Capítulo 39
2080palavras
2024-11-12 05:23
Miguel
— Boa noite filhão. — murmurei dando um beijo nos cabelos de Will, mas antes que me afastasse ele se virou sonolento.
— Papai, terminamos o quadro. — ele resmungou antes de voltar a dormir.
Brutos e Will tinham inventado de fazer um quadro para a nova integrante da família, os dois passaram a semana toda focados nisso e deixando todos de fora.
Acariciei os cabelos dele mais uma vez e o cobri melhor antes de sair.
Entrei no nosso quarto por volta das duas da manhã, mesmo sendo um sábado a noite o que me faria chegar em casa apenas pela manhã depois fechar o bar, eu estava mudando esse horário e passando mais tempo em casa com Will e Maria, ansioso para a chegada da nossa princesinha.
Ela estava dormindo profundamente e mesmo sobre o lençol eu conseguia ver a curva grande da barriga. Nove meses já e a nossa menininha estava enorme, o que deixava a mãe dela completamente louca, porque não via a hora do parto.
Tomei um banho rápido, coloquei uma cueca box e voltei para cama, me enfiando em baixo do cobertor com ela e me encaixando perfeitamente atrás de Maria.
— Você demorou, sua filha não queria dormir. — ela resmungou me surpreendendo e arrancando um sorriso.
— Pelo jeito Willow vai ser mesmo a filhinha do papai. — falei contra o pescoço dela enquanto envolvia minhas mãos na barriga grande, fazendo um carinho e sentindo alguns chutes.
Levou dois meses ao todo, o velho era difícil na queda, mas quando se deu conta de que seria o único a ser deixado de lado durante a gravidez ele veio correndo atrás da filha. Pediu perdão a ela e a mim, depois fez questão de começar a vir nos almoços de família.
Por mais que Brutos e mamãe quisessem brigar com o homem, não deixamos, eu só queria a felicidade de Maria e vê-la sorrindo como boba com todos reunidos, Will brincando com o sobrinho dela e todos se entrosando, foi a melhor coisa. Por isso dei aquele assunto por encerrado, mesmo que ela tivesse me garantido que seu pai não ia parar de interferir em nossas vidas.
Mas depoia que eles se acertaram Maria decidiu seguir a ideia do pai ao dar nomes aos filhos, mas ao invés de M ela ia usar a inicial do nome de William. E isso me fez amá-la ainda mais, porque ela estava mostrando que todos os nossos filhos seriam iguais pra ela e respeitando a escolha de Luna no nome.
— Willow, papai já está em casa. — murmurei acariciando a barriga. — Está na hora de dormir princesa!
— Não, está na hora dela sair de uma vez ou a mamãe vai explodir. — Maria reclamou exagerando como sempre e se virou deixando o barrigão para cima. — Quem sabe se o papai pedir ela não obedece.
Encarei minha mulher sem conseguir parar de rir, então escorreguei pela cama até parar com o rosto de frente para a barriga dela. Maria não estava usando nada além de um sutiã e um shorts folgado, porque quase nada servia mais nela e ela se recusava a comprar roupas novas pra dormir. Então eu colei meus lábios sobre a barriga dando beijinhos enquanto acariciava a lateral.
— Você ouviu a mamãe princesa. Está na hora de sair daí e conhecer todo mundo. — falei baixinho sem muita certeza nas palavras.
A baixinha nervosa puxou o lençol me olhando nos olhos com desconfiança.
— Não me pareceu uma ordem nem mesmo um pedido. — e não era, a verdade é que eu estava morrendo de medo dessa parte da gravidez.
Saber que ela estava grávida foi a maior alegria, eu fiquei por dias empolgado, mas quando a médica falou sobre o parto minha ficha caiu, o bebê entrou e teria que sair e isso me lembrou Luna, ela entrou na sala para ter meu filho e no fim apenas um deles saiu de lá. Eu estava apavorado que isso pudesse acontecer com Maria, evitava até mesmo de pensar na possibilidade para não ficar triste e transparecer.
— Não, estou sugerindo que ela saia. Willow pode ser a filhinha do papai, mas tem o temperamento da mãe, se eu ordenar que ela faça algo provavelmente vou acabar com um nariz quebrado.
Ela começou a rir, mas logo atirou um travesseiro na minha cabeça quando sentiu a bexiga reclamar.
— Deus do céu, só faça essa menina sair logo ou nunca mais vai encostar em mim, não vou arriscar ter outro filho.
Eu tive que rir do desespero dela respirando fundo e segurando a barriga. Maria tinha dito que Willow seria a única gravidez dela, já tínhamos um casal e estava ótimo, mas conforme os meses foram passando eu vi isso mudando, vez ou outra ela comentava sobre ter mais um, fazer um trio, ou igualar com seu pai e termos quatro.
— Eu sei que você está louca para ter outros filhos meus. — murmurei beijando a barriga mais pra baixo provocando ela. — Willow, é melhor sair logo dai, porque o papai quer colocar mais irmãozinhos no forno enquanto ainda tenho pique de brincar com vocês.
— Seu velho! — Maria falou com um sorriso na voz e deslizou os dedos por meus cabelos. — Se quiser brincar fique a vontade, aproveita que já está aí em baixo e começa o trabalho deixando a mamãe aqui feliz.
Eu gargalhei, ri alto mesmo aproveitando que tínhamos colocado um isolamento acústico no quarto, afinal eu tinha uma mulher barulhenta e que estava prestes a gritar meu nome.
Acordei no dia seguinte com um ser pequeno pulando em cima de mim e por um minuto fiquei assustado que Maria estivesse na cama, mas estava só eu e Will pulando em cima de mim.
— Hora do almoço papai! Todos chegalam e eu quelo mosta o quadro! — ele exclamou empolgado sem parar de pula e eu não consegui evitar o sorriso com todos aqueles R trocados.
Me levantei o pegando no colo e jogando sobre o ombro, logo seriam dois e Deus me ajude com isso, porque ter uma menina ia me levar a loucura só de pensar no que teria de enfrentar com os homens lá fora.
Por sorte ela teria um batalhão de tios fodões, prontos pra sentar a porrada em qualquer garoto folgado, isso sem falar nas tias e na própria mãe maluca.
Todos já estavam no quintal, correndo e pulando, gritando e conversando como sempre. Meus olhos foram direto pra ela, mas meu sorriso morreu quando notei a testa franzida como se estivesse com dor.
— O que aconteceu amor? — questionei depois de atravessar o gramado a passadas largas e me sentar ao lado dela.
— Nada, que bom que acordou, porque Will e Brutos estão impacientes pra te mostrar o que fizeram aqui. — ela respirou fundo se virando para o homem enorme que não tirava os olhos da irmã dela.
O cara era maluco, com toda certeza estava querendo ser preso ou ferrar todo o clube, mas ele não conseguiu guardar o pau dentro das calças quando viu ela e pelo jeito a policial gostou, porque veio passar as férias do trabalho justo ali e eu sabia bem que ela estava passando tempo de mais enfiada no apartamento dele, porque a irmã de Brutos contou tudo.
— Anda logo tio! — Will gritou impaciente indo puxar o homem enorme pelas mãos até que ele fosse pegar o quadro na garagem.
Era uma tela enorme e eles dois juraram que ia ficar na parede do quarto de Willow, eu só esperava que não tivesse nada perturbador ou indecente ali, se não Maria ia quebrar a cara dele com certeza.
— Não vou dizer nenhuma baboseira que eu sei que estão esperando, só espero que gostem. — ele segurou o pano que cobria a tela de forma misteriosa. — Ou que se foda!
Os resmungos sobre o palavrão vieram da família de Maria, que detestava o quanto de palavras feias saiam das nossas bocas perto das crianças, mas estávamos tentando controlar isso.
Então ele finalmente tirou o pano e todos ficaram paralisados em choque. Era um enorme quadro da família, a nossa e de Maria, então eu me dei conta de que ele tinha tirado aquilo de uma foto que tiramos no fim do mês passado. Mas ao invés de Maria estar grávida ao meu lado, ela estava segurando uma menininha junto comigo.
— Eu sonhei com a Willow! — meu menininho falou se explicando. — Essa é ela!
Todos pareceram ainda mais surpresos com aquela confissão, ele nunca tinha dito para nós que havia sonhado com ela, muito menos que tinha sido algo tão nítido.
— Will sonhou, eu desenhei e ele garantiu que ela é exatamente assim! — Brutos falou quando todos sorriram e se aproximaram pra ver melhor nossa princesinha.
Era perfeita, a pele negra como a da mãe, alguns caichinhos castanho escuro e os dois olhos verdes do pai.
— Ela tem o queixinho da Maria.
— Esse nariz com certeza é da mãe, o pai não tem nada de bonito.
— Ah não, os pezinhos com certeza são do pai e as bochechas também.
Todos tagarelavam sem parar, enquanto Will se derretia com as falas, confirmando tudo o que falavam.
— Você gostou amor? — perguntei procurando por ela, até que a avistei se segurando na mesa com dificuldade. — Maria!
Corri até ela que estava curvada com dor e respirando com dificuldade, todos me seguiram já gritando o que deveríamos fazer.
— Eu amei e Willow com certeza adorou. Vai ser um lindo primeiro presente de aniversário, porque a garota resolveu nascer agora! — ela exclamou ofegante apontando com a cabeça para as pernas molhadas.
— A bolsa estourou! Anda, corre e pega o carro Miguel!
Ouvi alguém gritar, mas eu estava paralisado olhando pra ela sem conseguir fazer nada. Meu coração estava disparado e meu sangue parecia ter sido drenado do corpo, os ouvidos estavam com um zumbido e tudo o que eu via era ela morta em uma cama de hospital.
— Brutos vai pegar o carro. — Maria falou se aproximando de mim e segurando meu rosto. — Vai ficar tudo bem amor, agora me leva pro carro e segura a minha mão até o fim!
Foi exatamente o que eu fiz, como se as palavras dela esercessem algum poder sobre mim eu me movi e a peguei no colo, levei de pressa para o carro já pronto na entrada da casa. Mamãe surgiu com as bolsas atrás de mim e eu entrei nos fundos com ela.
Eu estava com medo até o último fio de cabelo, mas eu sabia que precisava ser forte e estar do lado dela, Maria precisava de mim ali assim como nossa filhinha iria precisar. Então tentei manter o pensamento neutro e longe de qualquer negatividade, foquei no rostinho que estava no quadro e no da mulher em meus braços.
Mesmo depois que entramos no médico e ela segurou minha mão me arrastando para dentro da sala de parto. Eu agradeci por poder estar do lado dela nesse momento e acompanhar tudo, mesmo que minhas pernas tremessem e meu coração desse um salto a cada grito dela.
Mas tudo se desfez quando o chorinho invadiu a sala, dando um novo significado ao nosso mundo, mudando tudo pra melhor. Eu nem me importei com as lágrimas que caiam no meu rosto eu só conseguia beijar Maria e repetir o quanto nossa filha era linda.
Quando ela foi enrolada e colocada nos braços da mãe vimos que o desejo era totalmente verdade, Will tinha acertado em cheio em descrever cada detalhe da nossa menina.
— Porra, eu amo vocês! — murmurei beijando a cabeleira da pequena e depois a da mãe.
— É vamos ter que dar um jeito na boca suja do papai. — ela retrucou e nossa garotinha resmungou choramingando. — Não vai ter jeito, ela vai ser a sua única defensora mesmo. — os olhos dela se ergueram até os meus e o sorriso largo e os olhos iluminados eram a melhor coisa do mundo. — Eu te amo!
Nunca imaginei que entrar naquele restaurante e salvar uma maluca de dois ladrões me renderiam isso. Mas ali estava eu, com a família mais doida do mundo, dois filhos e uma mulher perfeita ao meu lado! E eu não queria outra vida!