No dia seguinte...
Ponto de vista da Chaos.
Acordei com o sol forte batendo no meu rosto. Quem foi o desgraçado que deixou a maldita cortina aberta? Eu queria saber para poder dizer poucas e boas à essa pessoa.
Não tinha nada contra o sol, mas como não era uma pessoa matinal, não pude deixar de ficar irritada ao sentir aquela luz na minha cara. Ao tentar me mexer, percebi que era segurada contra o peito de alguém, ou melhor, um peito forte e musculoso.
Olhei por cima do ombro apenas para encontrar o rosto adorável do meu companheiro dormindo. Argh... o sono realmente tinha esse efeito sobre as pessoas. Por mais angelical que ele parecesse agora, sabia muito bem que ele estava longe de ser assim.
Joguei minha cabeça no travesseiro enquanto recordava os acontecimentos da noite passada. Não pude deixar de me sentir mal por ter abandonado a mãe e o resto da alcateia do Alfa River, mas não consegui evitar. Meu pai era um assunto delicado para mim e não gostei nada de ouvir alguém falar dele como se o conhecesse e soubesse onde ele estava.
Este era um segredo que seus filhos, sua companheira, algumas pessoas selecionadas e os anciões do conselho da minha alcateia de nascença levariam para o túmulo. Meu pai podia estar morto para o mundo, mas não para mim e nossa família, e eu não aceitaria que ninguém dissesse o contrário. Eu ainda estava imersa em pensamentos quando ouvi uma movimentação do lado de fora. Imaginei que algumas pessoas deviam estar se encaminhando para o campo de treinamento.
Agarrando gentilmente meu travesseiro, desvencilhei-me com destreza dos braços do Alfa River antes de deixar o objeto macio no meu lugar como substituto. Após deixar um beijo suave em sua testa, corri para o banheiro, onde rapidamente escovei os dentes e prendi meu cabelo em um coque bagunçado antes de ir fazer xixi. Só então percebi que ainda estava com minhas roupas de ontem.
Depois de tirá-las depressa, joguei-as no cesto de roupa suja antes de procurar minhas malas. Assim que as encontrei, percebi que estavam vazias. Ao ver que tinha uma porta ao lado do banheiro, abri-a apenas para me deparar com um closet enorme e extravagante.
Fui até o final dele e fiquei surpresa ao encontrar minhas roupas separadas por cores do jeito que eu gostava, apesar de isso não ser muito difícil, pois eu não tinha nada que não fosse preto, branco, cinza, marrom e vinho. Afinal, eu odiava cores vibrantes.
Rapidamente, procurei meu equipamento de treino preto e, assim que o encontrei, coloquei-o antes de calçar meus coturnos favoritos para finalizar meu visual. Ao conferir minha roupa no espelho, gostei do que vi. Com minhas tatuagens à mostra, eu parecia pecaminosamente sensual, mas também intimidadora. Então, deixei o quarto na pontinha dos pés para não acordar Alfa River.
Ao fechar a porta atrás de mim, virei-me apenas para me deparar com o beta esquisito me olhando de cima a baixo como se eu fosse um pedaço de carne. De saco cheio disso, cerrei meu punho e soquei sua mandíbula com força. Sorri, satisfeita, quando ouvi o estalo do osso quebrando.
Em seguida, dei um passo na direção dele e levantei sua cabeça para que ele pudesse encontrar meu olhar.
"Eu posso ser uma mulher, mas isso não quer dizer que vou permitir que você me desrespeite. Olhe para mim desse jeito novamente e eu me certificarei que será a última coisa que você verá na sua vida. Estamos entendidos?" Avisei-o.
"Perfeitamente. Sinto muito, Chaos", respondeu ele, olhando para baixo, envergonhado.
"É bom que sinta mesmo. Onde você estava indo?"
"Acordar o alfa. Está na hora do treino."
"Sim, eu sei, mas ele ainda não acordou. Deixei-o dormir. Eu irei supervisionar o treino hoje."
Minhas palavras provavelmente surpreenderam o beta, pois ele voltou a me encarar com os olhos arregalados de choque. Não pude deixar de me divertir com sua reação.
Então, ele gaguejou: "Se... sério?"
"Sim, Matthews. Agora vamos, mostre-me o caminho."
Assim que nos viramos, percebi que tínhamos uma plateia. Reconheci os homens presentes como aqueles que estavam na comitiva que foi à minha antiga casa.
Alguns me olhavam com um misto de choque e admiração, certamente por causa das minhas tatuagens. Afinal, era preciso muita coragem e ousadia para se fazer uma, que dirá as várias que eu tinha espalhadas pelos meus braços e peito. Já os outros me encaravam, intimidados.
Ótimo! Eu podia ser uma v*dia, mas eu não era a v*dia de ninguém. Saudei a todos com um breve aceno de cabeça, ao que eles responderam verbalmente antes de me seguirem enquanto Matthews liderava o caminho.
Fizemos o percurso inteiro até o campo de treinamento em silêncio, mas antes que pudéssemos entrar nele, ouvi a mesma voz reclamona de ontem.
"O alfa está atrasado para o treinamento de hoje. É a primeira vez que isso acontece. Tenho certeza que é por causa daquela v*dia feiosa com quem ele chegou ontem. Parece que tudo que essa mulher sabe fazer é rolar na cama com o alfa e se embelezar. Aff!"
Antes que Matthews e os outros reagissem, levantei a mão e sinalizei para que ficassem parados. Um segundo depois ouvimos outra voz bastante calorosa dizer:
"Apenas cale a boca, Cindy. Você só está com ciúmes."