dele.
— Seu monstro! Por que o destino teve que tirar a vida do nosso bebê? Por que não foi você quem morreu?
Os golpes implacáveis de Allison choviam sobre o corpo de Justin enquanto ela descontroladamente desferia cada um deles.
— Ele não merece levar esse nome! Você é indigno para ser um pai. - Ela gritava.
Justin segurou suas mãos e deu uma ordem a Ryan.
— Vá para a Vila Dourada.
A agitação de Allison aumentou ainda mais.
— Estamos quase no cartório. Se você quer ir, terá que se divorciar primeiro.
— A criança está com febre alta. Preciso ir imediatamente.
A explosão de Allison continuou e ela cuspiu cada palavra.
— Meu pai está inconsciente no hospital! A enfermeira não me permite vê-lo enquanto eu não pagar as despesas médicas! A vida do seu filho importa, mas a vida do meu pai não importa? E você se acha digno de ser pai?
A menção a Northon e o desprezo que ela sentia por ele ser pai, trouxe um frio ao rosto de Justin.
— Northon é digno de ser comparado a Theo?
Allison estava tão furiosa que estava prestes a atacá-lo novamente, mas suas mãos foram seguradas.
— Isso já basta? - Ele gritou.
Com o carro virando a curva que os levaria ao cartório, Allison olhou pela janela e viu o cenário passando rapidamente.
Para evitar mais resistência, ele a segurou firmemente em seus braços. O abraço que costumava ser reconfortante agora a mantinha prisioneira.
Ele era forte demais, e ela estava fraca demais para escapar. Ela só conseguia expressar sua impotência com raiva.
— Você ama a Brenda tanto assim?
A pergunta de Allison foi seguida por um silêncio tenso.
Justin parecia perdido em pensamentos.
Enquanto ele a segurava, ele notou o quão magra ela tinha ficado desde o último ano.
Ela estava irreconhecível, e ele sentia seus ossos claramente mesmo sob as roupas.
A flor delicada que ele costumava cuidar com todo o carinho do mundo estava murchando gradualmente.
Era isso o que ele realmente queria?
Enquanto as dúvidas se acumulavam em sua mente, a imagem do corpo da mulher brutalmente assassinada apareceu diante de seus olhos, e suas mãos se apertaram aos poucos sobre a cintura de Allison.
Quando ele olhou para ela novamente, a ternura havia desaparecido de seus olhos, substituída por um frio imperturbável.
— Allison, você quer ver Northon sem os tubos de oxigênio? Acredite em mim, se você fizer isso de novo, eu faço isso imediatamente.
Allison agarrou suas roupas com força, suas lágrimas manchando sua camisa.
Ele costumava dizer que não a faria chorar, mas agora todas as suas lágrimas eram causadas por ele.
O ar dentro do carro parecia pesado, quase sufocante. Ela finalmente se acalmou, afastou-se dele e se sentou ereta.
Allison fungou e começou a falar. Parecia que ela tinha nojo dele. Pois começou a fazer movimentos no carro como se estivesse limpando seu toque no corpo dela.
— Justin, você é livre para visitar seu filho, mas não pode atrapalhar nossos planos por causa dos seus problemas. Não se preocupe, não vou ficar te incomodando.
Mesmo que você não queira o divórcio, já estou decidida. Não tenho o hábito de catar lixo.
Quando Justin ouviu a palavra "lixo", franziu o cenho. Mas Allison continuou com indiferença.
— Eu admito que fui ingênua no passado, tive ilusões irreais sobre você. Agora entendo perfeitamente. É melhor deixar ir as cinzas que não posso segurar. Dê-me o dinheiro, e quando tiver tempo, finalizaremos os procedimentos. Garanto que estarei pronta sempre que você chamar, não vou voltar atrás.
— E se eu não der?
Allison olhou nos olhos escuros de Justin. Seus olhos, ainda úmidos de lágrimas, brilhavam como as montanhas verdes após a chuva, com uma clareza fria ao dizer.
— Então eu pulo do carro. Se não posso salvar meu pai, não há razão para eu continuar vivendo.
Justin tirou um cheque e preencheu-o com um valor e entregou para ela.
— Os outrs cinco milhões serão pagos após o divórcio.
— Você tem tanto medo de que eu não me divorcie de você? Fique tranquilo, um homem como você me causa repulsa a cada segundo. Pare o carro. - Ela disse friamente.
Ela pegou o cheque abriu a porta e bateu a porta com força, saiu sem olhar para trás.
Finalmente, seu pai seria salvo!
Vendo-a se distanciar sem olhar para trás, Justin sentiu que havia perdido algo. Mas ordenou que fossem embora.
Allison trocou o cheque e imediatamente pagou as despesas médicas. A segunda coisa que fez foi pegar um táxi até o endereço que Gabriel havia dado a ela.
Era um cemitério particular e requintado, onde apenas os ricos e famosos eram sepultados. A Sra. Nara também descansava aqui. Allison comprou Margaridas, as flores favoritas de Sra. Nara.
Não demorou para ela encontrar um novo túmulo, cercado por árvores de Amoras prestes a florescerem.
Na lápide fria estava gravado um nome desconhecido.
Aqui jaz Clarice Howar**d
Justin amava muito sua irmã que havia desaparecido e se tornado um tabu em seu coração, algo que ele não queria discutir. Por isso, Allison não sabia nada sobre ela.
Clarice, esse era o nome dela?
Allison nunca tinha ouvido esse nome antes.
Ela se agachou e olhou a foto no túmulo. Era uma imagem de Clarice aos cinco ou sete anos, com um rosto redondo e amável onde se podia ver vagamente a sombra de Justin entre suas sobrancelhas.
Allison ainda estava perplexa. Ela tirou uma foto com o celular, como pista.
Colocando as margaridas de lado, ela se ajoelhou diante do túmulo de Clarice e falou baixinho.
— Lice, sou a Allison. Se você estivesse viva, deveria me chamar de cunhada, não, ex- cunhada. Desculpe por conhecer você assim. Vou descobrir a verdade sobre quem tirou sua vida eu prometo.
O túmulo de Sra. Nara estava próximo. Na foto, Sra. Nara tinha um olhar gentil, preservando a mesma expressão de anos atrás. Allison tirou uma batata-doce assada do bolso e colocou-a na frente do túmulo.
— Vovó, estou aqui para vê-la. O inverno chegou novamente, sem você para disputar comigo por batata-doce, elas perderam o sabor.
Cansada em pé, ela se sentou ao lado do túmulo como se estivesse conversando com Sra. Nara, como se ela ainda estivesse viva.
— Vovó, me desculpe por não ter conseguido proteger aquela criança. No entanto, aquele Justin sem vergonha já garantiu a continuidade da família Howard para vocês. Você não precisa se preocupar com o futuro da linhagem. Vovó, ele mudou. Não é mais a pessoa que eu conheci. Ele costumava dizer que me protegeria das tempestades, mas agora todas as tempestades em minha vida são causadas por ele. Se você estivesse aqui, tenho certeza de que não permitiria que ele me tratasse assim.
Allison sorriu tristemente, continuando a conversar sozinha com o túmulo.
- Vovó, eu e Justin estamos prestes a nos divorciar. Você costumava dizer que se ele ousasse me intimidar, você sairia do caixão para bater na cabeça dele. Minha vida não será muito mais longa. Depois de um tempo, irei te fazer companhia. Que tal sairmos do caixão juntas e darmos uma lição nele?
Vovó, como é morrer?
É escuro?
Tenho medo de insetos me mordendo.
O que devo fazer?
Vovó, que tal eu queimar mais dinheiro de papel para você? Quando eu chegar aí, você pode me ajudar a comprar uma mansão enorme de 900 metros quadrados, o que acha?
Vovó, estou sentindo sua falta.