Capítulo 45
1097palavras
2023-03-26 00:43
"Minha querida princesa
Eu sempre quis te proteger da verdade, mas agora se tornou impossível.
Começo te contando desde o início, para que você compreenda tudo exatamente.
Meu nome é Maurizzio Sabattini e eu sou italiano e não francês. Meu papa era Dom na máfia italiana e temos uma tradição: todos os filhos homens são treinados para a máfia até os 18 anos, mas apenas o primeiro filho tem a obrigação de se manter, para assumir o lugar do papa. Por sorte, eu fui o segundo e depois de mim nasceram mais três meninas que o papa e meu irmão Enzo teriam obrigação de proteger e cuidar. Mas pela tradição, o irmão que não quer ficar na máfia deve sair do país e se estabelecer sem a família.
E foi o que fiz, me estabeleci como francês, depois vim pro Brasil e conheci sua mãe, e ela se casou com Maurício Duprat, mais ou menos na época que meu papa morreu numa emboscada na Itália. Meu irmão tinha dois filhos pequenos, e temendo por eles, me pediu que eu assumisse por 5 anos, até que ele os treinasse para se defender. Nem cogitei e me recusei. Você já imaginou sua mãe, delicada como é, mulher da máfia? Meu irmão Enzo ficou com ódio de mim e cortou relações, e também minha mesada. Eu estava me estabelecendo aqui e sua mãe estava grávida. Foi difícil, mas consegui sozinho. Pra falar a verdade, até achei meu irmão justo, se não queria viver a máfia, também não tinha que viver do dinheiro deles.
Mas sentia falta de minha família, principalmente das minhas irmãs. Nem sabia o nome dos meus oito sobrinhos que tinha na Itália. São informações que não são passadas pela segurança deles. E nesse processo da saudade da minha família, comecei a ser um babäca com sua mãe. Eu colocava nela a culpa por ter me afastado dos meus. E não me orgulho disso!
Quando você tinha 12 anos, meu irmão entrou em contato comigo. Ele precisava de mim para seguir a tradição. Que era o segundo filho entregar o segundo filho em casamento. Ele era o Dom e o segundo filho dele iria se casar, e precisava que eu, como segundo filho do Dom anterior fizesse isso.
Mas me avisou que o filho dele tinha ódio de mim, por ter deixado ele sofrendo sozinho como Dom na Itália, então estava mandando o rapaz com a noiva pra conversarem comigo.
Eu aceitei de bom grado, claro. Quando chegaram ao Brasil, a moça me procurou para negociar o encontro com meu sobrinho. E por escrito ela me contou que não queria se casar, que estava com escuta. Eu a tirei do local combinado, a levei para um hotel discreto, fiz ela tirar toda a roupa, joguei no lixo e comprei roupas novas pra ela.
Quando voltei ela me contou que tinha 19 anos e que meu sobrinho era um idiota, se achava acima da lei, comprou ela dos pais sob ameaça e estava forçando o casamento. E eu precisei proteger a menina, até entrar em contato com meu irmão pra questionar sob aquela palhaçada. Não foi o que aprendi. Éramos mafiosos, mas a mulher deveria ser respeitada. Coloquei a mulher numa casa, protegida e precisei sair de casa pra não colocar você e sua mãe em perigo. Sua mãe um dia vai te contar isso, que eu arrumei uma amante italiana e deixei vocês. Mas por favor, só acredite até certo ponto. Pois ela realmente acabou me seduzindo, pensando ser a salvação dela, mas foi uma única noite que passei com ela.
Depois de dois meses, meu sobrinho conseguiu localizar e entrar em contato com ela. E ela desapareceu. Eu voltei pra casa e rompi de vez com meu irmão, que tentou entrar em contato comigo várias vezes e eu me recusei. Eu achava que ele estava sendo um péssimo Dom e que me envolveu nas intrigas familiares dele. Por não saber educar o filho, que provavelmente poderia ser o próximo Dom, o mandou pra mim expondo aquela história macabra de esposa comprada sem o consentimento da menina, me fazendo cometer a atrocidade de tirar a virgindade dela pra meu sobrinho não a querer mais, colocando meu casamento e minha sanidade em risco.
O tempo passou e três anos depois Lorenzo me procurou para ajuda-lo a impedir que o assassino da mulher dele fosse extraditado. O caso foi até muito fácil, porque meu irmão me deu toda a ajuda possível para vence-lo. Eu entendi a ajuda como um pedido de desculpas pela palhaçada da italiana e aceitei. Ganhei o caso e me tornei muito famoso na esfera internacional. A partir daí, meus negócios só cresceram e você manifestou desejo de entrar no ramo. Eu já estava treinando Lorenzo, orgulhoso de como ele era dedicado, obcecado até.
Não me entenda mal, filha. Em nenhum momento, nunca eu quis um filho homem pra ser meu espelho. Eu era até agradecido por você ser uma menina. Se alguma coisa desse errado na máfia italiana, você nunca seria sucessora. Mesmo te criando forte e determinada, as mulheres são para ser protegidas e não para ser chefes. E eu tentava te criar pra saber se defender! Mas sua mãe te protegia demais.
Então, quando você entrou na faculdade e conheceu Gustavo, eu vi ali a oportunidade de te fazer forte na marra, e não contei que ele era casado. Eu sabia que aquele casamento dele era fruto da imaginação da louca. Então poderia te fazer forte e treinar alguém pra te ajudar como um plano B, pois estava treinando Lorenzo também. Tudo estava correndo bem, e eu me recusando ainda a falar com meu irmão. Mesmo ele se tornando cada vez mais insistente e até desesperado.
Bem, filha, vou deixar você descansar sua cabecinha e vou descansar um pouco também. Tenho certeza que você já imaginou o que te espera na próxima parte da carta. Se não imaginou, então se prepare porque você vai ter contato com a parte feia da vida, a parte que eu sempre quis manter longe de você, a parte que eu menti pra sua mãe e até acabei na cama de outra mulher..."
Gustavo olhou para Bianca, que estava sentada apenas olhando pra ele. Ela sabia de cór o que ele leu até ali, pois tinha lido essa carta milhões de vezes.
- Continue a próxima página...
Gustavo não sabia se queria saber essa parte sórdida, mas tinha chegado até ali e não podia voltar atrás. Pegou a folha que parecia pesar duas toneladas em sua mão e continuou.