Capítulo 76
1257palavras
2023-04-08 23:44
Bianca estava no Juma Amazon Longe, trabalhando em alguns casos que teriam audiência em alguns dias. Aquele atraso não estava nos planos. Amazônia era longe, cansativo e lindo! Mas seria uma das cidades mais fáceis de implantar o projeto.
As famílias eram muito próximas, o povo muito acolhedor, os terrenos para a construção dos prédios mais baratos. Menos crianças eram abandonadas ali. Menor índice nos orfanatos. Ela tinha decidido que ia encerrar o projeto Lar Brasil a cada 5 estados. Depois voltaria para São Paulo e começaria de novo.
São Paulo e Rio de Janeiro têm os maiores índices de crianças abandonadas, então teria mais chance de sucesso se refizesse a rota. Ao invés de fazer um por vez até alcançar os 26 e o DF, seria melhor iniciar com São Paulo, colocar 3 no meio e finalizar com o Rio.
Então esperava que Lorenzo resolvesse logo a questão da mídia, para que pudesse voltar a trabalhar nisso. E não poderia deixar de aceitar seus casos milionários, afinal eram seus clientes quem bancavam a filantropia. Gustavo fez cálculos e lhe deu um orçamento para trabalhar. Proibiu de gastar mais do que deveria em cada projeto. Ela primeiro ficou furiosa, disse pra ele que não lhe deu o cargo de presidente dos seus negócios para ele decidir onde ela poderia gastar o seu dinheiro. A resposta dele foi rápida, quando disse que ela lhe confiou o cargo para ele proteger o patrimônio do filho, e ela não poderia ir dilapidando isso sem controle. Tinha que se lembrar que era uma advogada brilhante e que administrava os bens de uma vida.
Ela entendeu e se adequou ao orçamento, e percebeu que era muito difícil. No projeto orçamentário dele, ela só dispunha de 70% do que gastou com o primeiro projeto. Isso quer dizer que ela tinha que repor o que faltava com suas causas. E ela tinha que admitir que foi uma tacada de gênio dele, pois tinha ficado meio preguiçosa, só querendo trabalhar no projeto e recusando clientes. Agora que ela precisava do dinheiro deles, tinha voltado com tudo como no início da carreira e já era uma potência igual a seu pai.
Ouviu a batida na porta e o aviso de serviço de quarto. Ela não tinha pedido nada, foi atender para dizer que havia um erro. Deixou o notebook ligado sobre a mesa e abriu a porta, e se deparou com um homem vestido de preto e de máscara que a agarrou e colocou um lenço em sua boca. Nos dois segundos antes de apagar, viu outros homens do mesmo jeito entrando em seu quarto e entendeu que estava ferrada!
Quando acordou, ouviu o barulho de helicóptero ligado, percebeu que estava algemada e vendada. Não sabia onde estava, mas sabia que não era no quarto de hotel, pois sentia ventar em seu corpo. Ouviu sons de natureza e no mesmo instante sentiu pesar por todas as vezes que seus amigos foram acampar e a mãe nunca permitiu. Ela dizia que era perigoso, mas na atual situação, fez Bianca se lembrar que não sobreviveria uma noite nem no Ibirapuera sozinha, quanto mais na selva do Amazonas. Jamais saberia o que fazer.
Também se lembrou das aulas que Aisha, Enrico e Gabriel tinham desde o casamento, de autodefesa. A nona pediu que ela fizesse também e ela ironizou todo mundo.
- Eu vivo em São Paulo, gente. Aqui malandro atira em você por um celular. Eu não ando por aí indefesa nem me arriscando não.
- Tudo bem, Bianca. Mas você é uma filha da máfia... - Lorenzo tentou argumentar.
- E não quero treinamento de máfia. Me recuso e se essa é a intenção de vocês, vou retirar o treinamento do Gabriel e da Aisha também até o Gustavo acordar e poder decidir por ela
- Não é treinamento, Bianca. É defesa. Vocês não serão treinados para a máfia, mas isso não quer dizer que se uma família rival descobrir que o Dom vive aqui no Brasil, podem capturar toda nossa família. Enrico é um alvo que a gente tenta proteger. Mas você entende que se ele e o Gabriel morrer, nossa família será dizimada porque não tem um Dom de direito? Eles tem que saber se defender e você também.
- Está bem. Treinamento de defesa para as crianças nunca é perdido, desde que vocês deixem claro que eles não são super heróis e que não devem reagir a assaltos
- É a primeira coisa ensinada em autodefesa, Bianca.
- Ótimo. Então eles podem continuar, mas eu não faço!
Bianca se arrependeu naquele momento de ter batido o pé. Talvez, se soubesse se defender, aquele mascarado nem tinha metido um lenço na sua cara. Aliás, ela se esqueceu até do princípio básico que toda criança aprende na vida: deveria ter olhado o olho mágico antes de abrir a porta e desconfiado de serviço de quarto sem ter pedido nada.
Pensou que era tão clichê! Parecia essas sonsas de filme que abrem a porta rindo e encontram um homem com uma serra elétrica. Mas se desculpou por viver numa cidade grande, cercada por câmeras de segurança e estar num ambiente estranho a ela no momento.
Percebeu que estava deitada, provavelmente em uma maca. Sabia que não estava muito bem amarrada e pensou que se conseguisse sair da maca, poderia correr pra algum lugar, pois ouvia movimentação de gente e vozes, mas sequer uma respiração próxima a ela.
Resolveu fazer com calma e testar as algemas pra saber como e onde estava deitada. Testou os pés primeiro e viu que estavam algemados e só conseguia abrir cerca de 20 cm das pernas. As mãos estavam algemas sobre a barriga. Abriu a boca e percebeu que não estava tampada com nenhuma fita daquelas que colocam nas sonsas dos filmes, mas correr não era opção e gritar sabia que não adiantaria, pois se estava naquela posição e ninguém lhe dava atenção, seria lógico pensar que eram todos do mesmo bando.
Começou a se mexer irritada com sua situação, quando ouviu uma voz bem próxima de sua cabeça falando calmamente:
- Colocamos algemas eróticas na senhorita, com plumas em volta do ferro para seu conforto. Mas se continuar se mexendo dessa forma, o atrito pode te machucar.
- Quem é você e o que você quer?
- Logo a senhorita vai saber. Fique quieta e deixe a gente fazer nosso trabalho. Quanto antes terminarmos, antes a senhorita vai saber.
- Porque estou aqui? O que vocês vão fazer?
- A senhorita precisa de alguma coisa?
- Sim, quero fazer xixi.
- Nem todos são inocentes como você, Bianca. Não vou solta-la para fugir ou dar um chute nos meus testículos. Faça aí mesmo.
Bianca emburrou a cara e viu que nada iria adiantar. Ouviu alguém se aproximando:
- Terminamos. Está tudo pronto e ele esperando.
- Então vamos levá-la pra dentro e ir embora daqui.
Bianca sentiu a maca sendo levada, queria gritar e mandar os idiotas colocarem ela no chão. Mas sua teoria era de que eles eram da máfia, tinham tudo muito bem organizado e pelo que se lembrava de Enzo no casamento, quanto mais falasse ou se mexesse, mais os irritaria.
Sentiu quando a tiraram da maca e ajudaram a sentar em uma cadeira, depois ouviu passos se afastando. Apurou os ouvidos e conseguiu ouvir movimentação, parecia que estava dentro de uma casa de madeira, mas seu coração se desesperou quando ouviu o helicóptero se afastando e sentiu a presença de um homem muito cheiroso próximo a ela...