Perspectiva de Klaire
"Aprendi com os melhores." Ele murmurou, balanço a cabeça para Kariz, não querendo lembrar aquelas antigas memórias. Onde ele me observava matar como se não fosse nada.
Fecho meus olhos tentando me acalmar. E quando os abri, de alguma forma, me sinto mais eu mesma. Virei meus olhos para onde Vicky estava deitada, inerte. Isso também é minha culpa, posso sentir minhas emoções começando a surgir novamente, a sensação de traição, dor, tristeza, saudade...

"Você não deveria ter feito isso, Kariz." Eu murmurei. Ele começou a rir enquanto me via voltar a mim mesma.
"Vai voltar a ser a Klaire de novo? Tentando se esconder atrás dessa fachada? Oh vamos lá, Amara, ambos sabemos do que você é capaz, você poderia matá-los a qualquer momento. Como fez no passado." Ele disse, eu cerro o punho com aquela memória. A culpa que não posso negar o que ele está dizendo agora. Porque era verdade.
"Não consegue dizer nada, não é? Bem, você sabe, Amara, somos iguais. Eu queria apagar todos que nos fizeram mal. As facções também faziam parte disso! " Suas palavras me surpreenderam. O que ele quer dizer com as Facções?
"HAHAHAHA! Você está protegendo quem está por trás desses planos o tempo todo! Desde o início nada mais éramos do que ferramentas para eles!" Não tenho ideia do que ele está falando agora.
"O que você quer dizer?" Pergunto, confusa e com medo ao mesmo tempo. Com medo de que o que ele estava dizendo fosse verdade.
"Deixe-me explicar tudo a você desde o início. Seu pai foi morto por causa da rebelião, Belerick foi quem liderou junto com os anciãos das chamadas Quatro Facções. Queriam iniciar uma nova era para os lobisomens, mas seu pai Elijah não concordou, então foram convencer Belerick. De que deveriam despertar os Lycans e governar o mundo inteiro novamente. Queriam apagar todos os parentes exceto os lobisomens. E, uma vez feito isso, matariam os Lycans." Ele parou por um momento, provavelmente sentiu algo, pois seu rosto se transformou numa carranca.

"Você sabe que eles não podem matar os Lycans assim tão facilmente." Murmurei, os Lycans são superiores a eles.
"É aí que você entra na equação, eles não te mataram. Então poderiam usar você como o receptáculo e usá-la para começar a criar Lycans. É claro que eles não queriam apenas Lycans que não podiam controlar. Todo aquele sangue tirado de você e injetado em você faz parte de seus experimentos. O sangue que descobriram que sua mãe estava protegendo também foi usado em você. E eles tentaram usá-lo em outros lobisomens, mas só o seu sangue aceitou. Eles acreditam que foi por causa das bênçãos da Deusa da Lua que descenderam da linhagem de sua mãe. Então, eles decidiram pegar seu sangue original e injetá-lo nos outros lobisomens de novo, mas o sangue era inútil com eles. Depois começaram a usar crianças humanas como experimentos. Foi aí que começamos, fomos capturados à força. Com uma idade tão tenra que nem conseguíamos nos lembrar direito. Eles tiraram tudo de nós! Não entende, Amara?! O tempo todo eles mentiram para você! ELES MANIPULARAM TODOS VOCÊS! MAS PRINCIPALMENTE VOCÊ!" Eu me enrijeci enquanto tentava absorver todas as informações que ele acabara de dizer. Isso não pode ser verdade, certo? Eles sabiam de tudo desde o início? Será que sabiam?
Cerro o punho com o pensamento de que eles poderiam saber de algo. Os anciãos ainda estão vivos, mas são os Alfas que estão cuidando de tudo agora. Não temos ideia de onde eles estão, nem os Reais sabem de seu paradeiro.
"Lembra quando eu fui para uma expedição? Achei acidentalmente a localização de Via, quando cheguei lá encontrei todos os arquivos que estavam escondendo, todos os detalhes sobre o experimento estavam escritos neles. Foi quando tudo começou a fazer sentido, eu tentei te avisar, mas fui capturado, as Facções já haviam se movimentado e naquela época meus poderes não eram despertados. Eu não comecei a rebelião, foram eles que começaram primeiro, mas já era tarde demais quando voltei, todos vocês haviam me dado as costas!" Ele para por um momento, um lampejo de tristeza brilha em seus olhos, mas ele rapidamente o afasta.

"Mas como eu estava dizendo... Quando eles souberam que saímos desta Ilha. Ficaram com medo de que pudéssemos encontrá-los e uma vez que soubéssemos de tudo acabaríamos por vingar-nos. Fui levado, preso porque era demasiado fraco. Não podia fazer nada. Eles começaram a usar-me como sujeito para outro experimento que estavam a começar. Revivi tudo novamente, vez após vez, até que a única parte do meu corpo que conseguia mover eram os meus olhos. Pensaram que era ineficaz e que morreria a qualquer momento, então decidiram lançar o meu corpo no oceano. Foi aí que começou o maior erro deles." Iz não reparou que eu estava a chorar até que o limpa com o polegar. Ele acaricia gentilmente o meu rosto.
"Mas eu vou acabar com tudo desta vez." As palavras dele eram frias, a forma como os olhos dele brilham significa apenas uma coisa. A guerra está prestes a começar.
Os guardas já perceberam o distúrbio que tivemos mais cedo, pois começaram a correr em nossa direção. Todos eles parecem surpresos com o corpo morto de Vicky na frente deles, seus olhos desviaram de mim para Kariz e depois de volta para mim. Eles provavelmente não sabem o que fazer.
E pela expressão deles, alguns são humanos, eles devem estar cientes de que seu líder é um lobisomem, mas pela expressão em seus rostos, eles não sabem de nada. Eles são provavelmente alguns dos sujeitos nos experimentos. Os lobisomens não pareceram surpresos com a visão..
"Não a deixe sair deste lugar." Kariz ordenou e então começou a andar, senti uma leve irritação com suas ações. Fui impedi-lo, mas os guardas se posicionaram bem na minha frente.
"Mantenha sua posição! Não faço ideia de quem você seja, não podemos simplesmente deixar voc-" antes que ele pudesse terminar sua frase, avancei e bati sua cabeça na parede.
Seus olhos se arregalaram quando viram o que acabava de acontecer, inclinei a cabeça para o lado e ofereci a eles um olhar entediado. Os humanos pareciam prestes a gritar, mas decidiram não fazê-lo. A surpresa e o horror estão estampados em seus rostos. Quase quero rir deles.
"Eu não faria isso se você não estivesse no meu caminho." eu murmurei, tentando dar a eles um aviso.
"Não podemos deixá-la sair." Um dos guardas disse, era um lobisomem desta vez. Ele era mais alto que os outros e mais corpulento. Revirei os olhos para sua confiança. Ele pensaria duas vezes se soubesse o que estava prestes a fazer com ele.
"Entendo..." murmurei, então decepei sua cabeça ao balançar minha mão em seu pescoço. Olhos se arregalam seguidos pelo espirro de sangue. Sua cabeça começou a rolar aos meus pés.
"Lembrem das pílulas? Comecem a comê-las!" Um dos guardas gritou, os outros pareciam incertos, mas seguiram com as mãos tremendo. Notei que somente os humanos tinham as pílulas em mãos. Eles começaram a engoli-las, os renegados então se afastaram deles.
Fiquei parada em silêncio, levemente entediada, até que algo começou a acontecer, uma aura escura começou a radiar neles. Depois, apareceram lobisomens como sombras. Então era por isso que pareciam estranhos, porque não são lobisomens normais. Ou melhor, não são nem lobisomens.
O resto dos renegados começou a mudar também. Eu gostaria de brincar com eles, mas preciso pegar o Kariz, tenho que fazer algo com ele. Mas agora tenho que lidar com essa turma de aborrecimentos.
Todos eles rosnavam para mim, as sombras eram maiores. Olhos vermelhos me encarando.
Mas algo começou a parecer um pouco estranho, toquei meu pescoço e havia outra seringa.
Kariz!
Comecei a sentir tontura, os sussurros começaram novamente. Abri meus olhos e não vi nada além de escuridão. A porta vermelha estava bem na minha frente novamente, mas desta vez estava aberta e uma sombra enorme estava do outro lado.
"Apenas deixe pra lá... Pare de tentar controlar de novo." O sussurro era baixo e parecia familiar. Ele estava me dizendo para ir para o outro lado.
"Sim... Venha até aqui e você não sentirá nada." Sei que não devo, mas meu corpo tem sua própria mente e começou a andar.
Não, Klaire! Por favor, pare! Não faça isso de novo!
Continuo gritando isso na minha cabeça, mas foi inútil, meu corpo está se movendo por si só. E a próxima coisa que sei é que tudo que posso ver é escuridão.