O sol mal havia nascido e Elijah já estava a caminho do campo de treinamento. Mesmo que ele tenha voltado para o bando no dia anterior, ele não iria relaxar em relação aos seus deveres. Enquanto pegava uma garrada de água na geladeira, ele viu Indigo parada, com suas calças de moletom e regata, bocejando de sono.
“É bom ver que você está levando a sério seu treinamento.” Ele disse jogando a garrafa para ela e pegou outra.
“Você sabe que a mamãe e o papai não vão me dar um segundo de descanso.” Ela disse pegando a garrafa, para depois se espreguiçar.
Elijah a encarou se divertindo, pois embora ela estivesse acordada, claramente sua mente ainda não estava desperta.
“E onde está Vermelho?” Ele perguntou, então um flash da noite anterior faiscou em sua mente. A pergunta parecer ter o efeito de acordar de vez Indigo, mas ela ainda arrastava os pés e evitava o olhar dele.
“Na verdade, ela não treina com a gente… Papai deu permissão para que ela treinasse sozinha.” Indigo murmurou.
Elijah franziu o cenho e comentou: “Somos um bando, treinamos juntos. Quem ela pensa...” Ele passou por Indigo inconformado, pois não esperava este tipo de comportamento vindo de Scarlett. Ela sempre gostou de treinar e era uma das melhores lutadoras do bando, bom, isso quando ele a viu pela última vez, antes de dois anos. Então Indigo agarrou seu braço.
“Não, Elijah... Acho que pela primeira vez Scarlett fez a coisa certa.” Ela disse olhando-o nos olhos, assim Elijah podia ver a dor no olhar da irmã.
“O que foi...” Ele começou a perguntar, a voz quase um rosnado. A garota se encolheu, então Elijah respirou fundo para se acalmar.
“Não cabe a mim dizer... mas quando os outros viram sua loba... ela foi muito zoada, principalmente pelos membros da nossa idade. E então, um dia as coisas saíram do controle...” Esta última parte ela disse em um sussurro, sua voz quase inaudível. Elijah escutou tudo, mas a raiva crescia dentro dele.
“O que eles fizeram?” Ele interrogou, a aura de alfa pressionava Indigo como um cobertor. Ela recuou com medo, embora soubesse que ele nunca fosse machucá-la, sua loba sabia o que era um alfa e o medo se apossou dela.
“Não muito o que dizer... eu nem estava lá... mas ouvi dizer... se você quer mesmo saber, é melhor perguntar para Scarlett. Nem a mãe e o pai sabem.” Ela acrescentou rapidamente e Elijah apenas assentiu.
“Tudo bem, é o que vou fazer. Você pode ir agora, eu não vou treinar hoje. Scarlett ainda está lá em cima ou já saiu?” Ele perguntou.
“Ela já saiu.” Indigo respondeu, com receio de ter problemas com Scarlett. “Por favor, não diga que eu te contei isso.”
“Eu não vou.” Elijah a tranquilizou, indo em direção da porta, ele precisava encontrá-la.
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Depois de uns quinze minutos tentando encontrar o cheiro de Scarlett, ele finalmente encontrou um rastro que o levava para fora das fronteiras do bando, perto do rio. Ela estava usando a árvore mais próxima como saco de pancadas, lascas de madeira se soltavam a cada soco, a mancha de sangue no casco mostravam que ela não estava pegando leve. Apesar das mãos estarem enfaixadas. Ele podia ver que nas juntas já haviam rasgos. Ela parecia tão gostosa como sempre, o suor escorrendo por seu estômago nu, o cabelo amarrado bagunçado, com vários fios soltos que emolduravam seu rosto.
“Você acha prudente treinar fora das nossas fronteiras?” Ele disse interrompendo-a. Scarlett se virou enxugando a testa, ela vestia calças de ioga e um top esportivo azul-celeste estampado, o qual espremia seu busto, além de ter um decote.
‘Dr*ga!’, ele pensou. Do que aqueles dois montes eram feitos? Tantas mulher pareciam perder sua feminilidade ao usarem tops esportivos, mas lá estava ela, exibindo seus deliciosos gêmeos com um decote que qualquer garota mataria para ter... Então, ele ouviu a voz de Scarlett ao fundo, trazendo-o de volta ao presente.
“E você? Não deveria estar no campo de treinamento do bando?” Ela disse assim que as cenas da noite anterior relampejaram por sua mente. Ela corou, feliz por já estar com as bochechas vermelhas. Mas o tom sarcástico não passou desapercebido por Elijah e sua expressão escureceu.
“Eu queria saber por que a loba mais forte do nosso bando havia sumido.” Ele rebateu com outra pergunta e cruzou os braços. Por mais que ele quisesse provocá-la, não confiava em si mesmo. A noite passada tinha deixado isso bem claro, sobre o que pensava a respeito dela e estando ali, isolada... pingando de suar... não iria ajudá-lo a lidar com a situação.
“Prefiro treinar sozinha.” Scarlett disse virando-se de costas para Elijah. Quando ela se abaixou para fazer um novo curativo nas mãos, seu o olhar pousou na bunda dela. ‘M*rda.’ Ele pensou, desviando o olhar.
“Ordens do Alfa, Vermelho, somos um bando e treinamos juntos.” Ele disse e como resposta, ela franziu a testa.
“Você ainda não é o alfa... e papai me deu permissão.” Scarlett refutou calmamente. Elijah diminuiu a distância entre eles, agarrando-a pelo cotovelo. Ele a empurrou contra a árvore, encarando-a, seus olhos que antes eram azuis agora estavam escurecidos, para um tom de azul cobalto. Neste momento, Scarlett percebeu que o dele estava vindo à tona, o que significava que ela o irritou.
“Eu sou um alfa e quando eu der uma ordem, você deve me obedecer!” Ele rosnou. O perfume inebriante de Scarlett invadiu suas narinas e o desejo de querer enterrar o rosto em seu pescoço, quase o fez passar dos limites.
“Eu tenho os meus motivos, Elijah, agora me solte!” Ela respondeu com um tom amedrontado. “Eu odeio como vocês homens são tão egoístas, acham de nós devemos obedecer tudo o que dizem!”
Até mesmo o brilho dos olhos de Scarlett havia mudado para um tom prateado, os dois lobos se encaravam, Elijah ficou perplexo ao ver como ela ainda podia resistir. Quando ele foi para seu treinamento, ele encontrou vários outros alfas, porém ele era um dos mais fortes. Ver uma loba se manter firme era algo intrigante e ainda mais por tanto tempo. Mesmo a companheira de um alfa não exercia tamanho poder sobre um alfa.
“Eu gostaria de saber quais motivos são esses.” Ele vociferou abaixando o rosto para que ele pudesse olhá-la nos olhos. Elijah pegou os pulsos de Scarlett e os prendeu contra a árvore, ao lado de sua cabeça, este movimento fez uma primeira onda de desejo pulsar e o estômago dela explodir em borboletas. Ambos tinham uma respiração pesada, com o peito pressionado um contra o outro. Ela apertou as coxa, tentando fazê-lo se mexer antes que ela ficasse excitada. O calor dos corpos um contra o outro fazia seus batimentos acelerarem.
“Está bem! Se me soltar eu te conto!” Ela disse lutando contra o aperto nos pulsos. Elijah piscou e recuou um passo, mais uma vez ele tinha se distraído com ela... mais uma vez...
“Estou esperando.” Ele disse cruzando os braços musculosos.
“Mas, tem uma condição, você não pode dizer ou fazer nada.” Ela ressaltou, então ele se virou para olhá-la.
“Sem essa Vermelho.” Ele bufou.
“Você quer saber ou não?”
“Está certo!” Elijah estalou, batendo a mão na árvore e estilhaçando uma parte do casco.
“Depois que eu me transformei e alguns caras viram que a minha forma de lobo era maior do que a deles, eles começaram a me provocar. Até aí tudo bem, eu sei lidar com as provocações...” Scarlett contou enquanto caminhava para um local sem lascas de madeira em que pudesse se encostar, brincando com a grama. “Então, a coisa ficou um pouco fora de controle, a começar pelos golpes que me lançavam, diziam que eu deveria ter nascido homem, por causa do tamanho da minha loba. Mas isso, só me deixou irritada por eles serem babacas preconceituosos. Nosso bando é bem diverso e todos os membros são iguais, essa sempre foi a regra... Eu contei ao papai sobre isso, pensando que ele pudesse fazer algo e de fato as coisas melhoraram... um pouco. Até que houve uma festa. Alguns beberam mais do que deveriam... e um grupo decidiu sair para correr. No início eu recusei, mas ai começaram a me provocar, dizendo que eu tinha medo de perder, então eu fui.”
Elijah escutava com atenção, mas não gostou do rumo da história... nem um pouco.
“Nós nos transformamos e corremos pela floresta, longe da festa... Nos dividimos em dois grupos... Eu não fazia a menor ideia de que era a única mulher entre seis dos idiotas. Eles planejaram aquilo desde o início, pois me prenderam e exigiram ver minha genitália enquanto eu estava na forma de lobo. Eles perguntavam, se eu era homem ou mulher...” Neste ponto, Scarlett parou, odiando a sensação de impotência que a dominara. Odiando por ter se assustado e sido fraca naquela noite.
A mandíbula de Elijah estava contraída, evidenciando a raiva que o percorria. Ele se sentiu enojado com o fato de seus companheiros do bando serem tão vis. Só de pensar em Scarlett sendo tratada daquela maneira despertou algo mais perigoso dentro dele.
“Eles me examinaram, rindo através da ligação psíquica, e brincavam se deveriam testar se eu me sentia como uma mulher, mas eu consegui me livrar deles... Eu gostaria de ter feito aquilo antes, mas eram seis contra um... Isso é tudo, desde então eu pretendo evita-los.” Ela terminou, levantou-se como se tivesse contado algo trivial. Mas, ao mesmo tempo ela se esforçava para domar a tristeza dentro dela, ela não chorou, e nunca daria esse prazer a ninguém.
“Nomes.” O rosnado áspero de Elijah ecoou. Os olhos de Scarlett se arregalaram, percebendo que ele estava emanando raiva.
“Você concordou sem nomes...”
“Isso não é algo que eu possa deixar passar!” Ele esbravejou com seus caninos alongados expostos. O coração de Scarlett disparou ao vê-lo ficar tão agitado por causa dela. Então, caminhou até ele e corajosamente segurou seu rosto.
“Elijah acalme-se, isso aconteceu há alguns meses... Estou bem e gosto de treinar sozinha, não se preocupe com isso.” Ela disse sentindo a barba por fazer roçando a ponta de seus dedos. ‘Deus, ele é tão giro...’
Os dois se olharam, os olhos azul cobalto dele piscaram voltando para o tom cerúleo. Ele colocou as mãos nos quadris dela, sem perder a sensação bom de como era tê-la em suas mãos. Ela tinha uma silhueta perfeita e a quantidade de carne certa, seu peito arfava enquanto eles se olhavam. Os lábios rosados em seu habitual vermelho pareciam tão apetitosos...
“Nomes, Vermelho. Agora. Ou eu juro pela deusa da lua que eu vou te beijar.” Ele rosnou em seus grandes olhos verdes, que pareciam ter o efeito de acalmá-lo, apesar da fúria ardendo dentro dele. O choque daquelas palavras estava evidente nos olhos de Scarlett, ela fez um beicinho.
“Então você vai ter que me beijar, porque não vou te contar nada.” Ela disse com teimosia. Encarando-o, ela tirou as mãos de seu rosto e tentou afastá-lo, mas ele não se mexeu e se inclinou para mais perto dela.
“Foi você quem pediu Vermelho.” Ele declarou com a voz rouca. Antes que ela pudesse compreender o que estava acontecendo, seus lábios se chocaram contra os dela...