“Por favor, papai! Por favor, não!” Uma criança gritava horrorizada. Elijah ficou confuso, ‘o que foi aquilo?’ Ele olhou ao redor e percebeu que estava em algum tipo de sala, uma garagem, havia várias ferramentas e armas de um lado e uma mesa manchada de sangue bem no centro do lugar. Logo, sua atenção se voltou para o homem que reconheceu imediatamente, ele batia a cabeça da criança repetidas vezes contra o chão. A raiva consumiu Elijah, que correu na direção do homem, mas ao tentar agarrá-lo sua mão o atravessou. Ele tentou outra vez em vão, aquilo era um sonho? Então, olhando para a criança coberta de sangue que segurava os pulsos do monstro. O coração de Elijah acelerou quando ele finalmente entendeu quem era.
Aquilo não era um pesadelo, mas uma lembrança: Uma lembrança de Scarlett. Ele assistiu toda a cena, impotente, enquanto via Zidane arrastá-la pelos cabelos pela garagem, depois quando ele pegou um grande jarro e se afastou para despejar o conteúdo sobre a menina. Os gritos dela dilaceraram o coração de Elijah, pálido ele correu até a menina, sentindo seus olhos arderem de desespero. O acônito queimava sua pele, enquanto ela se contorcia no chão, ele tentou segurá-la, mas da mesma maneira que antes, ela virou fumaça em suas mãos.
“Desgraç*do.” Ele rosnou encarando o homem que observava a criança se contorcer em agonia, sua cabeça estava inclinada para o lado e um brilho sádico faiscava em seus olhos, ao ver como o acônito queimava a criança. Elijah também a observou, desejando poder ajudá-la e aliviar a agonia que a fazia se contorcer. A dor em seu peito era tremenda, por que ele não estava lá para ajudá-la? Por que ela teve que passar por isso?
“Sinto muito, sinto muito...” Ele sussurrou para a criança, que não podia escutá-lo, enquanto ela chorava e se contorcia naquele chão frio e duro.
“…Elijah! Elijah!”
Ele abriu os olhos de repente, seu coração estava disparado dentro de seu peito, então ele olhou para Scarlett em meio a penumbra dos primeiros raios da aurora, que espreitavam pelas frestas da cortina. Elijah olhou para ela levantando-se, suas mãos examinaram seus braços, ela estava bem, estava ali com ele. Scarlett ficou muito preocupada enquanto segurava o rosto dele.
“Elijah... você está bem?” Ela perguntou, sentindo o medo, a raiva e a dor que vinham dele. Ele não disse nada e a puxou para um abraço apertado. Ela não respondeu, muito confusa para dizer qualquer coisa e os batimentos erráticos de Elijah a assustaram.
“Como você sobreviveu a tudo aquilo?” A voz dele não passava de um sussurro rouco. Scarlett ficou atônita ao entender o que tinha acontecido, ela estava tendo um pesadelo, no entanto ela aprendeu a se tornar imune a eles. A culpa revirou seu estômago, ela o marcou e agora ele podia ver todo o seu sofrimento. Ela não queria que ninguém soubesse a extensão dos... ele afagou o seu cabelo, trazendo-o para trás para que pudesse ver o rosto dela.
“Ei, ei, não pense assim, não se sinta culpada.” Elijah rosnou. “Eu vou acabar com aquele desgraç*do, eu jurou, vou mandá-lo direto para o inferno.”
Scarlett não disse nada, sem saber o que falar para confortar Elijah. Ela envolveu a cintura dele com os braços e ele lentamente se deitou, respirando fundo.
“Me desculpe.” Ela sussurrou, ele lhe deu um beijo no topo da cabeça, então se ajeitou e a trouxe para perto de si de maneira protetora.
“Como eu disse, nunca se desculpe por isso.” Ele ressaltou, beijando sua bochecha. Ela não tinha nada pelo que se desculpar. Elijah inalou o perfume dela, que agora continha um pouco do seu cheiro também, assim ele tentou acalmar as emoções fervorosas dentro si. “Durma querida.” Ele disse por fim.
Scarlett assentiu e pousou a cabeça contra o peito dele, com o braço lhe servindo de travesseiro, então ela fechou os olhos. Ela queria encontrar uma maneira de bloquear todas aquelas memórias horríveis. A que ele vira, não era a pior lembrança, havia outras que eram cem vezes piores... ela esperou até que ele adormecesse, tinha medo de dormir e outro pesadelo fosse perturbá-lo, então apesar do cansaço ela se manteve acordada.
Só quando o celular de Elijah tocou pela manhã Scarlett se permitiu tirar uma rápida soneca, dizendo para que ele fosse tomar banho primeiro. Ela prometera a si mesma que não o deixaria carregar seu fardo por ela...
------
Mais tarde naquele dia, eles teriam que voltar para casa, muitos membros do bando haviam encontrado seus companheiros e Elijah estava organizando quem voltaria e quem iria direto para os bandos dos companheiros. A única mulher que não foi com 'seu companheiro' foi Angela. Além dela, havia Liam e Fiona que não tinham encontrado seus companheiros durante o baile. Ademais, outros lobos ficaram chocados ao descobrirem que Scarlett e Elijah estavam acasalados e alguns ficaram ainda mais surpresos por ambos não se rejeitarem.
Scarlett foi até Angela, que parecia perdida nos próprios pensamentos.
“Ei, você está bem?” Scarlett indagou, um sorriso cruzou o rosto de sua amiga, porém Scarlett a conhecia muito bem para se deixar enganar.
“É claro que estou!” Angela respondeu jogando o cabelo, então ela olhou para o pescoço de Scarlett, ao ver a marca deu um sorriso genuíno “Essa marca é linda!”
“Obrigada, é bom que aquela coisa horrível tenha sumido.” Scarlett comentou aliviada e passando o dedo ao longo da marca, um sorriso tímido cruzou seus lábios e sentiu se corpo vibrar ao lembrar da noite anterior e de Elijah.
“Estou feliz por vocês dois.” Angela disse e Scarlett lhe agradeceu com um sorriso gentil.
“Cassandra parece ser uma boa mulher.” Ela disse com cautela.
“Hmm, acho que sim...” Angela disse incerta. “Eu não sei... mas chega de falarmos sobre mim.”
Então, Scarlett não a pressionou mais, pois sabia que a amiga não queria discutir o assunto. Então, Elijah envolveu os braços em volta da cintura de Scarlett e lhe deu um beijo no pescoço.
‘Eu gostaria que Angela viesse conosco.’ Scarlett falou através da ligação psíquica.
‘Claro, querida.’ Elijah respondeu olhando para Angela. “Vou chamar Liam para voltar com a gente, você deveria vir também.”
“Você não se importa de eu ir junto, quer dizer, pensei que vocês dois gostassem de ter um tempo sozinhos.” Angela ponderou, mas Elijah olhou para ela, enquanto descanava a cabeça sobre Scarlett.
“Bom, eu posso compartilhar, agora que eu sei que ela é minha para sempre.” Ele disse orgulhosamente, fazendo Scarlett sorrir, pois sabia que ele estava fazendo isso por ela.
“Ok, eu vou então.” Angela se decidiu. Então, Elijah olhou para Liam que estava prestes a entrar em um dos carros.
‘Venha com a gente, já vamos ter mais uma companhia conosco.’ Ele disse através da ligação mental, ele se sentiu um pouco mal pelo amigo não ter encontrado sua companheira. Liam olhou de volta e viu o quão feliz Scarlett parecia nos braços de Elijah, apesar da pontada de tristeza, ele acenou com a cabeça, pegou sua mala e foi até eles.
Assim, todos se acomodaram no carro de Elijah, Angela e Liam foram no banco de trás.
“Eu me pergunto como seus pais vão reagir.” Angela comentou quando eles saíram de Londres em direção a rodovia.
“Não há o que discutir, nós somos companheiros. Agora, quero ver o que ele vai fazer.” Elijah disse com um brilho arrogante nos olhos.
“Elijah... nós vamos resolver as coisas.” Scarlett disse em um tom ameno.
“Alguém mais sabe que vocês dois são companheiros?” Liam perguntou curioso.
“Em casa? Sim, Kiera anunciou para todo mundo, então acho que todos já sabem e Indy não parava de me mandar mensagens enlouquecida.” Elijah disse e Scarlett levantou um sobrancelha.
“Ela só me enviou um ‘Parabéns! Agora, só ele é meu irmão...” Ela disse fazendo Elijah rir.
“Nunca considerei você minha irmã, desde o início.” Ele salientou.
“Ai!” Angela bradou enquanto o casal se beijava. Então, com um suspiro ela se recostou no banco.
Liam olhou para Angela imaginando que dever ter sido assustador para ela. Todos ficaram em silêncio escutando a música que tocava, Scarlett já estava aconchegada para dormir, já que não tinha dormido de manhã e Elijah atendeu uma ligação sobre trabalho no fone de ouvido. Liam aproveitou a oportunidade para ligar mentalmente para Angela.
‘Sabe, eu sei que ela não era o que você esperava, mas não se sentiu atraída por ela?’
‘Senti, quero dizer, é algo que nunca considerei, apenas preciso de um tempo. Como você está se sentindo? Já que não encontrou sua companheira?’ Ela perguntou de volta. Liam olhou pela janela, observando os carros que passavam na rodovia com um suspiro.
‘De certa forma, estou feliz, não estou pronto para aceitar alguém enquanto amo outra pessoa. Eu acho que foi melhor assim, então, quando chegar a hora de conhecê-la, vou poder ser o companheiro de quem minha companheira vai poder se orgulhar. Mas, ainda não é o momento certo.’
Angela não disse mais nada, as palavras dele ecoaram em sua mente. Ela se sentia mal por ele e esperava que algum dia conseguisse a resposta que procurava, também desejava que Liam encontrasse sua companheira e o amasse incondicionalmente.
--------
Eles deixaram Liam e Angela em suas casas e depois foram direto para casa. Quando eles chegaram, Elijah sorriu antes de estender a mão e beijá-la no hall de entrada. O cheiro de batata fritas e frango brasa flutuavam pelo ar. Um lembrete da comida incrível de Jessica.
“Vamos acabar com isso.” Ele disse em um tom zombeteiro.
“Elijah, sério, não piore as coisas.” Scarlett disse baixinho assim que Indigo saiu correndo da cozinha.
“Ei!” Ela disse correndo para Elijah e lhe dando um grande abraço. “Parabéns!”
Scarlett ficou de braços cruzados enquanto observava Elijah girar a irmã sorridente: “Eu consegui a minha garota, não é?”
Indigo acenou com a cabeça, cumprimentando-o quando ele a colocou de volta no chão.
“Como assim, eu era um prêmio a ser conquistado?” Scarlett disse estreitando os olhos, mas os dois sorriram para ela.
“Muito mais do que qualquer prêmio, querida.” Ele disse envolvendo um braço em volta da cintura de Scarlett e puxando-a para perto. Indigo fez uma careta ao ver os dois se beijarem.
“Ok, isso ainda é nojento...” Ela murmurou.
Elijah estava prestes a falar alguma coisa quando Jessica e Jackson saíram da cozinha. A tensão entre pai e filho logo se instalou entre os dois. Foi Jessica quem disse algo primeiro, dando um passo à frente ela abraçou Scarlett com força, orgulhosa de ver que a marca nojenta de Zidane tinha desaparecido.
“Estou tão feliz que vocês dois são companheiros.” Ela disse contente, com um tom alto o suficiente para que todos pudessem ouvir.
“Obrigada, mamãe.” Scarlett respondeu, feliz por ouvir essas palavras, então Jessica deu um passo para trás e olhou para Elijah, que agora a encarava e ela lhe sorriu, o qual foi bem recebido, assim como seu abraço.
“Eu sei que você vai cuidar bem dela.” Jessica disse calmamente.
“É claro.” Ele respondeu agora encarando seu pai. “Então, Alfa Jackson, ela é de fato minha companheira, a marca é uma prova clara disso, ou ainda quer se certificar de que é real?”
Jackson encarou seu filho com uma expressão séria, mas no fundo ele sabia que quem estava errado era ele. Os dois estavam destinados a ficarem juntos, porém admitir isso não era fácil. Então, ele apertou a mandíbula enquanto olhava para o casal.
“Eu não preciso de provas... parece que vocês dois são realmente companheiros...” Ele sentenciou.
“Então, quando vocês vão se divorciar?” Elijah perguntou arqueando uma sobrancelha, o que deixou Scarlett irritada.
“Ninguém vai se divorciar aqui ou tirar a posição de alguém. Pai, por favor, você disse que tentaria, mesmo antes de sabermos se éramos de fatos companheiros.” Scarlett disse suavemente, lembrando-se da conversa deles na cozinha.
“Eu sei...” Ele disse com um tom seco. Elijah franziu a testa.
“Você pelo menos deveria admitir que estava errado ou se desculpar.” Elijah falou com frieza e os olhos de Jackson brilharam.
“Eu ainda sou seu pai, garoto.”
“É a única razão pela qual estou me contendo, você ameaçou tirar minha posição de Alfa como uma atitude egoísta, então agora eu quero saber, já que somos companheiros, o que vocês dois farão?”
“Elijah, nós...” Jessica começou a falar, mas Elijah levantou um dedo, silenciando-a e ainda com os olhos fixos em seu pai.
“Eu não teria nenhum problema se nós fossemos companheiros ou não. Talvez seja melhor você colocar o rabo entre as pernas e aceitar que estava engando.” Ele disse com rispidez. Jackson franziu a testa apertando a mandíbula com mais força.
“Está bem. Posso ter me enganado, mas não vou me desculpar. Vamos realizar a cerimônia de passagem do Alfa daqui um mês. Assim que tivermos lidado com Zidane e seu bando.” Desta maneira, Jackson não disse mais nada, apenas se virou e subiu as escadas. Elijah cerrou sua expressão, pois sabia que não conseguiria arrancar um pedido de desculpas daquele homem. Porém, não queria tornar aquela situação ainda pior, observando as três mulheres que acompanharam tudo de perto, ele pode ver que cada uma tinha uma expressão diferente nos olhos.
Jessica parecia se sentir culpada e triste, Indigo preocupada com o que poderia acontecer e Scarlett tinha uma expressão séria. Elijah olhou para Jessica, apesar de tudo ela o havia apoiado. Já era hora dos dois enfim terem uma conversa a sós...
“Podemos conversar?” Ele perguntou, com uma ligeira carranca no rosto.
Jessica concordou com a cabeça, lançando um olhar para as duas filhas. “Vocês duas entrem e coloquem as bebidas na mesa enquanto isso...”
As duas concordaram e foram direto para a cozinha. Elijah, por sua vez, caminhou até a sala, e assim que Jessica entrou ela fechou a porta atrás de si, olhando para o enteado que passava as mãos pelos cabelos.
“Não vou prolongar isso mais do que o necessário, nunca te vi como mãe, embora você sempre estivesse ao meu lado enquanto eu crescia. Mas, ninguém pode substituir minha mãe.”
Jessica assentiu, enquanto encarava suas próprias mãos. Ela tentou conquistar o amor dele, mas parecia que não fora o suficiente, as palavras dele eram frias e sem emoção, além disso ela estaria mentido se disse que não a machucaram.
“Isso não significa que eu não te veja como parte da família, admiro o que você fez pelo meu pai, por mim e além disso ganhei uma irmã. Mas, ao longo dos anos, Scarlett foi alguém que eu nunca consegui tratar da mesma maneira que Indigo, por isso fiquei com raiva de tudo. Quando ela o chamava de pai, isso me irritava demais. Talvez tenha sido o vínculo ou os meus sentimentos por ela, os quais nunca tinha percebido, não tenho certeza. Eu só quero dizer que não me arrependo do fato do papai ter se casado com você, ou por ele ter te trazido para cá. Eu sei que às vezes pareço não me importar... mas queria que soubesse, você também é minha família.” Ele terminou de falar e colocou as mãos nos bolsos, enquanto encarava seus sapatos.