Capítulo 40
1486palavras
2023-03-25 03:05
Quando entraram no avião, Bianca ainda precisava disfarçar. Então perguntou para Gustavo sobre a tristeza dele. Afinal eram amigos e tinham essa intimidade.
- Não sei bem o que, Bianca. Mas Nicole terminou comigo, depois de jogar uma bomba em minha cabeça.
- Não estou entendendo, temos um longo vôo, você pode falar sem atropelar.
- Estávamos nos dando bem, aí um dia o preservativo estourou. Depois disso ela começou a ficar meio estranha, não me atender mais como antes, não querer sair comigo. Ficou arredia como se eu tivesse estourado o preservativo de propósito. Quando eu a questionei, ela disse que não queria ter outro filho, mas que poderíamos continuar tudo bem.
- Claro que poderia. Um preservativo estourado não significa nada. Você falou pra ela que fazemos exames periódicos?
- Sim, mas não ficou tudo bem. Achei que depois que ela menstruasse, tudo voltaria ao normal, pois não era possível eu acertar o rim numa única vez!
- Oi? E Gabriel fizemos como?
- Gabriel foi um presente e estava escrito nas estrelas. E mesmo que eu me case um dia, queria que fosse minha última prole.
- Então faz uma vasectomia...
- Já considerei essa idéia.
- Falou isso pra ela depois que ela menstruou?
- Quem me dera tivesse dado tempo. Semana passada ela me procurou com um exame de sangue positivo e o aviso de que faria um aborto. Eu fiquei puto, ela nem estava me perguntando, só me avisando. O bebê não era só dela, eu tinha o direito de discutir essa decisão com ela
- Sinto em te informar, Gu. O corpo de uma mulher é um templo em que ela decide o que fazer. Já ouviu a frase: "meu corpo, minhas regras"?
- Eu sei, Bianca. Mas sou contra o aborto.
- Eu também. E ainda é ilegal no Brasil. Portanto se ela precisar de uma advogada, saiba que vou defende-la.
- Mas acabou de dizer que é contra o aborto e é ilegal.
- Eu ser contra o aborto, o que é uma opinião pessoal minha, não me impede de defender a opinião pessoal de cada mulher. E a opinião dela é a de que não tem condições, seja financeira, psicológica ou emocional pra cuidar de outra criança. Vocês usaram preservativos, ela se cuidou para isso não acontecer. Se aconteceu e ela não queria, ela tem direito de fazer o que quiser com o corpo dela.
- Mas não vai precisar de defende-la.
- Você a convenceu de não fazer o aborto?
- Não. Ela fez no dia seguinte e não me deixou acompanhar. Mas eu jamais processaria ela por isso.
- E você terminou com ela por que ela fez o aborto?
- Não. Pensei que poderíamos ter um recomeço, mais por questão de honra. Você está certa, eu não poderia castigar uma mulher por decidir o que fazer com o corpo dela.
- Então...
- Ela não gostou do jeito que lidei com a situação e terminou comigo.
- Você foi justo com ela, mas ela não foi com você. Está triste porque gosta muito dela?
- Não. Estou triste porque ela me parecia uma mulher sensacional e mesmo assim eu estava me esforçando muito pra gostar dela. Eu acho que nunca vou conseguir gostar de mais ninguém.
- Bobagem, você estava super envolvido...
- Sim, mas quando passou a empolgação inicial e os problemas começaram a aparecer, eu não tive vontade de resolver como um casal. Na verdade, tive vontade de fugir. Eu uso preservativo porque não queria um filho com ela, nem com ninguém.
- Mas aceitou o Gabriel tão de boa e feliz.
- Porque era você a mãe. Eu nunca vou gostar de nenhuma mulher porque você ocupa todo o meu ser. E é por isso que estou triste.
- Pare de falar essas coisas, Gustavo. Ou não poderemos mais ser amigos. Vou me casar em 20 dias, e nós seremos sempre os pais do Gabriel e só.
- Eu sei. Me desculpa. Qualquer coisa que tenha de você é melhor que nada. Estou feliz que você vai se casar e ter a vida que sempre sonhou.
- Vou dormir um pouco, o vôo será longo.
Bianca deixou Gustavo na poltrona e foi para a suíte principal do jato. Se deitou e deixou as lágrimas silenciosas escorrerem. Sabia que estava com escuta na roupa. Planejou tudo aquilo.
Achou que os planos para lidar com as escutas nas suas roupas precisaria de um toque de verdade, e também de que estava focada em seu casamento e Gustavo não significava mais nada.
Depois, pensou que seria bom dar um respiro para Gustavo, deixar que ele passasse esse tempo com a filha bem e feliz. Depois, quando voltassem, contaria a ele pelo que estava passando e pediria que ele esperasse até depois do casamento. Dormiu com o pensamento do que ele lhe disse, que nunca mais gostaria de ninguém. Se ele soubesse tudo o que fez contra ele em nome de uma vingança sem fundamento, talvez não a quisesse tanto.
Tinha decidido contar a ele sobre o plano de extermínio de sua família, mas ainda não tinha se decidido se contaria sobre a vingança. Não sabia qual seria a reação dele, se ele a veria como a menina frágil por quem se apaixonou.
Quando acordou, foi com a voz do comandante de que estavam aguardando autorização de pouso. " Meu Deus, dormi demais! Posso colocar o plano de me livrar das escutas no lixo"
Chamou pelo telefone a comissária, e quando ela entrou, pediu pra ela pegar a nécessaire dela que se esqueceu no assento, a comissária responde claro! Mas olhou ao lado da cama e viu a nécessaire aberta. Bianca rapidamente colocou umas folhas escritas nas mãos dela pra ela ler enquanto abria e fechava a porta, dando a entender que a moça tinha saído.
A moça rapidamente leu o plano, onde Bianca explicava que precisava se livrar das escutas na roupa que estava e nas que estavam nas malas. Perguntou se ela poderia trocar as malas das duas, e levar as roupas com escuta.
Quando percebeu que a moça terminou de ler, ela deu um bolo de dinheiro para ela, que pegou, acentiu e abriu a porta falando.
- Aqui está sua nécessaire, senhora. Peço que se adiante que vamos pousar.
Bianca falou um Obrigado sem som , depois agradeceu, escovou os dentes rapidamente e correu para sua poltrona para estar devidamente com o cinto na hora do pouso.
Quando desceram, entrou no carro que Suzy já tinha alugado para eles e pôde respirar quando viu o motorista colocar uma mala cor de rosa, totalmente diferente da sua no carro.
Sorriu. Sabia que só conseguiria se livrar totalmente depois do banho, ainda tinha mais uma cena para fazer, mas já estava mais aliviada.
Quando chegaram no hotel, Gustavo lhe deu um beijo no rosto, pegou suas chaves e se despediu
- Preciso dormir.
- E eu de um banho. Depois vou dormir também. - Virou para a atendente da recepção e deu um horário para acordar aos dois, pois teriam um jantar com Aisha naquela noite.
Depois percebeu o rapaz a esperando com "suas" malas e falou:
- Não acredito. Como assim malas são extraviadas num voo particular, meu Deus!
- Se a senhora quiser, nosso concierge pode contatar seu comandante e a tripulação para desfazer a troca.
- Deixa pra lá. Vocês tem uma loja muito interessante aqui, não é?
- Sim, senhora. Temos no subsolo.
-Eu já tinha intenção de comprar algumas coisas lá. Sempre aproveito quando venho aqui. Sonho de toda mulher, comprar tudo novo.
Os olhos de Bianca brilhavam. A atendente sorriu e Gustavo balançou a cabeça, se dirigindo para o elevador.
Bianca fez todas as suas compras , depois subiu e ligou para Lorenzo, explicando o acontecido.
- Meu amor, acabei de gastar quase dez mil dólares! Desse jeito você não vai querer mais casar comigo...
- Você gastou o seu dinheiro, meu amor.
- Nossa, você parece que está bravo! Não vamos nos casar? Então o que é seu é meu e o que é meu é seu. Acabei de gastar o nosso dinheiro.
- Não estou bravo com você, querida. Apenas alguns problemas por aqui. Vá tomar seu banho e descansar pra entrar no fuso. E se preparar para seu jantar mais tarde.
Bianca apertou os olhos e deu um sorriso debochado. Não tinha falado pra ele do jantar com Aisha.
- Está bem. Mas vou te contar. Gostei bastante dessa história de roupas novas. Estou pensando em deixar tudo em São Paulo e comprar tudo novo pra levar para sua casa em Valinhos. Mesmo porque minhas roupas serão todas deslocadas para o interior...
- Faça como achar melhor, preciso ir.
Bingo!
Bianca tomou seu banho e jogou as últimas peças com escuta no lixo. Depois foi descansar pois quando acordasse, teria 15 dias livre...