Capítulo 10
2373palavras
2023-03-23 14:15
Na manhã seguinte, Scarlett treinou sozinha como sempre e desta vez Elijah não apareceu para perturbá-la. Depois do que aconteceu na noite anterior, nenhum dos dois sabia o que poderia acontecer quando ficasse cara a cara. Apesar de um desejo ardente ter despertado em ambos, eles não tinham certeza do quanto foram influenciados pelo álcool.
Contudo, o próprio Elijah sabia que a queria, e por isso não conseguia pensar em outra mulher, Scarlett se apossara de sua mente. Ter consciência deste fato o perturbou, pois ele nunca teve uma tração tão forte por alguém, era uma sensação nova.
Após treinar antes do amanhecer, Scarlett voltou para casa. Tomar banho no mesmo banheiro que estava impregnado como cheiro de Elijah era difícil, além disso a humidade do lugar denunciava que ele já tinha voltado do treinamento. Então, ela suspirou, vestiu uma calça jeans e um top branco, o qual salientava seus seios. Para combinar ela calçou sapatilhas brancas, deixou os cabelos soltos e passou um batom nude, o delineador e o rímel bem sutis.
Scarlett desceu as escadas nervosa, não sabia o que aconteceria quando o encarasse. Seu coração pulsou, ao relembrar a noite anterior.
Ao entrar na cozinha, a luz do sol brilhava através das janelas, iluminando o ambiente com um brilho opaco, após refletir nos armários brancos. O aroma delicioso do café da manhã inglês que sua mãe estava preparando envolveu seus sentidos. Indigo arrumava a mesa, enquanto Jackson e Elijah já estavam sentados, ele olhou para cima quando Scarlett entrou, mas ela não sustentou o olhar dele.
“Bom dia.” Scarlett disse caminhando até a mesa e bagunçando seu cabelo.
“Bom dia, querida.” Jackson disse dando-lhe um leve sorriso. Scarlett se aproximou e lhe deu um beijo na testa. O cheio dela atiçava os impulsos de Elijah, que observava seu corpo antes de desviar o olhar mais um vez.
“Você pega a comida.” Indigo resmungou ao se sentar. “Não é justo, Elijah nos torturou hoje.”
“Agora é você que está reclamando de Elijah? Que mudança.” Jackson riu. “Fico feliz que ele esteja se esforçando.”.”
Jessica sorriu enquanto a mãe e a filha apareciam carregando duas travessas cheias de: torradas, fatias de bacon, salsichas, ovos, batatas fritas, cogumelos assados e tomates.
“Eu acredito que todo mundo precisava de um empurrãozinho.” Elijah se defendeu.
“Foi um pouco brutal, considerando que tivemos uma festa ontem.” Indigo continuou a reclamar. Scarlett se serviu e sentou-se ao lado de Elijah, para sua infelicidade, era o único lugar disponível, pois Jessica ocupou o assento ao lado de Jackson.
“Quem te deu autorização para beber?” Jessica deu uma bronca.
“Você sabia...?” Indigo perguntou surpresa, mas quando ela começou a se servir, ela sorriu.
Elijah reparou em como Scarlett se certificara de que nem sua perna ou braço encostasse nele. Portanto, para contrariá-la, ele abriu as pernas, aproximando-se dela de propósito, até mesmo quando ela foi servir o feijão. Ela lançou um olhar para ele ao sentir a eletricidade do prazer lhe percorrer, o coração deu um pulo antes de cortar a ligação entre eles. Então, ela achou melhor manter as pernas cruzadas para evitar que o joelho dele a tocasse, pois se lembrava claramente de como na noite passada havia montado nele...
“Então, algum de vocês gostaria de me explicar o que aconteceu ontem à noite?” Jackson perguntou sério e os encarando. Scarlett congelou no mesmo instante, com os olhos arregalado, mas Elijah apenas arqueou uma sobrancelha em interrogação.
“Com Hank...” Jessica completou, ao ver a expressão imóvel da filha.
“Ah... nada demais. Ele estava muito bêbado...” Scarlett respondeu, “E eu perdi a cabeça...”
Elijah lançou um olhar para ele se perguntando, por que ela não contar o que de fato aconteceu. Então, o irmão franziu a testa, mas não comentou nada sobre o ocorrido. Jessica suspirou pousando o garfo na mesa e passou a mão por seus cabelos.
“Scarlett, quantas vezes eu preciso te dizer que você não pode perder a paciência desta maneira? É desrespeitoso. Por fazer parte da família do alfa, você não pode sair tratando os membros do bando com essa agressividade. Seu irmão se tornará alfa em breve.” Ela exotou, mas no fundo se questionava sobre o motivo de Scarlett tornar as coisas mais difíceis.
Elijah e Scarlett se entreolharam no último comentário, ambos com as lembranças da noite anterior na cabeça. Scarlett foi quem desviou o olhar primeiro, seu coração estava acelerado por causa da culpa, que de ter feito algo que não era bem visto... e culpa por ter gostado tanto.
“Eu não acho...” Elijah começou. No mesmo instante Scarlett apertou sua coxa, deixando-o tenso, pois os dedos não estavam muito longe de seu p*u e só de pensar, o sangue correu para seu membro.
‘Por favor, não se envolva, eu sei cuidar de mim mesma.’ A voz de Scarlett ecoou através da ligação psíquica. Então, ele mudou de expressão, refletindo que ela deveria parar de fingir que consegue lidar com tudo sozinha.
“Scarlett, eu sei que Hank pode ser impertinente, mas ele é o Delta de Elijah e assumirá seu posto em breve. Eu preciso que você seja minimamente simpática com todos. Eles serão seus futuros líderes.” Jackson aconselhou com gentileza.
Scarlett assentiu mesmo sabendo que era por causa de Jackson e sua mãe que estava em silêncio, pois não queria incomodá-los. Ela sabia que se fizesse alarde a respeito do que aqueles rapazes haviam feito, só causaria desconforto e problemas para o bando.
Ela podia se defender, mas sua mãe levou anos para reconquistar a confiança em si mesma. Seu pai biológico passou anos destruindo cada pedaço dela e Jackson levou outros tantos anos para conseguir curá-la.
Elijah observava Scarlett atentamente, pois era difícil ela não ter nada para dizer. Ele tinha uma expressão pensativa enquanto eles comiam. Logo o assunto mudou para temas mais leves, embora Scarlett não tenha falado muito.
“Preciso resolver uns negócios fora da cidade e pensei que seria bom se Scarlett me acompanhasse, para aprender as relações do bando e outras coisas.” Ele disse de repente, conseguindo que Scarlett olhasse para ele.
‘Você não queria ir encontrar o seu pai para acertar as coisas, não é?’, ele a perguntou pela conexão mental. Ela não respondeu imediatamente, pois não parecia o melhor momento para ficar sozinha com Elijah.
“Parece um ideia excelente.” Jessica disse em aprovação. Por sua vez, Jackson olhou para Scarlett que acenou levemente com a cabeça.
“Ótimo, que horas vocês vão sair e para onde vão exatamente?” Jackson interrogou.
“Não muito longe, até mais ou menos Manchester, trata-se de uma negociação para um aliado daquelas bandas. Conheci o novo alfa há alguns meses.” Isso não era mentira, pois de fato na volta eles iriam parar ali.
“Perfeito, novos aliados são sempre bem-vindos.” Jackson concordou, por haver uma agitação crescente nos últimos meses, principalmente por parte dos salteadores.
“Quando nós vamos sair? Preciso avisar o salão que não vou trabalhar.” Scarlett disse em meio a um suspiro de Jessica.
“Eu não entendo o motivo para você querer trabalha lá.”
“Mãe, por favor.” Scarlett choramingou. Então, Jackson colocou a mão em Jessica e ela apenas balançou a cabeça.
“Podemos voltar mais ou menos 5 dias? Faça sua mala com o suficiente para uma semana ou mais.”, disse Elijah. Scarlett concordou, imaginando como seria passar mais de uma semana viajando com Elijah. Apesar de lutar para reprimir seus pensamentos, ela sentiu uma piscina de prazer inundar suas regiões inferiores, só de imaginar as possibilidades. Então, ela afastou tais fantasias para longe, antes que todos na mesa sentisse o cheiro de excitação.
“Isso não é justo! Eu posso ir também?” Indigo perguntou implorando.
“Você ainda tem mais algumas semanas de aula.” Jackson a lembrou com um sorriso e os olhos azuis brilhantes.
“A vida é tão injusta.” Indigo lamentou.
“Da próxima vez, minha querida.” Elijah a consolou com um sorriso. Era impressionante como ele via as duas irmãs de maneiras tão distintas. Uma era como se fosse sua própria irmã caçula, embora soubesse que soava hipócrita pensar assim, pois sempre a veria como a irmã mais nova. Mas, por outro lado... A imagem de Scarlett cavalgando em sua mão e gemendo de prazer passou por sua mente e ele estremeceu.
P*rra, ela era mesmo um pedaço de mau caminho...
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Assim que terminou o café da manhã, Scarlett foi até o salão da cidade, trabalhou por algumas horas e pediu uma licença, sob o pretexto de que um membro de sua família havia falecido. Por volta das 14h, ela voltou para casa, no caminho ela parou na casa de Amelia, que ficava na fronteira do território do bando. Ela torceu para que Amelia estivesse em casa, pois tinha comprado uma caixa de biscoitos fresquinhos de uma padaria, além de desejar ganhar algo em troca. Antes que ela se arrependesse ou pegasse mais alguma coisa, Amelia abriu a porta.
“Boa tarde, vovó!” Scarlett disse com um sorriso tênue.
“Boa tarde querida, eu não estava esperando por você.” Amelia disse, dando passagem para que a jovem entrasse. Ela vestia uma saia com caimento até o joelho e uma blusa preta, seus olhos castanhos a observavam com atenção. “Você veio cancelar, não é?”
Scarlett se sentiu culpada, porque de fato estava ali para cancelar o jantar de sexta-feira, mas parecia que Amelia tinha adivinhado.
“Sim, eu vou passar uns dias fora da cidade com Elijah, para cuidar os assuntos do bando. Mas, eu prometo que assim que eu voltar irei compensá-la.” Scarlett prometeu enquanto olhava o chalé aconchegante. Era uma chalé com quatro cômodos, um quatro, um banheiro e uma pequena biblioteca – que davam para a sala principal. A área da cozinha, tinha uma pequena mesa de jantar. As paredes estavam cobertas por fotos antigas e muitas pinturas a óleo, as quais Scarlett sabia que eram de autoria do filho de Amelia.
“Está tudo bem, agora sente-se e eu vou fazer uma xícara de chá para você. Afinal, eu não posso comer todos esses biscoitos sozinha.” Amelia disse e Scarlett sorria.
“Você quer que eu faça alguma coisa, enquanto você prepara o chá?” Ela perguntou, então Amelia a encarou com um sorriso malicioso nos lábios.
“Bom, já que você perguntou, eu preciso colher alguns ramos de coentro no jardim. Tome cuidado para não arrancar as raízes, corte apenas o caule.” Amelia instruiu. Scarlett fez um beicinho assentido.
“Você me pediu para fazer isso só porque sabe que eu odeio jardinagem...”
“Sim.”, disse Amelia. Então, Scarlett bufou e pegou uma faca indo em direção à porta dos fundos.
Ela voltou 10 minutos depois com um ramalhete de coentro.
“Hmm, muito bom.” Amelia elogiou depois de inspecionar, só para se certificar que ela não havia arrancado nenhuma raiz. Então, fez um sinal para que Scarlett se sentasse à mesa circular de madeira, que tinha apenas duas cadeira. Duas xícaras fumegantes de chá estavam sobre a mesa e a caixa de biscoitos aberta.
“Eu adoro o seu chá.” Scarlett falou. Amelia sempre fervia o leite no fogão, só então ela acrescentava os saquinhos de chá e o cardamomo no bule de prata. Este era uma receita de uma amiga dela.
“Bom, beba antes que o chá esfrie.” Ela apressou enquanto observava Scarlett, com um sorriso tímido nos lábios.
Amelia sabia que desde o momento em que uma mulher com duas meninas, cobertas de hematomas e ferimentos pelo corpo, entraram nos territórios do bando, que Scarlett tinha uma missão mais importante...
A própria Amelia era uma loba comum, não tinha nenhuma habilidade especial, no entanto, há muito tempo, ela sonhou com uma loba especial que vinha até o bando na lua cheia. Alguém que precisava ser mantida em segredo até que estivesse pronta para enfrentar o seu destino.
Ela sabia que este sonho era mais do que um simples sonho, a voz nele era profunda e de outro mundo – semelhante a uma canção ao vento, mas tão profunda e melodiosa causava tremor diante do poder absoluto e a serenidade que transmitia. Amelia pensava que fosse loucura, mas ele tinha suas suspeitas sobre quem era o dono da voz.
Anos depois daquele sonho, quando ele já quase tinha caído no esquecimento, Scarlett apareceu. No momento em que Amelia foi ver o que estava acontecendo e pôs os olhos na garotinha, o sonho reavivou em sua mente, como se fosse um sonho da noite anterior.
Era comum que os lobos sobreviventes morressem ou enlouquecessem após a morte de seus companheiros, especialmente alfas. Porém, de alguma maneira, Jackson não assumiu um comportamento selvagem, o que era um milagre atribuído a Jessica. Mas, Amelia sempre se perguntava se a jovem criança tinha algo a ver com isso.
Desde o momento em que ela se juntou ao bando, quando os guerreiros as encurralaram, Jessica carregava sua filha de seis anos e implorava por asilo. O medo e o desespero eram evidentes em seus olhos azul-marinho. Scarlett sempre fora perspicaz e observadora, apesar dos machucados pelo corpo, seus olhos mantinham a obstinação e a vontade de se manter forte. Não demonstrando nem um pingo de medo dos lobos que as cercavam.
Tudo estava conectado a Scarlett.
Embora os ataques sorrateiros diminuíram ao longo dos anos, as patrulhas se intensificaram e o medo se alastrou por vários membros do bando, Amelia sabia que tinha algo a ver com Scarlett. Por causa dela, Amelia apoiou abertamente que Jackson ficava com a mãe da Scarlett, Jessica.
Quando Scarlett se transformou pela primeira vez, Amelia não se surpreendeu, ela já esperava por algo quando viu a loba cinza prateada, que brilhava como a lua, algo que deixou muitos maravilhados e com medo. Amelia ficou satisfeita por suas suspeitas estarem certa. Ao contrário do bando que começou a desprezar Scarlet com medo e sem entender o motivo para sua loba ser tão grande. O tamanho preocupava mais do que a coloração de seu pelo prateado, mas Amelia a confortou e acolheu.
O vínculo entre elas sempre foi forte, mas desde que Scarlett se transformou, ela se tonou mais reservada e Amelia sentia como estivesse escondendo algo dela.
“O chá está maravilhoso.” Scarlet comentou, tirando-a de seu devaneio. Ela pegou um biscoito e Amelia acenou com a cabeça próxima a xícara de chá.
“É verdade…” Ela disse, seus olhos brilhando com sabedoria e mistério…