Capítulo 73
1212palavras
2023-09-25 00:01
A História de Ted
Já faz seis meses desde que perdi um motivo para viver.
É isso, sim. Amar alguém que odeia você é a forma mais rápida de aprender o que é o amor e quais são seus limites. É a maneira mais rápida de entender o quanto você ama alguém.
Estou tão magoado e tão deprimido que nada parece fazer sentido na minha vida.
Allen grita na minha cabeça a cada segundo de nossa existência para ir atrás de Kathy, para explicar a ela a sua importância para nós e dizer como estou disposto a desistir de tudo por ela. Contudo, como posso convencê-la de que estou sendo sincero se entrei na sua vida com uma mentira? Após eu tirar tanto dela?
Assim que volto para a Alcateia Round Zero, enfrento uma tempestade em minha vida. Se até seis meses atrás eu vivi como um lobo renegado, sempre tendo que lutar pelo reconhecimento do meu pai, então voltar sem a tão desejada filha de Alfa Mickey talvez é o gatilho para uma loucura inédita. Não, estou definitivamente errado quanto a isso. Meu pai sempre foi louco. Você não pode odiar alguém por tantos anos sem perder a cabeça.
*** Flashback para seis meses antes ***
"Como assim você não a marcou?!?" Meu pai grita, o Alfa Mario Ravel. Ele pula da cadeira e enfia as garras na minha garganta, forçando-me a recuar até eu bater as costas contra a parede.
"Sua missão era simples." Ele cerra a mandíbula, e já posso ver suas presas se alongando. "A única coisa que você tinha o direito de fazer era marcar Kathy Labels." Meu pai resmunga, irritado.
"O plano não funcionou, pai." Digo a ele, mirando seus olhos. Tento encontrar nele algum traço de humanidade.
"EU NÃO ME IMPORTO!" Meu pai grita, apertando meu pescoço ainda mais e enfiando suas garras em mim. Sinto cheiro de sangue no ar e o sinto escorrer pela minha garganta.
"Você é incompetente e inútil!" Ele me levanta no ar, jogando-me contra a parede oposta. Sinto todos os meus ossos estalarem, e a dor é terrível. Vou levar alguns dias para me curar. Eu sei disso porque não é a primeira vez que tal coisa acontece. Você pode estar se perguntando por que não me rebelo contra ele. Por que eu queria tanto ter sucesso e trazer Kathy aqui? A resposta é simples. Porque queria que ele me apreciasse e, pela primeira vez na vida, conquistar o seu afeto.
"Imprestável!" Ele cospe em mim.
Não quero contar a ele como cheguei a este ponto. Se ele descobrir o que aconteceu durante minha estada no castelo do Rei, Kathy vai estar em perigo.
Ele olha para mim e me analisa com atenção. Imediatamente, vejo em seus olhos aquele brilho mortal.
"Há algo errado." Meu pai comenta. "Por que você não a marcou?"
Como posso responder tal pergunta? Como posso contar a verdade para ele?
"Alfa Evan descobriu quem eu sou e me desmascarou para todos." Digo a ele, tentando evitar maiores detalhes.
Ele me encara e começa a sorrir para mim.
"Allen!" Meu pai grita ao meu lobo. "Este é um comando de Alfa. Diga por que Kathy Labels o rejeitou."
'Não, Allen.' Eu imploro. 'Por favor, resista e não diga nada.'
'Não posso, Ted.' Ele me diz, tentando ao máximo se opor ao nosso pai.
Pelo amor da deusa! O que posso fazer? É pior do que pensei que seria. Enquanto formos parte da Alcateia Round Zero, não podemos nos opor aos seus comandos de Alfa.
Eu miro seus olhos e, entre lágrimas, conto tudo a ele, "Por favor, acredite em mim quando digo que nada aconteceu." Falo, quase implorando. Não posso causar mais mal à Kathy.
"Eu ordeno que você fale!" Ele repete o comando.
Mas também sou um Alfa e, embora ainda não consiga vencê-lo em um confronto direto, posso fazer outra coisa. Ele não me deixa escolha. Kathy não pode ser prejudicada por causa de sua ambição.
'Não, Ted...' Allen me diz. 'Assim, as coisas vão piorar ainda mais.'
'Mas Kathy vai ficar bem.' Rebato, e o ouço gritando em minha mente.
Eu olho para cima e encaro meu pai. "Eu, Alfa Ted Ravel, quebro qualquer conexão com a Alcateia Round Zero...!"
Nem consigo terminar de falar. Meu pai imediatamente agarra meu pescoço e, aproveitando minha vulnerabilidade atual, acerta meu estômago com o joelho, fazendo-me cair. "Levem-no para as masmorras!" Meu pai ordena.
Seu Beta e seu Gama me pegam e começam a me arrastar para as masmorras. Eles sempre me odiaram. Eu poderia matá-los a qualquer momento, mas agora isso não importa. O importante é que Kathy fique longe dele por enquanto.
*** Fim do flashback ***
No momento, tudo dói. Levantar da cama é demais para mim. É um esforço para o qual não tenho energia.
Perdi mais de 44 quilos do meu peso e mal consigo ficar de pé. Estou tão fraco que, se tivesse que me levantar agora, ia precisar de algum apoio provavelmente.
Minhas mãos e pés tem marcas das correntes de prata. Minhas costas estão cheias de feridas abertas, que nunca cicatrizam, pois a cada dia novas feridas se juntam às antigas.
Mantenho a cabeça apoiada no travesseiro da cama da cela, onde passo meus dias e noites há mais de seis meses. Penso em como, se eu tivesse a oportunidade de acabar com minha existência agora, eu o acabaria. Tudo é muito difícil de aguentar, tanto a dor física quanto a mental. É muito pesado e demais para qualquer homem.
Não há um dia em que eu não tente convencer meu coração a desistir. Não passa um dia sem que Allen torne as coisas ainda mais difíceis, mas eu realmente nem consigo me levantar. Se eu pudesse, ficaria de joelhos e imploraria à Kathy para ela me deixar ficar ao seu lado. Eu faria qualquer coisa, seria o Ômega mais humilhado da casa do pai dela. Porém, como posso fazer isso se nem me aguento em pé?
"Seu d*sgraçado!" Eu o ouço gritando da entrada, A porta da cela bate contra a parede com força.
"Você achou que eu não ia descobrir?" Meu pai me diz, com raiva.
Como seria bom se ele me batesse agora... Um golpe seria o suficiente para me matar.
"Ela é sua companheira predestinada! É por isso que você ficou calado!" Meu pai me levanta da cama, segurando-me pelas roupas rasgadas que visto. Mas não tenho forças para contar mais nada a ele. "Vou trazê-la aqui. Você vai marcá-la. O plano continua em pé." Ele afirma, cerrando os dentes.
"Eu não vou." Digo lentamente, para seu choque. Talvez seja a primeira vez na minha vida em que o respondo assim.
"Então eu vou matá-la!" Meu pai exclama e me deixa cair no chão da masmorra.
Eu o vejo sair da masmorra, é tudo que consigo fazer. Vou tentar lutar por ela.
Se ele matar Kathy, eu vou morrer com ela. Este é o meu juramento, porque assim como diz a música: "Ultimamente eu não sei/No que acreditar/Estou fugindo dos meus anjos/Mas lutando contra meus demônios/Chorando todas as noites/Eu estou gritando/Qual é o sentido/De até mesmo respirar? (Hamilton - Bunch of Bones)"
Qual é o sentido de respirar se ela não está comigo?