O jantar já tinha acabado, Indigo e Elijah provocaram Scarlett em todas as oportunidades possíveis. Jessica sorria e ria com as provocações deles, enquanto Jackson fazia o papel do pai defensor.
“Você vai lavar a louça.” Jessica disse a Scarlett, passando os dedos pelos cabelos pretos, que ficavam na altura dos ombros. Scarlett não se parecia em nada com sua mãe, ao passo que Indigo era quase uma réplica perfeita, ambas com a mesma silhueta esguia – Jessica com quase um metro e oitenta, além disso Indigo já era mais alta que sua irmã com um metro de setenta. As duas tinham cabelos pretos e olhos azuis profundos.
“Ela está machucada, querida.” Jackson falou olhando para sua esposa, percorrendo suas curvas com os olhos. Jessica arqueou a sobrancelha e deu um sorriso malicioso, sem deixar que seu marido desviasse os olhos de si.
“Ela já está bem.” Ela disse e Scarlett fez um beicinho tentando ser poupada.
“Pelo menos você poderia demonstrar alguma compaixão...” Ela disse se levantando para recolher os pratos, enquanto isso Elijah a observava.
“Precisa de ajuda, Vermelho?” Ele perguntou. Naquele momento, ele parecia não se importar de passar mais tempo com Scarlett – afinal ele poderia apreciar a vista, o que não lhe parecia uma má ideia. Na verdade, ele queria perguntar algo a ela. Por que ela mentiu sobre terem sido atacados por bandidos?
“Ah, quanta consideração, nós sabemos que você não vai ajudar.” Ela zombou arrancando-lhe um sorriso.
“Isso depende do que você entende por ajudar, há muitas coisas com as quais eu posso ajudá-la.” Ele respondeu em tom sarcástico. O coração de Scarlett deu um pulo, ao mesmo tempo Indigo ergueu os olhos da tela do celular.
“Bom, infelizmente estou de saída, Daniel está lá fora me esperando e talvez eu passe a noite fora.” Ela anunciou e Jessica assentiu. Daniel era o melhor amigo de Indigo e um gay. Assim, sua mãe nunca se importou em tê-lo sempre por perto, pois sabia que não tinha qualquer interesse em Indigo.
“Divirtam-se.” Jackson disse sorrindo enquanto terminava de tomar o seu chá.
“Então, ele finalmente saiu do armário?” Elijah perguntou com as sobrancelhas arqueadas. Ele sabia sobre Daniel há anos, pois ele e Indigo eram bem próximos. O menino não se sentia confortável em contar a ninguém, porém as coisas tinham mudado.
“Sim, e ele nunca se sentiu tão bem.” Indigo disse com orgulho.
Scarlett observou Elijah e Indigo, sentindo um pouco de ciúme da relação que eles tinham um com o outro. Ela colocou os pratos na pia de maneira descuidada e ganhou um rosnado de sua mãe.
“Se você quebrar os meus pratos, eu juro pela deusa que vou torcer esse seu pescoço!”
Scarlett estremeceu com a ameaça, enquanto isso Indigo saiu correndo da sala, Jessica era assustadora quando estava com raiva. Elijah apenas riu da situação.
“Desculpe mãe.” Scarlett respondeu, enquanto Jackson acariciava o cabelo de sua esposa.
“Vamos querida, vamos deixá-la sozinha, você teve um dia longo. Eu conheço algumas maneiras de fazê-la relaxar...” Ele disse se levantando da cadeira, em seguida ele a pegou no colo e a jogou por cima do ombro, então deu um tapa forte na bunda de Jessica, fazendo-a rir e corar.
“Que nojo! Vão para o quarto!” Scarlett se encolheu e arregaçou as mangas para colocar as luvas.
“Esse é o que eu pensei, querida.” Jackson anunciou em meio a uma risada, os olhos azuis de Jessica faiscavam. “Elijah ajude sua irmã.”
“Está bem.” Elijah respondeu quando o casal saiu da cozinha. Scarlett estremeceu ao ouvir mais uma vez a risada de sua mãe.
“É irritante como o pai faz a mãe abandonar a pose de uma loba cruel e em segundos ela vira uma colegial apaixonada.” Ela disse enquanto começava a lavar a louça. Elijah se levantou da pequena mesa de carvalho, ao lado da cozinha, caminhou até ela com seus olhos novamente fixos em sua bunda. Quando ele se tornou um pervert*do?
“Ah é? Então, o que você faz para deixar de ser uma v*dia mal-humorada para...” ela o interrompeu com uma cotovelada na cintura, que o fez tremer. Ela era mais forte do que ele imaginara e ficou impressionado com seus reflexos. Afinal, ele tinha se aproximado de maneira furtiva.
Então, Scarlett se virou para encará-lo. “Primeiro, não me chame de v*dia. Segundo, fique longe de mim ou da próxima vez eu vou bater em você onde não há sol!” Ela vociferou voltando sua atenção para a pia.
Elijah levantou uma sobrancelha duvidando, assim ignorou o aviso dela e passou o braço em torno de sua cintura. Desta maneira, ela a prendeu entre a bancada e seu corpo musculoso e duro, Scarlett ficou ofegante e empurrou sua bunda contra a virilha dele, a qual estava saliente. Seu coração disparou e ela sentiu o meio de suas pernas se contrair.
“O que você está fazendo Elijah?” Ela perguntou, sua voz saindo um pouco trêmula. Ele sorriu inalando seu aroma inebriante, seu nariz roçando em seu cabelo.
“Tentando ver o que faz você agir como uma colegial...” Ele sussurrou com uma voz rouca. Ele podia escutar com clareza os batimentos cardíacos acelerados de Scarlett, então seus dedos acariciaram seu abdômen tenso, observou seus seios seguirem o ritmo da respiração...
“Elijah...” Ela falou tentando manter o foco, o que ele estava fazendo? Ele nunca a provocou daquela maneira. Sim, ele puxava o cabelo dela, fazia cócegas, a pegava para jogar na piscina, mas isso...
“Scarlett..” Elijah pronunciou o seu nome no mesmo tom que ela. O nome dela soava diferente nos lábios dele, soava quase sensual... pois até então ele sempre a chamou de 'Vermelho'. Ela ficou paralisada no lugar, sentindo o corpo pulsar contra o seu, ofegando enquanto ela mesma lutava contra o desejo. Então, ela reuniu forças e o empurrou – suas bochechas ficaram levemente vermelhas.
Ela se virou para encará-lo, ele olhou fundo em seus olhos, se esforçando para não deixar a emoção transparecer e engoliu em seco. O desejo que percorria o corpo dele, fazia a necessidade do corpo dela aumentar.
O que estava acontecendo com ele? Por que ele não conseguia manter os olhos e as mãos longe dela?
“Pare com isso...” Ela disse, sem tirar da mente que aquilo era inapropriado, mesmo que ele adorava provocá-la. Scarlett tinha medo de revelar seu segredo sombrio, o que ele pensaria dela? Se descobrisse que ela fantasiava com o meio-irmão...
“É muito bom conseguir arrancar alguma reação de você.” Elijah falou batendo de leve no nariz dela, em seguida ele pegou o pano de prato encostou-se no balcão esperando que ela lhe passasse a louça.
“Você vai realmente secar?” Ela questionou, evitando olhar naqueles belos olhos azuis, quando mais uma vez voltou a se dedicar a louça. No entanto, ela podia sentir os olhos dele observando-a.
“Papai disse para eu te ajudar.” Ele rebate. O cabelo de Scarlett cobria seu rosto, ele não se importava com o que pudesse significar, pois podia observá-la perfeitamente. “Mas então, por que você mentiu sobre o ataque?”
Scarlett ficou tensa, pois sabia que Elijah não desistiria tão facilmente, afinal a segurança de seu bando era a prioridade.
“Eles eram... do nosso antigo bando, o qual fica a quilômetros de distância daqui. Eles não deveriam estar na região, eu nem sei como eles nos encontraram...” Ela desembuchou baixinho, enxaguando um copo e colocando-o na mesa, ele o pegou para secar; agora uma carranca tinha se apossado de seu belo rosto.
“Por que eles queriam que você fosse com eles?” Elijah perguntou aborrecido, ele sabia bem pouco a respeito do antigo bando dela, seu pai havia contado que o pai de Scarlett era abusivo e elas precisavam de proteção.
“Eu não sei se você sabe... mas meu pai biológico... ele era um alfa abusivo, implacável e cruel... Ele odiava o fato de minha mãe não ter lhe dado nenhum herdeiro homem...” Ela disse, esquecendo-se do que havia acontecido há poucos minutos, e ambos ponderavam o assunto com seriedade.
“Isso é... uma raridade, os alfas nunca têm herdeiras... se não é o primeiro filho, certamente o segundo filho seria um homem... assim poderia herdar o poder do alfa... p*rra, isso explica o fato de ser enorme.” Ele resumiu em um momento epifânico. “Você é uma alfa, a p*rra de uma fêmea alfa.”
Ele não conseguia tirar os olhos de cima da bomba de apenas um metro e meio que estava na frente dele, tentando compreender como aquilo era possível. Mas, Scarlett não deveria ser musculosa? Sim, ela tinha bastante tônus muscular, mas não de modo evidente. Talvez as regas para uma fêmea alfa fossem diferentes, seria que era mesmo possível algo assim existir?
“O quê? Chocado por uma mulher ser uma Alfa?” Scarlett perguntou em tom de provocação e sem desviar o olhar, então jogou um pouco de espuma no rosto de Elijah.
“Se você não estivesse usando calças tão justas, eu estaria me perguntando se você não tem algumas bolas no meio das pernas.” Ele comentou em meio ao riso e chicoteando a bunda dela com o pano de prato. Com um granido ele ganhou outro olhar ameaçador.
“Idi*ta!”
“Mas, por que esconder isso? Se ele está tentando te encontrar, então precisamos estar prontos.” Elijah ponderou.
“Eu sei... eu sei... estava pensando... e se eu o visitasse para saber o que ele quer? Eu não quero que minha mãe passe por tudo aquilo de novo, ela está feliz agora e mesmo que eles tenham queimado o vínculo de companheiros, ele ainda está por aí. Não quero vê-la sofrer, não por minha causa, sou forte e sei me controlar, eu...”
“Ei, espere aí, valentona, você está planejando ir ver seu querido papai sozinha? Qual é o seu problema?” Elijah disse mal-humorado, ela quase choramingou quando a aura alfa exalava dele em ondas, para cima de seu corpo, embora ela também fosse uma alfa, Elijah era muito mais forte do que ela. Ele suspirou ao perceber que ela não queria vacilar.
“O papai sabe que seu pai era um alfa?” Ele perguntou passando os dedos pelos cabelos, tentando controlar a raiva e sua essência de alfa. Scarlett assentiu enquanto terminava de lavar a louça, então ela tirou as luvas e lavou as mãos. A vista da janela dava para o jardim, que estava agradavelmente iluminado com luzes e pequenas lanternas coloridas, cortesia de Indigo.
“Bom, então eu vou com você, vou inventar alguma desculpa.” O tom de Elijah era firme, o que fez Scarlett encará-lo com os olhos arregalados, ele queria ajudá-la?
“Uau... você realmente mudou, Elijah. Quer mesmo me ajudar?” Ela perguntou incrédula, então jogou o pano na pia, ao terminar de se secar e cruzou os braços.
“E por que eu não a ajudaria? Este é o meu bando, por mais irritante que essa sua bunda sexy seja, você faz parte do bando.” Quando Elijah disse isso, Scarlett sentiu um frisson no estômago, porém também se sentiu desapontada. A única razão pela qual ele queria ajudá-la era porque ela fazia parte do bando...
“Hmm...” Ela respondeu, seus olhos se encontraram e o desejo de diminuir a distância entre eles cruzou sua mente, então ele desviou o olhar.
“Bom, eu vou indo, tenho um encontro.” Ele falou pegando o celular, naquele momento Scarlett sentiu uma pontada de dor e limitou-se a um aceno com a cabeça.
“Claro,” ela respondeu, só de pensar em Fiona e Elijah juntos seu estômago revirava. O pior de tudo era que Scarlett achava que esta sensação tinha desaparecido, mas ainda estava lá, mesmo depois de dois anos. “Tranque a porta quando sair.”
Ela saiu da cozinha antes que ele respondesse, batendo a porta atrás de si. Elijah arqueou um sobrancelha e deu um pequeno aceno para o vazio. Então, guardou o celular no bolso e saiu de casa, indo em direção â Casa do Bando onde sabia que Fiona estaria esperando por ele...