Capítulo 62
1404palavras
2023-11-10 00:01
Ponto de vista da Madrina
Outra noite, outro evento e outro vestido. Olhei para o meu simples, porém elegante vestido vermelho que chegava até o meio das coxas e suspirei, já um pouco cansada de todas essas festas anuais. Para mim, tudo parecia encenado, e provavelmente era. Os humanos seriam gentis e comedidos perto dos vampiros, que só retribuiriam a "cortesia". Era tão imaturo, mas acredito que era apenas a maneira que eles haviam achado de manter a "paz", e eu aprendera a aceitar isso.
"Você está pronta?" Santiago falou comigo por detrás da porta, e eu murmurei algo para mim mesma antes de suspirar. "Eu ouvi isso..." Ele abriu a porta enquanto eu calçava meus saltos pretos, para depois me jogar na cama.
"O que foi?"
"Nada." Respondi quase instantaneamente, olhando para o seu terno preto que combinava muito bem com seu cabelo solto.
"Tem certeza? Porque estou aqui para avisá-la sobre o Termis... É melhor ter cuidado porque..."
"Porque há uma chance de ele comparecer ao evento também, já estou sabendo." Terminei a frase por ele, levantando-me e revirando os olhos. "Vocês poderiam simplesmente me deixar ficar aqui apodrecendo, mas não, têm que me forçar a ir à festa, né?" Murmurei, cheia de sarcasmo, e Santiago gargalhou antes de se aproximar.
"Você só precisa ficar até terminar o discurso, amor. Não vai demorar muito."
"Mas eu odeio esse discurso i*iota... Bem-vindos, é um prazer recebê-los aqui. Por favor, sentem-se e ouçam as minhas mentiras m*lditas sobre os vampiros e..."
"Madrina, relaxe..." Ele murmurou, contendo uma risada, e estremeci quando o vampiro afastou alguns fios de cabelo do meu rosto, colocando-os atrás das minhas orelhas. "Você vai ficar bem. Não vou deixar nada acontecer com você." Meu coração palpitou um pouco com suas palavras.
"S... sim." Eu estava prestes a dar um passo para trás quando uma mão se enroscou na minha cintura, puxando-me para mais perto. Pressionei as mãos firmemente no peito de Santiago, e olhei para ele confusa, enquanto o vampiro simplesmente me encarava, seus olhos perfurando os meus, para depois passarem para o meu cabelo, e ocasionalmente mirarem os meus lábios.
"O que foi?" Soltei uma risada nervosa, tentando ao máximo ignorar sua "inspeção", ao vê-lo absorvendo os detalhes do meu rosto. Quer dizer, provavelmente nem era o caso e...
"Você é simplesmente perfeita em muitos aspectos." Ele interrompeu os meus pensamentos, e meu queixo caiu com a declaração repentina, meu coração disparou mais rápido do que nunca enquanto eu tentava afastar os sentimentos. Seus olhos azuis encararam os meus cor de chocolate, e eu os analisei, tentando encontrar pelo menos um indício de mentira neles, mas não havia nada. Seus olhos não vacilaram nem por um segundo, e eu respirei fundo antes de finalmente me virar e murmurar um rápido "obrigada". Eu já ia mudar de assunto, quando ele beliscou as minhas bochechas e se virou para sair, deixando a porta aberta. 'Isso foi simplesmente estranho.'
x-x
Tentei ao máximo me manter calma ao ver os convidados desconhecidos, porém não era uma tarefa fácil, considerando que todos os caras ficavam me espiando a cada cinco segundos. E por caras, quero dizer os irmãos Alexandre, que estavam encarregados de me "proteger" nessa noite, para garantir que nada acontecesse comigo até que o meu discurso terminasse, o que, aliás, seria dali a uma hora ou mais. Que encantador ter que passar mais uma hora com aqueles seres humanos de meia tigela.
"Madrina?" Uma voz familiar me chamou, e eu me virei para encarar Yolanda, uma velha amiga da qual fora muito próxima no ensino médio. Ela se jogou em cima de mim antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, e eu retribuí o carinho com um abraço forte, enquanto ela gritava o meu nome um milhão de vezes.
"Oh meu Deus, senti tanto a sua falta!" Seus olhos verdes brilharam, e eu balancei a cabeça com um sorriso. "Você tem que me contar tudo, e comece pelo começo! Eu nem acreditei quando fiquei sabendo que você tinha sido escolhida, é muita sorte! Não tenho notícias suas há muito tempo, o que aconteceu?" Ela começou a tagarelar, e eu ri um pouco ao vê-la balançando a cabeça, seu cabelo dourado ondulado dançando em volta do rosto enquanto ela me fazia outra pergunta.
"Yolanda, calma, também não é nada demais..." Murmurei, olhando para Morin, Rick, Felipe e Santiago, que nos encaravam naquele momento, sem desviar os olhos nem por um segundo, mas decidi ignorá-los.
"Nada demais? Nada demais? Ok, acho que você precisa rever a situação, querida. Você foi escolhida pelo Derek Brunswick... Não foi qualquer vampiro, foi o Derek Brunswick..."
"Sim, mas..."
“Então, reveja os seus conceitos e olhe ao redor. Isso é tudo seu, e você ainda terá muito mais do que isso! Então não me diga que não é nada demais." Ela começou a acenar como louca, e eu mordi o lábio, levemente corada com o seu otimismo.
"Sim, eu sei. Mas Yolanda, você, entre todas as pessoas, sabe bem que nunca fui fã de vampiros.' Sussurrei, e ela abriu a boca para retrucar, quando parou de repente, com os olhos focados em algo além de mim.
"Isso foi muito rude, gatinha." Morin sussurrou nos meus ouvidos, e eu dei um pulo antes de me virar para encarar Morin, Felipe, Santiago e Rick.
"Não somos tão ruins." Rick disse em um tom sarcástico, e eu revirei os olhos mentalmente antes fitar Yolanda, que estava radiante de tanta alegria, seus olhos estavam colados nos meninos. 'De certa forma, entendo como ela se sente, acho... Quer dizer, se um monte de deuses gregos parassem na sua frente, você também não surtaria?'
"Claro que não, ela só estava brincando." Ela estendeu a mão para Morin, que simplesmente a segurou e beijou; e eu sei o esforço que a Yolanda teve que fazer para não se exaltar naquele momento. "O meu nome é Yolanda." Ela quase deu um pulo, e eu ri um pouco.
"Sou o Morin, e estes são Rick, Felipe e Santiago." Morin apresentou os meninos enquanto todos sorriam para ela, e eu levantei uma sobrancelha, suspeitando bastante do comportamento estranho deles.
"Oh, prazer em conhecer todos vocês, eu..."
"Vamos indo agora, temos muito o que colocar em dia." Agarrei a mão de Yolanda, interrompendo-a, e ela me lançou um olhar confuso, mas eu sabia que não deveria falar que precisávamos conversar em particular. Afinal, a última coisa que ela sabia fazer era conversar em particular.
"Colocar o que em dia?" Yolanda e eu nos viramos para Santiago, que mirava Yolanda com suspeita, fazendo-me bufar antes de apertar ainda mais o pulso dela.
"Oh meu Deus, pessoal, estou bem! Só me deixem ter uma conversa privada sem que vocês fiquem me espionando a cada dois segundos. Ela é uma amiga, então parem!"
"Por que não podemos participar da conversa então?"
"Verdade... somos muito divertidos."
"Podemos até conversar sobre meninos, se vocês quiserem."
Comecei a arrastar Yolanda para longe, empurrando Anthony, que de repente apareceu na nossa frente; fomos até a mesa de aperitivos.
"Não... não acredito que isso acabou de acontecer..." Yolanda gaguejou, sua respiração ficou mais pesada enquanto ela tentava se acalmar .
"Oh meu Deus, Yolanda, por favor..."
"Eles acabaram de falar comigo, literalmente falaram comigo e..."
"Yolanda!" Eu a interrompi com um gemido, e ela parou de surtar, abrindo um sorriso e respirando fundo. "Vamos mudar de assunto! Como você está? Como vão as coisas com os seus pais?" Eu a questionei, e ela simplesmente encolheu os ombros, ficando em silêncio.
"A mesma coisa, sem novidades. Meu pai se recusa a dar pensão alimentícia, e a minha mãe fica louca com isso. Por isso, dá alguns escândalos de vez em quando. Não melhorou em nada." Ela murmurou, e o brilho nos seus olhos desapareceu, fazendo-me lançar-lhe um olhar de desculpas.
"Sinto muito, pensei que tudo melhoraria depois do ensino médio." Apertei seus ombros, enquanto ela abria um sorriso impotente.
"Para ser honesta, só piorou... Mas eventualmente tudo acabará bem. Não posso ficar mal por isso pra sempre, posso?" Ela afirmou com confiança, e eu simplesmente lhe ofereci um sorriso reconfortante com um aceno de cabeça, querendo mudar de assunto, para não arruinar a noite dela. Yolanda e eu conversamos por mais um tempo, até ela falar que tinha que ir embora, e eu acenei enquanto a minha amiga se afastava, com o sorriso intacto até vê-la desaparecer na multidão.