Capítulo 41
1410palavras
2023-09-09 00:02
Ponto de Vista do Narrador
Não sei como são as outras pessoas agem, mas Mickey é daqueles que não consegue viver em paz quando sabe que o perigo está à sua porta. Ele tem o direito de se sentir assim. As coisas em sua vida parecem perfeitas, mas Mickey sabe que tudo é apenas uma ilusão, frágil como vidro.
Raquel e Julia voltam para a morar no alojamento da alcateia, onde eles têm um apartamento com espaço o suficiente para criar dez filhotes, se quiserem. Lisle pode dar à luz a qualquer momento, enquanto Viviana e Rafael "trabalham" pelas madrugadas para aumentar a taxa de natalidade da alcateia.
Todos os dias parecem normais, mas Mickey sabe muito bem que isso não é verdade.
Ao descobrir que está grávida, Lisle para de treinar e de sair para suas caminhadas. Ela entende os medos de Mickey e tenta evitar discussões desagradáveis sobre o assunto, pois, agora, Lisle sabe que Mickey está certo.
Por mais forte que Nancy seja, é fundamental evitar brigas quando se está grávida; ela também evita se transformar, para não afetar o filho. Então, sua única opção é se proteger.
Ela está frustrada, mas está certo quem diz: "Você está frustrada porque fica esperando pelas flores desabrochando, mas ainda não plantou as suas sementes." Ela deve esperar. Sua prioridade é o filho.
Sua única alegria diária é passear pelo alojamento da alcateia. Mécia planta centenas de lindas rosas e flores pela casa. Toda vez que Lisle chega ao jardim, ela se acalma. É o seu oásis perfumado. Mas, hoje, ela se sente um pouco estranha. Nancy está agitada e não consegue se aquietar para descobrir o que há de errado.
No meio do jardim, Mécia faz um lugar que parece ter saído de um sonho. Ela cria um espaço separado na paisagem, que tem a forma de uma esplêndida pérgula, sobre a qual sobem rosas multicoloridas e flores do tipo clematite. No meio da pérgula há uma lareira, um confortável sofá e ainda alguns baús. O local é levemente elevado; possui até um deck, que o separa do pequeno gramado. É o espaço perfeito para ficar ao ar livre, também é o onde Lisle passa a maior parte das tardes dessas últimas duas semanas. Às vezes, ela dorme no sofá confortável, então acorda nos braços de Mickey ou no quarto dos dois.
Hoje, ela sente a necessidade de estar aqui mais do que nunca. Seu filho está muito quieto. O bebezinho nunca fica tão quieto assim.
'Não se estresse.' Nancy diz. 'Está tudo bem, posso ouvir os seus batimentos cardíacos.'
O bebê deve nascer em três dias, mas nunca se pode ter certeza de quando ele vai nascer.
"Boa tarde, Luna!" De repente, Lisle ouve a voz de uma mulher e se vira para ela automaticamente. É a esposa de William. Ela é uma das guerreiras da alcateia, uma das melhores guerreiras, na verdade. No entanto, William não a deixa se envolver em nada arriscado. Ela treina guerreiros desde que teve filhos, então ela é apenas uma treinadora agora.
"Oi!" Lisle sorri para ela. Apesar de William estar sempre com a família do Alfa, já que mora só um andar abaixo, Lisle deve admitir que raramente vê a sua esposa. Ela é extremamente tímida e não gosta de tumulto.
"Você é a companheira de William, não é?" Lisle indaga, com alegria, feliz por poder conversar com ela enfim. Ela quer se aproximar dela há muito tempo, mas, nos poucos meses desde que chegou aqui, Lisle não a viu mais do que duas vezes.
"Sou, sim, Luna! Eu sou a companheira de William. Meu nome é Artemis." Ela responde, estendendo a mão.
'Artemis?' Lisle pondera mentalmente sobre esse nome tão incomum nesta área. Se for sincera, o visual dela é um pouco diferente. Ela tem uma pele levemente mais escura e longos cabelos pretos. Seus olhos são muito pretos, seus lábios são bem carnudos. William tem uma companheira extremamente atraente, e eles formam um ótimo casal. Ele é alto e robusto, quase tão alto quanto Raquel e Rafael. Contudo, William parece ainda mais musculoso que os dois. Enquanto Artemis é alta e atlética também. Os filhos deles se parecem com Artemis, só agora que Lisle pode percebe isso, pois a vê bem na sua frente, por completo.
Artemis sorri para Lisle.
"É um nome grego." Ela explica, com um pouco de timidez. "Eu sou da ilha de Rodes, na Grécia."
"Você é grega?" Lisle pergunta, surpresa.
"Da cabeça aos pés!" Ela afirma, com um sorriso
"Posso me sentar?" Artemis pergunta, cheia de respeito.
"É claro, por favor! Conte-me sobre você, sobre a Grécia, sobre sua história..." Lisle pede a ela, tentando não pensar que Nancy também é uma loba da Grécia antiga. Talvez Artemis seja capaz de contar algo que ela não sabe sobre si mesma.
"Eu conheci William há quatro anos na competição do Alfa Granger. Eu vim com minha alcateia. Foi um encontro arrebatador porque William veio discutir comigo depois que eu coloquei um de seus guerreiros no hospital. Apenas olhar nos olhos um do outro foi o suficiente para saber que não precisávamos brigar. A partir daquele dia, ficamos sempre juntos."
"Você se arrepende de ter deixado seu país para ficar aqui?" Lisle pergunta, tentando trazer o assunto para o que lhe interessa.
"De jeito nenhum. Tudo que tenho com William é muito mais importante. Às vezes, sinto falta do cheiro das oliveiras ao florescer, do calor do sol por lá, do ar salgado, do mar claro e azul, mas sempre vou escolher ficar aqui, com William" Artemis sorri.
"Acho que você tem algumas perguntas para mim pelo jeito que me encara. Pode me perguntar qualquer coisa e, se eu puder, eu respondo." Artemis acrescenta.
'Como ela sabe o que estou pensando?' Lisle se questiona.
"Eu sou meio bruxa." Artemis comenta.
"O QUÊ?"
"Só a pior metade de mim. Além de ler mentes e de ter alguns truques sobrenaturais para me ajudar em lutas, não herdei muita coisa da minha mãe." Artemis acaba rindo. "Então, me diga o que você quer saber."
"Você conhece a história de Lycaon?" Lisle questiona, cética.
"Todo grego autêntico conhece." Ela solta mais uma risada. "Eu sei o que você é, Luna. É uma honra conhecê-la e servi-la."
"Mas Lycaon era um monstro, esse é o motivo pelo qual Alfa Granger está atrás de mim. É por causa dessa herança sinistra de Lycaon." Lisle afirma, triste. "Tenho medo de me transformar em um monstro incontrolável. Tenho medo pelo que pode acontecer com meu filho."
"Não é nada disso, Luna." Artemis diz. "Sim, Lycaon foi ávido por poder, sinistro e sádico. Certamente, caiu nos braços da loucura por muito tempo, mas os Lobos Arcadianos não são seus descendentes. Esse é um detalhe que não é compreendido pelo mundo." Ela tenta encontrar as palavras certa e se confunde um pouco em seu sotaque grego.
"Eu não entendi..."
"Yuri matou seus descendentes, mas deixou Nyctimus renascer. Ele escolheu deixá-lo reviver. Os Lobos Arcadianos não são lobisomens que foram mordidos e transformados, nem se tornaram assim por causa de alguma outra situação. Não, Luna, os Lobos Arcadianos são escolhidos pelos deuses. Nada tem a ver com Lycaon, mesmo que a história sugira isso. Você é talentosa, Luna. Não deixe ninguém roubar sua alegria em ser tão espetacular! Você provavelmente vai entrar para a história por suas ações quando o momento chegar, mas não quero que pense que ser má é algo inerente a você, porque pelo que vejo aqui você está longe disso."
Artemis sorri para Lisle, então se levanta.
"Eu vi você triste e preocupada, só por isso me atrevi a chegar perto. Espero não ter incomodado você."
"Eu adoraria conversar mais com você." Lisle afirma.
"Você sabe onde me encontrar. Minha porta está sempre aberta para você."
Lisle imediatamente abraça Artemis, para choque da mulher. "Por favor, me chame de Lisle, não de Luna!"
"Vejo você em breve, Lisle!"
Artemis se afasta, mas não dá mais nenhum passo quando ouve Lisle gemer de dor. Artemis seguiu Lisle constantemente durante o último mês, a pedido de William, então entende todos os seus pensamentos e preocupações. Por isso, hoje, ela resolve se aproximar para conversar; quer que sua Luna fique com o coração tranquilo.
"Lisle! O que está acontecendo?" Artemis pergunta, mas Lisle grita de dor.
"Eu acredito que minha..." Lisle tenta dizer, mas ela volta a gritar de dor. "Sua bolsa acaba de estourar!"
*