Ponto de vista da Maria.
Acordei meio atordoada, eu ainda estava no hospital, mas, hoje era o último dia, finalmente ia ganhar alta, pela primeira vez me deparo com o quarto vazio, fico ali deitada olhando pro teto branco do quarto, é incrível o tanto que minha vida mudou nesses últimos anos, conheci muitas pessoas, perdi algumas também, tudo foi tão confuso, é como se uma avalanche passasse por mim, me derrubando e me esmagando. Ouço batidas leves na porta e antes que eu respondesse a Ana entrou como um furacão.
- Graças a Deus você vai pra casa. – Ela parecia animada, talvez até mais que eu.

- Ainda Bem, como ta a Luna? To com saudade dela. – Ela estava colocando minhas coisas em uma bolsa.
- Ela ta bem, tem que ver na animação dela quando eu contei que você ia voltar pra casa hoje!
- não vejo a hora da minha vida voltar ao que era antes. – Nesse momento ela parou e se sentou na minha cama.
- Amiga, eu acho que nada vai voltar a ser como antes, mas, pode ter certeza de uma coisa, eu vou sempre estar do seu lado, eu , a Luna e o Damian, nos vamos sempre estar do seu lado, sempre!
- Eu sei! – Ela me abraçou forte e depois passou a mão pelo meu rosto. – Eu amo você!
- Eu também te amo. – Ela se levantou de forma abrupta. – Agora vamos dar um jeito de ir embora desse lugar.

- Ana, cadê o Damian? – Perguntei me levantando. – Não o vi em lugar algum, é estranho, ele sempre está aqui, e hoje na minha alta ele sumiu.
- Então, ele teve que viajar. coisas de negócios. Mas, pode ficar tranqüila, daqui a pouco ele volta.
- Não sei não, por que ele não me falou nada? Isso é estranho, e por que justo agora? Como ele pode simplesmente viajar depois de tudo que aconteceu? Que inferno! Por que ele não e falou nada?
- Ei fica calma!!

- Serio? Lembra do que aconteceu da ultima vez que ele viajou? É simplesmente impossível ficar calma Ana! Ele não podia ter ido!
- Maria fica calma! Vai ficar tudo bem! Não vai acontecer nada dessa vez! Confia em mim!
- Quer saber, vamos embora daqui!eu quero ver a minha filha!
- Ta bom. Toma um banho primeiro, depois vamos pra casa ta bom?
- Tá! – peguei uma muda de roupa e fui pro banheiro, depois de me despir fiquei parada em frente ao espelho me encarando, meu corpo estava mais magro que o de costume, as marcas nos meus pulsos ainda eram bem visíveis. Respirei fundo e entrei no banho, deixei a água cair em mim enquanto eu pensava em tudo que eu passei por amor ao Damian.
O caminho pra casa foi longo e silencioso, nos ficamos na casa da Ana, bem, na verdade na casa que o Carlos deu pra Ana antes de ir embora, é engraçado pensar no Carlos, eu sinto falta dele mesmo sabendo que ele tomou a decisão certa ao ir embora, ele tinha razão ao pensar o quanto seria cruel me ver ao lado do Damian, mesmo ele sabendo que meu coração sempre pertenceu a ele. Assim que chegamos em casa eu peguei a minha filha, era bom estar com ela longe do hospital, era bom estar com ela! Nos duas brincamos até tarde da noite, depois eu fiz ela dormir e a levei pro quarto dela. Depois de deixá-la dormindo fui pro banho, tirei minha roupa e fiquei me encarando em frente ao espelho, meu corpo estava ainda mais magro, as marcas nos meus pulsos ainda eram bem visíveis, meu cabelo estava longo, ainda mais longo de que me lembrava, parece que tinha se passado uma eternidade desde que passei por todo aquele inferno. Entrei na ducha e deixei a água quente cair sobre meu corpo, quando terminei o banho eu me sentia um pouco mais relaxada, assim que sai do banheiro me deparei com a Ana sentada na minha cama, ela estava de pijama e segurava uma garrafa de vinho e duas taças.
- Vamos comemorar a sua alta!!
- Eu acho justo! – Me sentei na cama e me encostei na cabeceira. – Essa casa é ótima!
- É sim, eu nem acredito que ele deixou ela pra mim. – Ela encheu nossas taças e deu um gole no vinho dela. – Sinto falta dele. – Ela falou por fim, senti tristeza na voz dela, e pra ser sincera eu também sentia falta dele.
- Eu também! – Ficamos um tempo em silêncio.
- O que planeja fazer agora? – A Ana falou quebrando o silencio.
- Pra ser honesta? Não faço nem idéia, mas, e você? O que planeja fazer? – Falei depois de virar todo o vinho da minha taça.
- Bom, eu planejo ficar por aqui mesmo, tenho uma boa casa, agora que você está bem vou começar a procurar um emprego, e ficar perto de você! Eu sei que você vai querer ir morar com o Damian, e com certeza vai querer ter privacidade mas pro seu azar não vou me afastar de você de forma alguma. – Ela falou em um tom brincalhão.
- Eu não quero privacidade, quero você perto de mim! – Dei um abraço nela e depois enchi novamente nossas taças. – Mas agora falando sério, eu não sei como as coisas vão ficar com o Damian.
- Como assim? – Ela falou surpresa. – Depois de tudo que vocês passaram você não tem certeza de como vão ficar as coisas?
- Ele sumiu, sabe, depois de tudo ele sumiu de novo, você falou com ele? Teve alguma noticia? Por que eu não tive.
- Você pensa de mais amiga, ele teve que viajar a negócios, quando você sumiu ele largou tudo pra te procurar, e depois de tudo aquilo você ficou mal por um longo tempo, ele também passou uma barra sabe? Agora ele tem que colocar as coisas em ordem, ficou tudo uma bagunça, sem falar nas coisas da Sara. – Nesse momento eu senti um aperto no peito, afinal, eu estava pensando só em mim, mas ele também deve estar sofrendo com o fato de ter perdido ela.
- O que aconteceu com o corpo dela?
- Pelo que sei ela não tinha amigos ou familiares, fizemos uma cerimônia simples e cremamos o corpo dela, as coisas que ela deixou o Damian doou tudo pra uma instituição que ajuda mulheres que sofrem de violência doméstica.
- Hum.
- Olha não pensa muito em nada disso agora ta bom? Não quero te ver deprimida ou algo assim, o Damian fez uma viagem e logo vai retornar, e até ele voltar você vai ficar bem e protegida comigo, agora deita e tenta descansar amanhã vai ser um novo dia.
- Ta bom, eu vou deitar então. – Ela se levantou e pegou as taças e a garrafa e começou a caminhar em direção a porta, mas antes dela sair do quarto eu a chamei.
- Ana?
- Oi.
- O que aconteceu com a Patrícia? – Só em falar o nome dela o meu corpo arrepiou.
- Ela foi presa, vai ser julgada e condenada em breve, mas, não pensa nisso, ela vai pagar por todo o mal que te fez, eu tenho certeza disso.
- Eu espero que ela nunca mais saia da cadeia.
- Ela não vai sair. Boa noite.
- Boa noite. – Ela saiu do quarto e eu me deitei, não sei se pelo cansaço ou pelo vinho, mas assim que me deitei adormeci.