Lucinda
— Eu deveria ter guardado alguns petiscos de ontem!
Lucinda murmurava consigo mesma enquanto sua barriga roncava.
Se passam alguns minutos e finalmente Derci bate à porta.
— Lady Lucinda?!
— Sim.. Pode entrar…
A criada então adentra o quarto, trazendo consigo vários pratos.
Pães, queijos, uma deliciosa sopa com carne, algumas frutas, sucos e doces como sobremesa.
Lucinda nunca havia visto tanta comida no café da manhã, para ela aquilo era um pouco exagerado, mas já que era de costume na realeza, quem era ela para dizer algo.
Derci então sai deixando Lucinda se deliciando com o café da manhã.
Após comer, ela aguarda um pouco sem saber o que fazer durante o dia, e então decide passear pelo jardim, agora que ela morava ali, tinha total liberdade para passear pelo Castelo, algo que ela sempre teve vontade de fazer.
Ela saiu do quarto descendo as escadas até o jardim, os serviçais desmontavam as decorações do casamento do dia anterior então tudo estava muito movimentado.
Com toda aquela bagunça e barulheira, Lucinda decide procurar por um local calmo, onde pudesse aproveitar o dia, de preferência que fosse fresco e silencioso.
A jovem ouve som de água, e então decide seguir, adentrando no jardim ela encontra uma linda fonte, em volta dela havia alguns bancos onde as pessoas podiam se sentar e admirar a beleza do lugar, os pássaros cantavam e se banhavam na água cristalina que corria dela.
A moça fica admirada, e acaba se perdendo no tempo, voltando a si quando ouve sons de passos se aproximando.
Lucinda fica atenta, tentando ver quem seria.
Para sua surpresa, era Helton.
Ele se aproxima da moça com um sorriso no rosto, ela já sabia que ele viria com seus ataques e insultos.
Ela se levanta, tentando sair dali antes dele chegar, mas é tarde demais, quando ela se levanta ele já está ali.
— Lady Lucinda…. O que te deixou triste e abandonada aqui? Se perdeu enquanto tentava voltar para a fossa de onde veio?
Lucinda se segura para não o responder à altura, ela sabia que poderia levar problemas a Joaquim, ela simplesmente se vira e dá alguns passos tentando sair do local, mas Helton puxa seu braço, a segurando ali.
— Qual o seu problema?! Me solta.
Lucinda puxa o braço na tentativa de se soltar, mas Helton é muito forte.
— E então? Meu irmão fracassado conseguiu dar um trato em você? Ou até nisso ele é um perdedor? Eu ouvi dos criados que você gemeu a noite toda.. Mas duvido que ele faça melhor que eu…
Helton diz puxando a moça para perto de si, aprendendo em um abraço forçado.
— Me solte! Eu irei contar para meu marid..
Lucinda tenta falar seriamente com ele, com um tom de voz alto, mas antes mesmo que ela terminasse de dizer, ele cobre sua boca com a mão.
— Meu irmão não vai saber de nada! Se você disser algo a ele eu juro que faço de sua vida e da sua família um inferno.. é bom você fazer o que eu mandar, está ouvindo?! Camponesa!
Enquanto ele falava, um dos seus guardas aparece e ele solta a moça imediatamente , a empurrando, fazendo-a quase cair no chão.
— Cuidado Lady Lucinda.. você pode acabar se machucando.. é melhor olhar por onde anda.
Lorde Helton sai, dando um sorriso malicioso para Lucinda, o soldado que fazia a guarda, fica sem entender o que havia acontecido.
— Está tudo bem, Lady?
Ele pergunta preocupado vendo que a garota segurava o braço, parecia estar doendo.
— Sim… eu apenas tropecei….
A moça responde tristonha.
Lucinda fica mais preocupada do que nunca, ela tinha que fazer algo sobre isso ou Helton não iria parar, ela sabia que aquilo era só o começo.
Amedrontada, ela então volta para o quarto onde permanece até o almoço.
Pensativa, ela tenta entender o que Lorde Helton poderia querer, seria apenas implicância por conta de Joaquim? Não fazia sentido.
Alguém bate na porta, e Lucinda assusta, estava em pânico depois daquilo que aconteceu no jardim, uma voz então lhe dá tranquilidade, era Dirce, a criada que estava cuidando dela.
— Lady Lucinda?
A senhora pergunta, aguardando a resposta.
Rapidamente Lucinda permite sua entrada.
Dirce havia trazido o almoço da jovem, mas ela não estava com fome, não depois de ter passado por tal sufoco, Lucinda queria ter alguém para conversar, talvez sua irmã ou mãe, mas ela não pode sair dali por enquanto, era melhor esperar que Joaquim voltasse ao anoitecer.
— Obrigada…
A Lady agradece cabisbaixa, e a criada percebe que algo aconteceu.
— Está tudo bem? Você parece meio pálida, aconteceu algo?
Dirce pergunta preocupada, ela estava acostumada a ver a garota sempre com expressão alegre, era a primeira vez que via daquela forma.
A jovem fica relutante, sem saber se poderia dividir com ela o acontecimento, Helton tinha a ameaçado e ela não sabia do que ele poderia ser capaz de fazer com sua humilde mãe e irmã.
Lucinda suspira, e decide guardar o acontecimento para si por enquanto, infelizmente não havia nada que a velha criada pudesse fazer a não ser, ser alvo também de Helton caso ele descobrisse que ela sabia de algo.
— Não é nada, apenas tropecei no Jardim…
Ela diz sorrindo sem graça, infelizmente ela teve que mentir.
— Você se feriu? Se quiser posso chamar um médico ou Lord Joaquim…
Lucinda arregala os olhos, era bom que Helton não se encontrasse com Joaquim por enquanto, ou ele poderia usar mais de seu veneno, quem saberia o que ele diria a Joaquim.
— Não precisa… eu estou bem, só preciso descansar um pouco, muito obrigada pelo almoço, irei comer em breve…
Lucinda então dispensa a senhora Dirce, voltando a ficar só no quarto pensativa.
À tarde o tempo passa rapidamente e logo chega a hora da janta, ela nem havia tocado no almoço.
A porta abriu repentinamente, era Joaquim, Lucinda se assusta, mas ao ver que era apenas seu marido se acalma.
— Eu lhe assustei? Me desculpe entrar assim, apenas queria tomar um banho logo para ficar com você..
Ele anda até ela, lhe dando um beijo na testa, e Lucinda não suporta mais, ela o abraça fortemente, e desmorona em lágrimas.
— Está tudo bem? Por que está chorando?
Joaquim pergunta preocupado, limpando as lágrimas do rosto da jovem.
Lucinda queria contar a ele mas temia que algo ruim acontecesse.
Ela permanece calada por um tempo, mas acaba desabafando, ela sabia que precisava do apoio dele, não tinha como lidar com tudo sozinha .
— Mais cedo.. eu fui ao jardim… estava olhando a fonte e os pássaros, seu irmão apareceu e me ameaçou… sei que ele é implicante e infantil, mas ele disse que se lhe contasse machucaria minha família… não posso deixar que isso aconteça..
Lucinda fala em prantos, ela temia por coisas piores.
O rosto de Joaquim muda por completo, ficando rubro de ódio, ele sabia que seu irmão aprontaria cedo ou tarde, mas ameaçar ferir pessoas inocentes já era demais.
— Aquele maldito…. ele não cansa de me infernizar..
Ele diz cerrando as mãos de raiva, ele pensava que deveria sair dali e cobrar satisfação, mas ao ver sua amada esposa chorosa, tenta se controlar, ela precisava de sua atenção.
— Desculpe por ter que fazer você passar por tais coisas…. sei que deve ser difícil, peço que seja forte e aguente um pouco mais, amanhã teremos uma reunião para sabermos sobre a moradia, meu pai pretende nos dar um castelo abandonado que fica próximo a Springdale… lá seremos somente nós dois, os serviçais e alguns guardas..
Joaquim fala tentando aliviar os sentimentos da moça, mas ao ouvir sobre a mudança ela se preocupa mais, sua mãe e irmã ficariam sozinhas na fazenda e seria difícil para elas cuidarem uma da outra.
Lucinda não fala nada ainda, ela prefere ouvir pessoalmente na reunião do proximo dia, os detalhes sobre esse tal castelo, pelo menos agora ela sabia que a tortura de viver sobre os olhares de Helton e suas cuncubinas não teria que ser aguentada por muito tempo, logo ela sairia dali com seu amado e poderiam viver felizes.
Ela limpa suas lágrimas, e sorri para Joaquim, que fica aliviado ao ver que a moça estava melhor, ele sorri de volta para ela, mesmo estando irado por dentro, ele sabia que não poderia dizer que Lucinda contou sobre as ameaças e teria que fingir na frente de seu irmão, tudo que ele queria naquele momento ela dar um golpe de espada naquele maldito.
— Ah… eu tenho uma surpresa pra você…
Lucinda fala ainda com o rosto molhado, o sorriso meigo foi substituído por um malicioso, ela havia se lembrado da camisola dada de presente por seu amado.
— E o que seria?
Joaquim pergunta confuso, seu sangue ainda fervia de raiva pensando em seu irmão e ele nem dera conta que Lucinda não havia usado seu presente, a moça então saí em direção ao banheiro que ficava dentro do quarto, ele era usado apenas para banhos, lá ela se trocou rapidamente, saindo timida, mostrando para seu querido marido, como estava bela.