Capítulo 113
2171palavras
2023-10-15 00:01
Ponto de Vista do Ralph
Na manhã seguinte, assim que abro os olhos, começo a rir. Annabelle está deitada do outro lado da cama, com a cabeça apoiada no travesseiro ao meu lado, chupando o dedinho e seus pés estão perto da minha cabeça.
A minha mãe abre a porta e ri ao olhar para nós, enquanto meu pai vem atrás dela e a abraça.
"Você dormia assim quando era bebê." Ela diz, levando uma mão ao coração. "Você se lembra, meu amor?" Minha mãe pergunta ao meu pai.
"Lembro-me disso como se tivesse acontecido ontem, meu amor." Ele responde, posso jurar que seus olhos estão lacrimejando.
"Seu avô e sua avó vêm nos visitar hoje." Mamãe comenta. "Você acha que a Annabelle vai querer conhecê-los?" Ela me pergunta. Eu olho para a menininha que está no mundo dos sonhos e sorrio.
"Tenho certeza de que ela não vai se importar." Eu os vejo se afastando, mas papai se vira para mim e diz:
"Lavida disse que vai dar alta à Sandy hoje."
O quê? Já? Eu a visitei ontem, e ela não parecia bem.
"O que você vai fazer?" Minha mãe me pergunta, esperando uma resposta minha de acordo com suas expectativas.
"Vou trazê-la para ficar aqui comigo."
"E se ela recusar?" Meu pai questiona.
"Vou trazê-la aqui mesmo que ela se recuse!" Digo sem rodeios. Minha mãe me encara como se eu estivesse falando a maior bobagem do universo.
"Não piore ainda mais as coisas!" Ela retruca.
Olho para Annabelle e fico realmente impressionado. Já são 10 horas da manhã, nunca imaginei que conseguiria dormir uma noite inteira. Contudo, Annabelle é como um remédio para dormir para mim. Assim que ela adormece no meu peito, adormeço com ela e fico milagrosamente calmo.
"Annabelle." Chamo baixinho, tentando acordá-la. "Querida..." Ela estica as mãos pequenas e as pernas fracas. Embora tenha a mesma idade de Daisy, Annabelle é muito menor do que deveria ser. Eu a pego em meus braços e a coloco sobre meu peito, então beijo seu nariz.
"Você quer comer alguma coisa e depois buscar a sua mãe no hospital?" Eu pergunto a ela, sorrindo e arrumando seu cabelo despenteado.
"Eu quero ficar com a vovó!" Ela grita e sorri. De repente, percebo que isso é uma boa ideia, assim posso forçar Sandy a vir aqui comigo.
Estou convencido de que quando Sandy se deparar com o que posso oferecer, não vai mais me rejeitar. Penso rapidamente em um plano e me visto bem, tentando ficar charmoso. Quero mostrar a ela a melhor versão de mim, sacudir o mundo dela; assim, Sandy vai perceber que precisa ficar comigo. Ao entrar no seu quarto no hospital, eu a encontro já vestida e com uma bolsinha na mão.
"Onde está a Annabelle?" Ela pergunta, encarando-me.
"Ela está em casa, eu vim levar você também." Digo com um sorriso.
"Não entendo..." Sandy fica um pouco confusa. "Para onde você vai me levar?"
"Para casa, para onde mais?" Afirmo, um pouco indignado.
"Você deixou a Annabelle sozinha?" Sandy diz com raiva, vindo até mim.
"É claro que não. Ela está com minha mãe, além de todas as tias e os tios que a mimam." Eu digo, como se já fosse nossa rotina.
"Ela está na sua casa." Sandy enfatiza a palavra "sua" de uma forma que me deixa muito desconfortável.
"Nossa casa." Eu corrijo, encarando seus olhos azuis. Ela é tão linda, simples e encantadora. Eu só quero tomá-la em meus braços. Sinto meu corpo ansiar por ela. Já se fazem dois dias desde a última vez que toquei uma mulher, estou chocado por não querer mais isso. Acho que estava sofrendo de algum tipo de vício sexual bizarro.
"Vou para casa." Sandy me ignora completamente. "Por favor, traga Annabelle o mais rápido que puder." Ela começar a andar e passa por mim.
Ela para na porta, então me diz baixinho:
"Obrigada por cuidar da Annabelle quando eu não pude."
Aí, ela vai embora! Fico como um idiota no meio do quarto, observando-a partir.
"Ela me largou aqui!" Eu digo, chocado. "Ela está indo embora!" Imediatamente, eu corro atrás dela.
"Você vem comigo!" Afirmo, com raiva. Agarro sua mão e a puxo, mas esqueço o quão frágil ela é. Sandy imediatamente se desequilibra e cai no chão.
"O que você está fazendo?" Lavida indaga, correndo até nós com raiva. "Você quer matá-la?"
"Sinto muito." Digo, quase chorando. Sandy apenas se levanta do chão e olha em volta, envergonhada pelos olhares de quem nos observa como estivéssemos em um circo.
"Por favor, traga a Annabelle para casa. Para a minha casa." Ela me pede. E sai. Ela vai embora sem olhar para trás.
"Você é idiota, Ralph?" Lavida interroga, furiosa. "Sim, você deve ser idiota, porque não tem outra explicação para esse comportamento."
Saio do hospital e me transformo em lobo. Corro para casa, sem me importar com as pessoas me encarando. Assim que entro em casa, corro para o meu quarto e começo a destruir tudo ao meu redor.
"O que você está fazendo!?" Jasper grita, assustado ao adentrar meu quarto.
"Ela não me quer!" Eu digo, tremendo. "Minha companheira não me quer! E ela quer tirar minha filha de mim!"
"O quê?" Minha mãe surge na porta, ela imediatamente começa a chorar nos braços do meu pai.
"Onde está a Annabelle?" Eu pergunto.
"Ela está com seu avô e sua avó, eles chegaram mais cedo. Estão no jardim."
"Ela não me quer, mãe!" Olhando para Jasper, eu digo, dando um tapinha nele:
"Você é o Alfa agora. Não pode mandar ela me aceitar?" Eu me agarro a tal possibilidade.
"Eu posso." Jasper responde. "Mas nunca farei isso." Todos apenas me encaram, desacreditados, e me deixam chorar.
Mas fico chocado quando Sandy aparece quatro horas depois, totalmente arrasada e chorando, na porta do meu quarto.
"Por que você não trouxe minha filha?" Ela me pergunta em pânico. "Para onde você a levou?" Sandy desmorona na minha frente.
Eu imediatamente corro e a pego nos braços. Pelo amor da Deusa, ela é tão fraca! Ela é só pele e osso. Está tremendo muito. Eu faço uma ligação mental para Lavida no mesmo instante.
'Eu não sei o que fazer!' Choramingo e me sento com Sandy na minha cama, só para vê-la desmaiar.
"O que você fez com ela?" Lavida me pergunta com raiva ao chegar. Minha mãe, Viviana, Amanda e Kathy aparecem imediatamente atrás dela.
"Ela veio aqui e começou a gritar comigo. Aí desmaiou de repente." Eu respondo. "Ela desmaiou do nada!"
"Deve ser hipoglicemia." Lavida explica. "Julia, você pode pegar alguma comida para ela?" Minha mãe se apressa até a cozinha.
"Saía daqui, Ralph!" Ela me disse. "Ela vai ficar alarmada de novo com a sua presença." Mas não quero ir embora. Eu só quero ficar com ela. Quero saber se ela está bem.
"Eu ordeno que você vá embora." Amanda diz com seu comando de Luna, chocando a todos nós. Ela fica um pouco nervosa ao fazer isso. Porém, eu logo saio, sem resistir. Fico no corredor, colado à porta.
Eu nunca vou deixá-la sair desta casa. É uma promessa que faço a mim mesmo. Assim que Sandy acorda, as meninas a obrigam a comer algo. Sinto que o humor dela melhora. Quando a deixam sozinha enfim, eu volto para o quarto e me sento na cama ao seu lado.
"Eu sinto muito." Digo, mas ela não me responde. "Sei que vai demorar uma vida inteira para eu me redimir, mas eu realmente sinto muito. Se eu soubesse que você era minha companheira, se eu soubesse que você estava grávida, eu nunca teria ficado longe de você. Olhe para mim." Dou uma risada amarga. "Em dois dias, você fez um lobisomem forte como eu virar apenas um humano fraco. Só consigo pensar em você. Só consigo pensar em tudo que quero lhe oferecer. Quero dar uma casa para você, comida, roupa... Tudo o que lhe falta."
"Eu não sou uma prostituta para você me comprar assim!" Ela afirma, cheia de raiva.
"Eu sei que você não é. Qualquer outra pessoa teria me forçado a me casar, usando Annabelle como desculpa, mas você não. É claro que é diferente."
"Você faz eu me sentir como uma!" Ela está quase chorando agora.
"Você acha que pode me comprar com algumas flores? Com uma refeição quente?" Sandy choraminga. "Eu sou mais do que uma mulher passando necessidade!"
"Você é tudo!" Eu a miro em seus olhos e pego suas mãos nas minhas. Fico chocado por ela ter me deixado tocá-la e sinto um formigamento em meus braços, que me faz tremer.
"Annabelle adora ficar aqui. Ela está segura aqui. Ela tem avôs, tios e tias, tem tudo que precisa para crescer saudável e feliz. Não por mim, mas por ela, por favor, fique conosco." Eu imploro, então me levanto, tentando não forçar demais as coisas.
Nada me deixa mais feliz do que ver que, à noite, quando estamos todos reunidos em volta da mesa, a Sandy se junta a nós.
"Mamãe!" Annabelle grita. "Você está aqui!" Sandy imediatamente a pega nos braços e a abraça apertado.
"Então você é a Sandy." Minha avó estende uma mão. "Eu sou Cecília Davis, avó desse bobo aqui."
"Cecília?" Sandy olha meio chocada para ela.
"Sim, Cecília, sei que também sou parecida com essa linda menina que trouxe tanta alegria ao meu velho coração. Não é mesmo, querida?" Minha avó pergunta, fazendo cócegas em Annabelle. Eu pego a minha filha, então puxo Sandy e a sento em uma cadeira livre ao meu lado.
Os nossos jantares são sempre cheios de alegria. Este é o momento em que deixamos as preocupações de lado e conversamos sem pressão.
"Então, Jasper..." Meu avô o chama. "Você já escolheu um Beta e um Gama?"
"Eu tenho um Gama, que é o Lucille." Jasper responde, olhando para ele enquanto segura o próprio filho nos braços, tentando fazê-lo comer.
"E seu Beta?" Meu avô pergunta.
"Quero escolher entre Mikael e Ralph, mas não consigo decidir e, infelizmente, não posso ter dois Betas."
"Eu vou ajudá-lo a escolher." Ele diz, rindo muito.
"Julia não quer voltar e não tenho outros filhos. Sendo muito sincero, não posso mais ser Alfa, estou cansado. Sou o Alfa mais velho do mundo. Aos 60 anos, ainda lidero minha alcateia, e Cecília já está ameaçando viajar pelo mundo sem mim."
"O que você quer dizer?" Minha mãe entra em pânico.
"Minha alcateia precisa de um Alfa, quero que seja Mikael ou Ralph. Continuei procurando em minha alcateia por um Alfa adequado para assumir a liderança, mas eles estão apenas gananciosos por poder. Continuo sem sucesso em encontrar um sucessor. Quero alguém do meu próprio sangue para liderar a alcateia."
Olho para Sandy. Se eu aceitar a proposta dele hoje, ela não vem comigo. Eu sei que ela vai se recusar totalmente a deixar a Alcateia Deep Valley. Mal consegui fazê-la ficar nesta casa por algumas horas. Levá-la para a América do Sul, com uma criança pequena junto, será impossível. É mais fácil eu atravessar o Oceano Pacífico a nado do que convencer Sandy a vir comigo. Então, faço a única coisa certa que já fiz na vida.
"Não posso ir com você, vovô." Digo, chocando a todos. "Acabei de encontrar minha filha e minha companheira. Não vou colocá-las em uma situação que as obrigue a se adaptarem diante de um desafio ainda maior do esse que já apresento em suas vidas."
Sandy me olha perplexa, como se eu tivesse enlouquecido. Mas minha mãe me encara com lágrimas nos olhos e me diz através de uma ligação mental: 'Eu perdoo você, Ralph, mas, por favor, faça com que elas fiquem conosco' Eu aceno para ela com a cabeça.
"Então, Mikael?" Nosso avô se vira para ele. "Você vem comigo para a terra das praias e cachoeiras?" Ele dá uma risada.
"Está brincando comigo?" Mikael pergunta. "Eu sempre quis morar no Brasil, mas esses dois velhinhos não deixavam."
"Você está falando sério, pai?" Mamãe pergunta, já encara Mikael com lágrimas nos olhos.
"É mais do que sério!" Ele afirma.
"Então..." Jasper diz. "Resolvido meu problema. Obrigado, Zoe, por me dar um Beta." Todos começam a rir, mas eu miro os olhos de Sandy, que me encara de volta. Eu sorrio para ela, pego sua mão dela e não digo nada. Ficamos assim, de mãos dadas. À noite, quando levo Sandy até o quarto de hóspedes do nosso enorme apartamento, ela continua em silêncio, mas caminha comigo tal qual uma criança obediente.
Sei que vai ser difícil para mim, mas tentar me redimir todos os dias, até o fim da minha vida. Quero provar que a amo. Vou enchê-la de amor até que ela entenda o quanto eu a amo de verdade; ela vai ver que o fato de termos Annabelle é apenas a cereja do bolo. Eu sei que tenho muito trabalho a fazer, mas vou ser o homem da vida dela acaba. Essa é a minha prioridade.
Eu as amo!